A Junta de Freguesia de Alvarães e a Agência Portuguesa do Ambiente pedem para avisar que vão ser realizadas duas sessões públicas de apresentação da intervenção de “Reabilitação e Valorização do Rio Neiva nos concelhos de Esposende e Viana do Castelo”, cuja empreitada terá início, previsivelmente, no dia 20 de maio de 2025.
A sessões serão realizadas no dia 9 de maio de 2025, nos seguintes horários:
18h00 na Casa da Música de Antas;
21h00 no Centro de Convívio de S. Romão do Neiva.
Pede-se a todos os interessados, em especial àqueles que possuem ou sejam arrendatários de propriedades que confrontem com o Rio Neiva nas freguesias de Antas, Forjães, Alvarães, São Romão do Neiva e Castelo do Neiva, para comparecerem a fim de tomarem conhecimento dos trabalhos que vão ser realizados.
Nábia, Deusa suprema das águas férteis, deu o ar da sua graça na abertura da XX edição da Braga Romana – Reviver Bracara Augusta, que decorreu esta quarta-feira, na Praça Municipal na presença de várias centenas de crianças. Os aguaceiros sentidos não atrapalharam o momento e Nábia foi homenageada com pétalas de flores de aromas coloridos.
Soberana das terras da Galécia, a deusa tutela com imponência um dos seus povos mais amados, os Brácaros. Com a incursão romana aos seus domínios, Nábia prontamente revela a sua grandiosidade, de tal forma que o rei dos Deuses do Olimpo, apaixona-se por ela.
Num espetáculo vibrante onde a poderosa Deusa é exaltada pelo seu povo mais promissor, as crianças, lançaram as pétalas de flores e ervas de cheiro, perfumando as ruas e praças invocando os bons augúrios e a “fortuna” para um futuro próspero e auspicioso.
No princípio era o Caos… entretanto, na ânsia de encontrar uma explicação para os fenómenos da natureza que o rodeiam, o Homem concebeu inúmeras divindades que além de representar os atributos de tais fenómenos passaram ainda a revelar emoções e sentimentos próprios dos humanos uma vez que eram construídos à sua imagem e semelhança.
Entre tais divindades, Nábia foi uma das divindades mais veneradas na faixa ocidental da Península Ibérica ou seja, a área que actualmente corresponde a Portugal e à Galiza, durante o período que antecedeu à ocupação romana. Na mitologia céltica, Nábia, era a deusa dos rios e da água, tendo em sua honra o seu nome sido atribuído a diversos rios como o Navia, na Galiza e o Neiva e o Nabão em Portugal. Inscrições epigráficas como as da Fonte do Ídolo, em Braga e a de Marecos, em Penafiel, atestam-nos a antiga devoção dos nossos ancestrais à deusa Nábia.
Quando ocuparam a Península Ibérica à qual deram o nome de Hispânia, os romanos que à época não se haviam convertido ainda ao Cristianismo, adoptaram as divindades indígenas e ampliaram o seu panteão, apenas convertendo o nome de Nábia para Nabanus, tal como antes haviam feito com os deuses da antiga Grécia.
Qual reminiscência do período visigótico, a crença pagã em Nábia – ou Nabanus – viria a dar origem na famosa lenda de Santa Iria – ou Santa Irene – cujo corpo, após o seu martírio, ficou depositado nas areias do rio Tejo junto às quais se ergueram vários locais de culto, tendo inclusive dado origem a alguns topónimos como a Póvoa de Santa Iria e, com a introdução do Cristianismo, a atribuição do seu nome à antiga Scallabis, a actual cidade de Santarém.
Bem vistas as coisas, são em grande parte do rio Nabão e das suas nascentes as águas que o rio Tejo leva ao Oceano Atlântico, junto a Lisboa, depois daquele as entregar ao rio Zêzere. E, é nas águas cristalinas do rio Nabão que habita a deusa Nábia e nas suas margens que Santa Iria encontrou o eterno repouso
Nesta XX edição, a Braga Romana - Reviver Bracara Augusta presta homenagem à Deusa Nábia, divindade indígena do nosso território, possivelmente ligada ao culto das águas.
A cerimónia de abertura invocará este culto que é atestado em Braga pela presença de uma ara votiva encontrada na Fonte do Ídolo.
NABIA, BRACARAE FORTUNA – NÁBIA, A FORTUNA DE BRACARA
22 de maio | 10h30 | Cerimónia de Abertura na Praça Municipa…
A FONTE DO ÍDOLO, EM BRAGA, E O CULTO À DEUSA NÁBIA, A DIVINDADE PAGÃ DO RIO NEIVA
Durante o período que antecedeu à ocupação romana, a deusa Nábia era venerada pelos povos autóctones da Hispânia, designação dada pelos romanos à província que actualmente corresponde nomeadamente a Portugal e Espanha. Entre os vestígios desse culto salienta-se a Fonte do Ídolo, em Braga, com as suas inscrições epigráficas, além do nome atribuído a diversos rios como o Navia, na Galiza e o Neiva e o Nabão em Portugal.
Com a cristianização, o culto pagão a Nábia veio a ser substituído pela devoção a Santa Iria ou Santa Irene. Conta a lenda que Iria – ou Irene – nascera emNabância, umavillaeromana próxima deSellium, a atual cidade de Tomar. Oriunda de uma família abastada, Iria veio a receber educação esmerada num mosteiro de monjas beneditinas, o qual era governado pelo seu tio, o Abade Sélio.
Dotada de beleza e inteligência, a jovem Iria atraía as atenções sobretudo dos fidalgos que disputavam entre si as suas atenções. Contava-se entre eles o jovem Britaldo que por ela alimentou uma enorme paixão. Contudo, Iria entregava-se a Deus e recusava as suas investidas amorosas.
Roído de ciúmes pela paixão de Britaldo, o monge Remígio que era o diretor espiritual de Iria, deu a beber a Iria uma mistela que lhe provocou no corpo a aparência de gravidez, provocando desse modo a sua expulsão do convento, levando-a a procurar refúgio junto do rio Nabão. Britaldo, a que entretanto chegara os rumores do ocorrido, movido por despeito, ordenou a um servo o seu assassínio.
Atirado ao rio Nabão cujas águas correm para o rio Zêzere, o corpo da mártir Iria ficou depositado nas areias do rio Tejo, aí permanecendo incorruptível para a eternidade, tendo o seu culto sido muito popular sobretudo no período do domínio visigótico.
Do nome de Irene – Santa Iria – tomou a antigaScallabisromana o nome passando a denominar-se deSancta Irene, daí derivando a atual designação de Santarém. Da mesma maneira que, para além de assinalar um acidente orográfico, a designação toponímica Cova da Iria deverá ter a sua origem no referido culto a Santa Iria, porventura já sob o rito moçárabe ou seja, cristão sob o domínio muçulmano embora adoptando aspectos da cultura árabe.
A lenda de Santa Iria e o relacionamento com o local onde nascera ou seja, avillaeromana deNabância, remete-nos ainda para o culto de Nábia, a deusa dos rios e da água, uma das divindades mais veneradas na antiguidade na faixa ocidental da Península Ibérica ou seja, a área que actualmente corresponde a Portugal e à Galiza.
Quando ocuparam a Península Ibérica à qual deram o nome de Hispânia, os romanos que à época não se haviam convertido ainda ao Cristianismo, adotaram as divindades indígenas e ampliaram o seu panteão, apenas convertendo o nome de Nábia para Nabanus, tal como antes haviam feito com os deuses da antiga Grécia.
Qual reminiscência de antigas crenças, o culto pagão à deusa Nábia – ou Nabanus – veio a dar origem à famosa lenda de Santa Iria – ou Santa Irene – cuja festa é bastante celebrada em muitas localidades portuguesas como sucede em Tomar e Ourém.
Complexo industrial na margem esquerda do Rio Neiva, conhecido por Minante. Autêntica unidade industrial composta por, da esquerda para a direita, moagem de milho, trigo e centeio, engenho de serrar e engenho de linho. Em segundo plano, à esquerda, o edifício do alambique que destilava figo do Algarve, descarregado no Porto de Viana do Castelo para a produção de aguardente, vendida posteriormente à Casa do Douro. No mesmo plano, pilhas de madeira serrada no engenho.
Autor: Armando Pacheco Azevedo / Cedida por: Manuel José de Azevedo (Cortesia de António e Joaquim Azevedo) / Fonte: Lugar do Real
No princípio era o Caos… entretanto, na ânsia de encontrar uma explicação para os fenómenos da natureza que o rodeiam, o Homem concebeu inúmeras divindades que além de representar os atributos de tais fenómenos passaram ainda a revelar emoções e sentimentos próprios dos humanos uma vez que eram construídos à sua imagem e semelhança.
Entre tais divindades, Nábia foi uma das divindades mais veneradas na faixa ocidental da Península Ibérica ou seja, a área que actualmente corresponde a Portugal e à Galiza, durante o período que antecedeu à ocupação romana. Na mitologia céltica, Nábia, era a deusa dos rios e da água, tendo em sua honra o seu nome sido atribuído a diversos rios como o Navia, na Galiza e o Neiva e o Nabão em Portugal. Inscrições epigráficas como as da Fonte do Ídolo, em Braga e a de Marecos, em Penafiel, atestam-nos a antiga devoção dos nossos ancestrais à deusa Nábia.
Quando ocuparam a Península Ibérica à qual deram o nome de Hispânia, os romanos que à época não se haviam convertido ainda ao Cristianismo, adoptaram as divindades indígenas e ampliaram o seu panteão, apenas convertendo o nome de Nábia para Nabanus, tal como antes haviam feito com os deuses da antiga Grécia.
Qual reminiscência do período visigótico, a crença pagã em Nábia – ou Nabanus – viria a dar origem na famosa lenda de Santa Iria – ou Santa Irene – cujo corpo, após o seu martírio, ficou depositado nas areias do rio Tejo junto às quais se ergueram vários locais de culto, tendo inclusive dado origem a alguns topónimos como a Póvoa de Santa Iria e, com a introdução do Cristianismo, a atribuição do seu nome à antiga Scallabis, a actual cidade de Santarém.
Bem vistas as coisas, são em grande parte do rio Nabão e das suas nascentes as águas que o rio Tejo leva ao Oceano Atlântico, junto a Lisboa, depois daquele as entregar ao rio Zêzere. E, é nas águas cristalinas do rio Nabão que habita a deusa Nábia e nas suas margens que Santa Iria encontrou o eterno repouso.
No Minante o rio Neiva está represado por um açude de boas dimensões, formando um lago de águas calmas e puras. A paisagem é de um bucolismo que nos parece transportar para uma época diferente, longe da mecanização e do bulício quotidianos. A azenha, numa das margens, e a ponte granítica que une as duas margens, completam o cenário, dando um toque de naturalismo a um quadro que, pela profusão de cores e pelos matizes, bem poderia ter sido pintado por um impressionista. Este é um local ideal para passar um dia à beira d’água, desfrutando da pureza de um rio onde a poluição industrial, felizmente, ainda não chegou.
Fonte: Arquivo Municipal de Esposende / Turismo do Porto e Norte de Portugal
Foi publicada em Diário da República a abertura de concurso público para a “Empreitada de Reabilitação e valorização do Rio Neiva nos concelhos de Esposende e Viana do Castelo”, com valor base superior a 552 mil euros.
De acordo com o documento, o contrato visa “a estabilização e valorização das margens do rio Neiva com a execução de trabalhos de corte, limpeza e conservação da vegetação e contenção de exóticas/invasoras; plantação e estacaria de espécies autóctones; proteção e consolidação das margens, com aplicação de soluções técnicas de engenharia natural; medidas de valorização de habitats; beneficiação de caminhos existentes e sistema de drenagem associados”, com um prazo de 180 dias.
Recorde-se que, em abril de 2021, os Municípios de Viana do Castelo e Esposende assinaram um protocolo de parceria para a “Limpeza e Valorização do Rio Neiva”, por considerarem que o rio é “um ativo da maior relevância”.
No protocolo, assinado pelos autarcas dos dois municípios, era referido que o Rio Neiva “constitui um recurso natural com imenso potencial turístico e desportivo para os concelhos de Esposende e Viana do Castelo, sendo de primordial importância que estas duas entidades unam esforços para permitir que sejam alcançadas sinergias nesta matéria”.
Esta parceria visava potenciar atividades de recreio, culturais e turísticas “com vista a promover, simultaneamente, mas de forma sustentável, o desenvolvimento económico e o bem-estar as populações”.
Neste contexto, o aprofundamento do conhecimento dos recursos em presença nesse território comum, sobretudo os recursos naturais, reveste-se de especial relevo. Surgiu, pois, a elaboração do “Projeto de Limpeza e Valorização do Rio Neiva”, da autoria do professor Pedro Teiga, um estudo que envolveu o diagnóstico deste recurso natural de elevada riqueza, contemplando, nomeadamente, a caraterização geral da área envolvente do rio, a identificação e caraterização do património edificado existente ao longo da margem, a identificação e caraterização da fauna e da flora, com particular ênfase na marcação dos locais onde se detete a presença de espécies invasoras.
Esta imagem, alusiva ao ciclo do linho, é no Minante, no rio Neiva, freguesia de Antas, concelho de Esposende, por volta de 1950.
São visíveis molhos de palha de linho depois de ser ripado, prontos a serem submersos no rio para posterior secagem e trituração no engenho, a fim de lhe ser retirada a fibra.
Junto aos molhos de palha encontra-se um casal e, num plano mais afastado, um grupo de pessoas sobre a ponte de pedra, que faz a ligação entre as freguesias de Antas e S. Romão do Neiva (Viana do Castelo). Junto à levada é visível um edifício (margem de S. Romão do Neiva)
Fonte: Arquivo Municipal de Esposende / Proprietário: António Azevedo
A imagem mostra um grupo de pescadores no estuário do rio Neiva, na freguesia de Antas, concelho de Esposende. Praticam a pesca por meio de vargas, redes com cerca de 30 braças a que se chamavam “redes de varguear”.
Segundo explica o Padre Adélio Torres Neiva, no livro “S. Paio de Antas - Sua história, Sua gente”, esta pesca fazia-se com dois pescadores, sendo que um ficava na margem segurando a ponta do “estremalho”, enquanto o outro entrava na água levando a rede toda. Dava uma volta por largo, em círculo, tentando fechar o cardume que entrava para um saco existente na rede, que depois era puxada para terra.
Ainda segundo o Padre Adélio Torres Neiva, não se “davam vargas” em qualquer sítio do rio, havendo locais apropriados, até ao açude de Santa Tecla.
Na imagem é visível, ao fundo, o monte do Castelo (Castelo do Neiva - Viana do Castelo.
Fonte: Arquivo Municipal de Esposende / Propriedade: António Azevedo
Nasce na serra de Oural (Vila Verde). Decorridos 45 quilómetros, vem desaguar ao mar, estabelecendo fronteira entre Antas e Castelo do Neiva, freguesias que sempre souberam ser amigas e de relacionamento fácil. Passa por terras dos concelhos de Vila Verde, Ponte do Lima, Barcelos, Esposende e Viana do Castelo. Diz quem o percorreu da nascente até à foz que tem belezas de encantar. Não o conhecendo na totalidade, longe disso, ele fica bem definido neste poema que encontrei no Blogue de Jorge Miranda “Pelos Salgueirais do Neiva” e que não resisto a reproduzir: Magia do rio Neiva. Ó pintores da minha terra, / Vinde aqui, vinde pintar .../ Pintai levadas, moinhos, / Açudes a transbordar, / Espuma branca de neve / À luz do Sol a brilhar .../ Pintai azenhas velhinhas / Com as heras a enlaçar, / Pontes, recantos do "Neiva”, / Salgueirais e debruar, / Que motivos para telas / Não vão, por certo, faltar!... / Pintai lindas aguarelas, / Vinde aqui, vinde pintar!...
Mas não vou escrever sobre o rio na sua totalidade, porque isso dava livro, tantas são as histórias e estórias que este caprichoso caudal de água tem. Ademais, sobre o Rio Neiva já existem duas obras: “O Rio Neiva – Monografia” (1978) e “Vale do Neiva – Subsídios Monográficos” (1982). Ambos contaram com o empenho entusiasta de Cândido Neiva de Oliveira Maciel, Natural de Durrães – Barcelos, tal como é referido na introdução da segunda obra. Ficar-me-ei por breves apontamentos na parte do rio que diz respeito ao Castelo do Neiva, que tão bem conheci e tão gratas recordações dele tenho.
Uma azenha do Rio Neiva em 1928. Foto de Aureliano Carneiro, publicada na revista “Ilustração Portuguesa”, Nº 72
As Azenhas
Todas foram do meu conhecimento, porque todas visitava e com praticamente todos os donos me relacionava, na minha condição de rapaz de travessuras, como era próprio naquela época, que só diferia de épocas vindouras pelos enquadramentos de cada tempo.
Fazer o percurso da foz até à ponte do Neiva em grupo de gente já espigada, não sendo regular, acontecia de vez em quando. Daí o conhecimento de cada azenha e de quem lá passava o tempo em moagem permanente. Mas entre as que se situavam no troço do rio em Castelo do Neiva (Santa Tecla, Sebastião, Palhurdo, Adriano e Caseiro, contando da foz para a nascente), as que mais gratas recordações me deixaram são a do Sebastião, Palhurdo e Adriano. A primeira, porque por lá passava com muita regularidade, em direção a Antas, onde vivia a minha avó paterna. Aquela ponte de pedra, mandada construir em 1930 pelo dono da azenha (data inscrita num pilar da ponte), foi calcorreada vezes sem conta por mim e os meus irmãos; a segunda porque foi onde apreendi a nadar; e a terceira porque a família que a explorava tinha comigo e com a gente da minha casa uma relação de forte empatia.
Azenha do Sebastião, também conhecida por Azenha do Minante. Foto PR4 – trilho das azenhas de Anta, município de Esposende
Na do Palhurdo, para onde também muitas castelenses se deslocavam para grandes lavagens da roupa de casa, consumi horas sem conta. O rio era a minha perdição. Ainda muito criança, nado já com estilo e aventuro-me pelo largo profundo. Mergulho a profundidades de 4 metros para apanhar objetos que os adultos atiram à água para testar a minha destreza. “Agora é que vamos ver quanto vale o ranhoso”, diziam os marmanjões. Eufórico e ofegante, surgia à tona da água e atirava as tralhas para a margem do rio, como autênticos troféus de caça. Aquilo suava a provocação e aquela turba, fora de si, procurava cada vez mais objetos que não fossem visíveis no fundo do rio e não deixavam sair ninguém da água enquanto os mesmos não fossem encontrados. Era assim que estava desaparecido tardes inteiras, para desespero dos de casa, que, apesar de tudo, não deixavam de mourejar no campo. Aparecia ao fim do dia junto deles, onde me era aplicada severa punição, para depois se prolongar a jorna, como castigo máximo para mim, mas que se estendia a todos.
Decorridos mais de 20 anos, acompanhado do Rui Alpuim, um amigo pintor, voltei ao Palhurdo, para que o Rui me pintasse a azenha e a sua envolvente de tão gratas recordações. Não podia ter sofrido maior desapontamento. Começou nos caminhos de acesso, que por falta de uso quase se tornaram intransitáveis, e acabou em toda a envolvente da azenha, com um forte matagal que tudo invadia. Todos os espaços onde brincava e de onde mergulhava a petizada quase tinham desaparecido. Isto sem esquecer a forte poluição de que sofria o rio resultante dos resíduos da fábrica de resina, situada junto à ponte do Neiva, que dá acesso a Antas e ao Porto. Bom, sumiu-se a ideia do quadro, que já nada apetecido era. Mas depois de tanto esforço, encomenda feita, lá se pintou. Apesar de bem conseguido, nunca o encarei bem. Transacionou-se mais tarde, mas hoje estou arrependido. Julgo que, na altura, compreendi mal a evolução do tempo e as transformações que este opera nas formas de viver e estar dos povos.
A azenha do Palhurdo, pintada por Rui Alpuim. A azenha da minha meninice e do meu desencanto quando adulto
As azenhas tinham vida intensa e os moleiros ganhavam para viver eles e a família. Normalmente, os donos tinham casa de lavoura e aproveitavam os carros de vacas para recolher os sacos de milho pela freguesia carreando-os até à azenha. Moído o milho, já sem a maquia a que o moleiro tinha direito, havia que devolver aos respetivos donos os sacos, mas agora com farinha. Este vai e vem socializava as gentes do Castelo. Os contactos eram intensos, as amizades estabeleciam-se e ninguém se queixava, mesmo quando parecia que o milho moído tinha rendido pouco.
Em tempos pensei em fazer um trabalho pormenorizado sobre estas azenhas que vinham da ponte à foz, quase todas propriedade de castelenses. Tinha em mente contar a história de cada uma: o seu nascimento, os donos, o seu funcionamento, particularmente no verão, com água aprisionada pelos açudes, os valores de moagem, etc. Mas o tempo não dá para tudo e, agora, muita desta informação está perdida, por falta de registos e morte das famílias. Pode ser que ainda não seja tarde, mas para alguém mais afoito.
Mais uma Azenha do Rio Neiva pintada por Rui Alpuim
Comentário de Gonçalo Fagundes Meira
POIS, O RIO ONDE APRENDI A NADAR
Quando as crónicas fazem uma travessia no tempo e nos levam até a um passado que nos deixou marcas, tudo se torna mais fácil. Por vezes, difícil é saber como parar, para não nos tornarmos maçadores, em relação a quem perde tempo a ler-nos.
O Rio Neiva do meu tempo de petiz não tinha só o encanto próprio da meninice. Tinha o encanto das azenhas, dos rios limpos, sem poluição das fábricas e da suinocultura, sem a conspurcação de detritos de toda a ordem, porque naquele tempo tudo se aproveitava e nem detritos havia, tantas e tão grandes eram as dificuldades de vivência dos portugueses.
Naquele tempo os rios estavam isentos de vegetação, porque havia guarda-rios, tal como havia cantoneiros. Infelizmente algumas coisas boas de outros tempos não foram aproveitadas e deviam-no ter sido. O progresso não se faz deitando fora o que de bom e prático havia, tal como não se deve "deitar fora o menino com a água do seu banho", como é usual dizer-se.
Bom mas eu não tenho saudades daquele tempo, porque a nostalgia não pode ser superior a realidades diferentes, em que o progresso tirou tanta e tanta gente da miséria endémica.
Os Municípios de Esposende e de Viana do Castelo formalizaram, hoje, um protocolo de cooperação com vista à execução do Projeto de Limpeza e Valorização do Rio Neiva. A sessão, realizada na Casa da Música de Antas, contou com a presença do Vice-presidente da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, Pimenta Machado, das Diretoras Regionais da ARH Norte e da Direção de Áreas Protegidas do Norte, Inês Andrade e Sandra Sarmento, respetivamente, bem como dos presidentes das Juntas de Freguesia de Antas, Forjães, Castelo de Neiva e de Alvarães.
Com um investimento estimado a rondar os 700 mil euros, o projeto prevê a intervenção ao longo de uma extensão de dez quilómetros, considerando os troços das duas margens, e contempla a caracterização geral da área envolvente do rio, a identificação e caracterização do património edificado existente ao longo da margem, a identificação e caracterização da fauna e da flora, com particular ênfase na marcação dos locais onde se detete a presença de espécies invasoras. Além do diagnóstico, constituem também grandes eixos do projeto, numa fase posterior, a naturalização dos percursos pedestres ao longo do rio, a limpeza e erradicação de invasoras, a estabilização de troços da margem do rio com recurso a técnicas de engenharia natural, a implementação de medidas que visem o usufruto sustentável dos espaços e, naturalmente, o envolvimento da comunidade em todo o processo como forma de sensibilização e educação para a valorização do Rio, como assinalou o projetista Pedro Teiga, a quem coube a apresentação do projeto.
O Presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, afirmou estar perante “um dia histórico”, que constitui o “pontapé de saída para a valorização de um dos mais belos rios do país”. Aludindo ao histórico de cooperação entre os dois municípios, o autarca de Esposende vincou que os une uma saudável relação de amizade e a vontade mútua de desenvolvimento dos respetivos territórios, não num contexto de competição mas de complementaridade. “Partilhamos interesses comuns, fronteiras, recursos e pontos de vista sobre o território”, referiu Benjamim Pereira, considerando, pois, natural este projeto de cooperação para valorizar este recurso hidrográfico que delimita os dois municípios e que se insere no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas.
Para o presidente da autarquia de Esposende, o rio Neiva é “um recurso extraordinário” que importa valorizar, constituindo “um ativo turístico, desportivo, ambiental e cultural” da maior relevância. Manifestou-se, assim, certo de que este projeto terá repercussões positivas a vários níveis, entre os quais, numa fase subsequente, também na vertente da Cultura/Património, numa perspetiva de reabilitação vernacular, nomeadamente azenhas e engenhos.
Partilhando do entusiasmo de Benjamim Pereira, o Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, José Maria Costa, referiu que, tal como sucedeu no passado noutros projetos de cooperação, os municípios estão em perfeita sintonia e fortemente empenhados na execução deste projeto, que, para além da limpeza e valorização do rio Neiva, “vai dar resposta a um conjunto de problemas”.
O projeto integra várias medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas, previstas na Lei da Água e pretende contribuir para a implementação da Diretiva Quadro da Água, como realçou o Vice-presidente da APA, afirmando que importa adaptar o rio para enfrentar as mudanças resultantes das alterações climáticas.
Pimenta Machado enalteceu a cooperação estabelecida entre os municípios de Esposende e de Viana do Castelo, ao abrigo da qual já foram concretizados projetos de grande valia, apontando, a título de exemplo, a ponte pedonal que liga Antas a Castelo do Neiva inserida no percurso da Ecovia Litoral e executada pela Polis Litoral Norte.
A Rio Neiva - Associação de Defesa do Ambiente é uma organização não governamental (ONG), fundada em 17 de novembro de 1989. Está inscrita na Rede Nacional de Associativismo Jovem (RNAJ) sendo também classificada como uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) e com Estatuto de Utilidade Pública.
Tem como objetivos essenciais defender e valorizar o ambiente e o património natural e cultural, promover um desenvolvimento regional equilibrado do Vale do rio Neiva, macro otimizar o papel da defesa do ambiente nas suas diferentes valências (proteção, sensibilização, valorização, desporto de natureza).
Para atingir estes objetivos esta associação desenvolve e executa atividades e projetos próprios e em parceria com diversas associações e instituições locais, partilha experiências com outras organizações idênticas e desenvolve ações de educação ambiental. Tem como principal público-alvo a comunidade escolar da área onde atua e a população local residente.
É de salientar o pilar que sustenta esta associação e todas as suas iniciativas: o contributo voluntário de todos os seus membros e comunidade envolvente.
Deste modo a Rio Neiva - Associação de Defesa do Ambiente vem por este meio solicitar apoio para a divulgação ativa desta campanha, que tem o objetivo principal angariar fundos para o custeio do funcionamento desta instituição.
A participação da nossa freguesia nestas centenárias Festas remonta a 1936, neste caso, com presença no Cortejo Etnográfico, na altura denominado Parada Regional. A participação na Festa do Traje aconteceu um pouco mais tarde, em 1950, quando esta se afirma categoricamente, com realização no Estádio “Dr. José de Matos”, do SCV. Mas estes dois destacados números da Romaria das Romarias, designação por que é bem conhecida a nível nacional, têm um percurso não isento de contratempos e incertezas.
Sargaceiras do Castelo do Neiva
O Cortejo Etnográfico, com o nome de Parada Agrícola, iniciou-se em 1908. Reeditou-se em 1909, mas nos 18 anos seguintes nunca constou dos programas da Romaria. Por insistência da imprensa local, voltou em 1926, para que novo interregno acontecesse, agora de 8 anos. Regressou em 1934, ainda com o mesmo nome, mas, em 1935, 36 e 37 já como Parada Regional. A novo interregno, seguiu-se um novo retorno em 1948, ano do centenário da cidade, então já com o nome de Cortejo Etnográfico, e com um programa onde constava a participação de 51 carros, mais de 55 grupos, com cerca de 2000 mil figurantes. Nos dez anos de 1950 ainda tem algumas intermitências, contudo, na década seguinte, o Cortejo Etnográfico instala-se definitivamente como referência maior das Festas.
Primeira representação de Castelo de Neiva com os seus sargaceiros nas festas da Senhora d’Agonia, em 1936, no local de partida do cortejo. Na estrada da Papanata. Foto de Abel Viana
A Festa do Traje tem o seu primeiro ensaio em 1927. Do programa consta um concurso de trajes regionais, anunciado como “Certame de Costumes”. O resultado é francamente mau, a imprensa não aplaude e a experiência é abandonada. Em 1948, consolida-se com brilhantismo a prática de sortear objetos de ouro pelas lavradeiras vestidas a rigor, iniciada dois anos antes. Daí que, em 195o, o programa da Romaria nos apresente, de forma bem explícita, a realização da Festa do Traje no Estádio do SCV, como atrás referido, para não mais acabar.
Ano de 1951. Participação na Festa do Traje
A representação dos Castelenses
A convite muito especial da Comissão que tinha a incumbência de realizar o cortejo, a nossa freguesia fez-se representar pela primeira vez em 1936, na então Parada Regional, (para os castelenses, se bem me recordo, sempre se considerou Parada, mesmo quando esta deixou de o ser) reunindo exclusivamente motivos, costumes, indumentária e folclores do distrito de Viana do Castelo, como dá a conhecer o jornal Aurora do Lima, edição de 14/04/1936. A nossa terra apresenta-se, nesse caso, com um grupo de sargaceiros, bem representativo de uma atividade que estava no seu auge, enquadrada na área da Festa Marítima, onde se situavam igualmente as freguesias de Anha e Darque, bem como a Ribeira de Viana, dado também a ligação destas à atividade marítima. A nossa indumentária, sempre igual, é simples e de pouco colorido, contrariamente à de outras paragens, mas tem personalidade e impõe respeito. Assenta no branco e é de fabrico fácil. É constituída pela branqueta feita de lã pura, para que o corpo permaneça quente quando dentro da água, e com sueste feito de pano-cru, banhado com óleo de linhaça, para o tornar impermeável e não se molhar a cabeça quando se enfrenta as ondas. A partir deste ano de 1936, havendo realização, jamais Castelo do Neiva deixou de participar no cortejo.
Descendo a Av. dos Combatentes no Cortejo Etnográfico de 1963
Igualmente, aconteceu com a Festa do Traje, a partir de 1950, quando oficialmente teve o seu início. Segundo o programa desta iniciativa, neste ano, participaram 15 freguesias e Castelo do Neiva aí consta: “com a gente do campo e do mar; sargaceiros e sargaceiras vestindo de branqueta, traje com que enfrentam o mar sobre primitivas jangadas, jogando a vida sem temor, sempre com uma cantiga a florir nos lábios”, assim “rezava” o dito programa, que citava ainda como responsáveis por esta representação o Prof. Manuel Augusto da Silva Lima e Augusto Alves Bonifácio, gente que ainda conheci.
Mais uma participação no Cortejo Etnográfico. Anos 50/60
Para se fazerem representar com dignidade em qualquer destes números, os castelenses, muito antes das Festas, tinham longos preparativos, que apesar de se desenrolarem em condições precárias, não arrefeciam ânimos, antes pelo contrário, estimulavam alegria e envolvimento, pese o estilo adotado, com mais ou menos elaboração. Recordo-me, quando miúdo, década de 1950, de assistir aos ensaios do numeroso grupo que nos representaria. Tudo começava, portanto, com largas semanas de antecedência. Na eira da casa de um vizinho, que funcionava como tocador de concertina e ensaiador, aquele conjunto de moças e moços esforçava-se para conseguir uma representação condigna, que prestigiasse a sua terra. À luz de candeeiros, já que não havia energia elétrica (essa só chegou quase vinte anos depois) ensaiava-se uma dança caseira, a acompanhar um coro que entoava a Moda da Carrasquinha, muito popular e de região indefinida. Se bem me recordo, entre várias, tinha esta quadra: carrasquinha sacode a saia/carrasquinha levanta o braço/dá-me um beijo amorzinho/e eu te darei um abraço. Acompanhavam a quadra os bailadores, com as moças a sacudir a saia e a levantar o braço, a que se seguiam os beijinhos e abraços da parte de moços e moças. Mas nem sempre os ensaios resultavam bem, a dança azarava e o ensaiador, homem por vezes de mau humor, ameaçava pôr tudo no olho da rua, acusando os bailadores de falta de responsabilidade e empenho, porém, tudo harmonizava, terminando sempre de forma pacífica.
Nas Festas, os sargaceiros de Castelo do Neiva eram sempre os mais aplaudidos e os mais fotografados, e a imprensa dava-lhes honra de primeira página, descrevendo-os como gente garbosa e representativa de uma comunidade determinada, com absoluto domínio do mar e que deste arrancava o sustento para centenas de famílias. Era uma representação verdadeiramente genuína, tão intensa era a vida de mar dos castelenses e tão significativa era a apanha do sargaço na freguesia. Hoje, Castelo do Neiva mantém a sua representação nesta afamada Romaria, por vezes com pequenas variantes, mas tendo sempre a representação do sargaço como aspeto principal. Contudo, correndo o risco de ser apodado de saudosista, fico com a ideia de que nos tempos de antigamente a nossa representação nos cortejos e festas do traje era mais autêntica e de sentimento profundo.
No Cortejo Etnográfico, na década de 1980, com uma representação vistosa
A Rio Neiva - Associação Defesa do Ambiente celebra 30 anos e queremos celebrar com todos os envolvidos até hoje.
Preparamos um programa para os dias 16 e 17 de Novembro que podes ver em anexo.
A exposição da história e vida da associação está aberta ao público das 15h00 às 18h00 do dia 16 de Novembro (sábado) na Quinta de Belinho em Antas ( ver mapa)