VIANA DO CASTELO: TERRA ADOPTIVA DO ESCRITOR ALEXANDRE VIEIRA - DESTACADO MILITANTE ANARCO-SINDICALISTA E PRIMEIRO DIRECTOR DO JORNAL "A BATALHA"
ALEXANDRE VIEIRA (1880 – 1974)
Alexandre Vieira foi um operário gráfico, jornalista e publicista ligado ao movimento operário e ao anarco-sindicalismo, figura marcante na agitação operária e nos acontecimentos revolucionários que caracterizaram a Primeira República Portuguesa e os anos posteriores. Foi destacado militante sindicalista, fortemente empenhado na acção do movimento sindical revolucionário e na luta pela melhoria da condição operária.
Foi o primeiro director do periódico operário «A Batalha» e teve grande actividade na Universidade Popular Portuguesa (1919 – 1933). Participou na criação da União Operária Nacional (1914) e da Confederação Geral do Trabalho (1919). Depois integrou-se na Resistência ao fascismo. Na sua longa caminhada pela emancipação social e humana do proletariado, foi preso várias vezes.
Nasceu no Porto, em Setembro de 1880 e, cedo, foi com os pais para Viana de Castelo onde, aos 10 anos, começou como aprendiz de latoeiro. Aos 15 anos de idade, na sua passagem por Coimbra, iniciou a aprendizagem de tipógrafo, condição profissional que jamais abandonaria. Com 23 anos de idade dirigiu, em Viana de Castelo, o jornal «O Lutador», órgão local da Federação das Associações Operárias. Não tardou a partir para Lisboa onde se fixou definitivamente, filiando-se na Associação dos Compositores Tipográficos. As grandes lutas operárias de então na Europa e as suas contingências trouxeram a Portugal essa experiência e, em 1906, constituiu-se a CGT. A influência cultural francesa, por meio da literatura anarquista, gerou no nosso país o sindicalismo revolucionário e Alexandre Vieira, que privava nos meios libertários, com Emílio Costa, Pinto Quartin, Campos de Lima, Neno Vasco, Adolfo Lima e Aurélio Quintanilha, tornou-se um dos seus mais activos militantes e propagandistas.
Em 1908, animando a crítica e a vivência sindicalista transportou-as para as associações de classe de tipo profissional. Começou a publicar-se o diário sindicalista «A Greve», redigido, composto, impresso e vendido por um grupo de militantes, entre os quais estava Alexandre Vieira como seu director, coadjuvado por Pinto Quartin, anarquista, e Fernandes Alves, socialista. O jornal durou apenas seis meses e Vieira viria a confessar: «se bem que o novo jornal defendesse com vivacidade os trabalhadores, manda a verdade que se diga que fez uma medíocre divulgação do Sindicalismo» (in «Para a História do Sindicalismo em Portugal», A. Vieira, col. Seara Nova,pág.30). Esta confissão é um dos traços do seu carácter.
“Vieira era um homem íntegro, duma extraordinária lealdade, sem dogmatismos, praticando uma amizade sólida com todos; se discordava não se irritava e até seria capaz de contemporizar”.
Em Novembro de 1910, ainda na euforia da implantação da República, surgiu o novo semanário «O Sindicalista», também com a direcção e colaboração de Alexandre Vieira, para substituir «A Greve». Marcando uma posição e doutrinação sindicalista revolucionária, «O Sindicalista» veio desenvolver uma nova dinâmica sindical e despertar nas classes trabalhadoras um espírito novo de autonomia e da sua missão histórica, com uma identidade própria na evolução da sociedade portuguesa e nos acontecimentos que agitavam a I República e, depois, durante o período fascista. Alexandre Viera teve uma notável intervenção e perseverante acção na evolução sindical a começar na Casa Sindical, gérmen da futura central sindical.
Posteriormente, em 1917, assumiu a direcção de “O Movimento Operário”, órgão da União Operária Nacional e, em 1919, a do diário “A Batalha”.
Sem cansaço, nem esmorecimentos, manteve-se activo até aos últimos dias da sua vida.
Chegou a ser internado para tratamento de começo de tuberculose (1920), quando esta doença ceifava milhares de trabalhadores.
Tomou parte, como delegado, nos I e II Congresso Nacional Gráfico (1905 e 1907); no II Congresso Sindicalista (1911); no I Congresso Nacional Operário (1914); na Conferência Tipográfica de Lisboa (1915); nos III e IV Congressos Gráficos Na¬cionais (1915 e 1916); na Conferência Operária Nacional (1917); no II Congresso Nacional Operário (1919); na Conferência dos Sindicatos de Lisboa (1922); na Conferência Inter-sindical Gráfica (1924).
Em 1928 participou, em representação da Associação dos Compositores Tipográficos de Lisboa, no IV Congresso da Internacional Sindical Vermelha (Moscovo 1928). No regresso, ficou exilado em França durante cinco anos. De regresso a Portugal, passou a exercer a profissão de revisor de provas tipográficas.
Durante muitos anos foi membro efectivo do Conselho Administrativo da Universidade Popular Portuguesa, bem como da Associação dos Inquilinos Lisbonenses.
Para além de volumosa colaboração em diversos periódicos, sendo o director e principal redactor de alguns, é autor das seguintes publicações:
- Em volta da minha profissão: Subsídios para a história do movimento operário. Lisboa, 1950.
- Como se corrigem provas tipográficas: Noções úteis para quem manda executar impressão às tipografias. Albagráfica, Lda, Lisboa, 1951 (col. Gonçalves Piçarra).
- Figuras gradas do Movimento Social Português. Lisboa, 1959.
- Delegacia a um Congresso Sindical. Lisboa, 1960.
- Para a História do Sindicalismo em Portugal. Lisboa, Seara Nova, 1970.
Anunciava-se para breve a publicação do segundo volume de “Figuras gradas do movimento social português” quando faleceu, sem ver a liberdade restabelecida em Portugal.
HP
Fontes: http://colectivolibertarioevora.wordpress.com/.../alexan.../
http://www.iscsp.utl.pt/.../letra_v/vieira,_alexandre.doc
http://mosca-servidor.xdi.uevora.pt/projecto/index
Em 15 de Junho de 1969, o jornal “Aurora do Lima” noticiou a estadia de Alexandre Vieira a banhos de sol na Praia Norte de Viana do Castelo.
Fonte: Fundação Mário Soares