ESPOSENDE: APANHA DO SARGAÇO EM POSTAL CIRCULADO EM 1936
Postal circulado em 1936 a retratar diversas cenas relativas à apanha do sargaço.
Propriedade: Manuel Albino Penteado Neiva / Fonte: Arquivo Municipal de Esposende
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Postal circulado em 1936 a retratar diversas cenas relativas à apanha do sargaço.
Propriedade: Manuel Albino Penteado Neiva / Fonte: Arquivo Municipal de Esposende
Postal circulado em 1936 a retratar cena de recolha do pilado. O pilado, também conhecido por navalheira ou santolinha, é um caranguejo que se emprega como adubo nas terras à semelhança do sargaço.
Propriedade: Manuel Albino Penteado Neiva / Fonte: Arquivo Municipal de Esposende
Tipos de pescadores num postal datado com base noutro postal da mesma editora, circulado em 1922.
Propriedade: João Felgueiras / Fonte: Arquivo Municipal de Esposende
Fonte: Arquivo Municipal de Viana do Castelo
Fonte: Centro Português de Fotografia
A fotografia foi tirada em 1935, num passeio a Esposende, nas margens do rio Cávado, entre Ofir, Fão e Gemeses por altura das festas da Senhora da Bonança.
Fonte: Centro Português de Fotografia
Fonte: Centro Português de Fotografia
Pescadores nas dunas a norte de S. João, em Esposende, fotografados a tratar das suas redes, por volta de 1900.
Propriedade: José Felgueiras
Fonte: Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura
Sob o título “Entre fangueiros e os de Esposende: “Guerra da lampreia” agita foz do Cávado”, a edição do jornal “A Capital” de 14 de Março de 1982 fazia notícia de uma disputa entre os pescadores de Esposende e Fão pela pesca da lampreia no rio Cávado, colocando em questão os métodos e aparelhos que uns e outros usam nesta arte.
Fonte: Biblioteca Digital do Cávado
"Ó lampreia divina, ó divino arroz,
Comidos noite velha, em casa do Julião!
Sem ter ceias assim o que há-de ser de nós? Sofre meu paladar! Chora meu coração!”
Afonso Lopes Vieira
Lampreia é uma das mais requintadas iguarias da cozinha tradicional minhota
A lampreia é um ciclóstomo com aspecto de enguia, sem maxilas, apresentando a boca em forma de ventosa circular com o diâmetro do corpo que actua como bomba de sucção.
Desenho da autoria de Júlio Gil, célebre ilustrador, cartonista, pintor, escritor, caricaturista e arquitecto nascido em Lisboa em 1924 e falecido em 2004.
A lampreia marinha reproduz-se nos rios onde vão desovar, gerando cada fêmea milhares de pequenos ovos que são depositados no fundo dos rios. A lampreia encontra-se sobretudo em águas temperadas, sendo no nosso país os rios Minho, Lima e Cávado os habitats onde estas espécies mais se desenvolvem e são capturados os exemplares mais apreciados da nossa gastronomia tradicional. De resto, é comercializada a preços bastante elevados e servida como uma iguaria requintada à mesa dos melhores restaurantes.
Trata-se de uma especialidade sazonal, servida desde os finais de Janeiro até meados de Abril, o que também contribui para o seu encarecimento, sendo geralmente confeccionada como Arroz de Lampreia ao jeito de cabidela e ainda à Bordalesa ou seja, guisada com acompanhamento de arroz, podendo ainda ser assada no espeto ou cozinhada em molho de escabeche, portanto temperada em vinagre como era uso dos romanos e cujo costume se tornou muito popular sobretudo no Algarve.
Reza a História que, ao tempo do Condado Portucalense, D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, concedeu em 1125 ao Arcebispado de Tui o privilégio de tomar como suas as lampreias que apresassem no rio Minho, a montante da Torre da Lapela, a fim de abastecer os mosteiros e conventos por ocasião dos jejuns quaresmais. Mais recentemente, foi nas estantes da Biblioteca de Nápoles encontrado uma obra-prima da culinária portuguesa, remontando ao século XVI, com o título “Livro de Cozinha da Infanta D. Maria”. Com efeito, são inúmeras as referências históricas a tão afamada especialidade da nossa cozinha tradicional.
Dentro de pouco tempo, a lampreia subirá os rios Minho, Lima e Cávado para desovar, depositando sob as rochas ou em pequenos ninhos escavados no leito milhares de minúsculos ovos que garantirão a sobrevivência da espécie. E morrem. Após a desova, as larvas permanecem no rio até que, por meio de metamorfose se tornam adultas. Nessa altura, migram para o mar onde permanecem até atingirem a sua maturação sexual.
A lampreia é um ciclóstomo muito procurado por conceituados gastrónomos e outros apreciadores da nossa culinária. Ela faz os requintes das melhores mesas das mais afamadas unidades hoteleiras, atraindo numeroso público a localidades do nosso país que mantêm a tradição da sua confecção esmerada e o requinte de bem servir. No Minho, a lampreia dos rios Cávado, Lima e Minho constituem o ex-líbris da gastronomia local a promover o desenvolvimento económico daquela região. Não admira, pois, o relevo que lhe é conferido pelas entidades que superintendem a promoção turística e os próprios estabelecimentos de restauração.
A preservação da lampreia nos nossos rios depende também da importância que lhe atribuímos, nomeadamente como parte integrante da nossa alimentação. Ao contrário do que à primeira vista se possa imaginar, não é a pesca mas a poluição das águas e outros atentados ao ambiente que fazem perigar a sua sobrevivência.
Em virtude do período sazonal da desova, o seu consumo verifica-se geralmente entre Fevereiro e os finais de Abril. A partir daí, a lampreia apenas surge figurada na doçaria da Páscoa sob a forma de “lampreia de ovos”, e evocar as delícias de um prato que apenas pode voltar a ser apreciado no ano seguinte. Não admira, pois, que chegue inicialmente a atingir preços exorbitantes que, no entanto, não constituem razão que baste para desmotivar os melhores apreciadores de tão delicioso pitéu.
Refastelando-se na sua casa senhorial de Paredes de Coura, Aquilino Ribeiro, na sua obra “A Casa Grande de Romarigães” afirmava: “Não há como o arroz de lampreia, se lhe adicionarem uma colher de manteiga de pato”. Por seu turno, o poeta e gastrónomo António Manuel Couto Viana, no seu livro “Por horas de comidas e bebidas – crónicas gastronómicas”, dedica um capítulo inteiro à “lampreia divina”, como Afonso Lopes Vieira a designou. Escreveu Couto Viana o seguinte:
“Já a correnteza das águas que jorram da vizinha Espanha se enfeitam com o aparato das estacas e redes, para prenderem, nas suas malhas, noite adiante, o fugidio ciclóstomo, a tentar disfarçar-se aos rés dos seixos do leito; o chupa-pedras tão apreciada por mim, quando de cabidela, afogado no arroz malandrinho, embebido no seu sangue espesso e escuro.
Também a fisga certeira, atirada, firme, dos altos, se os olhos penetrantes do pescador distinguem bem o vulto ondeante, faz içar a lampreia até às mãos ávidas, e lança-a, depois, para a vastidão de um saco que se quer a abarrotar.
(…)
Soberbo petisco! Com que gula a mastigavam os frades medievos torturados pelos jejuns quaresmais!
Com que gula a mastigo eu, em mesa que ma apresente opípara no arroz do tacho, em grossos toros aromáticos, ou à bordalesa, ou de escabeche, que nestas três artes se mantém ela tentadora e sápida”.
Com o talento dos mais consagrados artistas, cozinheiro após pelar a lampreia coloca-a num alguidar deitando sobre ela água a ferver. De seguida, abre-a da cabeça até ao fundo dos buracos e, junto à cauda, desfere-lhe um golpe para lhe retirar a tripa inteira. O sangue é guardado no mesmo recipiente onde a lampreia fica a marinar mergulhada em vinho tinto a que se juntam um ramo de salsa, uma folha de louro, um dente de alho, pimenta, colorau, sal e margarina. No dia seguinte, é feito um refogado onde é colocada a lampreia que fica a cozer durante cerca de quinze minutos, cuidando para que não se desfaça. Após o guisado, retira-se a lampreia. Ao caldo junta-se água no triplo do arroz que vai ao tacho e deixa-se ferver durante mais quinze minutos. Finalmente, serve-se numa travessa funda, cobrindo o arroz com a lampreia, golpeada em troços.
Apetece exclamar, como o fez o poeta Afonso Lopes Vieira: - Ó lampreia divina!
LAMPREIA À BORDALESA
- Para 6 a 8 pessoas
1 lampreia; 2 cebolas; 2 cenouras; 2 colheres de sopa de banha; 2 colheres de sopa de azeite; 2 dentes de alho; 1 ramo de salsa; 1 folha de louro; 2 dl de vinho tinto; sal; pimenta.
Para o arroz: 600 g de arroz, 1 cebola, 3 colheres de sopa de azeite; salsa; 1 folha de louro; sal; pimenta.
Corta-se a lampreia em pedaços regulares que se colocam numa caçarola com a banha, o azeite, as cenouras e as cebolas cortadas às rodelas grossas, os dentes de alho, a salsa e o louro. Tempera-se com sal e pimenta e leva-se a estufar sobre lume forte.
Quando a lampreia estiver cozida, rega-se com o vinho tinto que, entretanto, serviu para conservar líquido o sangue que escorreu da lampreia enquanto se arranjou e cortou. Deixa-se ferver aproximadamente durante mais 5 minutos.
Preparação do arroz: começa-se por fazer um estrugido com a cebola, o azeite, a salsa e o louro. Depois, rega-se com água (três vezes o volume do arroz), tempera-se com sal e pimenta e, assim que o caldo levantar fervura, adiciona-se o arroz e um pouco do molho da lampreia estufada.
Serve-se a lampreia com o arroz ou sobre fatias de pão frito, sendo neste caso o arroz servido à parte.
O Ministério da Agricultura e da Alimentação, através da Portaria nº. 297/2022, de 15 de Dezembro, publicada em Diário da República nº. 240/2022, Série I de 15 de Dezembro, estabelece um período de defeso em 2023, para pesca de sável (Alosa alosa), de savelha (Alosa fallax), de salmão (Salmo salar) e de lampreia (Petromyzon marinus), no rio Lima.
O Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Luís Nobre, e a Vereadora do Planeamento e Gestão Urbanística, Fabíola Oliveira, marcaram presença na cerimónia de inauguração do painel de azulejos de homenagem aos náufragos vianenses, que foi instalado na parede do edifício da Vianapesca OP, na ribeira vianense.
O painel "Homenagem da Cidade às Vítimas dos Naufrágios no Mar de Viana”, com 5,70 metros de comprimento por 2,60 metros de altura, baseia-se numa pintura da autoria de Cipriano Oquiniame e indica, no rodapé, as embarcações, nomes dos náufragos e datas dos naufrágios. O município apoiou a União de Freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela com uma verba de 3.500 euros para a concretização desta obra, atendendo à relevância cultural do projeto para a memória coletiva dos vianenses.
Na cerimónia, o autarca destacou “a resiliência dos pescadores e das gentes do mar, que tiveram de ultrapassar momentos muito dolorosos”, reconhecendo a importância desta iniciativa da União de Freguesias e assegurando que a comunidade local “tem dado o exemplo ao longo da história”, afirmando que as famílias da Ribeira de Viana “têm enriquecido” Viana do Castelo.
“Esta pegada trágica faz parte do nosso coletivo e devemos reconhecê-la para sempre porque faz parte da nossa identidade e marca a nossa profundidade”, declarou Luís Nobre, acrescentando que “este monumento é uma forma significativa de reconhecer de forma contínua a importância destes acontecimentos”.
“Toda a história da Ribeira, todo o vosso labor, a vossa luta, as vossas histórias de vida e histórias familiares merecem este reconhecimento e merecem que nos associemos nesta homenagem que ficará para sempre”, frisou.
Fonte: Biblioteca Digital do Càvado
Fonte: Arquivo Municipal de Viana do Castelo