O primeiro número do jornal "Cardeal Saraiva" foi publicado em 15 de Fevereiro de 1910
As origens da imprensa regional estão intimamente ligadas à necessidade de difusão das ideias do liberalismo e do republicanismo, beneficiando do avanço das técnicas da impressão tipográfica e da sua vulgarização. A partir dos finais do século XIX, surgiram um pouco por todo o país jornais regionais que eram sustentados sobretudo pelo comércio local e por uma pequena burguesia instalada nos pequenos aglomerados urbanos da província. Muitas das vezes, por detrás do lançamento de muitos dos jornais regionais encontravam-se as lojas e os triângulos maçónicos em funcionamento nas respetivas localidades.
À semelhança do que sucedia com o jornal “O Século”, claramente identificado com a propaganda republicana e anticlerical como aliás o próprio título sugere, dirigido por Magalhães Lima, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, também os jornais regionais assentavam numa rede de correspondentes locais, costume que curiosamente ainda se mantém.
Com o estabelecimento do Estado Novo, a Imprensa regional veio a adaptar-se às novas circunstâncias, caindo numa longa letargia que a impediu de se desenvolver tecnologicamente e inovar a sua linha editorial. Com processos tipográficos antiquados, muitos jornais ainda há relativamente pouco tempo ocupavam as suas páginas com a publicação de extensas colunas de aniversariantes e outras crónicas de natureza social, logrando desse modo obter a ajuda dos seus assinantes.
A década de oitenta do século passado marca um ponto de viragem para a Imprensa regional. A partir de então foram-lhe colocados desafios com vista à modernização dos parques gráficos, mormente à utilização do offset na impressão dos jornais e à adoção dos novos sistemas de fotocomposição. Muitos deles avançaram para a profissionalização do seu quadro redatorial, deixando de limitar-se à colaboração voluntária dos seus correspondentes e outros colaboradores. Entretanto, as novas tecnologias da informação obrigaram a utilização da Internet e a disponibilização de conteúdos on-line.
O Minho possui um conjunto bastante apreciável de jornais históricos que foram acompanhando a evolução dos tempos e continuam a chegar aos seus leitores. Entre eles, conta-se naturalmente o semanário “Cardeal Saraiva” que se publica em Ponte de Lima desde 15 de Fevereiro de 1910. Um título que evoca precisamente os ideais de liberdade defendidos por aquele que foi uma das figuras mais ilustres de Ponte de Lima e do país.
Em 1899, Bernardino Machado renunciou ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido. Por essa ocasião, recebeu uma manifestação de apreço por parte de Manuel Emídio Garcia, presidente; Manuel Fernandes Abreu, secretário, Loja Comércio e Indústria, Maçonaria Eclética Portuguesa.
Datada de 26 de Maio de 1899, o ofício aborda ainda a questão da Separação da Loja Comércio e Indústria da obediência ao Grande Oriente Lusitano Unido.
Fonte: Fundação Mário Soares.
Bernardino Machado teve um importante percurso como dirigente da Maçonaria (na Loja Perseverança do Grande Oriente Lusitano, com o nome simbólico de "Littré"). De 1892 a 1895 foi o 7.º Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano, de 1895 a 1899 foi o 18.º Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho afecto ao Grande Oriente Lusitano e 7.ºGrão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido e de 1929 até à sua morte em 1944 foi o 23.º Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho afecto ao Grande Oriente Lusitano.
Fonte: Wikipédia
Norton de Mattos com Bernardino Machado em 1917 em Lisboa (foto: Joshua Benoliel)
O culto da árvore – atualmente celebrado como Dia da Árvore e da Floresta – no qual se insere a festa que lhe era dedicada constituiu uma das iniciativas que os republicanos fomentaram nos começos do século passado com vista à introdução na sociedade portuguesa de novos valores e símbolos com os quais procuraram substituir os valores tradicionais associados à Igreja Católica e ao Cristianismo em geral. Tratava-se, com efeito, de uma campanha de penetração ideológica nos meios rurais, promovida pela própria maçonaria, utilizando para esse meio os seus próprios órgãos de propaganda como era o caso do jornal “O Século Agrícola”, suplemento do jornal “O Século” dirigido por Magalhães Lima que, conforme o próprio título sugere, propunha-se promover a secularização da sociedade.
Tratava-se, com efeito, de criar uma nova liturgia, celebrado por altura do equinócio da Primavera, preconizando o retorno aos antigos ritos pagãos anteriores ao estabelecimento do Cristianismo em detrimento das celebrações da Páscoa e da Ressurreição de Jesus Cristo, crença essencial da fé cristã.
A “Festa da Árvore” realizou-se pela primeira vez no Seixal em 1907, por iniciativa da Liga Nacional de Instrução, tendo nos anos que se seguiram atingido especial visibilidade as que tiveram lugar na Amadora por iniciativa da Liga de Melhoramentos da Amadora, organização de inspiração republicana onde pontificava o escritor Delfim Guimarães.
De uma maneira geral, a realização da “festa da árvore” ocorreu nas localidades onde os republicanos dispunham de maior organização, sobretudo nas regiões mais a sul do país. Porém, é sabido que em Viana do Castelo também dispunham de uma certa influência, mantendo inclusive em funcionamento uma loja maçónica – a Loja Fraternidade – com mais de três dezenas de membros.
A revista Ilustração Portugueza, de 30 de março de 1914, dá-nos conta da realização nesse ano da festa da árvore em Viana do Castelo, nos seguintes termos:“Em Viana do Castelo a festa da árvore teve o concurso de todas as autoridades civis e militares, escolas oficiais e particulares. No Campo da Agonia foram plantadas duas laranjeiras e duas cerejeiras tendo assistido imenso povo. Falaram o alferes sr. Alpedrinha e o sr. Dr. Rodrigo Abreu sendo o cortejo dirigido pelo capitão sr. Malheiro. As tropas da guarnição da cidade também tomaram parte n’essa encantadora cerimónia em que foi exaltado o culto da árvore queO Século Agrícolatanto tem propagandeado.”
A comemoração do Dia da Árvore manteve-se durante a vigência do Estado Novo, desprovida contudo da carga ideológica que inicialmente encerrava, tendo chegado até aos nossos dias como um ritual que se cumpre anualmente como um aceno à chegada da Primavera.
Não obstante o propósito original de tal iniciativa, a comemoração do Dia da Árvore e da Floresta, dirigida especialmente às crianças em idade escolar, veio cumprir uma função pedagógica e cívica, sensibilizando-os para a necessidade de preservação da floresta e do meio ambiente.
General Norton de Mattos, nasceu em Ponte de Lima e faleceu na sua terra natal em 2 de Janeiro de 1955
Era filho de Tomás Mendes Norton, comerciante, Fidalgo da Casa Real e Cônsul da Grã-Bretanha e Irlanda em Viana do Castelo (afilhado de baptismo de Rodrigo da Fonseca Magalhães) e de sua mulher Emília da Conceição de Matos Prego e Sousa (Ponte de Lima, Queijada, Casa do Baganheiro, 5 de Dezembro de 1847 - Ponte de Lima, Moreira do Lima, Casa do Bairro, 22 de Janeiro de 1933), neto paterno de José Mendes Ribeiro (Viana do Castelo, Santa Maria Maior, 28 de Dezembro de 1802 - Viana do Castelo, Santa Maria Maior, 4 de Novembro de 1887), da burguesia de Viana do Castelo, e de sua mulher Rita de Cássia Tavares de Resende Norton (Porto, 8 de Dezembro de 1808 - Ponte de Lima, Santa Maria Maior, 13 de Janeiro de 1875), filha dum Inglês, e neto materno de Manuel José de Matos Prego e Sousa (1805 - ?), Doutor em Direito, da fidalguia de Ponte de Lima (Casa do Bárrio), e de sua mulher Joaquina Rosa dos Reis Martins de Carvalho (Ponte de Lima, Queijada - ?).
Depois de frequentar o Colégio do Espírito Santo de Braga (1872-1910) foi, em 1880, para a Escola Académica, em Lisboa. Quatro anos depois iniciou o seu curso na Faculdade de Matemática em Coimbra. Fez o curso da Escola do Exército e, em 1898, partiu para a Índia Portuguesa, onde organizou os cadastros das terras. Começou aí a sua carreira na administração colonial, como director dos Serviços de Agrimensura. Acabada a sua comissão, viajou por Macau e pela China em missão diplomática.
O seu regresso a Portugal coincidiu com a implantação da República portuguesa. Dispondo-se a servir o novo regime, Norton de Matos foi chefe do estado-maior da 5.ª divisão militar. A 17 de Maio de 1912 é iniciado Maçon na Loja Pátria e Liberdade, N.º 332, de Lisboa (Rito Escocês Antigo e Aceite), sob os auspícios do Grande Oriente Lusitano Unido, com o nome simbólico de Danton. Nesse mesmo ano tomou posse como governador-geral de Angola. A sua actuação na colónia revelou-se extremamente importante, na medida em que impulsionou fortemente o seu desenvolvimento, protegendo-a, de certa forma, da ameaça contínua que pairava sobre o domínio colonial português, por parte de potências como a Inglaterra, a Alemanha e a França. Fundou a cidade do Huambo. A 27 de Janeiro de 1913 é elevado ao Grau 2 (Companheiro) e a 18 de Abril de 1914 é elevado ao Grau 3 (Mestre). Em Outubro desse ano dá-se a cisão da Maçonaria Portuguesa: a Loja Pátria e Liberdade, N.º 332 desliga-se da obediência do Grande Oriente Lusitano Unido.
Foi demitido do cargo em 1915, como consequência da nova situação política que se vivia em Portugal durante a Primeira Guerra Mundial. Foi depois chamado, de novo, ao Governo, ocupando o cargo de ministro das Colónias, embora por pouco tempo. A 12 de Maio de 1916 reentra na obediência do Grande Oriente Lusitano Unido, filiando-se na Loja Acácia, de Lisboa (Rito Francês), e a 19 de Setembro de 1916 é elevado ao Grau 4 (Eleito) do Rito Francês. Em 1917, um novo golpe revolucionário obrigou-o a exilar-se em Londres, por divergências com o novo governo. A 16 de Fevereiro de 1918 é elevado ao Grau 5 (Escocês) do Rito Francês e a 31 de Outubro de 1918 é elevado ao Grau 6 (Cavaleiro do Oriente ou da Espada) do Rito Francês. Regressou à pátria e foi delegado de Portugal à Conferência da Paz, em 1919. Mais tarde, foi promovido a general por distinção e nomeado Alto Comissário da República em Angola. Na Primavera de 1919, foi delegado português à Conferência da Paz. A 31 de Outubro de 1919 é elevado ao Grau 7 e último (Príncipe Rosa Cruz) do Rito Francês. Em Junho de 1924, exerceu as funções de embaixador de Portugal em Londres, cargo de que foi afastado aquando da instauração da Ditadura Militar. A 6 de Novembro de 1928 a Loja Acácia, de que é membro, propõe, pela primeira vez, a sua candidatura ao cargo de Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente Lusitano Unido. A 7 de Dezembro de 1928 morre Sebastião de Magalhães Lima, 10.º Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, e a 31 de Outubro de 1929 morre António José de Almeida, 12.º Grão-Mestre eleito do Grande Oriente Lusitano Unido.
Foi, a 31 de Dezembro de 1929, eleito 14.º Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido para os anos de 1930 e 1931, cargo que ocupou entre 1930 e 1935. A 30 de Abril de 1930 toma posse do cargo de Grão-Mestre, dirigindo uma mensagem aos Maçons Portugueses. A 17 de Setembro parte para Antuérpia, a fim de participar na Semana Portuguesa e na Convenção Maçónica Internacional. De 25 a 30 de Setembro toma parte na Convenção da Association Maçonnique Internationale (A.M.I.), reunida em Bruxelas. Em Dezembro, devido ao período decrescente em que decorrem os trabalhos maçónicos em Portugal, é decidido suspendê-los nas lojas de Lisboa, convidando estas à imediata triangulação. Em Março de 1931 dirige uma importante mensagem à Grande Dieta e em Dezembro é reeleito Grão-Mestre.
A 5 de Julho de 1932 Salazar ascende a Presidente do Conselho. A 31 de Janeiro de 1935 protesta, junto do Presidente da Assembleia Nacional, Jose Alberto dos Reis, contra o projecto de lei que proíbe as associações secretas. A 14 de Maio é emitida uma Resolução do Conselho de Ministros exonerando e / ou passando à reforma uma série de funcionários que oferecem poucas garantias de fidelidade ao regime, entre os quais Norton de Matos. A 21 de Maio dá-se a Publicação da Lei N.º 1.091 que proíbe as associações secretas. Norton de Matos demite-se do cargo de Grão-Mestre, para que pudesse ser eleito alguém desconhecido do Governo.
Carta do triângulo do Val de Ponte de Lima ao Grande Chanceler Geral da Ordem, datada de 28 de junho de 1910. Documento incluído no dossier intitulado Comissão de Resistência da Maçonaria organizado por Simões Raposo
Delfim Guimarães foi o poeta de Ponte de Lima e da Amadora
Assinala-se em breve a passagem dos 150 anos sobre o nascimento do escritor e poeta Delfim Guimarães. O seu nome está ligado à cidade do Porto onde nasceu em 4 de Agosto de 1872.
A Lisboa onde trabalhou e fundou a editora “Guimarães, Libânio e Cª” que viria mais tarde a adoptar a denominação de Guimarães Editores. A Ponte de Lima à qual dedicou grande parte dos seus versos e também alguns dos seus romances, para além da sua enorme ligação familiar do qual foi inclusive Administrador do Concelho. E ainda à cidade da Amadora onde viveu e deixou importante obra cívica da qual salientamos a criação da Liga dos Melhoramentos da Amadora, responsável pela instituição da Escola Alexandre Herculano.
O nome de Delfim Guimarães encontra-se consagrado na toponímia de Lisboa, de Ponte de Lima e também da cidade da Amadora onde, aliás, dá o nome ao jardim que constitui a sua sala de visitas e aí tem erigido um busto. Apenas o Porto, cidade onde nasceu, não lhe prestou até ao momento a devida homenagem. A efeméride que este ano se assinala constitui uma excelente oportunidade para conhecer a vida e a obra deste escritor.
“Delfim Guimarães. O Poeta da Amadora” é o título da melhor biografia até ao momento produzida acerca da vida e obra do poeta e escritor Delfim Guimarães. Da autoria de Lopes Vieira, o livro é uma edição da Câmara Municipal da Amadora, publicado em 1989 e encontra-se actualmente esgotado. A passagem dos 150 anos sobre a data do seu nascimento justificaria seguramente uma segunda edição desta obra.
Neste livro, o autor traça de uma forma admirável o perfil do escritor Delfim Guimarães, acrescentando à sua biografia a sua obra literária e a sua intervenção cívica, não apenas no domínio profissional como ainda como cidadão interventivo na sua época que deixou uma obra cujos frutos continuam a ser colhidos pelas actuais gerações. Referimo-nos principalmente à sua acção política e cívica naquela localidade que viria a ser o actual Concelho da Amadora, nomeadamente através da criação da Liga de Melhoramentos que, entre outras iniciativas, foi responsável pela fundação das Escolas Alexandre Herculano.
Lopes Vieira convida-nos a uma digressão através da obra literária do escritor Delfim Guimarães, apresentando-nos muitos dos seus poemas, grande parte dos quais dedicados ao Ponte de Lima, facto que por si só justificaria o seu reconhecimento como “O Poeta de Ponte de Lima” – se foi na Amadora que ele viveu grande parte da sua vida e pelo seu progresso social se bateu, não restam dúvidas de que foi a Ponte de Lima que dedicou os seus versos!
Rua Delfim de Brito Guimarães
Poeta 1872 - 1933
Freguesia(s): Campolide
Início do Arruamento: Rua Basílio Teles
Fim do Arruamento: Rua José Malhoa
Data de Deliberação Camarária: 08/02/1995
Data do Edital: 17/02/1995
Data do Edital do Governo Civil:
Data do Edital do Governo Civil:
Designação(ões) Anterior(es): Troço da Rua A à Avenida José Malhoa, compreendido entre a Rua Basílio Teles e a Avenida José Malhoa.
Historial: “Aos vinte e três dias do mês de Setembro de mil novecentos e noventa e quatro pelas dezasseis horas, numa das salas dos Paços do Concelho, reuniu a Comissão Municipal de Toponímia (...) Seguiu-se a leitura de uma carta da casa do Concelho de Ponte Lima, solicitando que o nome do poeta Delfim Guimarães, seja atribuído a uma rua de Campolide, situada nas imediações da sede da referida Instituição.
A Comissão emitiu parecer favorável, designando para o efeito o troço da Rua A à Avenida José Malhoa, compreendido entre a Rua Basílio Teles e a Avenida José Malhoa que, assim, passará a denominar-se: Rua Delfim De Brito Guimarães/Poeta/1872 – 1933”.
Delfim de Brito Guimarães nasceu no Porto em 4 de Agosto de 1872 e faleceu na Amadora, em 6 de Julho de 1933. De filiação republicana e maçónica, estudioso das Letras Portuguesas, cavaleiro apaixonado pela Menina e Moça de Bernardim Ribeiro, em querelas com Teófilo Braga ou em franca e admirativa correspondência com D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, conforme transcreveu no seu «Arquivo Literário». A sua paixão romântica pela política (União Republicana), levou-o às polémicas sobre as cores e os símbolos da bandeira nacional. Em 1889, veio para Lisboa e com apenas dezanove anos começou a trabalhar como guarda-livros no Século, onde passou a administrador. Ali permaneceu por dez anos mas foi obrigado
a retirar-se, pois a Administração não via com bons olhos a sua actividade literária. Fundou e consolidou uma importante Casa Editora – a Guimarães Editores, que ainda hoje existe na Rua da Misericórdia. Através desta editora, trouxe ao nosso conhecimento, autores estrangeiros notáveis em cuidadas traduções. Poeta, novelista, crítico, erudito, dramaturgo, investigador literário, Delfim de Brito Guimarães prestou valiosos serviços às letras portuguesas. Iniciou a sua carreira de escritor em 1893 com Alma Dorida, um livro de poemas escritos em prosa, dedicado à sua mãe. Nesse mesmo ano escreveu também Lisboa Negra, versos que dedicou à Capital, revelando a sua difícil adaptação a esta cidade. Confidências, um novo livro de poemas, é publicado em 1894 e, no ano seguinte, sai um livro de «orações», em verso, intitulado Evangelho. Em 1902, escreve uma comédia denominada Juramento Sagrado e neste mesmo ano, escreve um poema inspirado em ambientes medievais e de cariz romântico, chamado A Virgem do Castelo. No ano em que abre a Livraria, em 1903, publicou Outonais, obra em poesia dedicada ao amor e, em 1916, durante a Grande Guerra, por publicou uma colectânea de poemas de diversas métricas e estilos, intitulada A Alma Portuguesa. Deixou um património editorial inestimável, quer pelo fundo editorial acumulado, quer pelos serviços que prestou à cultura portuguesa.
A imagem mostra os descendentes do escritor Delfim Guimarães por ocasião da atribuição do seu nome a uma artéria de Lisboa.
Delfim Guimarães nasceu em Santo Ildefonso, no Porto e viveu grande parte da sua vida na Amadora, nos arredores de Lisboa, onde teve grande intervenção cívica e política. Porém, as suas raízes familiares encontram-se em Ponte de Lima, terra em relação à qual consagrou muitos dos seus poemas.
Em Lisboa fundou em 1899 a editora “Guimarães, Libânio e Cª”, actualmente conhecida como Guimarães Editores.
Na Amadora onde viveu e veio a falecer, em 6 de Julho de 1933, foi o grande impulsionador da Liga dos Melhoramentos da Amadora e das escolas Alexandre Herculano. Esta cidade consagrou-lhe um jardim em pleno centro, atribuindo-lhe o seu nome e aí descerrando o busto cuja imagem junto se reproduz. Autêntica sala de visitas da Amadora onde se realizam os principais eventos culturais, o Parque Delfim Guimarães foi inaugurado em 1937 pelo então Presidente da República, General Óscar Carmona.
Delfim de Brito Monteiro Guimarães (Porto, 4 de Agosto de 1872 - Amadora, 6 de Julho de 1933) foi um poeta, ensaísta, bibliófilo e tradutor português.
Trabalhou na área comercial onde desempenhou funções de contabilista e de administrador de diversas empresas, mas ficou conhecido pela sua produção literária, nomeadamente poesia, ensaio, conto, teatro e história, tendo sido fundador da editora «Guimarães, Libânio e C.ª» em 1899, atualmente conhecida como Guimarães Editores.
Tem colaboração em publicações periódicas, como é o caso das revistas Branco e Negro (1896-1898), Ave Azul (1899-1900), A Sátira (1911), Atlântida (1915-1920) e na Revista de turismo iniciada em 1916.
Foi iniciado na Maçonaria na Loja O Futuro, em Lisboa, com o nome simbólico de Bakunine.
A 17 de maio de 1919, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Fonte: Wikipédia
Exemplar com dedicatória oferecido ao jornalista Rocha Martins, aqui tratado por “ilustre camarada”, em 5 de Abril de 1921.
“Á Memória de Herculano” é o título de um poema de cariz patriótico da autoria do escritor e poeta Delfim Guimarães, publicado em 1910, por ocasião da “celebração do centenário do nascimento do egrégio historiador português” ocorrida em 28 de março daquele ano, e editado pela Livraria Editora Guimarães & Cª, editora fundada pelo próprio autor.
Com vasta obra literária, o escritor Delfim Guimarães nasceu no Porto em 4 de agosto de 1872, encontrando-se também ligado a Ponte de Lima, terra à qual dedicou a maioria dos seus versos e ainda á cidade da Amadora onde viveu e veio a falecer em 6 de julho de 1933.
O livro cuja imagem reproduz foi pelo autor oferecido a Henrique Marques, na dedicatória tratado como “bom amigo e camarada”.
“Asas de Portugal” é o título de um poema de cariz patriótico da autoria do escritor e poeta Delfim Guimarães, publicado em 1922, por ocasião da primeira travessia aérea do Atlântico Sul levada a cabo por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no contexto das comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil.
O poema foi escrito na Amadora, terra com grandes tradições aeronáuticas, e editado pela Livraria Editora Guimarães & Cª, editora fundada pelo próprio autor.
Com vasta obra literária, o escritor Delfim Guimarães nasceu no Porto em 4 de agosto de 1872, encontrando-se também ligado a Ponte de Lima, terra à qual dedicou a maioria dos seus versos e ainda á cidade da Amadora onde viveu e veio a falecer em 6 de julho de 1933.
O livro cuja imagem reproduz foi pelo autor oferecido à Redação do jornal Diário de Notícias.
O Parque Delfim Guimarães situa-se no centro da Amadora, na zona mais antiga da cidade, entre a Avenida Elias Garcia e a linha de caminho de ferro que, desde finais do século XIX, contribuiu decisivamente para a expansão do primitivo aglomerado urbano designado como Porcalhota.
Correspondendo ao mais antigo e emblemático espaço verde do concelho, construído na década de 30 do século XX, por iniciativa da então estrutura municipal sediada em Oeiras foi primeiro apelidado de Jardim-Parque da Amadora, ocupando os terrenos agrícolas situados nas imediações do bairro Santos Mattos, primeiro conjunto habitacional da cidade.
O espaço integrado no Parque organiza-se a partir de uma pérgola central, dotada de fonte e bancos em redor. A partir deste espaço definem-se caminhos sinuosos, pontuados por canteiros de roseiras e herbáceas. O jardim possui, igualmente, alguns elementos importantes para a história local como o busto do poeta Delfim Guimarães que deu o nome ao espaço e que se encontra implantado numa rotunda intermédia assim como algumas lápides comemorativas de efemérides locais.
Inicialmente o parque integrou um tradicional espaço com areia balouços e escorregas, conjunto que, depois de ter sido reformulado, se transformou num moderno parque infantil obedecendo às novas normas de segurança. Igualmente numa intervenção mais recente foi criada uma "zona de estadia formal", dotada de bancos e cadeiras.
História
O Parque Delfim Guimarães deve o seu nome ao poeta que viveu e faleceu na cidade (1872-1933) tendo contribuído para esta iniciativa o tenente Cândido Pinheiro, vereador da Câmara de Oeiras, residente na então freguesia da Amadora. O conjunto ajardinado foi inaugurado a 27 de Junho de 1937, na presença do Presidente da República, General Óscar Carmona, escassos dias depois de a Amadora ter sido elevada à categoria de vila. Em 1997 o jardim foi sujeito a obras de reconversão a cargo da Arquiteta Paisagista Patrícia França, tendo estas sido parcialmente concluídas em 2002. Em 2015 o espaço foi novamente objeto de uma intervenção, apostando-se desta vez numa poda algo radical das árvores existentes, intervenção esta com impactos negativos no valor paisagístico do conjunto, tendo sido reduzidas as áreas de sombra e a bela mancha verde que caraterizava o local. De notar que este é um dos poucos espaços verdes existentes na zona central da cidade tão intensamente urbanizada, algo que hoje se sabe ser indispensável para a melhoria da qualidade de vida da população.
Paulo Fernandes/IPPAR/2007. Atualizada por Maria Ramalho/DGPC/2015.
Grande Oriente Lusitano dispunha de lojas e triângulos em Braga, Viana do Castelo, Âncora, Afife, Barcelos e Arcos de Valdevez
A Maçonaria viveu durante o Estado Novo um dos seus momentos mais difíceis. O deputado à Assembleia Nacional apresentou um projecto-de-lei sobre sociedades secretas visando a dissolução da Maçonaria.
Em 27 de Março de 1935, a Câmara Corporativa, através de um extenso e detalhado relatório, emite o seu parecer favorável, documento que é publicado no Diário das Sessões da Assembleia Nacional em 2 de Abril de 1935. O documento veio subscrito por Domingos Fezas Vital, Afonso de Melo, Gustavo Cordeiro Ramos, José Gabriel Pinto Coelho e Abel de Andrade (relator).
A proposta de Lei é aprovada por unanimidade na Assembleia Nacional em 6 de Abril de 1935 e publicada em Diário do Governo, I Série, em 21 de Maio de 1935.
Em 31 de Janeiro de 1935, o General Norton de Mattos – à altura Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano – endereçou o seu protesto junto de José Alberto dos Reis, presidente da Assembleia Nacional e antigo maçon. Em 4 de Abril desse ano, apresenta a sua demissão de Grão-Mestre e a Maçonaria entra em triangulação ou seja, a sua organização em células com um número mínimo de três obreiros.
À altura da sua ilegalização, o Grande Oriente Lusitano contava no Minho com a seguinte organização:
Em Braga a loja Luz e Liberdade com 47 membros.
Em Viana do Castelo a loja Fraternidade com 75 membros.
“A Maçonaria ao Val. de Âncora e a Loja Vedeta do Norte (1903-1929)”
Foi inaugurada sábado, no Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora, a exposição “A Maçonaria ao Val. de Âncora e a Loja Vedeta do Norte (1903-1929)”, uma organização do CSCVPA e da Câmara Municipal de Caminha, que conta com o apoio do NUCEARTES, ETAP e Arquivo do Grémio Lusitano.
Na ocasião, foi apresentado o livro-catálogo da exposição, da autoria de Paulo Torres Bento, e formalizada a oferta da cópia digital do espólio da Loja Vedeta do Norte, na posse da Família Morais Cabral, ao Grande Oriente Lusitano.
A mostra, de entrada livre, ficará patente até ao dia 12 de setembro, e poderá ser visitada de segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 15h00 às 17h30, e aos sábados e domingos das 10h00 às 12h30 e das 15h00 às 19h00.
Livro-catálogo da mostra, uma investigação da autoria de Paulo Torres Bento, é um contributo para a história da Maçonaria portuguesa
No dia 12 de junho, pelas 16h00, é inaugurada no Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora a exposição “A Maçonaria ao Val. de Âncora e a Loja Vedeta do Norte (1903-1929)”, uma organização do CSCVPA e da Câmara Municipal de Caminha, que conta como apoio do NUCEARTES, ETAP e Arquivo do Grémio Lusitano. Na ocasião, será apresentado o livro-catálogo da exposição, da autoria de Paulo Torres Bento, e formalizada a oferta da cópia digital do espólio da Loja Vedeta do Norte, na posse da Família Morais Cabral, ao Grande Oriente Lusitano, que para o efeito se fará representar pelo Grão-Mestre Adjunto, Carlos Vasconcelos. A mostra, de entrada livre, ficará patente em Vila Praia de Âncora ao longo dos meses de verão de 2021, até ao dia 12 de setembro, e poderá ser visitada de segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 15h00 às 17h30, e aos sábados e domingos das 10h00 às 12h30 e das 15h00 às 19h00.
A Loja Vedeta do Norte, de matrícula nº 384 no Grande Oriente Lusitano Unido, foi uma Oficina maçónica que esteve ativa ao Val. de Âncora entre 1915 e 1929, evolução de um Triângulo formado no ano anterior e sucessora distante de outro Triângulo que existiu na Praia de Âncora em 1903-1905. Fundada por um grupo pequeno de republicanos locais, crescerá rapidamente até atingir a vintena de obreiros, notável para uma localidade fora das grandes cidades, ainda mais extraordinário se atentarmos que, além da Fraternidade, em Viana do Castelo, e da Luz e Liberdade, de Braga, na época em causa não houve qualquer outra loja no Minho.
A partir do estudo de uma extensa e inédita documentação interna, que sobreviveu ao tempo, procura-se com esta exposição — e a monografia que se constitui como o seu catálogo —, contribuir para a mais ampla história da Maçonaria portuguesa e da nossa contemporaneidade. Estarão disponíveis para os visitantes, mais ou menos familiarizados com a temática maçónica, os documentos originais da Loja Vedeta do Norte, bem como alguns dos paramentos dos seus obreiros, e ainda diversos artefactos simbólicos desta sociedade iniciática, tudo devidamente enquadrado por painéis gráficos explicativos.
Em 20 de Outubro de 1928, António Fernandes, Venerável da Loja “progredior” do Grande Oriente Lusitano”, aomunicou a Bernardino Machado a aprovação de um voto de protesto contra as perseguições por parte da ditadura de que era alvo.
Refira-se que, à data, encontrava-se instaurada a Ditadura Militar estabelecida na sequência do movimento do 28 de Maio de 1926.
Domingos Cerqueira, da Sub-Inspecção Escolar de Aveiro, endereçou a Bernardino Machado uma missiva por volta de 1910, solicitando a sua protecção junto do Ministro do Interior, no sentido de ser nomeado para inspector escolar em Coimbra, lugar que já desempenhara interinamente por indicação do Dr. Alves dos Santos.
Relembra anteriores encontros com Bernardino Machado no congresso pedagógico do Porto, em outra ocasião em que se encontrava em Coimbra a substituir o Dr. Alves dos Santos, e no congresso maçónico de 1903 em que Domingos Cerqueira representou a Loja Fraternidade de Viana do Castelo. Menciona ter organizado com Barbosa Perre a comissão municipal republicana de Ponte de Lima e ter cooperado no “Intransigente”, jornal republicano de Viana.
O limiano Domingos Cerqueira era avô materno do cantor José Afonso. Por seu turno, o Dr. Alves dos Santos era natural da Cabração, concelho de Ponte de Lima, e foi entre outros aspectos um dos mais eminentes pedagogos do século XX e o introdutor do ensino da Psicologia em Pontugal. A referência feita a Coimbra deve-se ao facto de ter presidido à respectiva Câmara Municipal.
Todo o objeto criado possui sempre as marcas do seu criador. A obra de arte reflete a ideia e o perfil psicológico do artista que a concebeu. De igual forma, o artesanato dá-nos a descrição mais fiel do nível cultural de um povo, revelando-nos o seu caráter e capacidade de transmitir aquilo que sente. Também as instituições nos permitem perceber o grau de desenvolvimento cultural de uma sociedade, os seus valores e o estádio de evolução humana em que se encontram, deixando em todas as situações as marcas distintivas dos seus obreiros.
O associativismo popular tem entre nós origem a partir de meados do século XIX, criado sobretudo pela necessidade dos republicanos penetrarem entre as classes mais baixas da sociedade portuguesa para a atrair à sua causa e criar as condições da adesão popular á mudança do regime político.
Através dos triângulos e lojas maçónicas, foram criados em todo o país bandas filarmónicas e sociedades de cultura e recreio com o propósito de levar ao povo o ensino primário, a instrução musical, o teatro, as ocupações recreativas e a cultura popular em geral.
Quais organizações para-maçónicas, estas agremiações contavam com militantes republicanos entre os seus principais impulsionadores, os quais impunham estatutos cujas normas eram inspiradas na própria constituição maçónica. Não admira, pois, que reflexo das cisões verificadas no seio da Maçonaria e dos partidos políticos, tenham ocorrido idênticas divisões no seio de muitas coletividades. A existência no concelho do Seixal de duas coletividades rivais – a Timbre Seixalense e a Sociedade Filarmónica União Seixalense – tem a sua razão de ser nas divisões criadas pelo Partido regenerador e pelo Partido Progressista.
À semelhança do que se verificou com os jornais regionais, também eles em grande parte criados com a finalidade de difundir os ideais republicanos, as sociedades recreativas foram adaptando-se à evolução dos tempos e, sobretudo, às mudanças de regime político, não deixando porém de conservar alguns dos seus traços caraterísticos que estiveram na sua própria génese.
Entre as normas estatutárias mais relevantes que ajudam a identificar a sua origem, encontra-se a obrigatoriedade da admissão de um novo sócio ser feita através de um ou mais proponentes, existindo ainda coletividades que mantêm o costume de exibirem num quadro apropriado, durante determinado período de tempo, a ficha de inscrição do sócio proposto antes da mesma ser submetida a aprovação por parte do órgão diretivo. Na realidade, esta regra contraria o princípio da liberdade de associação, tratando-se de um procedimento apenas concebível no âmbito de uma associação a funcionar em moldes secretos e sigilosos.
Outra norma estatutária, também claramente de origem maçónica, é a que obriga o sócio ao pagamento de uma joia no ato de admissão, elemento estranho que ninguém explica do que se trata e, como é óbvio, o novo associado nunca receberá… nem questionará sequer acerca de um direito que lhe assiste!
Estas e outras práticas injustificadas são perpetuadas pelo costume e transmitidas às novas coletividades de cultura, desporto e recreio através da aprovação de estatutos que mais não são do que réplicas de outros antigos e desatualizados, copiados sem qualquer sentido crítico e reproduzindo normas que deveriam entretanto ser melhoradas ou eliminadas. Encontram-se, entre estas coletividades, as casas regionais, grupos folclóricos e um quase infinito número de associações que se dedicam às mais variadas vertentes de âmbito social, cultural, ambiental e recreativo.
Desde o começo da sua existência, o Homem procurou sempre encontrar explicações para os fenómenos do mundo que o rodeia, desde a sua origem às alterações resultantes das ações climáticas e das estações do ano que interferem no ciclo de renascimento da natureza e dos vegetais, essencial à preservação da vida e à sobrevivência da comunidade humana. E, em todas as culturas, a explicação encontra-se na vontade dos deuses cuja ação criadora deve ser celebrada para assegurar a sua continuidade. E, desse modo, através do rito, o Homem participa na sua ação criadora, o mesmo é dizer perpetuando através da tradição o ciclo de perpétuo renascimento da vida.
Carro alegórico da Maçonaria no desfile comemorativo do 1º aniversário da República
As festividades populares que chegam até nós, mormente as festas e romarias populares, têm a sua origem nas mais remotas crenças dos nossos ancestrais que nos foram transmitidas graças à sua preservação sob a forma de manutenção da tradição. Ao longo dos tempos, foram adquirindo novas formas, nomeadamente as que resultam da nossa conversão ao Cristianismo, mas ainda assim conservando a essência da sua celebração e o seu real significado. Quer isto dizer que as festas que o povo realiza aos seus padroeiros e santos venerandos constituem celebrações cujas raízes mergulham no que de mais profundo existe na razão humana.
Desde os finais do século XIX tem vindo a assistir-se à tentativa de sobrepor um novo tipo de celebrações, mais de caráter cívico, procurando de algum modo substituir as tradicionais festividades religiosas do povo e, desse modo, instituir uma “religião cívica”. Inserem-se nesse plano as festividades do “dia da árvore” e a comemoração de efemérides de caráter político geralmente estabelecidas como feriados oficiais como a data de atribuição da carta de foral ou a elevação de uma localidade a freguesia, vila ou cidade. Não raras as vezes, o empenho vai ao ponto de pretender-se substituir as datas festivas dos próprios feriados municipais cuja instituição tem na origem a mais profunda tradição popular.
Esta tentativa de falsificação vai ao ponto da invenção de novas letras e novas coreografias para o nosso folclore, numa clara manifestação de propaganda municipal e turística que nada tem a ver com as verdadeiras tradições locais mas antes com operações de marketing.
Em regra, a comemoração de tais efemérides não colhe a adesão do povo porque, na realidade, não passam de construções artificiais que nada têm a ver com a sua forma de encarar o mundo que o rodeia, resultando apenas de sucessos políticos que pouco o nada alteram o seu modo de vida. Não são as posturas municipais nem os decretos governamentais que vão suprimir a religiosidade do povo português. Este continuará sempre devoto aos seus santos padroeiros e a festejar os dias que lhes são consagrados, da mesma forma que os nossos ancestrais veneravam as mais misteriosas forças da natureza com a mais profunda veneração que devotavam aos deuses que as representavam.
As festividades locais devem sempre ter em consideração a religiosidade do povo e, por conseguinte, combinar a componente profana e cívica com a tradição cristã e a devoção popular. Sem a participação da Igreja ou seja, da comunidade cristã, com os seus andores e pendões e sobretudo a sua devoção, nenhuma festa assume um caráter verdadeiramente popular por mais importante que seja a efeméride que se pretenda celebrar.
De acordo com Zeca Afonso, o seu avô materno e ponte-limense, Domingos José Cerqueira “ (…) introduziu o culto da árvore nas escolas”[1], e outro nome relacionado com esta vila minhota, Delfim Guimarães, é indissociável à Festa da Árvore que, a Portugal, chegara em 1907, por mãos republicanas.
Em 1913 também o concelho de Ponte de Lima acolheu esta celebração, com relevância para a freguesia de Vitorino de Piães[2]. Num domingo, dia 9 de Março, pelas 13 horas, na escola do sexo feminino, a sessão solene teve início, presidindo a professora oficial, Maria A. Leite Vilaça, e a cargo de João Carvalho, de Braga, ficou a explicação da importância da festa, e a demonstração de “não haver incompatibilidade com a religião”.
Cantou-se o Hino das Escolas e uma menina recitou “uma comovente alocução à árvore”. Em teatralização, as crianças Casimira da Costa e Sousa e Amaro Barreto “mostraram o encanto e utilidade da festa”.
O cortejo que se seguiu, até ao local destinado à plantação, era aberto por um aluno, empunhando a bandeira nacional. Em seguida, um aluno de cada uma das escolas transportando as árvores a serem plantadas, “adornadas com fitas das cores nacionais”, alunas e alunos com pequenas bandeiras nacionais, “diferentes instrumentos agrícolas de madeira”, cedidos pelo professor da Sé, Braga, José Gomes Barros, e, fechando o cortejo, antes “da imensa multidão de povo que assistiu à festa”, a banda musical de Cabaços.
Concluída a plantação, e o uso da palavra pelo professor oficial José Pedro Gonçalves, regressou “o cortejo pela mesma forma à escola”. Depois da recitação do hino da Árvore, pelo menino João Oliveira Caridade, e para conclusão, foi “distribuída pelas crianças uma merenda, constando de pão, figos e vinho”.
O fotógrafo amador João Carvalho tirou “diversas fotografias”[3]
[1] -José Carlos Loureiro (http://anunciadordasfeirasnovas.blogspot.pt/2009/08/proposito-dos-80-anos-de-zeca.html)
[2] - O Comércio do Lima, n.º 331, 15 de Março de 1913.
O culto da árvore – atualmente celebrado como Dia da Árvore e da Floresta – no qual se insere a festa que lhe era dedicada constituiu uma das iniciativas que os republicanos fomentaram nos começos do século passado com vista à introdução na sociedade portuguesa de novos valores e símbolos com os quais procuraram substituir os valores tradicionais associados à Igreja Católica e ao Cristianismo em geral. Tratava-se, com efeito, de uma campanha de penetração ideológica nos meios rurais, promovida pela própria maçonaria, utilizando para esse meio os seus próprios órgãos de propaganda como era o caso do jornal “O Século Agrícola”, suplemento do jornal “O Século” dirigido por Magalhães Lima que, conforme o próprio título sugere, propunha-se promover a secularização da sociedade.
Tratava-se, com efeito, de criar uma nova liturgia, celebrado por altura do equinócio da Primavera, preconizando o retorno aos antigos ritos pagãos anteriores ao estabelecimento do Cristianismo em detrimento das celebrações da Páscoa e da Ressurreição de Jesus Cristo, crença essencial da fé cristã.
A “Festa da Árvore” realizou-se pela primeira vez no Seixal em 1907, por iniciativa da Liga Nacional de Instrução, tendo nos anos que se seguiram atingido especial visibilidade as que tiveram lugar na Amadora por iniciativa da Liga de Melhoramentos da Amadora, organização de inspiração republicana onde pontificava o escritor Delfim Guimarães.
De uma maneira geral, a realização da “festa da árvore” ocorreu nas localidades onde os republicanos dispunham de maior organização, sobretudo nas regiões mais a sul do país. Porém, é sabido que em Viana do Castelo também dispunham de uma certa influência, mantendo inclusive em funcionamento uma loja maçónica – a Loja Fraternidade – com mais de três dezenas de membros.
A revista Ilustração Portugueza, de 30 de março de 1914, dá-nos conta da realização nesse ano da festa da árvore em Viana do Castelo, nos seguintes termos: “Em Viana do Castelo a festa da árvore teve o concurso de todas as autoridades civis e militares, escolas oficiais e particulares. No Campo da Agonia foram plantadas duas laranjeiras e duas cerejeiras tendo assistido imenso povo. Falaram o alferes sr. Alpedrinha e o sr. Dr. Rodrigo Abreu sendo o cortejo dirigido pelo capitão sr. Malheiro. As tropas da guarnição da cidade também tomaram parte n’essa encantadora cerimónia em que foi exaltado o culto da árvore que O Século Agrícola tanto tem propagandeado.”
A comemoração do Dia da Árvore manteve-se durante a vigência do Estado Novo, desprovida contudo da carga ideológica que inicialmente encerrava, tendo chegado até aos nossos dias como um ritual que se cumpre anualmente como um aceno à chegada da Primavera.
Não obstante o propósito original de tal iniciativa, a comemoração do Dia da Árvore e da Floresta, dirigida especialmente às crianças em idade escolar, veio cumprir uma função pedagógica e cívica, sensibilizando-os para a necessidade de preservação da floresta e do meio ambiente.
Na sequência das várias discussões que se têm proporcionado nos grupos monárquicos do Facebook, enviei, no dia 2 de Setembro de 2012, à Academia Portuguesa de História a seguinte exposição pedindo provas documentais.
Exmos. Senhores
Pedro I do Brasil
Na sequência de vários anos de estudo e de muitas horas de discussões, peço a V. Exas. se dignem apresentarem-me documentos confirmando que, na realidade, Pedro I do Brasil foi Rei de Portugal.
No que diz respeito ao período que vai desde a morte de D. João VI até à aclamação de SMF El-Rei D. Miguel I, o melhor que consegui encontrar, em termos genéricos diz isto:
No dia 6 de Março de 1826, D. João VI, doente, nomeou uma regência presidida pela Infanta D. Isabel Maria, sua filha, a qual vigoraria, mesmo com a morte do rei, até que o legítimo herdeiro e sucessor da Coroa aparecesse. (como se vê nem o Rei sabia quem era o herdeiro), D. João VI morreu 4 dias depois.
Logo D. Isabel Maria envia ao Brasil uma representação com a missão de convencer o Imperador a aceitar o trono de Portugal. Estaria o Imperador inclinado a aceitar, mas, perante a total e radical discordância e oposição dos brasileiros, "o Senhor D. Pedro mesmo positiva, e expressissimamente declarou que nada queria de Portugal, e até reconheceo mui solenemente que, sendo Imperador do Brasil, não podia ser Rei de Portugal."
Pedro desde 1819 que não pisava solo português, não esteve em Portugal no ano de 1826, logo, como obrigavam as Leis Fundamentais da Monarquia a aclamação não podia ter acontecido, mais não tendo reunido as Cortes para o efeito.
Também, segundo as Leis Fundamentais da Monarquia, o Senhor D. Pedro não reunia os requisitos necessários e obrigatórios para poder suceder na Coroa de Portugal porque:
- "o Senhor D. Pedro, Filho, e Vassallo do Senhor D. João VI Rei de Portugal, não só aprovou, e favoreceo a Rebellião do Brasil, mas se apresentou á testa dos Rebeldes, e Revolucionários, como seu Chefe; desmembrou do Reino de Portugal aquella importantíssima Colónia, elevada por seu Pai á qualidade de Reino; e até se declarou a si próprio solemnemente perpetuo Defensor do paiz rebellado."
- "muito por seu querer e escolha se fez Estrangeiro a Portugal, passando a ser Soberano independente, e Imperador do Brasil, tendo-se por isso desligado este absolutamente de Portugal."
- "o Senhor D. Pedro, como Imperador do Brasil, se obrigou a residir sempre no Brasil, e não pode vir residir em Portugal; residência esta absolutamente indispensável para poder succeder na Coroa de Portugal."
- "O Senhor D. Pedro nem em Portugal, nem no Brasil foi acclamado Rei de Portugal."
- "O Senhor D. Pedro não... prestou o Juramento de guardar aos Portuguezes seus Privilégios, Liberdades, Foros, graças e costumes, que as Leis Fundamentais da Monarchia mandão que os Reis de Portugal prestem antes de serem levantados Reis, e antes que os Estados do Reino lhe prestem o Juramento de preito, e homenagem."
- "Ainda no caso de se poder suppôr legitimada pelo Senhor Rei D. João VI no Tratado de 29 de Agosto de 1825 a usurpação, e levantamento do Brasil em Império independente: caso puramente ideal, e de mera supposição, esse caso seria justamente o que previrão as Côrtes de Lisboa de 1641, dizendo: que se acontecer succeder o Rei deste Reino em algum Reino, ou Senhorio maior... e tendo dous, ou mais filhos varões, o maior succeda no Reino estranho, e o segundo neste de Portugal; e este seja jurado Príncipe, e Legitimo Sucessor."
- na outorgação da Carta Constitucional, verdade que ele assinou "... Rei de Portugal e dos Algarves". ELE assinou, mas não tinha qualquer legitimidade para o fazer porque tinha de ter sido legitimado pelas Cortes para o ser. Era a mesma coisa que o sr Rosário Poidimani se lembrar de fazer uma Carta, assinar como Rei de Portugal dos Algarves e passar a sê-lo, nem que fosse por um dia.
Em relação ao período pós-Convenção de Evoramonte, não há qualquer dúvida de que não foi Rei porque a acta das Cortes de 1834 é bem explícita e mostra que D. Pedro apenas foi Regente como vou expor:
Agosto, 15 – Abertura das primeiras Cortes, de acordo com a Carta Constitucional, após o fim da Guerra Civil. As sessões decorreram no Convento de S. Bento da Saúde, que passou a denominar-se Palácio das Cortes.
Agosto, 18 - Primeira sessão parlamentar, com discussão da proposta do ministro do Reino para que D. Pedro conservasse a regência até à maioridade da Rainha.
Agosto, 30 - D. Pedro prestou juramento solene como Regente, na sala do trono do Palácio da Ajuda.
Setembro, 18 - D. Pedro enviou uma mensagem às Cortes a pedir escusa da Regência, devido ao seu estado de saúde.
Setembro, 20– Juramento solene de D. Maria II da Carta Constitucional, depois de ter sido declarada a sua maioridade.
Conclusões:
Se o Ministro do Reino propõe que conservasse a regência, era porque não era Rei; se fosse Rei, não prestava juramento solene como regente; se a coroa era sua não pedia escusa da regência.
Pelas razões apresentadas concluo que D. Pedro do Brasil jamais foi Rei de Portugal e que só mesmo a História dos liberais vencedores fez dele isso.
Estamos num país livre que deve ter orgulho no seu passado, logo a mentira e a traição não podem sobrepor-se à verdade e à honra.
“José Liberato - Vida e Obra” na Biblioteca Municipal de Barcelos
Uma exposição documental e biográfica intitulada “José Liberato - Vida e Obra” está patente ao público no átrio da Biblioteca Municipal de Barcelos, de 5 a 29 de abril.
A exposição conta com 14 painéis coloridos, de 100 X 80 cm e por cerca de uma vintena de livros antigos (da época). Os painéis contêm textos e imagens, descrevendo os aspetos mais relevantes da vida de José Liberato e da sua ação em Portugal e no exílio, bem como as referências às suas obras, constituindo um relato importante de uma época fundamental na nossa história, desde a difusão dos primeiros ecos da Revolução Francesa, à Guerra Peninsular, passando pela Revolução de 1820, as Guerras Liberais, o Setembrismo, etc.
A exposição é da responsabilidade da "Comissão Liberato", cuja missão é divulgar, em Coimbra, e no país, a sua vida e a sua importante obra. Entre outras atividades desta "Comissão Liberato", salienta-se a reedição de obra traduzida, atribuição de toponímia na cidade de Coimbra, restauro do jazigo de Liberato no cemitério dos Prazeres, edição de uma medalha e de um selo comemorativos e artigos de divulgação na imprensa local José Liberato Freire de Carvalho nasceu em Monte São, situado na freguesia de S. Martinho do Bispo, nos arredores de Coimbra, em 20 de julho de 1772 e acabou por falecer em Lisboa, em 31 de março de 1855. Pertenceu à Ordem dos Cónegos Regrantes da Santa Cruz, enquanto frade, depois foi um jornalista e intelectual de relevo e um dos políticos portugueses mais marcantes do século XIX. Exerceu as funções de deputado às Cortes e de redator do jornal oficial, a “Gazeta de Lisboa”. Foi um dos editores dos jornais da emigração liberal portuguesa em Londres e autor de uma extensa obra sobre a história política de Portugal e da Europa. Foi membro da Maçonaria e, em 1804, foi eleito Grande Orador do Grande Oriente Lusitano.
Todo o objeto criado possui sempre as marcas do seu criador. A obra de arte reflete a ideia e o perfil psicológico do artista que a concebeu. De igual forma, o artesanato dá-nos a descrição mais fiel do nível cultural de um povo, revelando-nos o seu caráter e capacidade de transmitir aquilo que sente. Também as instituições nos permitem perceber o grau de desenvolvimento cultural de uma sociedade, os seus valores e o estádio de evolução humana em que se encontram, deixando em todas as situações as marcas distintivas dos seus obreiros.
O associativismo popular tem entre nós origem a partir de meados do século XIX, criado sobretudo pela necessidade dos republicanos penetrarem entre as classes mais baixas da sociedade portuguesa para a atrair à sua causa e criar as condições da adesão popular á mudança do regime político.
Através dos triângulos e lojas maçónicas, foram criados em todo o país bandas filarmónicas e sociedades de cultura e recreio com o propósito de levar ao povo o ensino primário, a instrução musical, o teatro, as ocupações recreativas e a cultura popular em geral.
Quais organizações para-maçónicas, estas agremiações contavam com militantes republicanos entre os seus principais impulsionadores, os quais impunham estatutos cujas normas eram inspiradas na própria constituição maçónica. Não admira, pois, que reflexo das cisões verificadas no seio da Maçonaria e dos partidos políticos, tenham ocorrido idênticas divisões no seio de muitas coletividades. A existência no concelho do Seixal de duas coletividades rivais – a Timbre Seixalense e a Sociedade Filarmónica União Seixalense – tem a sua razão de ser nas divisões criadas pelo Partido regenerador e pelo Partido Progressista.
À semelhança do que se verificou com os jornais regionais, também eles em grande parte criados com a finalidade de difundir os ideais republicanos, as sociedades recreativas foram adaptando-se à evolução dos tempos e, sobretudo, às mudanças de regime político, não deixando porém de conservar alguns dos seus traços caraterísticos que estiveram na sua própria génese.
Entre as normas estatutárias mais relevantes que ajudam a identificar a sua origem, encontra-se a obrigatoriedade da admissão de um novo sócio ser feita através de um ou mais proponentes, existindo ainda coletividades que mantêm o costume de exibirem num quadro apropriado, durante determinado período de tempo, a ficha de inscrição do sócio proposto antes da mesma ser submetida a aprovação por parte do órgão diretivo. Na realidade, esta regra contraria o princípio da liberdade de associação, tratando-se de um procedimento apenas concebível no âmbito de uma associação a funcionar em moldes secretos e sigilosos.
Outra norma estatutária, também claramente de origem maçónica, é a que obriga o sócio ao pagamento de uma joia no ato de admissão, elemento estranho que ninguém explica do que se trata e, como é óbvio, o novo associado nunca receberá… nem questionará sequer acerca de um direito que lhe assiste!
Estas e outras práticas injustificadas são perpetuadas pelo costume e transmitidas às novas coletividades de cultura, desporto e recreio através da aprovação de estatutos que mais não são do que réplicas de outros antigos e desatualizados, copiados sem qualquer sentido crítico e reproduzindo normas que deveriam entretanto ser melhoradas ou eliminadas. Encontram-se, entre estas coletividades, as casas regionais, grupos folclóricos e um quase infinito número de associações que se dedicam às mais variadas vertentes de âmbito social, cultural, ambiental e recreativo.