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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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VILA PRAIA DE ÂNCORA E O DÓLMEN DA BARROSA – O CULTO DOS MORTOS E A ACÇÃO CRIADORA DOS DEUSES

Dólmen da Barrosa (4)

Desde sempre o Homem acreditou na possibilidade dos mortos intercederem na acção criadora dos deuses e no próprio ciclo da natureza, contribuindo inclusivamente para o renascimento dos vegetais e das culturas que os demónios e maus espíritos do inverno fizeram desaparecer.

Esta crença está na origem de uma infinidade de práticas relacionadas com o culto dos mortos que regra geral se iniciam em Novembro e prolongam-se até à Serração-da-Velha, atravessando as cerimónias solsticiais ou "saturnais" e os festejos carnavalescos.

Naturalmente, os ritos variam consoante as celebrações em causa mas conservam entre si uma finalidade comum que é o de assegurar que o ciclo da vida e da morte não se interrompa, possibilitando por conseguinte que ao inverno suceda impreterivelmente a primavera.

De acordo com as investigações feitas no domínio da arqueologia e da antropologia, acredita-se que as práticas do culto dos mortos tiveram o seu começo na fase de transição da pedra lascada para a pedra polida, sendo disso testemunho os inúmeros monumentos funerários como os dolméns ou antas, inscrições votivas e outros achados. Não admira, pois, que sejam precisamente os monumentos funerários desde sempre os mais visitados pelo seu interesse artístico e patrimonial, marcando cada época histórica e constituindo roteiros culturais.

Pão por Deus ! - pedem as crianças na região saloia, percorrendo as casas em alegre peditório. A ladaínha varia contudo de uma região para outra. Por exemplo, para os lados de Braga é costume dizer-se do seguinte modo: "Bolinhos, bolinhós, / Para mim e para vós / E para quem está debaixo da cruz / Truz truz".

Por esta ocasião, as pessoas cumprem o ritual da visita aos cemitérios e cuidam das sepulturas dos seus entes queridos. Mas, também em casa é costume em muitas localidades, após a ceia, deixar até ao dia seguinte a mesa composta de iguarias para que os defuntos possam banquetear-se.

Nalgumas localidades, na noite de Todos-os-Santos, coloca-se uma mesa com castanhas para os familiares falecidos, as quais ninguém tocará porque ficam “babadas dos defuntos”. Da mesma forma que o azeite que alumia os defuntos jamais alumiará os vivos. Entre alguns povos do leste europeu conserva-se ainda a tradição de organizar o festim no próprio cemitério a fim de que todos em conjunto – mortos e vivos – possam confraternizar !

A partir desta época do ano, as noites das aldeias são povoadas por criaturas extraordinárias que surgem nas encruzilhadas e amedrontam os notívagos. Uívam os lobos nas serranias enquanto as bruxas – quais sacerdotisas do paganismo – reunem-se sob as pontes em locais ermos.

Aconselha a prudência que ao gado se prendam pequenas saquinhas de amuletos que o resguardem do “mau olhado”. O serão é passado junto à lareira, no afago do lume, escutando aos mais antigos estória que nos embalam num mundo de fantasia povoado por seres sobrenaturais. E, quando finalmente chegada é a hora de dormir, manda o costume fazer o sinal-da-cruz para que o demónio não nos apoquente e a manhã do dia seguinte nasça radiosa a anunciar uma vida nova.

Dólmen da Barrosa (6)