O Ministério da Economia - Gabinete do Ministro, através da Portaria 9958, publicada em Diário do Govêrno n.º 289/1941, Série I de 1941-12-12, determinou que se considerem requisitadas as quantidades de milho existentes na posse dos produtores dos concelhos de Caminha, Vila Nova da Cerveira, Valença do Minho, Monção, Melgaço, Paredes de Coura, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras do Bouro, Montalegre e Chaves.
Este diploma foi rectificado, tendo sido acrescentados novos concelhos.
Na sessão de 23 de Março de 1917 da Câmara dos Deputados, o deputado. Melo Barreto lê à Câmara um telegrama que recebeu do Sr. Presidente da Câmara Municipal da Régua através do qual se insurge relativamente ao impedimento do transporte de vagões de milho adquiridos a Paredes de Coura por parte do encarregado da Manutenção Militar.
O Sr. Melo Barreto: - Desejo comunicar à Câmara um telegrama que recebi do Sr. Antão de Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Régua, a propósito de fornecimento de milho, em que a Camara manifesta o receio de alteração da ordem pública. Peço a V. Exa. que faça constar isto ao Sr. Ministro do Trabalho.
O telegrama é o seguinte:
“Tendo esta municipalidade comprado e pago com autorização da autoridade administrativa alguns vagões do milho Paredes do Coura, encarregado Manutenção Militar que ali se acha não permite transporte. Neste sentido pediram-se providencias urgentes Exmos. Presidente do Ministério, Ministro do Trabalho e Guerra para evitar alteração de ordem pública momento. Aguarda câmara providências e espora bons ofícios S. Exas. para que elas não se façam demorar aliás deporá seu mandato nas mãos do povo que o elegeu. - Presidente Câmara, Antão de Carvalho.”
Pedro Lima, Professor Assistente na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa – Porto e deputado na Assembleia Municipal de Barcelos é o autor do livro “China o Foco das Atenções”, que será apresentado, na Biblioteca Municipal de Barcelos, no dia 17 de outubro, pelas 21h30.
O livro baseia-se na tese de mestrado e fala dessa grande potência asiática, da internacionalização do capitalismo chinês resultante de uma abordagem ancorada em princípios de economia política que cruzam o interesse estratégico por matérias-primas e recursos energéticos com o pragmático recurso a formas de ação extra-económicas profundamente centradas na concretização dos interesses nacionais. Estes interesses consubstanciam-se, em última análise, naqueles que são os interesses do Partido Comunista Chinês.
Pedro Lima nasceu na Freguesia de Adães, em 1982. Licenciou-se em Relações Internacionais em 2010, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. Em 2014, na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa – Porto, e sob a orientação do Prof. Doutor Carlos Santos, prestou as provas de Mestrado em Gestão, com a apresentação de uma tese intitulada “China "Goes Global" - Investimento Externo e Fusões & Aquisições. Tendências e motivações do (a)braço corporativo da geopolítica chinesa no setor da Energia & Utilities.”.
Cedo se iniciou no mundo laboral. Em 1997, começou como empregado de mesa num restaurante na Póvoa de Varzim. Em 2001, partiu para o Luxemburgo onde começou por trabalhar na construção civil, seguindo-se outros desafios na Alemanha, Espanha e em França. Durante este período procurou sempre conciliar a prática profissional com a aprendizagem escolar.
Mais recentemente, em 2013, foi voluntário durante dois meses, através do Serviço Europeu de Voluntariado, num campo de refugiados da Faixa de Gaza, na Jordânia. Ali deu aulas de Inglês e foi um dos responsáveis pela organização de um Campo de Verão para mais de 100 crianças entre os 6 e os 12 anos de idade.
De entre os artigos publicados por Pedro Lima, destacam-se: “O novo quadro de Segurança e Defesa Europeia - Desafios e Opções para Portugal”, na revista do Centro de Estudos EuroDefense – Portugal (2010); “A importância dos movimentos sociais na atualidade”, na revista Zoom (2012); e “Nacionalismos, Regiões e Integração Europeia: Uma Coexistência Pacifica?”, também na Revista Zoom (2013).
O Secretário de Estado do Mar, Professor Dr. Manuel Pinto de Abreu recebeu ontem em audiência a Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos Vila Praia de Âncora representada pelo seu Presidente Vasco Presa e pelo Assessor da Direcção Carlos Sampaio. Acompanhou-nos nesta audiência o Deputado do PSD pelo Círculo de Viana do Castelo Eduardo Teixeira e a Presidente da Comissão Política do PSD de Caminha Liliana Silva.
Nesta audiência, o Senhor Secretário de Estado Manuel Pinto de Abreu demonstrou pleno conhecimento das diversas problemáticas que afectam o porto de mar de Vila Praia de Âncora, bem como todos os problemas causados pelo rigoroso Inverno nesta zona costeira.
A Associação de Pescadores teve a oportunidade de entregar em mão vária documentação, ofícios e e-mails e outra correspondência trocada com várias entidades (IPTM, Docapesca, etc) bem como a entrega de um dossier com várias fotografias referenciando a degradação de vários espaços, estruturas e infa-estruturas, que estão a acontecer nesta zona portuária.
Depois de ouvir atentamente toda a problemática e assuntos expostos pela Associação de Pescadores, o Senhor Secretário de Estado do Mar referiu:
• A adjudicação e a execução das obras/reparação do acesso e pontão móvel a Sul (já a decorrer);
• Referiu que vai avançar também a reparação das escadas metálicas a Norte;
• Deu-nos conta das cotas de assoreamento existente desde a boca do porto de mar até ao seu interior e o possível calendário para o desassoreamento;
• Quanto ao pontão móvel a ser instalado junto à lota para descarga do pescado, comprometeu-se a avaliar o seu custo e a equacionar a sua colocação;
• Considerar o estudo pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre o Porto de Mar de Vila Praia de Âncora, no ano de 2015;
A Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos Vila Praia de Âncora faz um balanço muito positivo desta audiência, agradecendo desde já a forma como o Senhor Secretário de Estado nos recebeu, a sensibilidade e a atenção disponibilizada para os problemas e questões abordadas, bem como o acompanhamento e apoio manifestado para esta problemática pelo Deputado Eduardo Teixeira e a Presidente da Concelhia Liliana Silva.
Resta-nos agora aguardar pelo desenvolvimento das obras e mantermo-nos sempre disponíveis e colaborantes para o que nos for solicitado pelas Autoridades Governamentais e que esteja ao alcance desta Associação, com o objectivo de melhorar este espaço e criar as melhores condições possíveis aos nossos associados para a prática da actividade profissional piscatória e desportiva.
Na sessão de 12 de fevereiro de 1947 da União Nacional, o deputado Rocha Páris fez uma exaustiva apreciação do problema de abastecimento de milho no norte do país, particularmente na região do Minho. A sessão foi presidida pelo Dr. Albino dos Reis Júnior.
O Dr. Rocha Páris era natural de Viana do Castelo e formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Foi também jornalista e era lavrador. Em 1911 e 1919, participou nas incursões de Paiva Couceiro com vista ao restabelecimento da Monarquia. Exilado desde 1911, apenas regressou a Portugal após o 28 de maio de 1926. Foi Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Governador Civil substituto do Distrito e Presidente da Comissão Distrital de Viana do Castelo da União Nacional.
Na segunda Sessão Legislativa que decorreu entre 1946 e 1947, interveio por duas vezes preconizando que, por a produção do milho na região de Entre-o-Douro-e-Minho ter então sido abundante, a mesma deveria ser libertada de certas restrições na sua aquisição. A esse respeito, transcrevemos do Diário das Sessões a parte respeitante à sua intervenção, respeitando a grafia original.
“O Sr. Rocha Páris: - Sr. Presidente: ao pronunciar nas sessões de 11 de Dezembro de 1946 e de 14 de Janeiro findo algumas palavras sobre o problema do milho, que tanto continua preocupando, sobretudo a população do Norte do País, tive apenas em vista chamar a atenção do Governo para um assunto cuja gravidade não me parece lícito, nem moral, nem político, ocultar.
Não contava voltar a referir-me ao assunto.
Sou, porém, obrigado a fazê-lo em virtude das exposições ultimamente enviadas a esta Assembleia por alguns grémios da lavoura.
Procurei então ouvir a opinião de organismos de vários concelhos sobre o restabelecimento do mercado livre do milho no corrente ano agrícola, tendo-me respondido afirmativamente ou enviado posteriormente a sua concordância com a sugestão apresentada os seguintes organismos:
Província do Minho:
Distrito de Braga:
Conselho geral do Grémio da Lavoura de Amares.
Câmaras Municipais de Barcelos, Braga, Celorico de Basto, Esposende, Terras do Bouro, Vieira do Minho e Vila Nova de Famalicão.
Juntas de Freguesia de Ponte, Costa e as da cidade de Guimarães, todas do concelho de Guimarães.
Distrito de Viana do Castelo:
Câmaras Municipais de Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Valença.
Grémio da Lavoura de Melgaço.
Juntas de Freguesia de Chaviães (Melgaço), Loivo (Vila Nova de Cerveira) e as do concelho de Viana do Castelo, Alvarães, Amonde, Anha, Areosa, Capareiros, Cardielos, Carreço, Carvoeiro, 'Castelo do Neiva, Darque, Deão, Deocriste, Soutelo, Lanheses, Mazarefes, Meadela, Meixedo, Moreira de Geraz, Mujães, Nogueira, Outeiro, Perre, Portela Susã, Montaria, Neiva, Santa Leocádia de Geraz, Santa Maria de Geraz, Portuzelo, Sub-portela, Torre, Vila Franca, Vila Fria, Vila Mou, Vila de Punhe e Vilar.
Província do Douro Litoral:
Câmaras Municipais de Baião, Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Maia, Matosinhos, Paços de Ferreira, Penafiel, Resende e Vila do Conde.
Província de Trás-os-Montes:
Câmaras Municipais de Alfândega da Fé, Lamego, Miranda do Douro, Mirandela, Moncorvo, Montalegre, Régua, Santa Marta de Penaguião e Valpaços.
Província da Beira Litoral:
Câmaras Municipais de Águeda, Aveiro, Mealhada, Mira, Murtosa, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, Penela, Soure, Vagos e Vale de Cambra.
Província da Beira Alta:
Câmaras Municipais de Castro Daire, Mortágua, Nelas, Oliveira do Hospital, Penedono, Sátão, Sernancelhe, Tarouca e Vila Nova de Paiva.
Província da Beira Baixa:
Câmaras Municipais de Arganil, Idanha-a-Nova, Sertã e Vila de Rei.
Os Municípios de Castelo Branco, Condeixa e Mogadouro declararam que o assunto não interessava aos respectivos concelhos e os de Fafe, Mesão Frio e Penacova discordaram da sugestão por mim apresentada.
O Diário das Sessões de 22 de Janeiro passado diz que os Grémios da Lavoura do distrito de Viana do Castelo tinham enviado à Presidência da Assembleia Nacional uma exposição manifestando a sua formal discordância com as considerações que fiz sobre a venda do milho e regresso ao regime do mercado livre.
De facto, o Grémio da Lavoura de Viana do Castelo e Caminha promoveu, com a assistência do engenheiro agrónomo Sr. Pires de Lima, delegado do Ministério da Economia junto dos grémios da lavoura do Norte, uma reunião em que se fizeram representar todos os grémios do distrito.
As deliberações, porém, não foram tomadas por unanimidade, visto dias depois a sua realização - e [...] antes o Grémio de Melgaço se manifestara a favor do meu ponto de vista - se ter efectuado na vila de Melgaço uma grande reunião de lavradores, que deram o seu completo apoio às considerações que tive a honra de fazer nesta Assembleia, que já tomou conhecimento do que ali se passou por telegrama que oportunamente lhe foi enviado pelo presidente do Grémio da Lavoura daquele concelho e que novamente passo a de:
Grémio Lavoura Melgaço interpretando sentir unânime totalidade seus sócios reunidos cerca [...] dia 25 corrente esta vila mantém apoio dado V. Ex.ª telegrama dia 13 Dezembro e representação enviada pela comissão escolhida essa reunião sobre movimentação milho de que faço parte representação Grémio Lavoura. - Presidente Grémio Lavoura.
Na representação a que se refere este telegrama diz-se:
Abordado o assunto do milho, foi também resolvido por unanimidade que se pedisse a V. Ex.ª o seguinte:
Que novamente peça à Assembleia Nacional que a venda e movimento, pelo menos no corrente ano, em que foi abundantíssima, passasse a ser livre, tanto mais que desapareceu o perigo do seu escoamento para a Espanha, o que é bem provado pelas recentes apreensões, efectuadas pela guarda fiscal, de milho que vinha de Espanha para Portugal, sendo a produção de milho em Espanha também muito grande no corrente ano.
Se a movimentação e venda do milho passasse a ser livre, este apareceria nos mercados e feiras em abundância e seria melhor distribuído, fixando-se, é claro, um preço cujo limite justo fosse acessível ao comprador, e não prejudicial ao vendedor; além disso, como V. Ex.ª muito bem sabe, é com a venda do milho que as casas agrícolas modestas vão adquirir outros produtos que lhes fazem falta e encontram nos referidos mercados ou feiras, muitas vezes por simples troca de mercadorias.
Também das trinta e sete freguesias rurais do concelho de Viana do Castelo, onde reside o maior número de sócios do Grémio de Lavoura de Viana do Castelo e Caminha, trinta, e cinco são unânimes em pedir, de acordo com as suas autoridades, os seus produtores e consumidores, em termos bem expressivos, o mercado livre do milho.
Apenas duas freguesias - a de Afife e a de Serreleis - não responderam à minha pergunta, naturalmente porque o assunto não interessa aos seus habitantes.
Desta última freguesia e de um dos seus mais importantes lavradores e proprietários recebi, porém, o seguinte telegrama:
Como lavrador aplaudo calorosamente vossa intervenção problema milho protestando contra grémios lavoura que não representam vontade geral lavradores.
Os concelhos do distrito de Viana, por intermédio das suas Câmaras a seguir indicadas, disseram-me:
Caminha: "Meu nome e povo concelho felicito vossa atitude problema milho advogando justa causa lavoura nortenha expondo verdadeira doutrina seguir. Presidente".
Monção: "Julgo abundância milho último ano agrícola neste concelho permite restabelecimento mercado livre cereal. Presidente".
Paredes de Coura: "E fora de dúvida assunto merece boa ponderação e estudo devido. Vários factores há a tomar em conta, alguns bastante imprevisíveis no momento presente. Factores há, porém, já evidentes - boa produção e o desejo geral do concelho, nos seus produtores e consumidores, de livremente poderem transaccionar os seus produtos". Ponte de Lima: "Ressalvando os interesses do concelho, isto é, mantendo o necessário fornecimento de milho à população que dele carece até à próxima colheita, sem intermitências e sem os resultados desastrosos que se verificaram neste ano que está prestes a terminar, sou de opinião que, transitoriamente, a venda do milho por parte dos produtores se faça em regime livre".
Valença: "Sou também de opinião de que deve ser restabelecido o mercado livre do milho no corrente ano agrícola, sob o fundamento alegado: excepcional colheita do cereal em questão".
As Câmaras de Arcos de Valdevez e de Vila Nova de Cerveira, reconhecendo embora que a colheita do milho foi excepcional, não concordam com o comércio livre deste cereal.
Tal é o aspecto da questão no distrito de Viana do Castelo: a grande maioria dos produtores e consumidores preferem o comércio livre do milho, pensando o contrário as direcções dos grémios da lavoura, com excepção do Grémio de Melgaço.
Foram também, lidas na sessão de 6 do corrente duas representações, uma do Grémio da Lavoura de Braga e outra do Grémio do Douro Litoral, e na de 12 do corrente uma do Grémio dia Lavoura de Coimbra, esta particularmente interessante. Nota-se também o mesmo que observei em Viana do Castelo.
Em Braga sobressai mesmo o facto curioso de o conselho geral de um grémio da lavoura - o de Amares - ter dado o seu apoio a uma sugestão apresentada em 27 de Novembro findo (antes, portanto, de eu ter trazido o assunto à Assembleia Nacional), em que um dos Srs. Procuradores diz:
A última colheita foi extraordinàriamente [...] do que sucedeu em 1944, a recolha do cereal foi muito tardia, tendo-se consumido até ao presente muito pouco deste pão.
As grandes disponibilidades de milho nacional temos ainda a acrescentar a existência em armazém do proveniente das colónias e da Argentina, com perspectivas de novos desembarques, o que faz prever uma superabundância que de maneira alguma se harmoniza com as restrições em vigor...
O nosso concelho pode exportar umas boas centenas de toneladas de milho sem deixar de fornecer a cada consumidor a quantidade procurada.
Portanto, o milho existente no nosso concelho ou tem de ser consumido no nosso concelho pelas pessoas e pelos animais domésticos, em regime de liberdade, ou tem de ser em grande parte inutilizado pelos parasitas dos celeiros se for mantido o racionamento em vigor...
As Câmaras de Barcelos, Braga, Celorico de Basto, Esposende, Terras do Bouro, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão e diversas juntas de freguesia de Guimarães, conforme já tive ocasião de dizer, concordam em absoluto com o que tenho exposto, o mesmo acontecendo com as Câmaras de Baião, Felgueiras, Lousada, Maia, Matosinhos, Paços de Ferreira, Penafiel, Vila do Conde, Castelo de Paiva e Resende, que fazem parte da província da Beira Litoral e julgam também conveniente o mercado livre do milho.
Parece-me, Sr. Presidente, ter infelizmente de concluir-se que se está claramente desenhando uma divergência séria de opiniões entre lavradores e consumidores, por um lado, e as direcções de alguns grémios da lavoura, por outro.
O Sr. Cincinato da Costa: - V. Ex.ª pode dizer-mo quem é que provocou a reunião dos grémios?
O Orador: - Foi o presidente da direcção do Grémio da Lavoura de Viana do Castelo e Caminha.
O Sr. Cincinato da Costa: - Muito obrigado. É que podia ter sido provocada por entidades estranhas.
O Orador: - O sistema que actualmente pretende disciplinar e reger a distribuição do milho folhou em absoluto.
Não se compreende, nem pode admitir-se, que ele permita que se passem semanas sem que se faça distribuição da farinha que o' racionamento atribui a cada pessoa, que assim se vê impossibilitada de poder cozer o seu pão.
Não só compreende que ainda se obrigue a vir à cidade requisitar a necessária guia de trânsito para poder levar na sua aldeia o milho para o moinho, pois caso contrário o milho corre o risco de ser apreendido.
O Sr. Melo Machado: - Aqui para o Sul, para levar o milho ao moinho as guias são distribuídas nu acto em que se faz o manifesto, de maneira que não há necessidade de haver dois critérios.
O Orador: - Assim muitos têm de percorrer bom número de quilómetros para conseguirem a preciosa guia.
Mas para a obter quantas horas perdidas, por vezes, nas "bichas" da Intendência, como lhe chama o bom povo!...
Não se compreende que o actual sistema permita que, sendo proibida a venda de milho a particulares, haja ainda freguesias rurais onde não existam celeiros ou mesmos postos de venda de milho.
De uma das mais ricas freguesias rurais da ribeira Lima escreve-me um importante lavrador:
É proibida a venda de milho a particulares, não é verdade?
Pois até hoje não há na minha freguesia nem nas quatro mais próximas qualquer celeiro ou posto de venda de milho!
Donde se tem comido?
A resposta é fácil.
Não se compreende que a cinco meses do início da presente campanha cerealífera a Federação Nacional dos Produtores de Trigo não tenha podido ainda levantar, em muitos sítios, o milho manifestado para venda.
Concordo absolutamente com o que diz o Grémio da Lavoura de Coimbra:
De facto, pelas disposições legais é absolutamente proibido aos produtores vender milho aos consumidores, mas a Federação Nacional dos Produtores de Trigo, à ordem de quem o milho está retido e única entidade que o pode vender, não abastece os mercados consumidores.
De modo que, não se podendo vender milho, mas tendo de se comer, é evidente que se tem de ir buscar onde ele estiver, com todas as suas graves consequências.
Se não fora o "mercado negro", muita gente teria morrido de fome.
Para mim e para muitos o grande erro está em confundir as duas palavras "produzir" e "manifestar".
De facto, Sr. Presidente, o defeito consiste em dizer-se: produziram-se tantos milhões de quilogramas em vez de manifestaram-se tantos milhões de quilogramas.
E é assim que, por vezes, os números nos (podem induzir em graves erros...
Desejo, finalmente, acentuar que de facto se trata de um assunto que reveste aspecto político de grande importância, visto não dever ser indiferente a quem governa tomar conhecimento do que se passa naqueles sectores em que mais intensamente vibra, por vezes, a própria alma nacional.
O erro, o perigo político, está, não em demonstrar a verdade, não em apontar sinceramente defeitos e erros que se vão notando, mas precisamente em procura? ocultá-los, deturpando-os ou escondendo-os à consideração dos que têm sobre os seus ombros o pesado encargo de governar.
Um pouco por toda a região do noroeste peninsular, surge frequentemente na paisagem rural, um tipo de construção bastante característica que, pela graciosidade que possui, tornou-se num elemento emblemático daquela região – o espigueiro!
Espigueiros do Soajo, em Arcos de Valdevez
Também designado por canastro ou caniceiro em função dos materiais empregues na sua construção, o espigueiro constitui um celeiro onde o lavrador guarda as espigas. De posse particular ou comunitária, a dimensão do espigueiro reflete a grandeza da produção que normalmente é efetuada. De modo idêntico, a sua ornamentação depende da fantasia do construtor e dos recursos do proprietário.
Os espigueiros encontram-se, em regra, implantados em zonas onde o terreno é mais elevado de forma a permitir a secagem do milho. Nas imediações, encontra-se a eira que aproveita as características de um solo mais plano e lajeado. É aí que se malha o centeio onde se desfolha o milho, dando lugar às alegres descamisadas que constituíam um pretexto para a escolha do namorico.
A origem deste género de construções encontra-se principalmente ligada à introdução da cultura do milho na Península Ibérica de onde irradiou para o resto do mundo. Outrora designado por “trigo índio”, o milho deverá ter-se originado do México de onde, há cerca de quinhentos anos, foi trazido nas naus de Cristóvão Colombo. Desde tempos imemoriais, o milho constituiu a base da dieta alimentar dos maias, incas e aztecas que o incluíam nos seus ritos ancestrais e o celebraram nas suas manifestações artísticas.
A sua implantação, entre nós, registou-se sobretudo na região do Minho e da Galiza, facto a que certamente não foram alheias as condições favoráveis à sua produção e onde prevalece a cultura de regadio. Com o decorrer do tempo, o cultivo do milho passou a estender-se a outras regiões, nomeadamente no centro do país onde predomina a cultura de sequeiro.
Em relação ao espigueiro, estes apresentam-se das mais variadas formas e dimensões de acordo com as quantidades de grão a armazenar, as regiões onde se encontram e os materiais disponíveis para a sua construção. Em localidades onde a pedra escasseia, os espigueiros são geralmente construídos em madeira. Porém, atendendo à sua predominante distribuição espacial, a maior parte encontra-se construída em pedra e madeira. A sua fisionomia é variada, existindo sob formas retangulares, quadradas e redondas. Contudo, ele apresentou-se inicialmente sob uma forma mais rudimentar, na maioria das vezes feito apenas de caniços com cobertura de colmo, tal como aliás sucedia com as habitações mais humildes. E, as técnicas empregues na sua construção evoluíram à medida que se foi constatando a melhor forma de secar o cereal mantendo-o simultaneamente fora do alcance de elementos indesejáveis.
Constituindo a secagem a sua principal função, o espigueiro é construído de molde a proteger as espigas da humidade, salvaguardando-as da intromissão dos pássaros, insetos e roedores, assegurando ao mesmo tempo o necessário arejamento do seu interior. E, este cuidado é tão importante quanto adverso poderá ser o inverno que se aguarda pouco tempo após a colheita do milho e as suas descamisadas.
Tomando como modelo de referência os existentes no Minho, o espigueiro é geralmente construído em madeira e pedra, quase sempre em granito extraído na região. Encontra-se frequentemente assente em pilares que o elevam do solo, sobre os quais assentam os dinteles que são os esteios que suportam toda a estrutura e onde se encaixam as aduelas. Estas apresentam-se de forma intervalada para permitir, através das fissuras propositadamente deixadas abertas, efetuar-se o arejamento do seu interior. Para prevenir o acesso das formigas, uma pequena fossa com água rodeia as sapatas onde assentam os pilares do espigueiro. De igual modo, os “torna-ratos” protegem-no dos roedores. Regra geral, são cobertos de telha, existindo porém alguns que se apresentam com cobertura de colmo ou em pedra, sendo mais frequentes nestes casos em lousa e piçarra.
Para além dos elementos arquitetónicos que caracterizam o espigueiro, este é frequentemente encimado por algum elemento de adorno, na maioria das vezes uma cruz, pretendendo-se assim abençoar o milho que se irá transformar, tal como o padeiro que, antes de levar o pão ao forno, procede de forma solene a acompanhar a ladainha.
Persistem em diversas localidades hábitos ancestrais que levam à utilização comum dos espigueiros de acordo com costumes e leis comunitárias. Encontram-se neste caso a eira que se aninha junto às muralhas do castelo do Lindoso, em Ponte da Barca, e no Soajo, em Arcos de Valdevez, onde o seu uso se estende ainda a práticas iniciáticas que contemplam o alojamento dos noivos que aí vão dormir juntos antes da celebração do casamento.
Mais do que propriamente meros celeiros onde se guardam as espigas das quais se produzirá o pão que vai à mesa do agricultor, amassado com o suor do seu próprio rosto e benzido com a sua Fé, os espigueiros constituem verdadeiras obras de arte popular que reúnem uma elevada carga simbólica, quais sacrários onde o povo guarda o alimento para o ano inteiro e, como tal, sinalizado com a cruz que o protege e resguarda de toda a maldição. Como tal, devem ser preservados como um dos mais ricos elementos do nosso património cultural de interesse etnográfico.