VILA DE SALTO (MONTALEGRE) É TERRA MINHOTA – NINGUÉM MUDA AS SUAS ORIGENS POR DECRETO!
A paróquia de Santa Senhorinha de Basto era abadia da apresentação de D. Gastão da Câmara Coutinho, na antiga comarca de Guimarães.
Segundo Pinho Leal, o abade apresentava quatro vigararias: Santa Maria de Salto (Montalegre), Santo André de Painzela (Cabeceiras de Basto), São Tiago de Ourilhe (Celorico de Basto) e São Bento de Pedraído (Fafe). Segundo o mesmo, existiu outra paróquia, denominada São Nicolau de Basto, que estaria anexa a Santa Senhoria de Basto.
Nas “Memórias paroquiais de 1758” são referidas quatro ermidas: Calvário, Nossa Senhora da Assunção na quinta de Cotelo, Senhora da Conceição na quinta de Cainhos e outra sita na casa Vila Garcia. Também é referido o hospício dos Capuchos de Santo António, na altura com seis ou sete religiosos. É paróquia do concelho de Cabeceiras de Basto e da diocese de Braga.
Incorporações provenientes da Conservatória do Registo Civil de Cabeceiras de Basto em 19 de novembro de 1918, 29 de agosto de 1933, 26 de novembro de 1936, 16 de fevereiro de 1949 e 15 de setembro de 2011.
Fonte: Arquivo Distrital de Braga
A freguesia de Salto é, quer em área, quer em população, a maior freguesia do concelho.
Como espaço habitado e evangelizado, Salto é já referido no Paroquial Suevico como uma das trinta paróquias já existentes, no último terço do século VI e pertencentes à catedral de Braga. Ao longo da sua vida teve muitos momentos de glória, daí a riquíssima história desta freguesia.
Enquanto os cruzados do norte da Europa atravessavam o Atlântico e o Mediterrâneo, para combater nos lugares santos, o povo portugalense trepava descalço os caminhos das suas peregrinações que atravessavam a freguesia. De tal modo que D. Afonso Henriques autorizou e apoiou a construção da Albergaria de São Bento das Gavieiras, ao monge Benedito, em 1136. Alguns nobres olharam com cobiça para esse território onde adquiriram casais ou mesmo povoações como Carvalho, Póvoa e Reboreda que eram do fidalgo-trovador D. João Soares Coelho e de suas irmãs. D. Pedro I, o tal que arrancou o coração pelo peito a Pero Coelho (bisneto do referido João Soares Coelho) e pelas costas a Álvaro Gonçalves por terem morto Inês de Castro, também cobiçou Salto. Por isso, depois de uma visita a Santa Senhorinha de Basto, de quem era devoto, cedeu-lhe fartos rendimentos da Igreja de Santa Maria de Salto.
O território da freguesia atual 78,6 km2 era ocupado também pela freguesia de Novaíças que incluía vários casais e herdades em diferentes povoações entre- tanto desaparecidas: Pontido, Curros de Mouro, Ulveira, Gulpilheiras, etc. Os grandes mosteiros do norte Refojos, Pombeiro e Bouro – todos levantavam daí grossas rendas. A história desta freguesia dava matéria para dez livros como este. Aqui poderá visitar a antiga casa do Capitão, agora pólo do Ecomuseu de Barroso, onde encontrará uma apresentação dos ofícios tradicionais, do Pisão de Tabuadela e das Minas do Volfrâmio da Borralha.
Fonte: Câmara Municipal de Montalegre
Em 1 de Setembro de 1915, foi pelo deputado Augusto José Vieira apresentado ao Senado, em nome da Junta de Paróquia da freguesia de Salto, uma proposta solicitando que fosse colocado à discussão o projecto de lei que anexava aquela freguesia ao concelho de Cabeceiras de Basto em relação à qual, aliás, já havia pertencido. Também o governador civil de Braga apresentou idêntica proposta em nome dos paroquianos da freguesia de Salto.
Sucede que, numa perspectiva histórica e etnográfica, os habitantes da vila de Salto – actualmente a maior freguesia do concelho de Montalegre – preservam a sua identidade e costumes minhotos, mau grado por razões políticas terem sido "transferidos" para um concelho transmontano.
Rezava assim a proposta então apresentada:
“O Sr. Presidente :—Consulto a Câmara sobre a admissão à discussão do seguinte projecto de lei publicado no Diário do Governo de 8 do corrente:
Senhores Deputados – Vem de longos anos o desejo dos habitantes da freguesia de Salto, concelho e comarca de Montalegre e distrito de Vila Rial, a desanexação da sua freguesia desse concelho e comarca, para ser anexada ao concelho e comarca de Cabeceiras de Basto.
E esse desejo não é "por política, nem por capricho, mas tam somente por motivos de ordem económica para a freguesia de Salto c comodidade dos seus habitantes.
Com efeito, quási todo o comércio da freguesia é feito com a região de Cabeceiras de Basto, e muito principalmente com a sede do concelho, devido a haver mais facilidade de comunicação com esta vila, por virtude de serem melhores.
Mas, outros motivos há, e esses também muito de atender, quais sejam as distancias a que fica a freguesia dos dois concelhos.
Da freguesia de Salto à sede do concelho de Montalegre, a distância é de cerca de 35 quilómetros, cujos caminhos são de difícil passagem e de grande aspereza as regiões a percorrer, quase sempre cobertas de neve devido à vila do Montalegre ser situada nas serranias de Trás-os-Montes, ao passo que a distancia da sede do concelho de Cabeceiras de Basto, é apenas de 15 quilómetros cujo caminho, como se disse, é de fácil percurso.
E pelo que respeita às cabeças de distrito, a distância da de Vila Ilial é do 125 quilómetros e da de Braga de 65 quilómetros.
De notar é também que a freguesia de Salto fica muito mais perto da sede do concelho de Cabeceiras de Basto do que algumas freguesias que a este concelho pertencem, tais como: Gondiàes, Vilar, Samão e outras.
Pertenceu já a freguesia de Salto ao concelho de Cabeceiras de Basto, até o ano de 1834, tendo sido deste concelho desanexada para ser anexada ao do Montalegre, para satisfação de interesses políticos com absoluto desprêzo dos interesses e comodidades dos povos das duas regiões.
Pelo exposto, e ainda pelo desejo manifestado por 277 cidadãos naturais c residentes na freguesia do Salto, que assinam a representação dirigida à Câmara dos Deputados, no número dos quais se compreendem os representantes da junta de paroquia da mesma freguesia, pedindo a sua anexação ao concelho e comarca de Cabeceiras de Basto, pedido corroborado pela Câmara Municipal desse concelho em representação dirigida à mesma Câmara, tenho a honra de propor o seguinte projecto de lei:
Artigo 1.° E desanexada a freguesia do Salto do concelho o comarca de Montalegre para ser anexada ao concelho e comarca de Cabeceiras do Basto.
Art. 2.° Para a Câmara Municipal do concelho de Cabeceiras de Basto passam quaisquer encargos respeitantes à freguesia, de Salto e que sejam da responsabilidade da. Câmara Municipal de Montalcgre.
Art. 3." Fica a mesma freguesia de Salto pertencendo ao distrito do Braga, sendo desanexada do de Vila Rial de Trás--os-Montes.
Art. 4.° Fica revogada a legislação em contrário.
Sala das Sessões, em 7 de Maio de 1914. =0 Deputado, Augusto José Vieira.
O deputado Augusto José Vieira nasceu no Funchal em 19861, tendo militado no Partido Republicano Português. Foi ainda presidente da Associação do Registo Civil e secretário da Federação do Livre Pensamento, tendo exercido a carreira docente que escolheu em detrimento da carreira militar que inicialmente se propunha seguir.
Como espaço habitado e evangelizado, Salto é já referido no Paroquial Suévico como uma das trinta paróquias já existentes, no último terço do século VI e pertencentes à catedral de Braga. As suas raízes históricas ligam-na ao Minho desde tempos muito remotos!
Fotos: Wikipédia e Junta de Freguesia de Salto