É de origem remota a tradição do Banho Santo que se celebra na Romaria de São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende, que a cada ano atrai maior número de visitantes àquela localidade minhota plena de tradições.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica.
Com efeito, tudo leva a crer que estas práticas têm a sua origem mais remota nos ancestrais cultos pagãos em louvor das ninfas e outras divindades pré-romanas das águas ou ainda em rituais dedicados à deusa grega Ártemis – Diana na mitologia romana – cujos templos situavam-se geralmente junto a cursos de água. Ou ainda a Alfeu – deus do rio e filho de Oceano na mitologia grega – e a Posídon – Neputno, deus do mar na mitologia romana.
A tradição do Banho Santo ligado a rituais de purificação que têm na água a sua função primordial, é porventura aquela que confere maior significado a estas festividades e muito provavelmente a que se encontra nas suas origens mais remotas. De resto, a água está associada aos ritos do baptismo e às peregrinações a Santiago de Compostela. Mantido ao longo dos tempos pela devoção popular, tais práticas foram sujeitas a perseguições desde o século IV à época do imperador Diocleciano até à Idade Média. Acabariam, porém, por serem aceites pelo Cristianismo.
À semelhança de outras festas cíclicas, os rituais do Banho Santo tendo por objecto a purificação e preservação da saúde de pessoas ou animais levados pelos pastores, predominam em regra no meio rural, junto ao mar, a rios ou outros cursos de água. Para além da tradição em São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende, temos ainda entre nós o “Banho da Degola” em louvor de São João da Degola que se realiza em Vila Real de Santo António, em Lagos, na serra de Monchique e os banhos de ano novo em Carcavelos e noutras localidades.
Com o decorrer do tempo, é possível que tenham ocorrido influências de várias culturas relacionadas com a presença de comunidades religiosas distintas, originando mesmo um certo sincretismo. É o que se verifica nomeadamente com o ritual de exorcização com recurso à galinha preta que muito provavelmente terá sido originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Fotos: Alfredo Cunha / Arquivo Municipal de Lisboa
Passam 120 anos desde a data da inauguração em Lisboa da Sinagoga Shaaré-Tikvá, cuja primeira pedra havia sido lançada dois anos antes. O projeto é da autoria do caminhense Miguel Ventura Terra, considerado um dos maiores arquitetos da sua época, tendo-lhe valido o Prémio Valmor de Arquitetura.
O templo encontra-se situado na rua Alexandre Herculano, nº 59, edificado dentro de um quintal muralhado visto que não era então permitida a outras denominações religiosas para além da Igreja Católica, a construção com fachada para a via pública. O terreno para a construção da sinagoga foi adquirido pela comunidade judaica, em nome de particulares, dadas as dificuldades com que então se debatia para obter o reconhecimento oficial. Até então, o culto era exercido em diversas casas de orações que, no entanto, não reuniam as condições necessárias para o efeito.
Miguel Ventura Terra nasceu em Seixas, no concelho de Caminha, em 14 de julho de 1866, tendo falecido em Lisboa em 1919. Entre as suas inúmeras obras, contam-se a renovação do Palácio de São Bento, a Maternidade Alfredo da Costa, o Teatro Club de Esposende, o Hotel e o Santuário de Santa Luzia em Viana do Castelo, o Hospital de Esposende e o edifício do banco de Portugal, no Porto.
Ilse Lieblich Losa nasceu a 20 de Março de 1913, em Bauer, na Alemanha. Perseguida pelo regime nazi em virtude da sua ascendência judaica, veio para Portugal em 1934, radicando-se no Porto, onde conheceu o marido, o arquiteto esposendense Arménio Losa.
É nesta cidade que Ilse Losa inicia a escrita literária com a obra “O Mundo em que vivi” (1949) e se consagra como escritora.
Escreveu livros para crianças e para adultos e colaborou com diversos jornais e revistas portuguesas e alemãs, tendo sido distinguida com vários prémios literários, entre os quais o “Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças – Melhor Texto”, de 1980-1981, pelo livro “Na Quinta das Cerejeiras”, e o “Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças”, em 1984, pelo conjunto da sua obra. Ilse Losa faleceu em Janeiro de 2006, na sua casa do Porto.
Esta fotografia reproduz a imagem de Ilse Losa [1913-2006] a passear no pinhal da sua casa de Esposende, em 1970. Ilse, nascida na Alemanha, casou com Arménio Losa [1908-1988], prestigiado arquiteto português, natural de Esposende, onde entre vários obras, projetou a sua casa de férias, mantendo assim raízes próximas com a sua terra de nascimento
Ao longo da História, várias foram as comunidades judaicas que se estabeleceram no Minho, nomeadamente em Braga, Guimarães, Viana do Castelo, Barcelos e Ponte de Lima. A elas se deve nomeadamente o incremento do comércio, das feiras medievais e do artesanato local.
Foram os judeus os principais organizadores da feira de Ponte de Lima cuja importância justificou a atribuição do foral por D. Teresa em 1125, a qual veio a registar u desenvolvimento notável nos séculos XIV e XV.
Em Ponte de Lima, viviam intramuros e o acesso à Judiaria fazia-se pela então Rua da Judiaria – atual Rua da Porta Nova – através do Arco da Porta Nova junto à torre da Cadeia Velha que ainda se conserva.
Aos judeus minhotos se deve em grande medida o incremento da economia local. Eram eles os mercadores e artesãos que abasteciam o comércio e contribuíram para o progresso da cidades e vilas ao tempo da Idade Média.
Em Viana do Castelo, foram muitos os judeus que na época dos Descobrimentos se fizeram mercadores e navegadores dedicando-se ao comércio sobretudo com os países do norte da Europa onde vieram a constituir feitorias nomeadamente em Antuérpia e a comunidade judaica de Amesterdão onde ergueu a magnífica Sinagoga Portuguesa que ainda é uma referência turística daquela cidade.
As marcas que deixaram em Viana da Foz do Lima – atual Viana do Castelo – levaram em 1442 os procuradores a requereram ao rei D. Afonso V a delimitação do bairro dos judeus que ocupava, na altura, uma das maiores praças do centro histórico.
Mas não foi somente no tecido urbano que os judeus deixaram a suas marcas. Eles possuíam os seus lugares de culto e interagiam frequentemente com as procissões e outras celebrações cristãs. A própria romaria de São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende – que à época integrava o concelho de Barcelos – denuncia em grande medida influências de práticas dos cristãos-novos, judeus alegadamente convertidos ao Cristianismo.
Apesar de uma convivência pacífica, o período do estabelecimento da Inquisição levou à denúncia ao Tribunal do Santo Ofício de muitos judeus (cristãos-novos) pela prática de judaísmo, quem sabe na maioria dos casos tais perseguições motivadas por invejas e interesses pessoais. Muitos demandaram outras paragens a fim de escapar à intolerância religiosa. Os que ficaram, são atualmente tão minhotos como nós!
Ponte de Lima: Arco da Porta Nova que dava acesso à Judiaria (Foto: Wikipédia)
É de origem remota a tradição do Banho Santo que se celebra na Romaria de São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende, que a cada ano atrai maior número de visitantes àquela localidade minhota plena de tradições.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica.
Com efeito, tudo leva a crer que estas práticas têm a sua origem mais remota nos ancestrais cultos pagãos em louvor das ninfas e outras divindades pré-romanas das águas ou ainda em rituais dedicados à deusa grega Ártemis – Diana na mitologia romana – cujos templos situavam-se geralmente junto a cursos de água. Ou ainda a Alfeu – deus do rio e filho de Oceano na mitologia grega – e a Posídon – Neputno, deus do mar na mitologia romana.
A tradição do Banho Santo ligado a rituais de purificação que têm na água a sua função primordial, é porventura aquela que confere maior significado a estas festividades e muito provavelmente a que se encontra nas suas origens mais remotas. De resto, a água está associada aos ritos do baptismo e às peregrinações a Santiago de Compostela. Mantido ao longo dos tempos pela devoção popular, tais práticas foram sujeitas a perseguições desde o século IV à época do imperador Diocleciano até à Idade Média. Acabariam, porém, por serem aceites pelo Cristianismo.
À semelhança de outras festas cíclicas, os rituais do Banho Santo tendo por objecto a purificação e preservação da saúde de pessoas ou animais levados pelos pastores, predominam em regra no meio rural, junto ao mar, a rios ou outros cursos de água. Para além da tradição em São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende, temos ainda entre nós o “Banho da Degola” em louvor de São João da Degola que se realiza em Vila Real de Santo António, em Lagos, na serra de Monchique e os banhos de ano novo em Carcavelos e noutras localidades.
Com o decorrer do tempo, é possível que tenham ocorrido influências de várias culturas relacionadas com a presença de comunidades religiosas distintas, originando mesmo um certo sincretismo. É o que se verifica nomeadamente com o ritual de exorcização com recurso à galinha preta que muito provavelmente terá sido originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Fotos: Alfredo Cunha / Arquivo Municipal de Lisboa
Terá esta tradição origem na comunidade judaica que outrora vivia em Barcelos a cujo concelho Esposende então pertencia?
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica. Porém, o ritual de exorcização com recurso à galinha preta ter-se-á originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.
Fotos: Alfredo Cunha / Arquivo Municipal de Lisboa
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica. Porém, o ritual de exorcização com recurso à galinha preta ter-se-á originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.
Fotos: Alfredo Cunha / Arquivo Municipal de Lisboa
“Na Páscoa, o Cristianismo celebra a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o que faz desta festividade porventura a mais importante e de maior significado para os cristãos. Com efeito, é a crença na ressurreição de Jesus Cristo que distingue a fé cristã em relação a outras confissões religiosas. Foi apenas no século II que a Igreja Católica fixou a Páscoa no domingo, sem a menor referência à celebração judaica. Sucede que Jesus Cristo, segundo o calendário hebraico, terá morrido em 14 de Nissan, precisamente o início do Pessach ou seja, o mês religioso judaico que marca o início da Primavera.
Com efeito, de acordo com a tradição judaica, a Páscoa provém de Pessach que significa passagem e evoca a fuga dos judeus do Egipto em busca da Terra Prometida. Na realidade, tal significação remonta a raízes ainda mais ancestrais, concretamente às celebrações pagãs que ritualizavam a passagem do Inverno para a Primavera ou seja, as festas equinociais associadas à fertilidade e ao renascimento dos vegetais.
Tais celebrações eram antecedidas pela Serração da Velha, o Entrudo e as saturnais que originaram as festividades de Natal. Mas, as novas religiões monoteístas alicerçaram-se sobre as ruínas das crenças antigas e, por cima dos antigos santuários pagãos ergueram-se as novas catedrais românicas e góticas. Da mesma forma que, sobre as ruínas dos velhos castros foram construídos os castelos medievais. E, assim, também as celebrações pagãs se revestiram de novas formas mais de acordo com novas conceções religiosas e se cristianizaram, adquirindo uma nova simbologia e significação.
Subsistem, no entanto, antigas usanças que denunciam as origens pagãs da festividade pascal associadas a costumes importados da cultura anglo-saxónica que, em contacto com as tradições judaico-cristãs originam um sincretismo que conferem à celebração pascal uma conceção religiosa bastante heterodoxa. É o que se verifica, nomeadamente, com toda a simbologia associada ao coelho e aos ovos da Páscoa, sejam eles apresentados sob a forma de chocolate, introduzidos nos folares ou escondidos no jardim, rituais estes ligados à veneração praticada pelos nórdicos a Ostera, considerada a deusa da fertilidade e do renascimento, por assim dizer a “deusa da aurora”.
Tal como para os judeus, a Pessach alude à passagem do anjo exterminador antes da sua partida do Egipto e, ao assinalarem as suas casas com o sangue do cordeiro levaram a que fossem poupados da praga lançada por Javé, para os cristãos é o próprio Jesus Cristo que incarna a vítima sacrificial ou seja, o cordeiro pascal que expia os pecados dos homens. Também para os cristãos, a Páscoa representa a passagem da morte para a vida eterna e o reencontro com Deus.
Na Páscoa, o sol primaveril irrompe pelas veigas verdejantes enquanto as árvores se espreguiçam num novo amanhecer. As flores exalam um perfume inebriante que inundam os céus e a todos contagia. As casas dos lavradores engalanam-se para receber a visita pascal. Junca-se o caminho com um tapete colorido feito de funcho, cravo e rosmaninho. O pároco, de sobrepeliz e estola entra pelos quinteiros, logo seguido a curta distância pelo mordomo, vestindo a opa vermelha e levando consigo a cruz florida que a dá a beijar, e o sacristão com a sineta e a caldeirinha de água benta. Lá fora, o estalejar dos foguetes indica o local exato onde segue a cruz. Em redor, a natureza renasce e adquire especial fulgor.
Há mais de um século, o escritor e jornalista valenciano José Augusto Vieira, descrevia a Páscoa no Minho, na revista “Branco e Negro” (Semanario Illustrado), nº.1 de 5 de Abril de 1896, nos seguintes termos:
“O Natal é a festa da noite, a Paschoa e festa do dia!
Pelos caminhos da aldeia o parocho revestido de sobrepeliz e estola vae acompanhado pelo mordomo da cruz, pelo caldeirinha de agua benta, pelo campainha, pelo creado encarregado de receber os folares. Partem sol nado.
São muitos e distantes os logares, e a cruz, enfeitada com belos cordões de ouro e laços de fita coloridos, aromatisada com essência de cravo ou rosmaninho, tem de ser beijada por todos os freguezes.
Os vizinhos invadem uns as casas dos outros; os parentes teem de ir beijal-a a casa dos parentes, embora a distancia seja longa.
Avista-se além a Cruz, n’uma volta da azinhage. A campainha vibra no ar ambalsamado pelo perfume das macieiras em flôr, e então todos se dão pressa em juncar de flores e plantas aromaticas a entrada do seu lar, e estender sobre a mesa a alva toalha de rendas, onde o folar é depositado.
O padre chega. Enche-se a casa.
Alleluia, boas festas.
E a todos ajoelhados o parocho dá a Cruz para beijar, correndo assim a freguesia inteira.
Os ausentes teem vindo de fora, esquecem-se antigos ódios, visitam-se amigos velhos; a panella é gorda n’esse dia, o vinho espuma alegremente. É a natureza que ressurge, e quando a seiva ascende exhuberante e fecunda, não é para admirar que o espírito se vivifique pela alegria.”
"Padre de aldeia abençoando em dia de Páscoa" - Costumes portugueses da província do Minho. Autor: Augusto Roquemont (1804-1852)
“Diálogos” é o título da exposição que abre, sexta-feira, 2 de setembro, em Valença, no âmbito da Jornada Europeia da Cultura Judaica que decorre na Eurocidade Tui Valença entre 1 e 11 de setembro.
A exposição abre na sexta-feira, às 10h00 (PT) e prolonga-se até ao final do mês de setembro.
“Diálogos” é uma exposição da Biblioteca Nacional de Israel que explica os diferentes tipos de diálogos, desde a perspetiva da cultura judaica. A mostra consta de diferentes fotografias e textos, num percurso pelo diálogo entre gerações e entre textos de uma conversação entre pessoas. Diálogo dentro da comunidade, incorporando as perspectivas da argumentação como eixo da tradição judaica, o diálogo entre Culturas, o diálogo entre religiões visto como indispensável para a integração dos judeus ao longo dos séculos em que viveram entre outras culturas
Esta exposição é uma das muitas atividades que até ao dia 11 de setembro é possível acompanhar na Eurocidade Tui Valença e que durante estes dias recorda as memórias das comunidades judaicas que durante séculos viveram nas nossas cidades.
No próximo dia 30 de Abril, passa precisamente 1 século sobre a data do falecimento de um dos mais proeminentes arquitectos portugueses – o ilustre caminhense Miguel Ventura Terra.
Natural de Seixas, a ele se deve a construção dos mais magníficos exemplares da arquitectura portuguesa do seu tempo, entre os quais salientamos a sua própria casa, na rua Alexandre Herculano, em Lisboa, onde veio a falecer. Edifício, aliás, que constitui um dos distinguidos com o Prémio Valmor. Por detrás, fica a magnífica Sinagoga Shaaré-Tikvá daComunidade Judaica de Lisboa, cuja inauguração ocorreu há 115 anos.
Mas, a ele se deve também, entre inúmeras outras obras e projectos, o edifício do Banco Totta & Açores, na rua do Ouro, em Lisboa, o Museu de Esposende, a renovação do Palácio de São Bento, a Maternidade Alfredo da Costa, o Liceu Camóes, o Liceu Pedro Nunes, o Santuário de Santa Luzia e o Hotel, em Viana do Castelo, o Hospital de Esposende e o Banco de Portugal, no Porto.
Conferência sobre hábitos alimentares judaicos em Viana do Castelo
No próximo dia 11 de abril (quinta-feira), Marina Pignatelli apresenta a comunicação “Hábitos Judaicos Cacher e Trefa: somos o que comemos?”, integrada no Ciclo de Estudos “Gastronomia e Cultura”. A conferência tem lugar na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, às 17.00 horas.
Marina Pignatelli é doutorada em Ciências Sociais na especialidade de Antropologia e Mestre em Ciências Antropológicas pela Universidade de Lisboa (ISCSP), onde leciona. Completou pós-graduações em Etnologia das Religiões (UNL-FCSH) e em Estudos Sefarditas (Cátedra Estudos Sefarditas). Concluiu cursos livres em Judaísmo (CNC), Simbolismo (Fundação Casa Alorna), Tanatologia, Parapsicologia e Religião (UCP), Religiosidades Contemporâneas (UCP), Peacekeeping e Resolução de Conflitos (UNITAR), Gestão Civil de Crises (IDN) e Património Cultural Imaterial (DGPA.UAb). Tem-se dedicado ao estudo da realidade judaica em Portugal e terminou um pós-doutoramento sobre os Judeus de Moçambique. É investigadora integrada do CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia e membro da direção da Associação Portuguesa de Antropologia.
Esta é a sexta conferência do Ciclo de Estudos “Gastronomia e Cultura”, organizado pelo Centro de Estudos Regionais, no âmbito das atividades da sua Academia Sénior. Nas edições anteriores, apresentaram comunicações o antropólogo Pedro Pereira; o bioquímico João Moura; o historiador e antropólogo, José Sobral; a historiadora de arte, Antonieta Morais e o gastrónomo Carlos Fernandes, tratando temáticas diversas relacionadas com a gastronomia como ato cultural. O ciclo termina em junho, estando aberto à participação de todos os interessados.
Pese embora os esforços daqueles que a todo o custo procuram semear o ódio étnico e racial, não raras as vezes a pretexto de alegadas “justas causas”, a sociedade portuguesa é por natureza pacífica e resultado da convivência, ao longo de muitos séculos, com inúmeros povos de todos os continentes.
A imagem mostra o local reservado ao culto na Sinagoga Portuguesa de Amesterdão.
Não existe família em Portugal que não possua no seu seio pessoas oriundas do Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique… ou não tenha deixado algures um dos seus filhos misturados com uma família nos lugares mais recônditos do planeta!
Entre os portugueses contam-se inúmeros cidadãos de origem judaica e, durante a Segunda Guerra Mundial, serviu Portugal de abrigo – e de entreposto! – a milhares de famílias que escaparam ao holocausto, graças ao empenho de diplomatas e funcionários consulares como Aristides de Sousa Mendes, Teixeira Branquinho e Sampaio Garrido, de forma concertada com o regime que inclusivamente possibilitou a travessia da fronteira e a boa vontade da ditadura franquista.
De novo, está a ressuscitar nalguns países europeus o mesmo ódio que no passado levou ao extermínio milhões de pessoas – judeus, comunistas, ciganos, Testemunhas de Jeová e muitos outros! – algo que desde já rejeitamos liminarmente.
Somos portugueses e temos orgulho da nossa identidade e passado glorioso. Rejeitamos o ódio racial e étnico da mesma maneira que repudiamos os seus fomentadores. Perante a ascensão do antisemitismo, somos todos judeus!
Marina Pignatelli apresenta comunicação sobre os Judeus e Cristãos Novos em Portugal
No próximo dia 12 de abril, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, às 17.00 horas, tem lugar a conferência “Raízes e Rotas dos Judeus e Cristãos Novos em Portugal: desafios e tendências”, por Marina Pignatelli, no âmbito do Ciclo de Estudos “Crenças religiosas e mudanças culturais”, iniciativa do Centro de Estudos Regionais.
Marina Pignatelli é doutorada em Ciências Sociais na especialidade de Antropologia e Mestre em Ciências Antropológicas pela Universidade de Lisboa, ISCSP, onde leciona. Completou pós-graduações em Etnologia das Religiões (UNL-FCSH) e em Estudos Sefarditas (Cátedra Estudos Sefarditas). Concluiu cursos livres em Judaísmo (CNC), Simbolismo (Fundação Casa Alorna), Tanatologia, Parapsicologia e Religião (UCP, Fac. Filosofia de Braga), Religiosidades Contemporâneas (UCP, Fac. Teologia de Lisboa), Peacekeeping e Resolução de Conflitos (UNITAR), Gestão Civil de Crises (IDN) e Património Cultural Imaterial (DGPA.UAb). Tem-se dedicado, desde 1991, ao estudo da realidade judaica em Portugal e terminou um pós-doutoramento sobre os Judeus de Moçambique. É investigadora integrada do CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia e vogal da direção da Associação Portuguesa de Antropologia.
“Crenças religiosas e mudanças culturais” é o nono Ciclo de Estudos realizado pelo Centro de Estudos Regionais, associação cultural sem fins lucrativos, fundada em 15 de Abril de 1978, e de reconhecida Utilidade Pública. A conferência é uma iniciativa aberta a todos os interessados.
O Posto de Turismo de Braga registou, entre Janeiro e Agosto deste ano, a entrada de 263 083 turistas, tendo-se registado um aumento de 22,15% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os meses de Junho, Julho e Agosto voltam assim a ficar para a história como os melhores de sempre para o Turismo da Cidade. Os dados foram avançados hoje, 27 de Setembro, durante as comemorações do Dia Mundial do Turismo.
A forte aposta do Município na promoção da Cidade, realizada em parceria de diversos agentes do território, tem sido um factor decisivo para o aumento da procura turística em Braga. Segundo António Barroso, do Gabinete de Apoio à Presidência da Câmara Municipal de Braga, este crescimento turístico levou à criação de novos espaços, desde espaços comerciais, passando por bares, hotéis e alojamento local.
“Nos últimos três anos, o Alojamento Local (AL) sofreu uma evolução muito significativa. Em 2015 estavam registadas 19 unidades de AL e, no ano seguinte, 41 unidades. Hoje, 27 de Setembro de 2017, estão registadas 146, quando em meados de Agosto já eram 128. O crescimento desde 2015 é de 770%”, sustentou António Barroso.
Em 2017, e à semelhança de anos anteriores, França e Espanha são os principais mercados estrangeiros emissores, tendo sido registados 70.569 atendimentos a turistas espanhóis, o que corresponde a 27 por cento do número total de visitantes. Segue-se o mercado português com 54.654 visitantes (21%) e o francês com 48.666 visitantes (19%). Os turistas provenientes destes três países correspondem a 66% do número total de visitantes.
Em termos de crescimento, a nacionalidade com maior crescimento no registo de visitas foi a britânica (222,83%). No entanto, é a nacionalidade espanhola que corresponde ao maior número de visitantes e que representa 27% do total de atendimentos efectuados no Posto de Turismo em 2017.
Este ano foram recebidos no total 171.340 visitantes durante os meses de Junho, Julho e Agosto, registando-se assim um aumento de 10 por cento em relação ao mesmo período do ano passado.
Este enorme crescimento é confirmado pelos números do Instituto Nacional de Estatística (2013-2015) em que Braga regista subidas em termos do número de hóspedes (33,72%), dormidas (40,69%) e capacidade de alojamento (26,22%) muito superiores à média nacional.
António Barroso sublinhou, por isso, o “contributo decisivo” que os operadores privados e empresas do sector tiveram na obtenção destes resultados, “não apenas pela promoção que fazem dos seus espaços, mas também de toda a Região”. Aquele responsável deixou ainda um agradecimento a todas as entidades culturais e associativas do Concelho, “que ajudam a criar momentos de atracção e animação”, assim como aos actuais e antigos colaboradores do Posto de Turismo, os “primeiros embaixadores de Braga”.
Conquistar novos mercados
No futuro, o Município quer continuar a conquistar novos mercados turísticos e promover o melhor de Braga. Segundo António Barroso, a requalificação do Parque de Exposições de Braga, do Mercado Municipal e a da própria Pousada da Juventude serão equipamentos importantes para alcançar este desígnio.
“Além do projecto ‘Welcome Braga’, que está a ser desenvolvido com a Associação Comercial, vamos ter a abertura do ‘Braga Welcome Center’ na Estação de Caminhos-de-ferro, numa parceria com a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte, a instalação de um posto de turismo no Sameiro e a criação de um cartão turístico”, anunciou o representante do Município, dando ainda conta dos incentivos que estão a ser criados para a instalação de Espaços de Turismo Rural no Concelho.
Exposição assinala 80 anos da construção do Edifício do Turismo
Neste Dia Mundial do Turismo, Braga assinala ainda os 80 anos da construção do edifício do Turismo com a inauguração de uma exposição
Em 1934 um grupo de Bracarenses teve a ideia de construir um espaço que servisse para atender melhor os turistas. Constituíram então a chamada ‘Comissão de Iniciativa e Turismo’ e na remodelação do alinhamento da Avenida da Liberdade, solicitaram à Câmara Municipal a colaboração para a construção do Posto de Turismo. O edifício foi inaugurado a 22 de Junho de 1937, completando agora 80 anos.
Na sessão comemorativa, procedeu-se à entrega de um diploma de reconhecimento a José Peixoto de Almeida, filho do mentor da construção do edifício do Turismo, e a João Moura Coutinho, sobrinho do arquitecto Moura Coutinho que concebeu o projecto do edifício.
As comemorações do Dia Mundial do Turismo ficaram ainda marcadas pela apresentação do roteiro judaico, por forma a responder ao aumento da procura de turistas provenientes de Israel, e ainda pela apresentação de um doce tradicional da pastelaria ‘Veneza’.
Ao longo de todo o dia, os turistas que passaram pelo Posto de Turismo de Braga tiveram a oportunidade de degustar vários produtos locais, tendo recebido ainda a oferta de uma viagem no autocarro turístico.
O zoroastrismo é a religião monoteísta viva mais antiga (apareceu entre 1550 AEC e 1200 AEC, numa altura em que o judaísmo tinha um caráter muito politeísta) e influenciou muito o islamismo (em especial o xiita), o judaísmo e o cristianismo.
Dele provém por exemplo o conceito de paraíso (pairidaeza) e influenciou muito a religião judaica, durante o exílio na Mesopotâmia como por exemplo a proibição da adoração de imagens sagradas (todo o texto de Isaías na Bíblia é de raiz zoroastriana),o monoteísmo rigoroso (até então o judaísmo era confusamente politeísta) e o puritanismo austero (a purificação dos judeus apregoada por Esdras ter-se-á dado a partir da Pérsia) uma vez que o zoroastrismo era a religião oficial do império persa, sendo o imperador persa Ciro II visto como o “Messias de Jeová” ou o “ungido de Jeová”. O paradoxo é que o título é concedido a um soberano estrangeiro, que não conhece Jeová (“Embora não me conheças, eu te cinjo”, no Deuteronómio de Isaías).
Adotaram então a crença zoaroastrista da vida após a morte, os conceitos de céu e inferno e do julgamento final e do apocalipse muito diferentes do judaísmo de antes da invasão persa. O princípio dualista do zoroastrismo manifesta-se na doutrina das duas eras, uma era presente (de impiedade) que se opõe a uma era futura (de justiça). Com a invasão alexandrina e o helenismo, o judaísmo absorve novos conceitos: o conceito grego da imortalidade da alma e a ideia da ressurreição corporal do zoroastrismo.
Hoje em dia há duas seitas, geograficamente delimitadas (sem contar com os zoroastristas na diáspora, que devem ser tantos como o total dos que existem no Irão e na Índia, um dos quais era o vocalista dos Queen, Freddie Mercury, um zoroastrista parsi, cujo nome verdadeiro era Farrokh Bulsara. No Irão há 35.000 zoroastristas – segundo o governo iraniano – ou 60.000 segundo as autoridades religiosas zoroástricas.
Os zoroastristas iranianos, (cuja cidade sagrada é Yazd, se bem que haja muitos também em Teerão e Kerman) são mais abertos, aceitam casamentos com não-zoroastristas e tentam ativamente converter outras pessoas. Os zoroastristas indianos, concentrados no no Estado do Gujarate, chamados Parsis (de Persa), são mais fechados, só aceitam casamentos endógenos, porque se consideram uma raça “pura” e desencorajam o proselitismo e a conversão de estranhos. Isto é curioso: o ramo que procura conversões está num país onde 99% da população é muçulmana, na maioria xiitas duodecimanos, religião que não permite a saída para outra religião; o ramo parsi, que não admite a conversão de outros, está na Índia, país onde a conversão para outras religiões é livre, exceto para os muçulmano. Dá Ahura Mazda nozes a quem não tem dentes…
No Irão, além dos muçulmanos de várias confissões (incluindo os bahá’is, ramo divergente do xiismo, considerado herético e proibido mas que mesmo assim tem cerca de 350.000 fiéis), são reconhecidas pelo Estado e protegidas (com direito a um assento no parlamento cada uma, as religiões judaica (com 25.000 praticantes, a maior comunidade judaica num país muçulmanos), cristã (300.000, sendo 200.000 da igreja apostólica arménia, sendo os restantes protestantes e da igreja assíria; também são considerados cristãos, e como tal protegidos pela lei, os gnósticos mandeístas que porém não se reconhecem a si próprios como cristãos e por isso se consideram discriminados pelo governo – que não liga nenhuma às suas queixas e continua a classifica-los como cristãos; note-se uma coisa interessante: considera-se que o conceito de diabo nas igrejas cristãs provém do islamismo iraniano e não do judaísmo) e os zoroastristas.
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica. Porém, o ritual de exorcização com recurso à galinha preta ter-se-á originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.
Existe uma tese segundo a qual o ditador soviético Iosif Vissaniorovich Djugachvili (Estaline) teria ascendência judaica portuguesa ou seja, judeu sefardita.
Em 1496, D. Manuel I assinou o decreto de expulsão do reino de todos os hereges, categoria na qual se incluíam mouros e judeus. Contrariado na sua vontade, o rei limitava-se a cumprir o contrato de casamento com Isabel de Aragão e Castela. Procurou, no entanto, a conversão forçada dos judeus ao catolicismo, concedendo-lhes a possibilidade de permanecerem no reino sob essa condição. Contudo, a desconfiança dos cristãos-velhos em relação á sua sinceridade deu origem a perseguições violentas.
Em consequência de tais perseguições, alguns judeus de origem portuguesa ter-se-ão fixado no Estado Português da Índia.
Com o estabelecimento da Inquisição naquele território, essas famílias terão deixado aquele território e rumado para outras paragens mais a norte, acabando por se fixarem na Geórgia, terra natal de Iosif Vissaniorovich Djugachvili.
Como é sabido, em cirílico o j corresponde ao i das línguas latinas. Por conseguinte, o apelido Djugachvili significará “filho de Diu” segundo uns e, “filho de judeu” segundo outros. Quanto à sua origem judaica, parece não restarem grandes dúvidas, até porque o seu nome próprio – Iosif – é claramente de origem judaica, não sendo utilizados pela população ortodoxa. Recorde-se que Estaline era também conhecido por Kochba ou Koba em evocação do chefe judeu que comandou a terceira revolta judaica contra o Império Romano ao tempo do imperador Adriano.
Finalmente, refira-se como curiosidade que José Estaline terá na sua juventude composto um poema intitulado “Ivéria”, aludindo muito provavelmente à região da Abecasia, na Geórgia, onde existiu um reino independente com esse nome e que na geografia greco-romana era identificado como Península Ibérica, sendo os seus habitantes conhecidos por “caucasianos ibéricos”. Ou terá pretendido evocar a terra de origem dos seus ancestrais e a sua identidade sefardita?
Passam precisamente 110 anos desde a data da inauguração em Lisboa da Sinagoga Shaaré-Tikvá, cuja primeira pedra havia sido lançada dois anos antes. O projeto é da autoria do caminhense Miguel Ventura Terra, considerado um dos maiores arquitetos da sua época, tendo-lhe valido o Prémio Valmor de Arquitetura.
O templo encontra-se situado na rua Alexandre Herculano, nº 59, edificado dentro de um quintal muralhado visto que não era então permitida a outras denominações religiosas para além da Igreja Católica, a construção com fachada para a via pública. O terreno para a construção da sinagoga foi adquirido pela comunidade judaica, em nome de particulares, dadas as dificuldades com que então se debatia para obter o reconhecimento oficial. Até então, o culto era exercido em diversas casas de orações que, no entanto, não reuniam as condições necessárias para o efeito.
Miguel Ventura Terra nasceu em Seixas, no concelho de Caminha, em 14 de julho de 1866, tendo falecido em Lisboa em 1919. Entre as suas inúmeras obras, contam-se a renovação do Palácio de São Bento, a Maternidade Alfredo da Costa, o Teatro Club de Esposende, o Hotel e o Santuário de Santa Luzia em Viana do Castelo, o Hospital de Esposende e o edifício do banco de Portugal, no Porto.
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica. Porém, o ritual de exorcização com recurso à galinha preta ter-se-á originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.