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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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OS FARÓIS SÃO SENTINELAS DO MAR!

Desde tempos imemoriais, a luta pela sobrevivência levou o Homem a trocar a terra firme pelo ambiente hostil do mar, aventurando-se na imensidão desconhecida – o mar é tão rico em alimento como é em perigos!

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Aparelho ótico dióptrico de Fresnel com olho-de-boi. Este farol operava numa base flutuando numa cuba com mercúrio e apresentava uma característica de dois relâmpagos agrupados. O movimento de rotação era produzido através de mecanismo de relojoaria.

Disse o sábio grego Platão que “há três espécies de homens: os mortos, os vivos e os que andam no mar”. Com efeito, em relação a estes nunca se sabe realmente o seu destino, tais são os perigos que enfrentam.

È costume frequente, nas povoas de pescadores, as mulheres vestirem-se permanentemente de luto pois existe quase sempre um familiar próximo que não regressou da campanha junto com os seus camaradas: quando não foi o pai, terá sido um irmão, o marido ou o próprio filho. Na praia, elas aguardam ansiosas pelo seu regresso. E, quando o mar se revolta e sobre ele um manto de nevoeiro cai, a sereia por eles chama e a vila se agita num alvoroço carregado de angústia. O pescador arrisca a vida para do mar trazer o parco sustento da família – o lucro vai direitinho para os intermediários e para os luxuosos estabelecimentos hoteleiros onde o servem a preços impraticáveis. E, no entanto, quanto custará a vida de um ser humano?

Por vezes, em dia de temporal, é à entrada da barra que a tragédia o aguarda, virando a embarcação ou espatifando-se contra o molhe. Que o digam os pescadores das Caxinas e de Vila Praia de Âncora. Como disse o poeta:

                                         Ó mar salgado, quanto do teu sal

                                         São lágrimas de Portugal!

                                         Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

                                         Quantos filhos em vão rezaram!

                                         Quantas noivas ficaram por casar

                                         Para que fosses nosso, ó mar!

Mas, quando regressavam de noite escura, avistavam geralmente ao longe uma sentinela vigilante que, protetora, os aguardava e conduzia até alcançar a costa. Era uma luz cintilante que baloiçava, transportado pelas mãos de alguém que surgia como um anjo a indicar o local onde podiam, enfim, ancorar. Essa luz era um farol que indicava a existência de terra firme e o navegante apenas tinha de seguir no seu enfiamento.

Os faróis cuja designação provêm do termo grego Faros, em alusão à ilha próxima de Alexandria, onde foi erguido o famoso farol de Alexandria, eram inicialmente constituídos por meras fogueiras ou luzes de azeite destinados a avisar os navegadores da aproximação de terra ou outros perigos para a navegação. Desde então, a sua evolução não mais se deteve, tendo dado origem a modernos equipamentos eletrónicos dotados de curiosos sistemas de ótica, instalados em edifícios que, regra geral, constituem interessantes obras de arquitetura e se erguem nos sítios mais surpreendentes.

Foram estes equipamentos sempre de grande utilidade para os pescadores e navegadores em geral. À entrada da barra, as luzes verde e vermelha indicam-lhes respetivamente o bombordo e o estibordo da embarcação, noções de orientação criadas pelos portugueses durante as navegações que fizeram ao longo da costa africana e que entretanto se universalizaram.

Desde 1924, o funcionamento e manutenção dos faróis é da responsabilidade da Direção de Faróis, um órgão da Marinha que se dedica nomeadamente à operação e manutenção das ajudas à navegação. Porém, o aparecimento de novas tecnologias tem levado a que os faróis se tornem espaços museológicos com grande interesse sobretudo para os mais jovens, uma vez que constituem magníficas peças de ótica e relojoaria. Para além de constituírem um espaço de memória de especial significado para as comunidades piscatórias e que deve ser preservado, pois os faróis foram desde sempre “sentinelas do mar” a vigiar pela segurança dos pescadores e dos navegantes em geral!

Carlos Gomes in http://www.folclore-online.com/

 

Lanterna de estai. Trata-se de uma lanterna com ótica dióptrica de Fresnel, em tambor. No tempo em que eram utilizados os candeeiros a petróleo, estas lanternas eram descidas para se acender e apagar, sendo posteriormente içadas e ficavam suspensas num cabo de aço, daí a sua designação de estai.

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No portinho de Vila Praia de Âncora, a entrada da barra era assinalada por duas luzes que indicavam o enfiamento. Com o alargamento do porto, estas foram desativadas e as lanternas recentemente retiradas.