Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

BARCELOS PROMOVE 4º ENCONTRO “POETA À SOLTA”

Imagem 1.jpg

“Poeta à Solta” durante dois dias – sexta e sábado (21 e 22 de novembro) – é o Encontro que vai marcar a programação cultural promovida pelo Município do de Barcelos no próximo fim de semana.

Este encontro, promovido pela Câmara Municipal de Barcelos em parceria com o projeto editoria Officium Lectionis, com curadoria e coordenação científica de José Rui Teixeira (Cátedra de Sophia – Universidade Católica do Porto) e Lourdes Pereira (Cátedra Mário Cesariny – Universidade das Ilhas Baleares / Instituto Camões), vai decorrer na Biblioteca Municipal de Barcelos, na próxima sexta feira, das 17h00 às 20h00, e no sábado, das 10h30 às 20h00.

Na edição deste ano, participa o poeta galego Genaro da Silva e os portugueses Jorge Melícias, Jorge Teixeira, Minês Castanheira e Nuno Matos Duarte. O poeta asturiano Miguel Rodríguez Monteavaro apresentará “Para além dos glaciares e do cemitério de sóis”, antologia de poesia asturiana contemporânea que organizou (edição bilingue, com tradução para português de Jorge Melícias). Nesse contexto, será evocada a memória do poeta asturiano Xuan Bello, recentemente falecido. Anxo Angueira, presidente da Fundação Rosalía de Castro, apresentará a antologia da poetisa galega: Como um eco perdido (edição bilingue, com tradução para português de Jorge Melícias e José Rui Teixeira).

Para além das conversas e leituras de poesia, no dia 22 de novembro (10h30), Marta Nunes e Jorge Teixeira orientarão uma oficina de ilustração de poesia e é inaugurada a exposição “Como Caminham os Lobos” uma exposição com os trabalhos com que Marta Nunes ilustrou o livro de Jorge Teixeira.

A entrada é livre.

Programa – Encontros de Poesia

21 novembro | sexta-feira

17h30 | Abertura

Dalva Rodrigues - Vereadora da Cultura e Educação

José Rui Teixeira - Curador do Encontro

17h45 | O Homem nasce para ser o tal poeta à solta

Conversa com os poetas Jorge Melícias, Minês Castanheira e Nuno Matos Duarte

19h00 | Leituras com Genaro da Silva, Minês Castanheira e José Rui Teixeira

22 novembro | sábado

10h30 | Workshop de ilustração de poesia

Marta Nunes e Jorge Teixeira

15h30 | Inauguração da Exposição de Ilustrações de Marta Nunes: "Como caminham os lobos"

16h00 | Universidade Sénior de Barcelos

16h30 | Poesias ibéricas: entre monólogos e diálogos

Conversa com os poetas Genaro da Silva, José Rui Teixeira e Miguel Monteavaro

17h30 | Lembrar Xuan Bello

José Rui Teixeira e Miguel Monteavaro

17h50 | Leituras com Jorge Melícias, Nuno Matos Duarte e Jorge Teixeira

18h30 | Reler Rosalía de Castro

Anxo Angueira (leituras por todos os poetas)

19h30 | Encerramento

Programa_4.º Encontro Poeta à Solta.jpg

O QUE DIZ O EPITÁFIO INSCRITO PELO POETA MINHOTO DIOGO BERNARDES NO TÚMULO DO REI D. SEBASTIÃO QUE SE ENCONTRA NO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS?

Sebastião_de_Portugal,_c._1571-1574_-_Cristóvão

Se pudermos dar crédito à fama, este túmulo conserva os restos de Sebastião,

Morto nas plagas africanas

Mas não digas que é falsa a opinião dos que acreditam que ele ainda é vivo,

Porque a glória lhe assegura a imortalidade”

D. Sebastião nasceu em 1554, no dia 20 de Janeiro de 1554. E, quando morreu?

O seu tio, Filipe II de Espanha, chamou a si a organização das exéquias "fúnebres" que foram grandiosas como lhe convinha e ordenou ao poeta Diogo Bernardes que produzisse o epitáfio que se encontra inscrito no seu túmulo. E, desse modo a seu ver, ficou legitimada perante o povo português a sua pretensão ao trono de Portugal.

“Mas não digas que é falsa a opinião dos que acreditam que ele ainda é vivo” – disse o poeta!

Capela_do_transepto_túmulo_de_D_Sebastião_Mostei

Fotos: Wikipédia

QUEM FOI O POETA MONÇANENSE JOÃO VERDE?

gggg.jpg

João Verde, pseudónimo de José Rodrigues Vale, poeta maior das letras monçanenses, nasceu a 2 de novembro de 1866, no Largo da Palma, e faleceu a 7 de fevereiro de 1934, na “Casa do Arco”, Rua Conselheiro Adriano Machado, conhecida localmente como Rua Direita.

Exercendo como secretário da Câmara Municipal de Monção, desde 22 de julho de 1891 até à data do seu falecimento, a vida literária de João Verde distribuiu-se pela criação poética em verso e em prosa e pelo jornalismo, publicando textos seus nos jornais “Aurora do Lima”, “A Terra Minhota”, “Alto Minho”, “Monsanense” e “Independente”. Em 1901, funda “O Regional” (1901 – 1918).João Verde estreou-se na poesia com a publicação de “Musa Minhota”, 1887, seguindo-se “N`Aldeia”, 1890. A sua obra mais conhecida, “Ares da Raia”, foi impressa em Vigo e lançada em 1902. A tiragem foi de 700 exemplares, 500 para Portugal e 200 para a Galiza. Por incluir dois poemas em galego, João Verde foi inscrito, mais tarde, na catedrática Santiago de Compostela como o XV poeta galego.

A memória de João Verde está viva na memória de todos os monçanenses através das reedições em poesia e prosa das suas obras, do busto em bronze e mural com o poema “Vendo-os assim tão pertinho”, na Avenida General Humberto Delgado, conhecida como Avenida dos Néris, do nome atribuído à principal sala de espetáculos de Monção, Cine Teatro João Verde, bem como na designação da ponte internacional entre Monção e Salvaterra de Miño: Ponte Internacional João Verde/Amador Saavedra.  Na publicação “João Verde: Vida e Obra”, 1961, Gentil de Valadares referiu-se ao poeta desta forma: “O nome de João Verde – nome que consubstancia o português de lei, o regionalista fervoroso, o poeta d`a Galiza e mail`o Minho, o funcionário por excelência serviçal, o cidadão amigo do semelhante -, brilhará em letras de oiro, com incontestável direito, legitimamente, no pergaminho monçanense. Quanto dariam outras terras por ter o amor de tal filho!”

Fonte: Câmara Municipal de Monção

800px-Joao_Verde.jpg

São da sua lavra estes versos:

“Vendo-os assim tão pertinho,

A Galiza mail'o o Minho

São como dois namorados

Que o rio traz separados

Quasi desde o nascimento.

Deixalos, pois, namorar

Já que os pais para casar

Lhes não dão consentimento.”

Na outra margem do rio Minho – da vizinha e irmã Galiza – replicou o poeta galego Amador Saavedra que respondeu nos seguintes termos:

 “Se Dios os fixo de cote

Um p’ra outro e teñem dote

Em terras emparexadas,

Pol'a mesma auga regadas

Com ou sem consentimento

D'os pais o tempo a chegar

Em que teñam que pensar

Em facer o casamento.”

imgLoader.png

COURENSES REGRESSAM AMANHÃ AO PARNASO

3ZLpySmS7iOoM8zV.jpg

Regresso ao Parnaso com Maria do Rosário Pedreira e Jorge Reis-Sá

sáb_20 set_15h30 | Centro Mário Cláudio

O Centro Mário Cláudio recebe este sábado, pelas 15h30, mais uma sessão do Ciclo Cultural "Regresso ao Parnaso", numa homenagem à escritora Maria do Rosário Pedreira, que dialogará com outro escritor, Jorge Reis-Sá.

Uma sessão que se prevê cativante, tanto mais que estamos em presença de dois escritores com carreiras literárias diversificadas, com obra publicada em vários géneros, reconhecidos pelo público e pela crítica, e ambos distinguidos por prémios literários.

A sessão será enriquecida pela audição de alguns fados com letras de Maria do Rosário Pedreira, neste Ciclo “Regresso ao Parnaso” dirigido por Cândido de Oliveira Martins e que procura a promoção de escritores e artistas contemporâneos, através do diálogo entre as artes.

ENTRE REDES E MARÉS – HAVERRÁ SEMPRE UMA BONANÇA: UM TRIBUTO POÉTICO À COMUNIDADE PISCATÓRIA DE VILA PRAIA DE ÂNCORA – CRÓNICA DE CARLOS SAMPAIO

35d35293-2d2f-4905-ad16-d40a85c393cf (1).jpg

𝗨𝗺 𝘁𝗿𝗶𝗯𝘂𝘁𝗼 𝗽𝗼𝗲́𝘁𝗶𝗰𝗼 𝗮̀ 𝗰𝗼𝗺𝘂𝗻𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗽𝗶𝘀𝗰𝗮𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮, 𝗮̀𝘀 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗵𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮𝘀 𝗲 𝗮𝗼 𝗰𝗼𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗲 𝗩𝗶𝗹𝗮 𝗣𝗿𝗮𝗶𝗮 𝗱𝗲 𝗔̂𝗻𝗰𝗼𝗿𝗮.

𝗘𝗻𝘁𝗿𝗲 𝗥𝗲𝗱𝗲𝘀 𝗲 𝗠𝗮𝗿𝗲́𝘀 – 𝗛𝗮𝘃𝗲𝗿𝗮́ 𝘀𝗲𝗺𝗽𝗿𝗲 𝘂𝗺𝗮 𝗕𝗼𝗻𝗮𝗻𝗰̧𝗮

“𝗝𝘂𝗻𝘁𝗼 𝗮𝗼 𝗳𝗮𝗿𝗼𝗹, 𝗰𝗮𝗱𝗮 𝗮𝗺𝗮𝗻𝗵𝗲𝗰𝗲𝗿 𝗲́ 𝗽𝗿𝗼𝗺𝗲𝘀𝘀𝗮 𝗲 𝗿𝗲𝗰𝗼𝗺𝗲𝗰̧𝗼.” Assim começa o poema de 𝗖𝗲𝗹𝗶𝗻𝗮 𝗣𝗮𝗿𝗲𝗻𝘁𝗲, transformado em vídeo, e assim começa também a vida de cada pescador que parte do nosso porto. É o ciclo eterno de esperança e luta que define Vila Praia de Âncora.

As palavras ganham corpo nas imagens:“𝗮𝘀 𝗺𝗮̃𝗼𝘀 𝗱𝗼 𝗽𝗼𝘃𝗼 𝘁𝗲𝗰𝗲𝗺 𝗿𝗲𝗱𝗲𝘀 𝗲 𝗽𝗿𝗲𝗽𝗮𝗿𝗮𝗺 𝗼 𝗰𝗮𝗺𝗶𝗻𝗵𝗼 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝘂𝗺 𝗱𝗶𝗮” São mãos calejadas, marcadas pela luta, pelo sal e pelo tempo. Mãos que carregam a nossa história e a nossa fé, mãos que nos lembram que a 𝗦𝗲𝗻𝗵𝗼𝗿𝗮 𝗱𝗮 𝗕𝗼𝗻𝗮𝗻𝗰̧𝗮 continua a ser o farol de todos os regressos.

Neste poema, como na vida, "𝗻𝗼 𝗽𝗲𝗶𝘁𝗼 𝗺𝗼𝗿𝗮 𝗮 𝘀𝗮𝘂𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗱𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗼 𝗺𝗮𝗿 𝗹𝗲𝘃𝗼𝘂, 𝗲 𝗻𝗼 𝗼𝗹𝗵𝗮𝗿, 𝘂𝗺𝗮 𝗲𝘀𝗽𝗲𝗿𝗮𝗻𝗰̧𝗮 𝗾𝘂𝗲 𝗻𝗮̃𝗼 𝘀𝗲 𝗮𝗽𝗮𝗴𝗮.” São as famílias que esperam, as mulheres que rezam, as avós que sussurram preces com o terço entre os dedos, e as crianças que crescem no som das marés.

O poema lembra-nos ainda que “𝗼 𝘀𝗮𝗹 𝗻𝗮̃𝗼 𝗲́ 𝘀𝗼́ 𝘁𝗲𝗺𝗽𝗲𝗿𝗼… 𝗲́ 𝘁𝗮𝗺𝗯𝗲́𝗺 𝗱𝗼𝘀 𝗼𝗹𝗵𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗲𝘀𝗽𝗲𝗿𝗮𝗺, 𝗱𝗮𝘀 𝗹𝗮́𝗴𝗿𝗶𝗺𝗮𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗰𝗮𝗲𝗺.” É a marca de um povo feito de coragem e de fé, que transforma dor em identidade, ausência em memória e silêncio em oração.

Antes já tinha a certeza, mas hoje sinto-a renovada: os meus 𝟭𝟰 𝗮𝗻𝗼𝘀 𝗱𝗲 𝗲𝗺𝗽𝗲𝗻𝗵𝗼 𝗻𝗮 𝗔𝘀𝘀𝗼𝗰𝗶𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗲 𝗣𝗲𝘀𝗰𝗮𝗱𝗼𝗿𝗲𝘀 𝗲 𝗮𝘀 𝗺𝗶𝗻𝗵𝗮𝘀 𝗰𝗶𝗻𝗰𝗼 𝗱𝗲́𝗰𝗮𝗱𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗺𝗼 𝗰𝗶𝗱𝗮𝗱𝗮̃𝗼 𝗰𝗼𝗺𝗽𝗿𝗼𝗺𝗲𝘁𝗶𝗱𝗼 𝗰𝗼𝗺 𝗮 𝗻𝗼𝘀𝘀𝗮 𝘃𝗶𝗹𝗮 valem a pena. Porque esta luta é pela 𝗰𝗼𝗲𝘀𝗮̃𝗼 𝘀𝗼𝗰𝗶𝗮𝗹, 𝗽𝗲𝗹𝗮 𝗵𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮, 𝗽𝗲𝗹𝗼 𝗽𝗮𝘁𝗿𝗶𝗺𝗼́𝗻𝗶𝗼 𝗰𝘂𝗹𝘁𝘂𝗿𝗮𝗹 𝗲 𝗽𝗲𝗹𝗮𝘀 𝗿𝗮𝗶́𝘇𝗲𝘀 que nos definem. Vale a pena lutar pela modernização do porto, vale a pena preservar a romaria e vale a pena manter viva a chama desta identidade piscatória.

E quando o poema invoca:“𝗧𝘂, 𝗦𝗲𝗻𝗵𝗼𝗿𝗮 𝗱𝗮 𝗕𝗼𝗻𝗮𝗻𝗰̧𝗮, 𝗾𝘂𝗲 𝗰𝗼𝗻𝗵𝗲𝗰𝗲𝘀 𝗼 𝗽𝗲𝘀𝗼 𝗱𝗮𝘀 𝗿𝗲𝗱𝗲𝘀 𝗲 𝗱𝗮𝘀 𝗮𝘂𝘀𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮𝘀, 𝗮𝗯𝗲𝗻𝗰̧𝗼𝗮 𝗲𝘀𝘁𝗲 𝗽𝗼𝘃𝗼 𝗱𝗼 𝗺𝗮𝗿”,sentimos que esta homenagem não é apenas um tributo artístico. É uma voz coletiva que tem de correr os quatro cantos do mundo, para que todos saibam quem somos e de onde vimos.

Este vídeo é poesia em movimento. É identidade transformada em arte. É memória erguida em homenagem.

𝗘𝗻𝘁𝗿𝗲 𝗥𝗘𝗗𝗘𝗦 𝗲 𝗠𝗔𝗥𝗘́𝗦, 𝗖𝗲𝗹𝗶𝗻𝗮 𝗣𝗮𝗿𝗲𝗻𝘁𝗲

𝗨𝗺 𝘁𝗿𝗶𝗯𝘂𝘁𝗼 𝗽𝗼𝗲́𝘁𝗶𝗰𝗼 𝗮̀ 𝗰𝗼𝗺𝘂𝗻𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗽𝗶𝘀𝗰𝗮𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮, 𝗮̀𝘀 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗵𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮𝘀 𝗲 𝗮𝗼 𝗰𝗼𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗲 𝗩𝗶𝗹𝗮 𝗣𝗿𝗮𝗶𝗮 𝗱𝗲 𝗔̂𝗻𝗰𝗼𝗿𝗮.

Carlos Sampaio

Poema

Entre Redes e Marés

Junto ao farol, cada amanhecer

é promessa e recomeço.

Nas primeiras luzes do dia,

as mãos do povo tecem redes e preparam o caminho para mais um dia.

São mãos marcadas pela luta, pelo tempo, pelo sal.

Guardam histórias, dores e uma fé inabalável na Senhora da Bonança.

No peito, mora a saudade dos que o mar levou.

E no olhar, uma esperança que não se apaga.

Ali ficam as mulheres, firmes,

esperando os que partem para o mar em busca do pão.

Elas sabem que o mar é traiçoeiro,

mas ainda assim confiam.

Porque aqui, o amor é feito de espera e força.

O povo do mar é feito de coragem e oração.

Os filhos dormem, e as avós, com o terço entre os dedos,

sussurram preces que se misturam ao som das marés e dos dias.

Erguem os olhos à imagem da Senhora

ela que escuta os segredos guardados nas ondas e nos olhares.

O sal…

O sal não é só tempero.

É silêncio, é cicatriz.

É o riso que foi embora,

é a dor que nunca se diz.

É o gosto amargo de um barco que não voltou.

Não… o sal não é só do mar

ele é também dos olhos que esperam,

das lágrimas que caem.

Porque o mar ensina.

Ensina a amar de longe,

a manter a fé acesa,

mesmo quando tudo à volta é água.

Mesmo quando o medo vai e vem com a maré.

E por entre os dias feitos de espera, dor e esperança,

há um riso de criança que resiste,

há uma prece que se ouve.

Tu, Senhora da Bonança, que conheces o peso das redes e das ausências,

abençoa este povo do mar

feito de sal, de fé, e de amor que nasce do lado de dentro.

Ali, junto ao farol,

há um barco que chega e outro que parte,

um dia que termina e outro que começa.

Celina Parente

POETA PEDRO HOMEM DE MELLO NASCEU HÁ 121 ANOS – GRANDE DIVULGADOR DO FOLCLORE MINHOTO

157222504_5837903562901782_5623984589713494956_o.j

O poeta Pedro Homem de Mello foi reconhecidamente um dos mais eminentes folcloristas portugueses. De seu nome completo Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello, nasceu no Porto em 1904 onde também veio a faleceu em 5 de Março de 1984.

Apaixonado pelas tradições do Minho em geral e pelos costumes das gentes da Serra d’Arga, da Apúlia e de Viana do Castelo em particular, adoptou Afife como a sua própria terra, aí tendo vivido no Convento de Cabanas. E é em Afife que se guardam os seus restos mortais.

A Pedro Homem de Mello se deve a divulgação do folclore português através da RTP – ao tempo não existiam outros canais televisivos – bem como muitos poemas que ficaram célebres através da voz de Amália Rodrigues, Frei Hermano da Câmara e Sérgio Godinho. Entre eles, lembramos “Povo que Lavas no Rio”, “Havemos de Ir a Viana” e “O Rapaz da Camisola Verde”.

A Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe homenagem, consagrando o seu nome na toponímia da capital.

Capturarruapedrohomelo.PNG

150019595_4129537960409872_372494012226957242_o.jp

CapturarAFI.JPG

Pedro Homem de Mello, reconhecido poeta e folclorista português, organizava frequentemente festas na sua casa, em Afife, para as quais eram convidados os ranchos folclóricos da região e os amigos. 27 e 28 de Setembro de 1970. Autor: Manuel da Fonte | Cedida por: Família Fonte | Fonte: Lugar do Real

AMARES CELEBRA POETA SÁ DE MIRANDA

540723812_1181943120630566_4523018703480164245_n.jpg

Às 21 horas, na Praça do Comércio, a poesia e a música renascentista unem-se numa evocação viva do poeta que escolheu Amares como sua terra

Assinala-se hoje o aniversário do poeta Francisco de Sá de Miranda, figura maior da literatura portuguesa e nome indissociável da história e identidade de Amares.

No âmbito desta celebração, terá lugar, pelas 21h00, na Praça do Comércio, uma evocação poética que pretende homenagear o legado renascentista do autor. O momento contará com a participação de três trovadores, duas mulheres e um homem, que darão voz e expressão à obra de Sá de Miranda.

A performance, de caráter intimista, será marcada pelo diálogo entre música e poesia: uma trovadora acompanhará ao bandolim os versos recitados pelos restantes intervenientes, proporcionando uma experiência artística itinerante no centro da vila.

Mais do que uma recordação literária, esta iniciativa procura valorizar a herança de Sá de Miranda, reafirmando a sua ligação profunda a Amares, terra que escolheu para viver e onde permanece como referência cultural.

Organização:

Centro de Estudos MirandinosBiblioteca Municipal Francisco de Sá de Miranda

Academia de Teatro de Braga TinBra

VIREI COSTAS À GALIZA / PUS-ME A REMAR CONTRA O VENTO / SANTA MARTA SAIAS RUBRAS / DA COR DO MEU PENSAMENTO – VERSOS DE PEDRO HOMEM DE MELLO – FOTOS DE SÉRGIO MOREIRA & SÍLVIA MOREIRA

38858639_2043508115674051_929400664809799680_n

A minha terra é Viana!

Sou do monte e sou do mar.

Só dou o nome de terra

Onde o da minha chegar!

 

Ó minha terra vestida

Da cor da folha da rosa!

Ó brancos saios de Perre

Vermelhinhos na Areosa!

 

Virei costas à Galiza;

Voltei-me antes para o mar…

Santa Marta! Saias negras

Têm vidrilhos de luar!

 

Dancei a Gota em Carreço,

O Verde Gaio em Afife

Dancei-o devagarinho

Como a lei manda bailar!

 

Como a lei manda bailar

Dancei em Vile a Tirana

E dancei em todo o Minho

Quem diz Minho, diz Viana…

 

Virei costas à Galiza;

Voltei-me então para o Sul…

Santa Marta! Trajo Verde…

Deram-lhe o nome de azul…

 

A minha terra é Viana

São estas ruas estreitas

São os navios que partem

E são as pedras que ficam.

 

É este sol que me abrasa,

Este amor que não me engana,

Estas sombras que me assustam…

A minha terra é Viana.

 

Virei costas à Galiza…

Pus-me a remar contra o vento…

Santa Marta! Saias rubras…

Da cor do meu pensamento!

 

Como a lei manda bailar

Dancei em Vile a Tirana

E dancei em todo o Minho

Quem diz Minho, diz Viana…

 

Autor: Pedro Homem de Mello (1904-1984) in Segredo

299388077_5685911274767032_2402348838395894459_n (1).jpg

GALIZA: POETISA ROSALÍA DE CASTRO FOI A FUNDADORA DO REXURDIMENTO QUE ESTÁ NA ORIGEM DO NACIONALISMO GALEGO

87291220_2841871962572296_704239650016854016_n.jpg

Rosalía de Castro é justamente considerada a fundadora da moderna literatura galega ou seja, o movimento cultural do rexurdimento que está na origem do nacionalismo galego. A poetisa nasceu em Santiago de Compostela, em 23 de fevereiro de 1837, e faleceu em Padrón, em 15 de julho de 1885.

Escrita em galego e castelhano, a sua poesia inspira-se na lírica popular trovadoresca, tendo publicado em galego “Cantares Gallegos” e “Folhas Novas” e, em castelhano, “En las Orillas del Sar”. A Galiza celebra o Dia das Letras Galegas em 17 de Maio, invocando a edição de “Cantares Gallegos”, a sua primeira obra em galego.

Rosalía de Castro é justamente considerada a fundadora da moderna literatura galega ou seja, o movimento cultural do rexurdimento que está na origem do nacionalismo galego. A poetisa nasceu em Santiago de Compostela, em 23 de fevereiro de 1837, e faleceu em Padrón, em 15 de julho de 1885.

Escrita em galego e castelhano, a sua poesia inspira-se na lírica popular trovadoresca, tendo publicado em galego “Cantares Gallegos” e “Folhas Novas” e, em castelhano, “En las Orillas del Sar”. A Galiza celebra o Dia das Letras Galegas em 17 de Maio, invocando a edição de “Cantares Gallegos”, a sua primeira obra em galego.

VAGUEDÁS

II

Bem sei que non hai nada

Novo en baixo do ceo,

Que antes outros pensaron

As cousas que ora eu penso.

 

E bem, ¿para que escribo?

E bem, porque así semos,

Relox que repetimos

Eternamente o mesmo.

 

III

Tal como as nubes

Que impele o vento,

I agora asombran, i agora alegran

Os espazos inmensos do ceo,

Así as ideas

Loucas que eu teño,

As imaxes de múltiples formas,

De estranas feituras, de cores incertos,

Agora asombran,

Agora acraran

O fondo sin fondo do meu pensamento.

ROSÁLIA-DE-CASTRO-Estátua-em-Porto.jpg

Estátua a Rosalía de Castro, no Porto

GALIZA COMEMORA DIA 25 DE JULHO – DIA DO APÓSTOLO SANTIAGO MAIOR – O DIA DA PÁTRIA GALEGA!

CapturarSANTIAGO (8).JPG

Santiago Maior numa obra de Rembrandt

Remonta a 1919 a escolha do dia 25 de julho para celebrar o Dia da Pátria Galega, decisão que foi aprovada em Assembleia das Irmandades da Fala, reunidas em Santiago de Compostela. Refira-se que se trata do dia da festa litúrgica de Santiago Maior, Patrono da Galiza.

GALIZA E PORTUGAL: UM SÓ POVO E UMA SÓ NAÇÃO!

Por um compreensível desconhecimento que tem sobretudo a ver com a conveniência de se manterem boas relações entre Estados, grande parte dos portugueses ignora as verdadeiras afinidades que existem entre a Galiza e Portugal e, no âmbito deste, particularmente em relação ao Minho. Essa falta de conhecimento estende-se a vários domínios, mormente às raízes étnicas comuns de minhotos e galegos e até ao entendimento errado do idioma galego frequentemente confundido com o castelhano e impropriamente designado por “espanhol”. Mesmo entre pessoas que deveriam ser entendidas no domínio do folclore minhoto é recorrente ouvi-las referir-se a uma dança tradicional galega designando-a como “vira espanhol”.

Na realidade e para além dos portugueses, a Península Ibérica é habitada por gentes de culturas e idiomas tão distintos como os vascos, os catalães, os asturianos e finalmente, os galegos e portugueses que possuem uma língua e uma identidade cultural comum, apenas separados em consequência das vicissitudes da História. A Espanha, afinal de contas, não representa mais do que uma realidade supranacional, cada vez mais ameaçada pelas aspirações independentistas dos povos que a integram.

Com as suas quatro províncias - Corunha, Lugo, Ourense e Pontevedra - e ainda alguns concelhos integrados na vizinha Astúrias, a Galiza constitui com Portugal a mesma unidade geográfica, cultural e linguística, o que as tornam numa única nação, embora ainda por concretizar a sua unidade política. Entre ambas existe uma homogeneidade que vai desde a cultura megalítica e da tradição céltica à vetusta Gallaécia e ao conventus bracarensis, passando pelo reino suevo, a lírica galaico-portuguesa, o condado portucalense e as sucessivas alianças com os reis portugueses, as raízes étnicas e, sobretudo, o idioma que nos é comum - a língua portuguesa. Ramon Otero Pedrayo, considerado um dos maiores escritores do reintegracionismo galego, afirmou um dia na sua qualidade de deputado do parlamento espanhol que "a Galiza, tanto etnográfica como geograficamente e desde o aspeto linguístico, é um prolongamento de Portugal; ou Portugal um prolongamento da Galiza, tanto faz". Teixeira de Pascoaes foi ainda mais longe quando disse que "...a Galiza é um bocado de Portugal sob as patas do leão de Castela". Não nos esqueçamos que foi precisamente na altura em que as naus portuguesas partiam à descoberta do mundo que a Galiza viveu a sua maior repressão, tendo-lhe inclusivamente sido negada o uso da língua galaico-portuguesa em toda a sua vida social, incluindo na liturgia, naturalmente pelo receio de Castela em perder o seu domínio e poder assistir à sua aproximação a Portugal.

No que respeita à sua caracterização geográfica e parafraseando o historiador Oliveira Martins, "A Galiza d'Aquém e d'além Minho" possui a mesma morfologia, o que naturalmente determinou uma espiritualidade e modos de vida social diferenciados em relação ao resto da Península, bem assim como uma diferenciação linguística evidente. Desse modo, a faixa atlântica e a meseta ibérica deram lugar a duas civilizações diferentes, dando a primeira origem ao galaico-português de onde derivou o português moderno e a segunda ao leonês de onde proveio o castelhano, atualmente designado por "espanhol" por ter sido imposta como língua oficial de Espanha, mas consignado na constituição espanhola como "castelhano". Não foi naturalmente por acaso que Luís Vaz de Camões, justamente considerado o nosso maior poeta possuía as suas raízes na Galiza. Também não é sem sentido que também o poeta Fernando Pessoa que defendeu abertamente a "anexação da Galiza", afirmou que "A minha Pátria é a Língua Portuguesa".

De igual modo, também do ponto de vista étnico as raízes são comuns a todo o território que compreende a Galiza e o nosso país, com as naturais variantes regionais que criam os seus particularismos, obviamente mais próximas do Minho, do Douro Litoral e em parte de Trás-os-Montes do que em relação ao Alentejo e ao Algarve, mas infinitamente mais distanciados relativamente a Castela e outras regiões de Espanha.

No seu livro "A Galiza, o galego e Portugal", Manuel Rodrigues Lapa afirma que "Portugal não pára nas margens do Minho: estende-se naturalmente, nos domínios da língua e da cultura, até às costas do Cantábrico. O mesmo se pode dizer da Galiza: que não acaba no Minho, mas se prolonga, suavemente, até às margens do Mondego". Torna-se, pois, incompreensível que continuemos a tratar o folclore e a etnografia galega como se de "espanhola" se tratasse, conferindo-lhe estatuto de representação estrangeira em festivais de folclore que se pretendem de âmbito internacional, quando na realidade deveria constituir uma participação assídua nos denominados festivais nacionais. Mais ainda, vai sendo tempo das estruturas representativas do folclore português e galego se entenderem, contribuindo para um melhor conhecimento mútuo e uma maior aproximação entre as gentes irmãs da Galiza e de Portugal. O mesmo princípio aliás, deve ser seguido pelos nossos compatriotas radicados no estrangeiro, nomeadamente nos países da América do Sul onde as comunidades portuguesas e galegas possuem uma considerável representatividade numérica. Uma aproximação e um entendimento que passa inclusivamente pelo cyberespaço e para a qual a comunidade folclórica na internet pode e deve prestar um inestimável contributo.

Afirmou o escritor galego Vilar Ponte na revista literária "A Nossa Terra" que "os galegos que não amarem Portugal tão pouco amarão a Galiza". Amemos, pois, também nós, portugueses, como um pedaço do nosso sagrado solo pátrio, essa ridente terra que se exprime na Língua de Camões – a Galiza!

Guimarães (24)

O MINHO E A GALIZA – JOÃO VERDE E AMADOR SAAVEDRA

“Vendo-os assim tão pertinho,

A Galiza mail'o o Minho

São como dois namorados

Que o rio traz separados

Quasi desde o nascimento.

Deixalos, pois, namorar

Já que os pais para casar

Lhes não dão consentimento.”

Na outra margem do rio Minho – da vizinha e irmã Galiza – replicou o poeta galego Amador Saavedra que respondeu nos seguintes termos:

 “Se Dios os fixo de cote

Um p’ra outro e teñem dote

Em terras emparexadas,

Pol'a mesma auga regadas

Com ou sem consentimento

D'os pais o tempo a chegar

Em que teñam que pensar

Em facer o casamento.”

JoaoVerde.jpg

João Verde, pseudónimo de José Rodrigues Vale, poeta maior das letras monçanenses, nasceu em 1866, no Largo da Palma, e faleceu em 1934, na “Casa do Arco”, Rua Conselheiro Adriano Machado, conhecida localmente como Rua Direita.

POETA LIMIANO ANTÓNIO FEIJÓ FALECEU HÁ 108 ANOS

500079051_1128047709362153_7182798362934290929_n (1).jpg

20 de junho de 1917 – Morte do poeta e diplomata António de Castro Feijó. Passam hoje 108 anos. Nasceu na vila de Ponte de Lima em 1 de junho de 1859. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e, depois de uma curta passagem pela advocacia, seguiu a carreira da diplomacia, primeiro como Adido na Legação do Rio de Janeiro e, depois, como Adido de Portugal no Rio Grande do Sul. Foi a seguir colocado no Consulado de Pernambuco. Em 1891 regressou à Europa, terminando a sua carreira nos países nórdicos (Dinamarca, Suécia e Noruega). Dedicou-se à poesia, tendo publicado várias obras de poesia de que destacamos “Transfigurações”, “Líricas e Bucólicas”, “Cancioneiro Chinês”, “Ilha dos Amores”, “Bailatas”, “Sol de Inverno” e “Novas Bailatas”.

Fonte: Sociedade Histórica da Independência de Portugal

VIANENSE TERESA SILVA DEDICA UM POEMA À MORGADA DE VIANA DO CASTELO

A ilustradora vianense Teresa Silva dedica este poema à Morgada de Viana e à D. Rosalina Viana, sendo, este o traje que a autora costuma usar na mordomia da Romaria à Senhora d’Agonia.

506644923_2734360810093690_7662382811027756975_n.jpg

MORGADA

A Morgada veste negro

De fazenda e suave veludo,

O remate do avental com renda

Iluminado por vidrilho escuro.

E do negro brota a sabedoria

De mulheres que administram tudo.

Dos campos às propriedades herdadas,

Com mão firme e olhar seguro.

E o cabelo bem apanhado,

Na rede onde se esconde a trança,

Deslumbra o pescoço esguio

De onde pende o dourado fio

E o que o trabalho lhe deu em herança.

Na grande custódia o amor a Cristo,

Nas contas do colar o rosário da vida,

Não há nada que se compare a isto

Ao brio da mulher de negro

De cerimónia e grandeza vestida.

VILA PRAIA DE ÂNCORA HOMENAGEOU FRANCISCO SAMPAIO

HomenagemFranciscoSampaio2025_-1.jpg

Homenagem da Câmara Municipal de Caminha em parceria com a Comissão Organizadora do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora

“Vila Praia de Âncora em Poesia” reúne poemas de Francisco Sampaio e foi lançado no dia em que completaria 88 anos

“Vila Praia de Âncora em Poesia”, um livro que reúne poemas de Francisco Sampaio sobre a Vila centenária, é a mais recente edição municipal. A iniciativa teve por objetivo homenagear Francisco Sampaio, no dia em que completaria 88 anos, a passada sexta-feira. A Câmara Municipal de Caminha, numa parceria com a Comissão Organizadora do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora, quis marcar a data com o lançamento da obra, um conjunto de poemas que falam da Vila que tanto amava e que escolheu para viver. A sessão, emotiva, decorreu no Cineteatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora e foi ainda integrada nas Comemorações do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora.

O curriculum de Francisco Sampaio é longo, conhecido e reconhecido. Um homem que percebeu a importância do setor do Turismo para o país e para a região e que dedicou a esta área dezenas de anos de intenso trabalho, desde que presidiu à Junta de Turismo de Vila Praia de Âncora, mas sobretudo entre 1980 e 2009, à frente da Região de Turismo do Alto Minho.

“Se há pessoas que tiveram razão antes do tempo, e eu acredito que sim, Francisco Sampaio foi um delas. Foi um visionário, mas sobretudo um homem de intensas paixões. A vida passou, mas a personalidade continua a inspirar-nos. Somos, e continuaremos a ser, felizes destinatários da sua herança, uma herança que temos obrigação de honrar e de fazer crescer”, refere o Presidente da Câmara de Caminha.

Rui Lages explica ainda que somos devedores, também por isso, a Francisco Sampaio “e, nesta edição, abraçamos as suas palavras, as suas histórias inspiradoras e intemporais. Recordamos aquele rosto sempre sorridente, sempre entusiasmado, sempre disponível para uma boa conversa. Um homem de família, um homem de amizades, um homem bom”.

Sobre a relação com Vila Praia de Âncora, o Presidente da Câmara lembra que foi apaixonado pela Terra que escolheu como a sua, caraterística que marcava toda a sua vida pessoal e profissional, “Foi apaixonado pelo trabalho, incansável. Foi apaixonado por todo um mundo de oportunidades que foi capaz de antecipar - o Turismo, área hoje eleita como a grande vocação do nosso Território, mas que é também determinante em termos nacionais. E Francisco Sampaio sempre o soube”.

Rui Lages lembra que Francisco Sampaio também apontou caminhos para o sucesso na área do Turismo, destacando já a gastronomia enquanto expressão autêntica da identidade do concelho e da região, enquanto fator diferenciador e motivação para quem nos visita.

“Somos um concelho comprometido com o futuro, mas também comprometido com a nossa história e com os que ajudaram a escrever as suas mais promissoras páginas. Ao Francisco Sampaio o nosso reconhecimento. Que bom ter-nos escolhido e ter ficado connosco”, conclui Rui Lages.

HomenagemFranciscoSampaio2025_-50.jpg

HomenagemFranciscoSampaio2025_-57.jpg

HISTÓRIA SIMPLES DE UM MINHOTO EXEMPLAR – NARRADA PELO POETA SILVA NUNES

O poeta Silva Nunes foi uma das figuras incontornáveis da cultura alfacinha e das marchas populares. Durante décadas a fio, escreveu as letras para a maior parte das marchas dos bairros lisboetas. Parafraseando outro poeta, Silva Nunes é o poeta que canta Lisboa sempre que Lisboa canta.

Desaparecido do nosso convívio em 18de março de 1999, Lisboa não prestou ainda a devida homenagem àquele que foi um dos seus maiores bardos. Entretanto, recuperamos um dos escritos que, em 1991, teve a amabilidade de nos oferecer.

Na década dos anos 40, ainda em plena Guerra Mundial entre Alemães e Aliados, Lisboa acordava pacificamente com os pregões da “fava-rica”, da “vivinha da Costa” e do “carapau do Alto”…

As tabernas, de então, eram casas de bons vinhos, petiscos e locais de cavaqueira.

Foi num destes estabelecimentos incrustado no topo da rua do Socorro, ali para as bandas do Teatro Apolo, que encontrámos um minhoto de meia idade, residente na Capital desde os 14 anos.

Depois de trabalho penoso em carvoarias e casas de pasto, tomara, por trespasse, a taberna onde a sua esposa trabalhava na cozinha.

Todos tratavam-nos por Ti-Zé. Era flexível nas palavras, lhano no trato e tinha como principio respeitar para ser respeitado.

A clientela era diversificada: lembra-nos ter visto por lá o jornalista Sanze Vieira; os poetas da antologia do fado Carlos Conde e Francisco Radamanto; guitarristas; cultivadores do fado; pessoal do Hospital de S. José; ciganos e mulheres da noite.

Na azáfama do balcão, o Ti-Zé tinha sempre na boca um vocabulário acolhedor, e por vezes, doseado de filosofia.

Numa tarde, abeirou-se dele uma infeliz mulher da noite que, em surdina, lhe pediu um “papo-seco” com presunto e meio copo de vinho branco com um pirolito, dizendo ainda que, no momento, não tinha dinheiro…

Como se tratasse de qualquer outro cliente, serviu o “papo-seco” num pires e a bebida.

Depois de comer retirou-se, dizendo: obrigado, até logo.

Um freguês atento ao diálogo, interrogou o proprietário:

- O senhor não aponta a despesa?... olhe que ela nunca mais cá põe os pés.

E o Ti-Zé respondeu, de pronto:

- Não faz mal. Pagam os que podem para os que precisam.

Era assim o minhoto com quem contactámos há meio século atrás.

A dominante tónica das suas palavras lembrava-nos um pensamento de Robert Raynolds – “amar não é ganhar, nem perder mas ajudar e ser ajudado”.

Por vezes falava do poeta Gabriel Marujo que imortalizara, numa cantiga, a Rosa maria da rua do Capelão…

Para competir com o “bacalhau assado” do “Quebra-Bilhas” com as “tripas à moda do porto”, do “Palmeiras” e com outras casas com cardápios de especialidades, tinha sempre bom presunto, rojões conservados na banha, pataniscas e caracóis.

No Dia de S. Martinho engalanava a porta da sua “taberna” com uma palma aberta em arco e oferecia aos clientes habituais um copinho de “água-pé” com duas castanhas cozidas.

Pelo Natal, brindava os fregueses com um copinho de “abafado” e uma fatia de “Bolo-Rei”.

…….

Estavamos em 1945, a II Guerra Mundial havia terminado com a derrota incondicional da Alemanha…

A Humanidade chorava os seus mortos…

Num passeio pela Baixa Pombalina, pensámos ir beber um refresco à taberna do Ti-Zé: três homens, encostados ao balcão, profectizavam o futuro do Mundo após a guerra…

Ao balcão, de barba crescida, olhar triste e camisa negra, atendeu-nos, como se fossemos um estranho.

Já não tinha os mesmos petiscos, as suas palavras eram soletradas com amargura. Tinha falecido a mulher que o ajudara nas horas boas e más na grande batalha da vida…

Meses depois, alguém nos disse que “A Taberna do Ti-Zé” tinha encerrado as portas para sempre…

Meditando nos caminhos e descaminhos da vida, o poeta retratou, à sua maneira, a última noite de Natal na “Taberna do Ti-Zé:

              NATAL DOS FALA-SÓS

              Naquela tasca velhinha

              É tudo tão natural

              Que há consoada de vinho

              P’rós que não têm Natal!...

 

              Entram ali marginais,

              Mulher’s nocturnas, profectas,

              Contrabandistas, malandros,

              Alguns doutor’s e poetas…

 

              Ao lado do escaparate,

              Num calendário velhinho

              Está uma mulher nua

              P’ra abrir apetite… ao vinho.

              E por dentro do balcão,

              Um taberneiro, sem par,

              Mostra um sorriso nos lábios

              Com vontade de chorar…

 

              Entram ali marginais,

              Mulher’s nocturnas, profectas,

              Contrabandistas, malandros,

              Alguns doutor’s e poetas…

 

              Bebem todos p’ra esquecer;

              - Tipo rasca, tipo fino…

              São os fala-sós da vida

              Na lixeira do destino!

              Vencidos pelo Deus baco,

              Na hora da consoada,

              Partem os copos no chão,

              Falam de tudo e de nada…

 

              Entram ali marginais,

              Mulher’s nocturnas, profectas,

              Contrabandistas, malandros,

              Alguns doutor’s e poetas…

 

              Quando a noite já vai longa,

              Os fregueses vão p’rá rua

              E agarrados uns aos outros

              Atiram pedras à Lua!...

img565

POETISA VIANENSE MANOELLA DE CALHEIROS REPRESENTOU ANDORRA NA FESTA DA CPLP

3a28e74c-bbb9-4e4d-8ffe-0922bdc1d2e3.jpg

A convite da embaixada de Andorra em Portugal, a poetisa vianense Manoella de Calheiros participou na festa da CPLP, lendo três poemas em representação daquele país.

No referido evento participou ainda o músico andorrano Juli Barrero que cantou um poema de Manoella Calheiros que ele próprio musicou.

Estiveram presentes embaixadores de diversos países, como Andorra, Canadá , Turquia entre muitos outros, uns como membros e outros como observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

cb881c65-48d6-4e07-9ef1-855330a03f05 (1).jpg

RIO MINHO – UM POEMA DE CARLOS BRAGA

Capturarpoema.JPG

Carlos Braga é Associado número 574 da Associação Portuguesa de Poetas

  • Meu nome é Carlos Alberto da Silva Santos Braga, sou brasílico-português, com morada na cidade de Braga. Sou Oficial da Policia Militar do Estado de Minas Gerais no Brasil, com a patente de Major, já estou reformado.

Tenho especial admiração pelo Minho, suas cidades e os seus rios, especialmente o Rio Minho.

Escrevi sobre a minha família e a construção do Apelido no Brasil, especialmente na cidade de Bom Despacho, no Estado de Minas Gerais. Na história, falo do Rio Minho, e da me alegria de o conhecer desde a sua nascente, no Pedregal de Irimia, na Serra da Meira,  até a sua foz em Caminha.