A equipa técnica do Caminho Português de Santiago Leon de Rosmithal, reuniu na Casa da Cultura-Museu da Escola, em Ribeira de Pena. A sessão de trabalhos, orientada pelos técnicos da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, Orlando Fernandes e Francisco Machado, debruçou-se, na primeira parte, sobre a análise feita ao número de peregrinos que percorreram este novo caminho jacobeu.
No ano passado foram 80 pessoas a transitar entre Trás-os-Montes e o Minho, utilizando, em parte, o que terá sido um importante eixo viário na Idade Média de ligação entre estes territórios.
No entanto, há também um grupo de 45 peregrinos que ainda estão a percorrer este itinerário (a próxima etapa é entre o Alijó e Vila Pouca de Aguiar).
Os técnicos da autarquia povoense comunicaram aos/às restantes técnicos presentes que no próximo mês de fevereiro, começa em Freixo de Espada à Cinta, um outro grupo de 60 pessoas a percorrer este caminho, por etapas.
Na segunda parte da reunião foi debatido um conjunto de características e metas para a futura aplicação de sinalética direcional, possibilitando aos peregrinos circularem no trajeto em autonomia total.
Recorde-se que este novo caminho jacobeu ainda não tem sinalética física e é com a ajuda de um mapa GPS e informações digitais que é possível aos peregrinos embarcar nesta aventura. Está previsto que durante este ano seja colocada informação uniformizada em toda a extensão para conferir a este novo caminho as características regulamentadas e existentes em outros semelhantes.
Com uma extensão aproximada de 260 quilómetros, o Caminho Português de Santiago Leon de Rosmithal terá sido o itinerário privilegiado das populações entre o Minho e Trás-os-Montes e utilizado pela Comitiva de Leon de Rosmithal.
A apresentação pública e assinatura de protocolos com vista à criação deste caminho decorreram em Março do ano passado com representantes dos 12 Municípios abrangidos por este caminho, designadamente, Vieira do Minho, Vila Flor, Murça, Alijó, Braga, Cabeceiras de Basto, Ribeira de Pena, Vila Pouca de Aguiar, Mirandela, Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta, além da Póvoa de Lanhoso.
Este é um excelente projeto do ponto de vista cultural e histórico, mas também pelo contributo que aporta à estratégia turística para a promoção de todos os territórios envolvidos.
Quem alguma vez em tempos recuados entrava em casa de pobres lavradores no Minho, Trás-os-Montes ou na Galiza, deparava não raras as vezes na cozinha, junto à lareira, com uma curiosa peça de mobília – o escano ou escanho.
Tratava-se de um banco largo e comprido, de espaldar alto, com assento móvel que serve de tampa a uma caixa dentro da qual se fazem alguns arrumos. E, ao mesmo tempo, lugar de convívio nas noites longas e frias do inverno.
O termo escano deriva do latim scamnum e o assento também é designado por escabelo, curiosamente uma palavra por diversas vezes citada na Bíblia. No país vizinho, é recorrente designar por escanos os assentos dos deputados como sinónimos de mandatos.
Os seus ornamentos, principalmente nos apoios dos braços, indicaval geralmente a posição social do dono da casa. E, uma armação de madeira que se pode baixar, faz por vezes de mesa.
Ainda é vulgar encontrar-se estas peças de mobiliário nas casas rurais do interior. Porém, as que atualmente se vendem nas feiras não passam de uns caixotes toscos sem graça alguma. Mas, não deixa de ser interessante a recuperação da nossa mobília tradicional, nomeadamente pela sua utilidade, ainda que afastado do calor abrasador das lareiras.
Fontes: Bluteau, 1712-1728, Suplemento I, p. 392; Moraes, 1994, vol. II, p. 446; Viterbo, 1983-1984, vol. II, p. 228; Lexicoteca, 985, vol. I, p. 945. CO e OV
O Parque Nacional Peneda-Gerês é um valioso património nacional, com enormes potencialidades económicas, ambientais e culturais, capaz de equilibrar a preservação dos seus bens e recursos naturais e edificado pelo trabalho de sucessivas gerações que ali nasceram e com as gentes que nele vivem. Para o PCP, o seu desenvolvimento deve ser harmonioso, integrando as populações que nele habitam e invertendo os processos de desertificação das suas aldeias e freguesias.
As discussões sobre os seus regulamentos e programas exigem, portanto, a participação dos seus residentes, dos seus municípios, das suas freguesias, Conselhos Diretivos dos Baldios e Assembleias de Compartes dos Baldios e de outras entidades sediadas no PNPG. O processo de consulta pública do Programa Especial e Regulamento de Gestão, terminado no dia 15 de Outubro, não substitui essa auscultação e integração que deve estar presente à partida e em consequência de uma ligação permanente entre a comunidade local e a gestão/responsáveis do Parque. São estas populações as primeiras beneficiárias do bem público natural e, principalmente, também elas obreiras do património classificado.
No entanto, foram repetidos os erros do processo de revisão do Plano de Ordenamento do PNPG, e evitando uma avaliação efectiva deste, perdeu-se uma oportunidade de mitigar o confronto e hostilização das gentes que ali moram e vivem que tem marcado a história do único Parque Nacional do País.
Com efeito, a eliminação das estruturas directivas próprias de cada área protegida potenciaram dificuldades de compreensão e consequentemente de integração harmoniosa das actividades tradicionais e económicas, como a agrícola, a pecuária e a florestal, estruturantes na vida das comunidades. Como as gentes que sempre viveram no Parque são também as construtoras da riqueza que ali existe, é exigida protecção e valorização dessas actividades, que ainda prestam um papel fundamental para a gestão/manutenção da paisagem e na prevenção de incêndios florestais.
As declarações de amor à natureza e à biodiversidade de sucessivos governos contrastam com a sua prática que concretiza a política de direita, nomeadamente no desinvestimento nos meios humanos, materiais e técnicos do ICNF e com o modelo de cogestão das áreas protegidas, o que tem vindo a afastar o Estado de uma presença adequada no PNPG. Por exemplo, no plano apresentado a consulta pública, não consta qualquer referência ao número e função de trabalhadores necessários para que o ICNF possa cumprir as funções de entidade coordenadora da maioria das propostas.
A protecção e conservação da Natureza, que funda as inúmeras restrições e condicionantes que afectam o quotidiano das populações e dos pequenos negócios no Parque, parece não ser suficiente, por exemplo, para o reforço das equipas de sapadores florestais e vigilantes da natureza, para o controlo e erradicação de espécies invasoras ou para conter a artificialização da paisagem natural, nomeadamente com a opção de construção de um miradouro na Cascata de Fecha de Barjas, ao invés da promoção de iniciativas e acções de sensibilização.
Não desvalorizando o papel que as áreas protegidas devem ter no incentivo à actividade turística, o afunilamento do conceito de usufruto do PNPG no apoio à massificação desta desvaloriza a necessária promoção da reabilitação e revitalização de vivências e actividades intimamente ligadas a estes territórios e da promoção do papel das áreas protegidas na educação ambiental.
Por outro lado e não obstante a concessão a privados da gestão de Parque não ser explicitamente proposta como o foi no passado, nomeadamente por governos do PSD, revelam-se apetites de grandes interesses económicos na vida do Parque, como o recente leilão para a instalação de dois parques fotovoltaicos flutuantes nas albufeiras de Paradela e Salamonde, entretanto chumbado pela APA.
O caminho trilhado até hoje não garante a salvaguarda do meio ambiente e dos ecossistemas, tão pouco defende as populações, como manifesta o divórcio entre estas e as autoridades do Parque ou a perda de mais de 1600 habitantes (quase 20%) nas 22 freguesias abrangidas pelo território do PNPG, registada nos Censos 2021.
A classificação de área de elevada importância ecológica é realizada para que esses bens perdurem e sejam protegidos de eventuais tentativas de apropriação privada de um bem que é de todos. Para o PCP, essa função só pode ser garantida com uma direcção própria com os meios humanos, financeiros e materiais associados. Só um outro rumo e uma outra política, com a salvaguarda do papel do Estado na conservação da Natureza, garantirá a defesa do meio ambiente, a valorização da presença humana no território, a defesa do ordenamento do território e a promoção de um efectivo desenvolvimento regional.
29 de Outubro de 2024,
Direcção da Organização Regional de Braga
Direcção da Organização Regional de Viana do Castelo
"Com Zamora no horizonte" foi o lema da viagem a Miranda do Douro promovida pela Grã Ordem Afonsina no último fim-de-semana para assinalar a conferência de paz e amizade realizada na vizinha cidade espanhola em 05 de outubro de 1143, em que os príncipes cristãos Afonso VII de Leão e Afonso Henriques de Portugal estabeleceram os direitos de conquista sobre os territórios muçulmanos.
Do programa de visita a esta encantadora cidade raiana fez parte uma Conferência durante a tarde do dia 05 de outubro no Miniauditório daquela cidade e sob a presidência da Senhora Presidente da Câmara Municial, Drª Helena Barril, iniciada com a exibição dos Pauliteiros de Duas Igrejas e a que assistiram 50 vimaranenses que se deslocaram num autocarro de turismo.
Do painel fizerem parte os seguintes oradores:
FLORENTINO CARDOSO, Presidente da Direção da Grã Ordem Afonsina, que apontou os elos de ligação da cidade de Zamora à História de Portugal; CLARISA RODRIGUEZ ZÚNIGA, Presidente do Centro de Iniciativas Turísticas de Zamora e Municípios Limitrofes, que veio falar da história da festividade anual instituída em Zamora para comemorar a investidura de cavaleiro de Afonso Henriques; RUI VIANA, Vice-Presidente da Grã Ordem Afonsina, que pôs em destaque o projeto Via Regis Alphonsi, lendo e comentando um texto de Abel Cardoso a este propósito; DARIO CARREIRA, Major-General, que passou em revista o percurso histórico de Portugal na sua transição de condado a reino; por último, usou da palavra a anfitriã, HELENA BARRIL, para agradecer, reconhecidamente, a presença dos vimaranenses e o contributo dos intervenientes.
No dia seguinte, 06 de outubro, teve lugar na monumental Concatedral de Miranda do Douro uma Missa solene presidida pelo Padre Manuel João Lemos Marques em Ação de Graças pela Independência de Portugal, ali simbolizada através da presença de uma réplica da Espada de Afonso Henriques que a Grã Ordem Afonsina colocou aos pés do Altar e que teve a guarda de honra de uma formação de 6 bombeiros da corporação de Mirando do Douro, de uma representação da Liga dos Ex-Combatentes do Ultramar e de um grupo de Escuteiros.
Dizia o insígne escritor Miguel Torga que “…no Minho tudo é verde, o caldo é verde, o vinho é verde…” – como transmontano que era, dos pés à cabeça, desconhecia o escritor que o Minho também possuía outras cores como o branco da neve que a tempos cobre as serranias de Castro Laboreiro!
"Desanimado, meti para Castro Laboreiro à procura dum Minho com menos milho, menos couves, menos erva, menos videiras de enforcado e mais meu. Um Minho que o não fosse, afinal. Encontrei-o logo dois passos adiante, severo, de curcelo e carapuça.
A relva dera finalmente lugar à terra nua que, parda como o burel, tinha ossos e chagas. O colmo de centeio, curtido pelos nevões, perdera o riso alvar das malhadas. Identificara-se com o panorama humano, e cobria pudicamente a dor do frio e da fome. Um rebanho de ovelhas silenciosas retouçava as pedras da fortaleza desmantelada. E uma velha muito velha, desmemoriada como uma coruja das catacumbas, vigiava a porta do baluarte, a fiar o tempo. Era a pré-história ao natural, à espera da neta.
Ó castrejinha do monte,
Que deitas no teu cabelo?
Deito-lhe água da fonte
E rama de tormentelo.
Bonita, esbofeteada do frio, a cachopa vinha à frente dum carro de bois carregado de canhotas. Preparava a casa de inverno para quandochegasse a hora da transumância e toda a família —pais, irmãos, gados, pulgas e percevejos— descesse dos cortelhos da montanha para os cortelhos do vale, abrigados das neves.
– Conhece esta cantiga?
– Ãhn?
Falava uma língua estranha, alheia ao Diário de Noticias, mas próxima do Livro de Linhagens do Conde de Barcelos.
– É legitimo este cão?
– É cadela.
Negro, mal encarado, o bicho, olhou-me por baixo, a ver se eu insistia na ofensa. O matriarcado teimava ainda...
– A Peneda?
A moça apontou a vara. E, como ao gesto de um prestidigitador, foram- se desvendando a meus olhos mistérios sucessivos. Todo o grande maciço de pedra se abriu como uma rosa. A Peneda, o Suajo e o Lindoso.Um nunca mais acabar de espinhaços e de abismos, de encostas e planaltos. Um mundo de primária beleza, de inviolada intimidade, que ora fugia esquivo pelas brenhas, tímido e secreto, ora sorria dum postigo, acolhedor e fraterno.
Quando dei conta, estava no topo da Serra Amarela a merendar com a solidão. Tinham desaparecido de vez as cangas lavradas e coloridas que ofendiam as molhelhas do suor verdadeiro. A zanguizarra dos pandeiros festivos e as lágrimas dos foguetes já não encandeavam a lucidez dos sentidos. Os aventais de chita garrida davam lugar aos de estopa encardida. Nem contratos pré-nupciais ardilosos, nem torres feudais, nem rebanhos de homens pequeninos, dóceis, a cantar o Avé atrás do cura da freguesia. Pisava, realmente, a alta e livre terra dos pastores, dos contrabandistas e das urzes. As pernas de granito dum velho fojo abriam-se num grande V, como as dum gigante no sono da sesta. E saltou-me vivo à lembrança o instantâneo de Joaquim Vicente Araújo, quando no seu Diário Filosófico da Viagem ao Gerês fala duma batida aos lobos, que presenciou, e em que toda a população masculina do lugar colaborara: «Era cousa de ver a má catadura duns e a presteza de todos, que descalços, outros de socos, armados desciam pelas fragas». Sem a coragem dos avós, agora os habitantes comunitârios de Vilarinho da Furna atacavam as alcateias a estricnina e caçavam corças furtivamente. Mas mesmo assim nao faziam má figura ao lado do rio Homem, que, talvez a querer justificar um nome que a etimologia lhe nega, parecia um lavrador numa leira de pedras, tenaz em todo o percurso, e sempre límpido, a espelhar o céu. Na margem de lá, o Pé do Cabril, solene, esperava a abraço duma ascensão. E coma a desafiar aquela pétrea majestade, arrogante e lustroso, o toira do lugar roncou de uma chã. Símbolo tangível da virilidade e da fecundação, nenhum outro deus, ali, tinha forças para o destronar. Plenitude encarnada do instinto natural de preservação da seiva capaz de se multiplicar em cada acto de amor, era ele o pólo de todos os cultos cuItos e desvelos. Rei já no tempo das casarotas megalíticas que me rodeavam, continuava a sê-lo ainda no presente por exigência e graça da própria vida.
Atravessada a ponte em corcova, galgados os muros ciclópicos da Calcedónia, numa erudiçao feita à custa dos pés, e guiado pelos miliários imperiais, segui a geira romana até chegar à Portela do Homem, onde as legiões invasoras pareciam aquarteladas. Mas foi a guarda fiscal, vigilante, que me recebeu.
A uma sombra tutelar, pouco depois, num minuto de descanso, a Historia recente da Pátria avivou-se.
– Uma das incursoes monarquicas foi por aqui...
– Tentaram... Tentaram...
– Este Minho! Este Minho!...
– Tem uma costela talassa, tem...
Mas recusei-me a reintegrar, por simples razões partidárias, aquelas viris penedias no planisfério verdurengo de onde a própria natureza as libertara. Tranquei as portas da memória e, pela margem do rio, subi aos Carris. Uma multidão minava as fragas à procura de volfrâmio, por conta da guerra e de quem a fazia. Teixos e carvalhos centenários acompanharam-me quase todo o caminho. Só desistiram quando me aproximei do cume da montanha, onde a vida, já sem raizes, tenta levantar voo.
Agora, sim! Agora podia, em perfeita paz de espírito, estender a minha ternura lusíada por toda a portuguesa Galiza percorrida. Pano de fundo, o mar de terras baixas era apenas um cenário esfumado; à boca do palco reflectiam-se nas várias albufeiras do Cávado a redonda pureza da Cabreira e a beleza sem par do Gerês. E o espectador emotivo já não tinha necessidade de brigar com o cavador instintivo que havia também dentro de mim. Embora através da magia agreste dos relevos, talvez por contraste, impunha-se-me com outra significação a abundância dos canastros, o optimismo dos semeadores e a própria embriaguez que anestesiava cada acto, no fundo necessária à saúde dos corpos individuais e colectivos. Integrava o alegrete perpétuo no meu caleidoscópio telúrico. Bem vistas as coisas, se ele não existisse faria falta no arranjo final do ramalhete corográfico português.
Em acção de graças por esta conclusão pacificadora, rezei orações pagãs no Altar de Cabrões, antes de subir à Nevosa e aos Cornos da Fonte Fria a experimentar como se tremem maleitas em pleno Agosto.
Estava exausto, mas o corpo recusava-se a parar. Pitões acenava-me lá longe, de tectos colmados e de chancas ferradas. Não obstante pisar o mais belo pedaço de chão pátrio, queria repousar em terra real e consubstancialmente minha. Ansiava por estender os ossos nos tomentos de Barroso, onde, apesar de tudo, era mais seguro adormecer. Quem me garantia a mim que, mesmo alcandorado nos carrapitos doirados da Borrajeira, não voltaria a ter pela noite fora um pesadelo verde?"
No decurso do mês de setembro, o fotógrafo autodidata Eduardo Perez Sanchez, nascido em Barcelona, mas há mais de meio século a viver na cidade invicta, apresentou na Cooperativa Árvore, no Porto, o seu primeiro livro, intitulado Trás-os-Montes, Uma Visão a Preto e Branco sobre as Gentes e o seu Viver na Década de 1980.
A obra, resultado de incursões fotográficas que Eduardo Perez Sanchez realizou na década de 1980 em aldeias de Trás-os-Montes, no Nordeste de Portugal continental, como Agordela, Calvo, Sá, Santa Valha e Vilarandelo, destaca-se não só pelo sentido estético, mas também, pelos detalhes descritivos que traduzem a realidade socio-histórica de uma das regiões mais periféricas e deprimidas do país.
Uma realidade de profundo ambiente rural, ainda muito marcante no limiar dos anos 80, um período de consolidação da democracia portuguesa, onde se praticava ainda uma agricultura de subsistência e as estruturas de habitação rural em pedra possuíam diminutas condições de habitabilidade e de conforto, designadamente falta de luz elétrica, água canalizada e saneamento básico.
Nesses “lugares de memória” transmontanos, captados há cerca de 40 anos pelo fotógrafo luso-catalão, que veem agora a luz dia, abundam essencialmente rostos, expressões, sentimentos e experiências da vida quotidiana de carências e dureza, por que passaram as povoações rurais do interior do país.
A presença constante de mulheres, crianças e idosos nas fotografias realizadas pelo fotógrafo septuagenário autodidata, na região transmontana na década de 1980, recorda o fenómeno maciço da emigração portuguesa da segunda metade do séc. XX para os países industrializados da Europa Ocidental, especialmente para França, que esvaziou as aldeias do interior nortenho de homens na força na idade.
Um fenómeno marcante na sociedade portuguesa, sobretudo nos anos 60 e 70 durante a ditadura salazarista, quando mais de um milhão de portugueses partiram a “salto” motivados pela procura de melhores condições de vida ou em fuga à Guerra Colonial, e que foi particularmente incisivo em Trás-os-Montes, uma região fronteiriça onde o fardo da ruralidade e a estreiteza de horizontes impeliu uma forte vaga migratória.
A (in)visibilidade dos emigrantes trasmontanos nas fotografias de Eduardo Perez Sanchez, acentua a importância destes na história e identidade da região. A comparação do tempo transcorrido nas imagens a preto e branco do fotógrafo luso-catalão, com a realidade do presente, permite, quarenta anos depois apreender que o fenómeno migratório, malgrado a ligação ao processo de desertificação do interior, possibilitou a canalização de remessas para o sustento das famílias dos emigrantes que permaneceram nas terras de origem, e incrementou o desenvolvimento destes lugares desfavorecidos, ao nível da construção de casas, da aquisição de propriedades ou de estabelecimentos comerciais.
Dizia o insígne escritor Miguel Torga que “…no Minho tudo é verde, o caldo é verde, o vinho é verde…” – como transmontano que era, dos pés à cabeça, desconhecia o escritor que o Minho também possuía outras cores como o branco da neve que a tempos cobre as serranias de Castro Laboreiro!
“17 de janeiro de 1995 - Morre o escritor Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Correia da Rocha
Foi há 26 anos que morreu, em Coimbra, Adolfo Correia da Rocha, um dos mais expressivos valores das Letras Portuguesas, mais conhecido pelo pseudónimo de Miguel Torga.
Nascido em São Martinho das Antas (1907), no cenário natural e agreste das serranias transmontanas (ambiente que influenciará de forma marcante a sua escrita), deixou a sua terra natal com dez anos. Na sua adolescência, esteve emigrado no Brasil. Após voltar para Portugal, formou-se em medicina na Universidade de Coimbra, ao mesmo tempo que participava nos movimentos literários académicos da sua geração. Acabaria por se fixar nesta cidade universitária, onde viveria até ao final da sua vida.
É autor de uma vasta e diversificada obra, compreendendo poesia, diário, ficção (contos e romances), teatro, ensaios e textos doutrinários.
Estreou-se com “Ansiedade”, destacando-se no domínio da poesia com “Orfeu Rebelde”, “Cântico do Homem”, bem como através de muitos poemas dispersos pelos dezasseis volumes do seu “Diário”. Na obra de ficção, saliente-se “A Criação do Mundo”, “Bichos”, “Novos Contos da Montanha”, entre outros. O “Diário” ocupa lugar de relevo na sua obra. Como escritor dramático, também publicou três obras intituladas “Terra Firme”, “Mar” e “O Paraíso”.”
Fonte: Sociedade Histórica da Independência Nacional
"Desanimado, meti para Castro Laboreiro à procura dum Minho com menos milho, menos couves, menos erva, menos videiras de enforcado e mais meu. Um Minho que o não fosse, afinal. Encontrei-o logo dois passos adiante, severo, de curcelo e carapuça.
A relva dera finalmente lugar à terra nua que, parda como o burel, tinha ossos e chagas. O colmo de centeio, curtido pelos nevões, perdera o riso alvar das malhadas. Identificara-se com o panorama humano, e cobria pudicamente a dor do frio e da fome. Um rebanho de ovelhas silenciosas retouçava as pedras da fortaleza desmantelada. E uma velha muito velha, desmemoriada como uma coruja das catacumbas, vigiava a porta do baluarte, a fiar o tempo. Era a pré-história ao natural, à espera da neta.
Ó castrejinha do monte,
Que deitas no teu cabelo?
Deito-lhe água da fonte
E rama de tormentelo.
Bonita, esbofeteada do frio, a cachopa vinha à frente dum carro de bois carregado de canhotas. Preparava a casa de inverno para quandochegasse a hora da transumância e toda a família —pais, irmãos, gados, pulgas e percevejos— descesse dos cortelhos da montanha para os cortelhos do vale, abrigados das neves.
– Conhece esta cantiga?
– Ãhn?
Falava uma língua estranha, alheia ao Diário de Noticias, mas próxima do Livro de Linhagens do Conde de Barcelos.
– É legitimo este cão?
– É cadela.
Negro, mal encarado, o bicho, olhou-me por baixo, a ver se eu insistia na ofensa. O matriarcado teimava ainda...
– A Peneda?
A moça apontou a vara. E, como ao gesto de um prestidigitador, foram- se desvendando a meus olhos mistérios sucessivos. Todo o grande maciço de pedra se abriu como uma rosa. A Peneda, o Suajo e o Lindoso.Um nunca mais acabar de espinhaços e de abismos, de encostas e planaltos. Um mundo de primária beleza, de inviolada intimidade, que ora fugia esquivo pelas brenhas, tímido e secreto, ora sorria dum postigo, acolhedor e fraterno.
Quando dei conta, estava no topo da Serra Amarela a merendar com a solidão. Tinham desaparecido de vez as cangas lavradas e coloridas que ofendiam as molhelhas do suor verdadeiro. A zanguizarra dos pandeiros festivos e as lágrimas dos foguetes já não encandeavam a lucidez dos sentidos. Os aventais de chita garrida davam lugar aos de estopa encardida. Nem contratos pré-nupciais ardilosos, nem torres feudais, nem rebanhos de homens pequeninos, dóceis, a cantar o Avé atrás do cura da freguesia. Pisava, realmente, a alta e livre terra dos pastores, dos contrabandistas e das urzes. As pernas de granito dum velho fojo abriam-se num grande V, como as dum gigante no sono da sesta. E saltou-me vivo à lembrança o instantâneo de Joaquim Vicente Araújo, quando no seu Diário Filosófico da Viagem ao Gerês fala duma batida aos lobos, que presenciou, e em que toda a população masculina do lugar colaborara: «Era cousa de ver a má catadura duns e a presteza de todos, que descalços, outros de socos, armados desciam pelas fragas». Sem a coragem dos avós, agora os habitantes comunitârios de Vilarinho da Furna atacavam as alcateias a estricnina e caçavam corças furtivamente. Mas mesmo assim nao faziam má figura ao lado do rio Homem, que, talvez a querer justificar um nome que a etimologia lhe nega, parecia um lavrador numa leira de pedras, tenaz em todo o percurso, e sempre límpido, a espelhar o céu. Na margem de lá, o Pé do Cabril, solene, esperava a abraço duma ascensão. E coma a desafiar aquela pétrea majestade, arrogante e lustroso, o toira do lugar roncou de uma chã. Símbolo tangível da virilidade e da fecundação, nenhum outro deus, ali, tinha forças para o destronar. Plenitude encarnada do instinto natural de preservação da seiva capaz de se multiplicar em cada acto de amor, era ele o pólo de todos os cultos cuItos e desvelos. Rei já no tempo das casarotas megalíticas que me rodeavam, continuava a sê-lo ainda no presente por exigência e graça da própria vida.
Atravessada a ponte em corcova, galgados os muros ciclópicos da Calcedónia, numa erudiçao feita à custa dos pés, e guiado pelos miliários imperiais, segui a geira romana até chegar à Portela do Homem, onde as legiões invasoras pareciam aquarteladas. Mas foi a guarda fiscal, vigilante, que me recebeu.
A uma sombra tutelar, pouco depois, num minuto de descanso, a Historia recente da Pátria avivou-se.
– Uma das incursoes monarquicas foi por aqui...
– Tentaram... Tentaram...
– Este Minho! Este Minho!...
– Tem uma costela talassa, tem...
Mas recusei-me a reintegrar, por simples razões partidárias, aquelas viris penedias no planisfério verdurengo de onde a própria natureza as libertara. Tranquei as portas da memória e, pela margem do rio, subi aos Carris. Uma multidão minava as fragas à procura de volfrâmio, por conta da guerra e de quem a fazia. Teixos e carvalhos centenários acompanharam-me quase todo o caminho. Só desistiram quando me aproximei do cume da montanha, onde a vida, já sem raizes, tenta levantar voo.
Agora, sim! Agora podia, em perfeita paz de espírito, estender a minha ternura lusíada por toda a portuguesa Galiza percorrida. Pano de fundo, o mar de terras baixas era apenas um cenário esfumado; à boca do palco reflectiam-se nas várias albufeiras do Cávado a redonda pureza da Cabreira e a beleza sem par do Gerês. E o espectador emotivo já não tinha necessidade de brigar com o cavador instintivo que havia também dentro de mim. Embora através da magia agreste dos relevos, talvez por contraste, impunha-se-me com outra significação a abundância dos canastros, o optimismo dos semeadores e a própria embriaguez que anestesiava cada acto, no fundo necessária à saúde dos corpos individuais e colectivos. Integrava o alegrete perpétuo no meu caleidoscópio telúrico. Bem vistas as coisas, se ele não existisse faria falta no arranjo final do ramalhete corográfico português.
Em acção de graças por esta conclusão pacificadora, rezei orações pagãs no Altar de Cabrões, antes de subir à Nevosa e aos Cornos da Fonte Fria a experimentar como se tremem maleitas em pleno Agosto.
Estava exausto, mas o corpo recusava-se a parar. Pitões acenava-me lá longe, de tectos colmados e de chancas ferradas. Não obstante pisar o mais belo pedaço de chão pátrio, queria repousar em terra real e consubstancialmente minha. Ansiava por estender os ossos nos tomentos de Barroso, onde, apesar de tudo, era mais seguro adormecer. Quem me garantia a mim que, mesmo alcandorado nos carrapitos doirados da Borrajeira, não voltaria a ter pela noite fora um pesadelo verde?"
Constituída no longínquo ano de 1905 sob a denominação de “Clube Transmontano”, a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa é a mais antiga associação regionalista existente em Lisboa.
Acto de posse dos Corpos Gerentes do Grémio de Trás-os-Montes em 1936. Identificados no álbum: Dr. Cândido Bragança, Coronel Bento Roma, Tenente-Coronel Carvalho Teixeira, Luís Machado Pinto, Dr. Ferreira Deusdado, João Pereira Fernandes, Dr. Abreu Lopes, Comandante Celestino da Silva, Engº Álvaro da Rocha Cabral, Alferes Guedes da Silva, Artur José Severo de Oliveira, Dr. Luís Gonzaga Nouza, Virgílio Alves Garcia, Fernando José da Costa, Pinto Saraiva e Alfredo de Araújo Mourão.
A sua síntese histórica é por ela própria apresentada no seu site oficial e dispensa comentários: “A primeira sede, à data da fundação, ficava situada na Rua Capelo, nº5, onde actualmente está a Rádio Renascença. Em 1907, passou para a Rua Nova do Almada, nº109-1º, onde se manteve 5 anos passando depois para o Largo Camões, nº6 –2º . De 1916 a 1929, sob a direcção de uma Comissão Administrativa, esteve localizada na Travessa da Glória, nº22 A – 1º, e já com a designação de Grémio, a sede esteve dois anos na Rua do Telhal, 71 – 2ºDº, transferindo-se, em 1931, para a Rua do Mundo nº20 – 2º, que viria a chamar-se Rua da Misericórdia. Em 1934, a sede ocupava o 2º andar do Palácio Regaleira, Largo de S. Domingos nº14 C e 14 D, aparecendo localizada na Avenida Elias Garcia, nº135, no ano de 1939. No ano seguinte, em 1940, regressa à Rua da Misericórdia, nº20 – 2º. Em 1991, a sede passou para o 3º andar do edifício nº50, no Campo Pequeno, onde presentemente se encontra.
A actual sede é propriedade da CTMAD, tem uma área total da ordem dos 150 m2, distribuída da seguinte forma: salão / biblioteca para reuniões, sala com hall a funcionar como secretaria, corredor, outra sala destinada a reuniões e convívios com maior número de assistentes, cozinha, duas casas de banho, uma sala / bar e uma marquise / arrecadação.
Além da área ser muito limitada e os espaços disponíveis pouco funcionais para o bom desempenho das suas actividades normais, a sede da CTMAD apresenta outro grande inconveniente, que é o facto de estar localizada num terceiro andar sem elevador.”
Homenagem às senhoras da Comissão de Assistência, em 1934
A tourada ou "chega de bois", enquanto forma de luta envolvendo touros, é uma atividade desportiva muito popular em Goa, e uma prática ancestral ligada às comunidades agrárias católicas.
Em concani, é chamada de Dhirio.
Aqui, dois touros brigam entre si, geralmente numa área aberta. Às vezes, a tourada termina em 30 minutos, outras dura até 1 hora, dependendo da capacidade de luta dos touros.
A luta ocorre a qualquer momento, com base no desafio feito por ambos os proprietários dos touros.
Um treino diário é dado aos touros, levando-os para longas caminhadas, o que os mantêm em forma e prontos para a luta.
Estes touros de luta são mantidos separados de outros touros normais.
As lutas de touros são famosas no sul de Goa, e os goeses são loucos por assistirem a elas, em assistências que chegam a alguns milhares de pessoas.
Atualmente, esta manifestação cultural foi ilegalizada pelo governo indiano a revelia dos goeses, mas não totalmente banida, por continuar na clandestinidade.
A discussão pública mantém-se, com a vontade da comunidade católica em manter esta ancestral atividade à luz do dia.
Dizia o insígne escritor Miguel Torga que “…no Minho tudo é verde, o caldo é verde, o vinho é verde…” – como transmontano que era, dos pés à cabeça, desconhecia o escritor que o Minho também possuía outras cores como o branco da neve que a tempos cobre as serranias de Castro Laboreiro!
"Desanimado, meti para Castro Laboreiro à procura dum Minho com menos milho, menos couves, menos erva, menos videiras de enforcado e mais meu. Um Minho que o não fosse, afinal. Encontrei-o logo dois passos adiante, severo, de curcelo e carapuça.
A relva dera finalmente lugar à terra nua que, parda como o burel, tinha ossos e chagas. O colmo de centeio, curtido pelos nevões, perdera o riso alvar das malhadas. Identificara-se com o panorama humano, e cobria pudicamente a dor do frio e da fome. Um rebanho de ovelhas silenciosas retouçava as pedras da fortaleza desmantelada. E uma velha muito velha, desmemoriada como uma coruja das catacumbas, vigiava a porta do baluarte, a fiar o tempo. Era a pré-história ao natural, à espera da neta.
Ó castrejinha do monte,
Que deitas no teu cabelo?
Deito-lhe água da fonte
E rama de tormentelo.
Bonita, esbofeteada do frio, a cachopa vinha à frente dum carro de bois carregado de canhotas. Preparava a casa de inverno para quandochegasse a hora da transumância e toda a família —pais, irmãos, gados, pulgas e percevejos— descesse dos cortelhos da montanha para os cortelhos do vale, abrigados das neves.
– Conhece esta cantiga?
– Ãhn?
Falava uma língua estranha, alheia ao Diário de Noticias, mas próxima do Livro de Linhagens do Conde de Barcelos.
– É legitimo este cão?
– É cadela.
Negro, mal encarado, o bicho, olhou-me por baixo, a ver se eu insistia na ofensa. O matriarcado teimava ainda...
– A Peneda?
A moça apontou a vara. E, como ao gesto de um prestidigitador, foram- se desvendando a meus olhos mistérios sucessivos. Todo o grande maciço de pedra se abriu como uma rosa. A Peneda, o Suajo e o Lindoso.Um nunca mais acabar de espinhaços e de abismos, de encostas e planaltos. Um mundo de primária beleza, de inviolada intimidade, que ora fugia esquivo pelas brenhas, tímido e secreto, ora sorria dum postigo, acolhedor e fraterno.
Quando dei conta, estava no topo da Serra Amarela a merendar com a solidão. Tinham desaparecido de vez as cangas lavradas e coloridas que ofendiam as molhelhas do suor verdadeiro. A zanguizarra dos pandeiros festivos e as lágrimas dos foguetes já não encandeavam a lucidez dos sentidos. Os aventais de chita garrida davam lugar aos de estopa encardida. Nem contratos pré-nupciais ardilosos, nem torres feudais, nem rebanhos de homens pequeninos, dóceis, a cantar o Avé atrás do cura da freguesia. Pisava, realmente, a alta e livre terra dos pastores, dos contrabandistas e das urzes. As pernas de granito dum velho fojo abriam-se num grande V, como as dum gigante no sono da sesta. E saltou-me vivo à lembrança o instantâneo de Joaquim Vicente Araújo, quando no seu Diário Filosófico da Viagem ao Gerês fala duma batida aos lobos, que presenciou, e em que toda a população masculina do lugar colaborara: «Era cousa de ver a má catadura duns e a presteza de todos, que descalços, outros de socos, armados desciam pelas fragas». Sem a coragem dos avós, agora os habitantes comunitârios de Vilarinho da Furna atacavam as alcateias a estricnina e caçavam corças furtivamente. Mas mesmo assim nao faziam má figura ao lado do rio Homem, que, talvez a querer justificar um nome que a etimologia lhe nega, parecia um lavrador numa leira de pedras, tenaz em todo o percurso, e sempre límpido, a espelhar o céu. Na margem de lá, o Pé do Cabril, solene, esperava a abraço duma ascensão. E coma a desafiar aquela pétrea majestade, arrogante e lustroso, o toira do lugar roncou de uma chã. Símbolo tangível da virilidade e da fecundação, nenhum outro deus, ali, tinha forças para o destronar. Plenitude encarnada do instinto natural de preservação da seiva capaz de se multiplicar em cada acto de amor, era ele o pólo de todos os cultos cuItos e desvelos. Rei já no tempo das casarotas megalíticas que me rodeavam, continuava a sê-lo ainda no presente por exigência e graça da própria vida.
Atravessada a ponte em corcova, galgados os muros ciclópicos da Calcedónia, numa erudiçao feita à custa dos pés, e guiado pelos miliários imperiais, segui a geira romana até chegar à Portela do Homem, onde as legiões invasoras pareciam aquarteladas. Mas foi a guarda fiscal, vigilante, que me recebeu.
A uma sombra tutelar, pouco depois, num minuto de descanso, a Historia recente da Pátria avivou-se.
– Uma das incursoes monarquicas foi por aqui...
– Tentaram... Tentaram...
– Este Minho! Este Minho!...
– Tem uma costela talassa, tem...
Mas recusei-me a reintegrar, por simples razões partidárias, aquelas viris penedias no planisfério verdurengo de onde a própria natureza as libertara. Tranquei as portas da memória e, pela margem do rio, subi aos Carris. Uma multidão minava as fragas à procura de volfrâmio, por conta da guerra e de quem a fazia. Teixos e carvalhos centenários acompanharam-me quase todo o caminho. Só desistiram quando me aproximei do cume da montanha, onde a vida, já sem raizes, tenta levantar voo.
Agora, sim! Agora podia, em perfeita paz de espírito, estender a minha ternura lusíada por toda a portuguesa Galiza percorrida. Pano de fundo, o mar de terras baixas era apenas um cenário esfumado; à boca do palco reflectiam-se nas várias albufeiras do Cávado a redonda pureza da Cabreira e a beleza sem par do Gerês. E o espectador emotivo já não tinha necessidade de brigar com o cavador instintivo que havia também dentro de mim. Embora através da magia agreste dos relevos, talvez por contraste, impunha-se-me com outra significação a abundância dos canastros, o optimismo dos semeadores e a própria embriaguez que anestesiava cada acto, no fundo necessária à saúde dos corpos individuais e colectivos. Integrava o alegrete perpétuo no meu caleidoscópio telúrico. Bem vistas as coisas, se ele não existisse faria falta no arranjo final do ramalhete corográfico português.
Em acção de graças por esta conclusão pacificadora, rezei orações pagãs no Altar de Cabrões, antes de subir à Nevosa e aos Cornos da Fonte Fria a experimentar como se tremem maleitas em pleno Agosto.
Estava exausto, mas o corpo recusava-se a parar. Pitões acenava-me lá longe, de tectos colmados e de chancas ferradas. Não obstante pisar o mais belo pedaço de chão pátrio, queria repousar em terra real e consubstancialmente minha. Ansiava por estender os ossos nos tomentos de Barroso, onde, apesar de tudo, era mais seguro adormecer. Quem me garantia a mim que, mesmo alcandorado nos carrapitos doirados da Borrajeira, não voltaria a ter pela noite fora um pesadelo verde?"
Vêm do nordeste transmontano, mais especificamente de Alfândega da Fé, no concelho de Bragança. São a Associação Us Bat n’Pelle nasceu de um grupo de amigos que se juntavam no mês de fevereiro para ajudar na realização do desfile de carnaval daquela vila transmontana.
Em 2015, numa brincadeira, pediram emprestados bombos a alguns amigos de terras vizinhas, apresentaramo-se no desfile de Carnaval e, de uma forma cuidada e organizada, juntaram mais de 20 tocadores de bombos.
A população perguntava se no ano seguinte iriam novamente desfilar nos festejos de Carnaval, porque tinha sido diferente e haviam emprestado mais alegria ao desfile. E, assim determinados, decidiram constituir notarialmente a associação Us Bat n’ Pelle.
A associação tem como objectivos fundamentais a produção, promoção e divulgação de actividades culturais, recreativas, desportivas e musicais, nomeadamente a prática da música com bombos e outros instrumentos, bem como a defesa do ambiente e contribuir para o desenvolvimento regional e local,.
É ainda seu propósito contribuir para um salutar e benéfico aproveitamento e utilização dos tempos livres, desenvolvendo actividades de âmbito nacional, dirigidas à população.
Vêm do nordeste transmontano, mais especificamente de Alfândega da Fé, no concelho de Bragança. São a Associação Us Bat n’Pelle nasceu de um grupo de amigos que se juntavam no mês de fevereiro para ajudar na realização do desfile de carnaval daquela vila transmontana.
Em 2015, numa brincadeira, pediram emprestados bombos a alguns amigos de terras vizinhas, apresentaramo-se no desfile de Carnaval e, de uma forma cuidada e organizada, juntaram mais de 20 tocadores de bombos.
A população perguntava se no ano seguinte iriam novamente desfilar nos festejos de Carnaval, porque tinha sido diferente e haviam emprestado mais alegria ao desfile. E, assim determinados, decidiram constituir notarialmente a associação Us Bat n’ Pelle.
A associação tem como objectivos fundamentais a produção, promoção e divulgação de actividades culturais, recreativas, desportivas e musicais, nomeadamente a prática da música com bombos e outros instrumentos, bem como a defesa do ambiente e contribuir para o desenvolvimento regional e local,.
É ainda seu propósito contribuir para um salutar e benéfico aproveitamento e utilização dos tempos livres, desenvolvendo actividades de âmbito nacional, dirigidas à população.