O Santuário de Nossa Senhora da Paz é um santuário mariano localizado na freguesia de São João Batista de Vila Chã, no concelho de Ponte da Barca e distrito de Viana do Castelo. Este templo católico situa-se a cerca de 10 km de distância da sede do concelho, a vila de Ponte da Barca, e fica situado na entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O Santuário de Nossa Senhora da Paz dá expressão ao pedido de Nossa Senhora, feito a 10 e 11 de maio de 1917 indicado ao pequeno Severino Alves: “Diz aos pastores do monte que rezem sempre o terço, que os homens e mulheres cantem a ESTRELA DO CÉU, e se apeguem comigo, que hei-de acudir ao mundo e aplacar a guerra”.
O Santuário de Nossa Senhora da Paz é um local de peregrinação cristã que faz memória dos acontecimentos que levaram à sua fundação, ou seja, as aparições de Nossa Senhora da Paz ao pastorinho Severino Alves. O acolhimento dos peregrinos e visitantes é elemento fundamental da missão deste santuário mariano, o qual conta com o apoio de diversos voluntários da freguesia deste mesmo Santuário.
O que aconteceu no Barral a 10 e 11 de maio de 1917?
O protagonista do caso foi um pobre pastorinho, de nome Severino Alves, de dez anos de idade, filho de uma pobre e virtuosa viúva, e irmão de mais outros seis, todos eles muito tementes a Deus. No dia 10 de maio de 1917, deviam ser oito horas da manhã, ia esse rapazinho a caminho do monte rezando o terço, como costumava fazer, quando numa ramada próxima da Ermida de Santa Marinha, sentiu um relâmpago que o impressionou. Dá mais alguns passos, atravessa um portelo e defronta uma Senhora, sentada, com as mãos postas, tendo o dedo maior da mão direita destacado, em determinada direção. O seu rosto era lindo como nenhum outro, toda Ela cheia de luz e esplendor, de maneira a confundir vista, cobrindo-lhe a cabeça um manto azul e o resto do corpo um vestido branco. Logo que o pequeno vidente a viu, caiu para o lado surpreendido com tal acontecimento. Readquirindo ânimo, levantou-se, e exclamou: “Jesus Cristo!”. Nesse mesmo instante desapareceu a Visão. O pároco da localidade, que não parecia ser um espírito que facilmente se dominava por factos, que não parecessem credíveis, ouviu com atenção o rapazinho, não só atendendo á fama de bem comportado, que gozava na localidade, mas atendendo à sinceridade e à precisão com que relatou tudo o que viu. O pároco aconselhou-o, finalmente, a que voltasse ao lugar da Aparição e pedisse a essa Visão que o informasse quem era. No dia seguinte ao da primeira Aparição, dia 11 de maio de 1917, uma sexta-feira, deviam ser também oito horas da manhã, pois ia soltar as ovelhas e os carneiros a fim de os levar para o monte, sem que sentisse relâmpago algum, quando atravessava o portelo, deparou-se com a mesma Senhora, que estava sentada no mesmo sítio do dia anterior. Nesse dia, 11 de maio, Severino foi ao local, à mesma hora, mas já preparado pelo seu pároco, a quem logo terá contado do sucedido. Ao ver de novo a dita senhora, ajoelhou-se e disse: “Quem falou ontem fale hoje”. Perante a firmeza da frase, “a Aparição com uma voz que era um misto de rir e cantar, diferente do falar de todos os mortais que tem visto, tranquilizou-o dizendo-lhe: ‘Não te assustes. Sou Eu, menino.' E acrescentou: ‘Diz aos pastores do monte que rezem sempre o terço, e que os homens e mulheres cantem a Estrela do Céu. E as Mães que têm filhos lá fora, que rezem o terço, cantem a Estrela do Céu e se apeguem comigo, que hei-de acudir ao Mundo e aplacar a guerra'”.Depois de dizer o que fica escrito, sem que a criança tivesse mais tempo para formular uma resposta além de: “Sim, Senhora”, a Visão, olhando para uma ramada, acrescentou: “Que gomos tão lindos, que cachos tão bonitos!”. Mal o pastorinho tinha olhado para a ramada, voltando a cabeça, já a Visão tinha desaparecido. O privilegiado vidente foi imediatamente avisar do acontecido às mães dos filhos da localidade que estavam no exército. A comoção do pequeno teria sido tamanha que depois destes factos, nunca mais quis voltar sozinho ao sítio da Aparição. Às perguntas feitas, o rapazinho respondia sempre da mesma forma: “Se quiserem acreditar, que acreditem, se não quiserem que não acreditem”, e acrescentava: “Eu fiz a minha obrigação, avisando como me mandaram”.
De 1917 até ao Cinquentenário das Aparições (1967)
As primeiras multidões de devotos dirigem-se a partir do momento em que o relato chega aos jornais A Ordem (Porto - 9 de junho de 1917) e Echos do Minho (Braga - 17 de junho de 1917), muito antes de serem publicadas as primeiras notícias sobre as aparições de Fátima.
"No Barral, as pessoas, de forma muito zelosa, mantiveram-se fiéis e cumpriram as orientações do senhor arcebispo primaz de Braga, que recomendava contenção, reserva e que aguardassem as orientações das autoridades eclesiásticas, e nunca tomaram a liberdade de colocar, sequer, à veneração popular uma imagem".
Após uma elevada afluência de peregrinos, apenas 50 anos depois da Aparição foi autorizada a colocação de uma imagem num nicho - no local das duas aparições. É ainda por esta altura, década de 1960, que é realizado um comunicado sobre as "Aparições do Barral", o qual é levado ao Congresso Mariano Internacional, por ocasião do Cinquentenário das Aparições de Fátima. É despertado, de novo, o interesse de muitos perante algo que ficara "esquecido".
São João Batista de Vila Chã(oficialmente, Vila Chã (São João Batista) foi uma freguesia portuguesa do concelho de Ponte da Barca, com 10,11 km² de área e 484 habitantes (2011). Densidade: 47,9 hab/km².
Foi uma das freguesias iniciais da terra medieval da Nóbrega, tendo vindo a beneficiar do foral manuelino a esta outorgado em Outubro de 1513. Anexou a antiga freguesia de Santa Marinha da Nóbrega, hoje lugar do Barral.
A freguesia de São João Batista seria extinta (agregada) pela reorganização administrativa de 2012/2013, sendo o seu território integrado na União das Freguesias de Vila Chã (São João Batista e Santiago).
Quando um papa morre, são declarados nove dias de luto e o enterro ocorre entre o 4º e o 6º dia após a sua morte. Durante o período de luto, a Igreja Católica geralmente recomenda evitar festas e celebrações que possam parecer desrespeitosas com a dor da perda.
A morte do Papa Francisco também significa a suspensão de outras celebrações de rotina, como as missas e outros eventos religiosos, por um período de luto.
Em consequência do falecimento do Papa Francisco, muitas celebrações da Páscoa, foram suspensas ou adaptadas para refletir o período de luto. Entre elas encontra-se naturalmente as festas da Pascoela.
As gentes de Esposende realizaram ontem a Procissão do Enterro do Senhor, uma das celebrações que ocorrem no âmbito da Semana Santam culminando as celebrações deste tempo litúrgico com a Vigília e o Compasso Pascal.
A Procissão do Enterro do Senhor expressa o sentimento, a comoção e a devoção dos católicos com a morte de Cristo na cruz e o seu enterro. Estas procissões começaram a realizar-se em finais do séc. XV e inícios do séc. XVI, oriundas de tradições vindas de Jerusalém.
As gentes de Esposende realizaram ontem a Procissão do Encontro, uma das celebrações que ocorrem no âmbito da Semana Santa. Hoje terá lugar a Procissão do Enterro, culminando as celebrações deste tempo litúrgico com a Vigília e o Compasso Pascal.
A encenação do caminho de Jesus desde a condenação até à morte na cruz, promovida pelo programa Celorico a Mexer do Município de Celorico de Basto, decorreu esta terça, 15 de abril, na igreja matriz de S. Pedro de Britelo.
A Via Sacra ao vivo procurou ser um momento solene para retratar a Paixão de Cristo, vivida neste período da Quaresma, que antecede a Páscoa. Como habitualmente, toda a encenação foi preparada com rigor para que a comunidade vive-se, ao longo das 14 estações, o caminho de Jesus até ao Calvário. Grande parte das personagens bíblicas foram interpretadas pelos idosos do Celorico a Mexer, momentos plenos de devoção e fé.
Como habitualmente, o Presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, José Peixoto Lima, marcou presença nesta cerimónia e enalteceu “ a importância destas ações numa comunidade que vive com intensidade a sua fé. O Celorico a Mexer é um programa que cria motivos e razões para manter os nossos idosos em comunidade e, por isso, proporciona iniciativas que os movam a sair de casa, a participar , a sentir-se parte de uma comunidade que é de todos e para todos”.
Toda a cerimónia foi presidida pelo Arcipreste de Celorico de Basto, Francisco Medeiros, assistido pelo Pe. Carlos Macedo, pelo Pe. Sérgio Araújo e pelo Pe. Parcídio Rodrigues. Os cânticos foram divinamente cantados pelo coro dos funcionários da divisão de Desenvolvimento Social e Saúde do Município.
A Via Sacra pretende ser um momento de meditação e reflexão caraterísticas do tempo litúrgico vivido, a Quaresma.
Em 2025, a Igreja celebra o Jubileu “Peregrinos da Esperança”, um tempo de renovação espiritual, perdão e reconciliação, em que somos chamados a viver a graça do perdão e a transformar as nossas vidas, renovando a nossa fé e compromisso com o Evangelho, pelo que esta Via Sacra levou todos os presentes a refletir sobre as diferentes dimensões da esperança: a esperança que surge no meio da dor, a esperança que brota do sofrimento e, acima de tudo, a esperança que se encontra na promessa da Ressurreição.
Teresa Morais Silva acaba de executar mais uma das suas magníficas ilustrações, desta feita alusiva à Mordomia do Senhor dos Passos. Nesta ilustração, representa trajes de Dó com o raminho de flores roxas que será este ano oferecido ao andor do Senhor dos Passos. Esta ilustração é inspirada numa fotografia do fotógrafo Ricardo Sousa.
“O meu pai era um fervoroso devoto do Senhor dos Passos e decorou o andor durante os mais de vinte anos que trabalhou na Sé de Viana. Era o sr Jerónimo Teles e é a ele, o meu pai, que dedico esta ilustração”, afirma a autora.
Este ano, Teresa Silva vai também participar no desfile envergando um traje de cerimónia de Morgada.
Teresa Silva é natural de Viana do Castelo. Nasceu em 1979 e desde os primeiros anos de infância demonstrou sempre muita sensibilidade artística, sobretudo para as artes visuais com recurso a lápis ou tintas e trabalhos manuais.
É licenciada em Professores do 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico, variante Educação Visual e Tecnológica na Escola Superior de Educação de Viana do Castelo e leccionou durante 7 anos na Região Autónoma dos Açores. Regressou ao continente e permaneceu 6 anos em Aveiro onde se dedicou ao Bordado de Viana tendo Carta de Artesã.
Em 2018 regressou a Viana do Castelo e passou a dedicar-se por completo às artes plásticas.
Em 2023 criou um atelier de ilustração, tendo sempre por base de inspiração os Trajes do Alto Minho, sobretudo o Traje à Vianesa.
Possui particular gosto por ilustrar registos fotográficos antigos, sobretudo do inicio do século XX.
Os principais materiais que utiliza são os lápis de carvão, lápis de aguarela secos, marcadores, marcadores de aguarela e papel rugoso de aguarlas. Esta Inspiração vem do profundo amor pelo Traje, sendo que a primeira vez que envergoui um em cortejos da Romaria de Nossa Senhora d’Agonia tinha apenas 6 anos de idade, tendo aprendido a trajar com o saudoso sr Amadeu Costa e a D. Maria Emília de Sena Vasconcelos, amigos próximos do seu pai. São já 36 anos a trajar Viana.
O seu maior desejo é poder expor o meu trabalho na terra que a viu nascer e perpectuar no tempo, através da técnica manual da ilustração, o valor incalculável que tem a memória do Traje à Vianesa.
Este cortejo solene acontece, este sábado, dia 12 de abril, às 16h00, e recriará a tradição das devotas que ofereciam ramos de violetas à imagem de Nosso Senhor dos Passos.
O cortejo sairá do Museu de Artes Decorativas, seguindo pela Rua Manuel Espregueira, Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, Rua da Picota, Praça da República e seguindo à Sé Catedral, para se oferecer os raminhos de flores.
Páscoa Doce é uma organização conjunta da Câmara Municipal, Diocese de Viana do Castelo, Vianafestas e Associação Empresarial do Distrito de Viana do Castelo, visando promover a tradição e a etnografia, integrada na programação Viana do Castelo - Capital da Cultura do Eixo Atlântico 2025.
Viana do Castelo celebra a Páscoa com um conjunto de iniciativas que destacam as tradições e a identidade local. Neste período, de 12 de abril e até final do mês, estarão disponíveis duasexposições: até 27 de abril, “Páscoa com Tradição”, no piso 0 dos Antigos Paços do Concelho; e até 30 de abril, exposição “Da Paixão à Ressurreição”, nas coleções do Museu de Artes Decorativas.
No sábado e no domingo, das 10h30 às 11h30, entre os destaques do programa está oWorkshop de Palmitos, onde os participantes poderão aprender a confecionar os tradicionais palmitos, decorados com flores artificiais. Já das 10h30 às 12h30 e das 15h00 às 17h00, também nos dois dias, a principal praça da cidade recebe ainda oworkshopOvos da Páscoa, para os mais novos.
“A execução do Palmito Vianense está relacionada com as celebrações religiosas do Domingo de Ramos, pois, estes eram levados e benzidos na Igreja Paroquial. Nas usanças locais, e ainda associado ao período Pascal, nas freguesias vianenses, era costume o “Mordomo da Cruz” oferecer um Palmito aos seus amigos e pessoas de grande estima”, como explica a mais recente brochura lançada pela VianaFestas sobre “Flores Devocionais”.
No ano em que o Vale do Lima é Região Europeia da Gastronomia e Vinho, oFeirão da Patanisca, no âmbito do Fim-de-semana Gastronómico, acontece das 10h00 às 13h00 de sábado,e reunirá grupos folclóricos da região, recriando um mercado tradicional, enquanto o Museu do Traje dinamizará atividades interativas para aproximar o público das tradições pascais vianenses.
Nessa noite de 12 de abril, às 21h30, haveráCiclo de Música de Câmara, com oQuarteto Verazin(quarteto de cordas da Póvoa de Varzim), na Igreja da Misericórdia, com Diogo Coelho – violino, Jorman Torres – violino, Emídio Ribeiro – viola d´Arco, Burak Ozkan – violoncelo, acompanhados por David Dias da Silva no clarinete.
NoDomingo de Ramos, 13 de abril, às 10h30, Bênção e Procissão de Ramos e Missa da Paixão na Sé de Viana do Castelo. Pelas 15h30, Oração de Vésperas e Procissão do Senhor dos Passos, seguindo-se Sermão do Encontro na Praça da República. A Procissão inicia na Sé, seguindo pelo Largo Instituto Histórico do Minho, Praça da República, Passeio das Mordomas, Avenida Conde da Carreira, Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, Rua Grande, terminando na Sé Catedral.
Dia 16 de abril, a programação inclui aexposição “Rituais: do namoro ao casamento”,no Museu do Traje e Museu de Artes Decorativas.
NaQuinta-feira Santa, 17 de abril, a Sé acolhe a Missa Crismal, pelas 10h00, a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, com Lava-pés, às 19h00, com apresentação das ofertas para os pobres e Procissão do Santíssimo Sacramento. Nessa noite de 17 de abril, das 20h00 às 24h00, a cidade promove a tradicionalVisita às Igrejas e Capelas, num roteiro religioso por mais de duas dezenas de espaços religiosos de Viana do Castelo.
Na Sexta-feira Santa, 18 de abril, a Sé Catedral acolhe, às 10h00, Ofício de Leituras e Laudes. Pelas 15h00, Celebração da Paixão do Senhor, e, às 21h00,Via Sacra na cidade.
No Sábado Santo, 19 de abril, a cidade e as diversas freguesias do concelho acolhem as populares e tradicionaisQueimas de Judas. Às 17h00, na Igreja da Misericórdia, apresenta-se oCuore Armonico com DULCE JESU. Pelas 22h00, Vigília Pascal.
No Domingo de Páscoa, às 9h00,Compasso Pascal na Câmara Municipal de Viana do Castelo. Nesse dia, a Sé Catedral celebra eucaristias às 9h30, 11h00 e 18h00.
Na segunda-feira de Páscoa, 21 de abril, além do habitual compasso nas freguesias, vive-sea Páscoa a Três - Cerimónias da Segunda-feira de Páscoa no Largo das Neves, pelas 12h30.
O termo “Compasso” no sentido de Visita Pascal ou Compasso da Visita Pascal tem a sua origem na expressão latina Crux cum passo Domino que significa “Cruz em que o Senhor padeceu”, tomando a sua forma abreviada.
"Padre de aldeia abençoando em dia de Páscoa" - Costumes portugueses da província do Minho. Autor: Augusto Roquemont (1804-1852)
Na sua forma atual, trata-se de um costume que tem origem na Idade Média, constituindo uma forma solene de benzer as casas cuja jurisdição é atribuída ao pároco. Não obstante, e tal como a sua designação indica, o Compasso é a Cruz que preside aos ritos cristãos, razão pela qual ela é empunhada pelo Juíz da Cruz a quem cumpre empunhar a “Cruz Paroquial” em todas as cerimónias de culto, incluindo a visita pascal.
As suas origens são porém mais remotas. Confiavam os romanos e os etruscos a proteção das suas casas aos deuses Lares, divindades que tinham por missão proteger os lares domésticos, relacionado então com o local onde se acendia o lume para cozinhar e aquecer a casa, sinal evidente da prática do culto do fogo. Entretanto, o termo lar, no sentido em que era então compreendido, foi substituído por lareira.
Coincidindo com o ciclo da Primavera – o renascimento da Natureza e a Ressurreição de Cristo – o pároco leva a cruz a benzer as casas dos fiéis. Porém, sempre dados a preservar as suas tradições e à exuberância do seu modo de viver, os minhotos passaram a enfeitar a cruz e dá-la a beijar em suas casas, cumprindo um ritual hierárquico dentro da própria família que começa com o dono da casa e espôsa até ao filho mais novo e restantes familiares.
O Compasso Pascal é uma das festas mais queridas das gentes minhotas – assim entendidas como pertencendo à região de Entre-o-Douro e Minho – sendo ocasião de convívio e visita a casa dos familiares e amigos.
A imagem mostra a visita pascal na Freguesia de Outeiro, em Viana do Castelo, na década de sessenta do século passado.
"Padre de aldeia abençoando em dia de Páscoa" - Costumes portugueses da província do Minho. Autor: Augusto Roquemont (1804-1852)
A Pascoela ocorre sete dias após a Páscoa, sendo também designada por Dia da Misericórdia de Deus, oitava da Páscoa ou Quasímodo, denominações caídas em desuso após o Concílio Vaticano II.
Há mais de um século, o escritor e jornalista valenciano José Augusto Vieira, descrevia a Páscoa no Minho, na revista “Branco e Negro” (Semanario Illustrado), nº.1 de 5 de Abril de 1896, nos seguintes termos:
“O Natal é a festa da noite, a Paschoa e festa do dia!
Pelos caminhos da aldeia o parocho revestido de sobrepeliz e estola vae acompanhado pelo mordomo da cruz, pelo caldeirinha de agua benta, pelo campainha, pelo creado encarregado de receber os folares. Partem sol nado.
São muitos e distantes os logares, e a cruz, enfeitada com belos cordões de ouro e laços de fita coloridos, aromatisada com essência de cravo ou rosmaninho, tem de ser beijada por todos os freguezes.
Os vizinhos invadem uns as casas dos outros; os parentes teem de ir beijal-a a casa dos parentes, embora a distancia seja longa.
Avista-se além a Cruz, n’uma volta da azinhage. A campainha vibra no ar ambalsamado pelo perfume das macieiras em flôr, e então todos se dão pressa em juncar de flores e plantas aromaticas a entrada do seu lar, e estender sobre a mesa a alva toalha de rendas, onde o folar é depositado.
O padre chega. Enche-se a casa.
Alleluia, boas festas.
E a todos ajoelhados o parocho dá a Cruz para beijar, correndo assim a freguesia inteira.
Os ausentes teem vindo de fora, esquecem-se antigos ódios, visitam-se amigos velhos; a panella é gorda n’esse dia, o vinho espuma alegremente. É a natureza que ressurge, e quando a seiva ascende exhuberante e fecunda, não é para admirar que o espírito se vivifique pela alegria.”
SEM PÁSCOA NÃO HÁ PASCOELA
“Na Páscoa, o Cristianismo celebra a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o que faz desta festividade porventura a mais importante e de maior significado para os cristãos. Com efeito, é a crença na ressurreição de Jesus Cristo que distingue a fé cristã em relação a outras confissões religiosas. Foi apenas no século II que a Igreja Católica fixou a Páscoa no domingo, sem a menor referência à celebração judaica. Sucede que Jesus Cristo, segundo o calendário hebraico, terá morrido em 14 de Nissan, precisamente o início do Pessach ou seja, o mês religioso judaico que marca o início da Primavera.
Com efeito, de acordo com a tradição judaica, a Páscoa provém de Pessach que significa passagem e evoca a fuga dos judeus do Egipto em busca da Terra Prometida. Na realidade, tal significação remonta a raízes ainda mais ancestrais, concretamente às celebrações pagãs que ritualizavam a passagem do Inverno para a Primavera ou seja, as festas equinociais associadas à fertilidade e ao renascimento dos vegetais.
Tais celebrações eram antecedidas pela Serração da Velha, o Entrudo e as saturnais que originaram as festividades de Natal. Mas, as novas religiões monoteístas alicerçaram-se sobre as ruínas das crenças antigas e, por cima dos antigos santuários pagãos ergueram-se as novas catedrais românicas e góticas. Da mesma forma que, sobre as ruínas dos velhos castros foram construídos os castelos medievais. E, assim, também as celebrações pagãs se revestiram de novas formas mais de acordo com novas conceções religiosas e se cristianizaram, adquirindo uma nova simbologia e significação.
Subsistem, no entanto, antigas usanças que denunciam as origens pagãs da festividade pascal associadas a costumes importados da cultura anglo-saxónica que, em contacto com as tradições judaico-cristãs originam um sincretismo que conferem à celebração pascal uma conceção religiosa bastante heterodoxa. É o que se verifica, nomeadamente, com toda a simbologia associada ao coelho e aos ovos da Páscoa, sejam eles apresentados sob a forma de chocolate, introduzidos nos folares ou escondidos no jardim, rituais estes ligados à veneração praticada pelos nórdicos a Ostera, considerada a deusa da fertilidade e do renascimento, por assim dizer a “deusa da aurora”.
Tal como para os judeus, a Pessach alude à passagem do anjo exterminador antes da sua partida do Egipto e, ao assinalarem as suas casas com o sangue do cordeiro levaram a que fossem poupados da praga lançada por Javé, para os cristãos é o próprio Jesus Cristo que incarna a vítima sacrificial ou seja, o cordeiro pascal que expia os pecados dos homens. Também para os cristãos, a Páscoa representa a passagem da morte para a vida eterna e o reencontro com Deus.
Na Páscoa, o sol primaveril irrompe pelas veigas verdejantes enquanto as árvores se espreguiçam num novo amanhecer. As flores exalam um perfume inebriante que inundam os céus e a todos contagia. As casas dos lavradores engalanam-se para receber a visita pascal. Junca-se o caminho com um tapete colorido feito de funcho, cravo e rosmaninho. O pároco, de sobrepeliz e estola entra pelos quinteiros, logo seguido a curta distância pelo mordomo, vestindo a opa vermelha e levando consigo a cruz florida que a dá a beijar, e o sacristão com a sineta e a caldeirinha de água benta. Lá fora, o estalejar dos foguetes indica o local exato onde segue a cruz. Em redor, a natureza renasce e adquire especial fulgor.
Fonte: Illustração Catholica, nº 45, Braga, 9 de Maio de 1914
O cabrito assado no forno constitui uma das especialidades da nossa cozinha tradicional que marca invariavelmente presença nas mesas dos portugueses por ocasião do domingo de Páscoa. A origem de tal costume perde-se nos tempos e possui as suas raízes em ancestrais hábitos pagãos, trazidos até nós através das influências judaicas e muçulmana.
Ultrapassado o período de abstinência alimentar e penitência da quaresma, eis que se celebra a chegada da Primavera e, com ela, o renascimento da vida e da natureza. Para os cristãos, a Ressurreição de Jesus Cristo, na senda doPessach, a Páscoa judaica, instituída na noite em que ocorreu o Êxodo do Egito e celebrada na Lua Cheia, no final do dia 14 do mês de Abibe; aproximadamente no ano de 1445 a.C.
Segundo o relato bíblico (Êxodo 12.12.13), Yahweh terá transmitido a Moisés: “E eu passarei pela terra do Egito esta noite e ferirei todo primogênito na terra do Egito, desde os homens até os animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos. Eu sou Yahweh. E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes: vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito”. A partir de então, passaram os judeus a celebrar a Festa do Cordeiro Pascal em memória do ocorrido. Não obstante, a tradição possuía origens bem mais remotas, sendo praticada ao tempo em que a maioria dos judeus eram pastores nómadas do deserto e celebravam a chegada da Primavera com o sacrifício de um animal.
Desde tempos imemoriais, a noção de sacrifício encontra-se associada à de dádiva a um ou vários deuses, podendo esta assumir as formas mais variadas. O cumprimento de uma promessa a um santo da devoção vem dentro da mesma linha de adoração com que os povos ancestrais sacrificavam um animal a fim de obter os favores divinos. Entre tais graças que se desejam obter encontram-se naturalmente a cura de certos males do foro físico ou psíquico e a expiação das culpas ou pecados, no entendimento de que o elemento físico e o espiritual não se encontram dissociados e constituem uma única dimensão. Por conseguinte, o sacrifício do animal, para judeus e cristãos representado no cordeiro pascal, mais não representa do que um ritual de expiação e de renascimento a que não é alheia o reinício do ciclo da natureza.
Cumprindo as profecias bíblicas, Jesus terá celebrado juntamente com seus discípulos a Última Ceia no dia 14 de Nisã, precisamente o dia em que os judeus imolavam o cordeiro pascal. E, desse modo, qual “cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, se ofereceu para ser crucificado e, pelo seu sacrifício, redimir os pecados dos homens.
Também os muçulmanos sacrificam os animais naquela que é considerada uma das mais importantes festas do islão – o Eid al-Adha ou Festa do Sacrifício. Esta celebração marca o fim do Ramadão e pretende evocar a disposição do profeta Abraão em sacrificar o seu filho Ismail em obediência a Deus, tendo Allah providenciado um cordeiro em sua substituição.
Em Portugal e, de uma maneira geral em todo o ocidente cristão, a Páscoa celebra-se no primeiro domingo de lua cheia imediatamente após ao equinócio da Primavera, variando portanto entre os dias 22 de março e 25 de abril, tendo a data sido fixada aquando do Primeiro Concílio de Nicéia ocorrido no ano 325 da Era Cristã. Também entre nós, por ocasião da Páscoa, é costume no domingo –dies Dominicusque significa dia do Senhor – sacrificarmos o cabrito ou o borrego no altar da deusaAbundantiaque, com sua cornucópia, espalha os alimentos que a terra fértil generosamente providencia. Trata-se de um costume ao qual não é certamente alheia também as influências judaicas e muçulmana que marcam simultaneamente a nossa identidade cultural.
O pão-de-ló e os tradicionais folares, os ovos e as amêndoas assemelhando-se a pequenos ovinhos constituem apenas algumas das iguarias consumidas durante o período pascal ligados a ritos de fertilidade associados ao início da Primavera.
Imagem alusiva à visita do compasso pascal, por volta de 1950, na freguesia de Antas, concelho de Esposende. Na foto vê-se o Padre Benjamim Salgado, que foi pároco de Antas, entre 1949 e 1956, e um grupo de paroquianos que o acompanham na visita às casas da paróquia, no dia de Páscoa, e que levam o compasso pascal, a caldeira de água benta e a campainha que anuncia a chegada do Crucifixo de Cristo.
Data atribuída com base na informação do Sr. António Azevedo, de Antas, Esposende. "Benjamim de Oliveira Salgado nasceu em Joane, Famalicão, a 08 de maio de 1916 e morreu em Joane, a 28 de janeiro de 1978. Compositor e regente de coros, é uma plurifacetada personalidade bracarense. Foi, além de pároco e compositor para a liturgia, professor de Canto Gregoriano, História da Música, Piano e Harmónio, no Seminário Conciliar de Braga, diretor do jornal “Correio do Minho”, fundador e diretor artístico de coros, diretor geral da Fundação Cupertino de Miranda, diretor da Casa de Camilo e, caso raro, Presidente da Câmara Municipal de Famalicão".
Fonte: Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura | Entidade detentora: António Azevedo - Antas-Esposende