Obra literária de António Afonso, “Camilo e o Último Enforcado em Braga: o Demónio do Ouro", apresentada em Rio Caldo
O salão da sede do Grupo Desportivo de Rio Caldo registou uma interessante moldura humana para a apresentação do livro “Camilo e o Último Enforcado em Braga: o Demónio do Ouro”, obra literária do investigador António José Ferreira Afonso. A sessão, que teve honras de abertura pelo Presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, Manuel Tibo e moderação da responsabilidade da Vereadora da Cultura, Ana Genoveva Araújo, ficou marcada pela apresentação realizada por Dr. Severino Xavier Gonçalves de Araújo, para além da natural intervenção do autor António Afonso.
O Presidente da Câmara Municipal agradeceu aos presentes e realçou a importância que a cultura assume na perpetuação da memória terrabourense. O município tem assumido um papel ativo em vários domínios, nomeadamente, no apoio da edição de livros de autores locais e ao nível da música, através da criação da Escola de Música de Terras de Bouro.
Por sua vez, coube à Vereadora da Cultura, Ana Genoveva Araújo, resumir o vasto currículo que ambos os convidados possuem. Reforçou também a importância que esta obra tem, não só para a freguesia de Rio Caldo em particular, mas também para o concelho de Terras de Bouro em geral.
O Dr. Severino de Araújo, a quem foi atribuída a tarefa de apresentar a obra, aproveitou a ocasião para brindar os presentes com muitas histórias sobre o passado da freguesia de Rio Caldo, nomeadamente, episódios de figuras muito conhecidas localmente, que a nível religioso, com inúmeras peripécias, marcaram outrora a vida paroquial.
Por sua vez, o Dr. António Afonso acabou por agradecer o apoio dado pelo Município de Terras de Bouro para que a sua obra fosse apresentada em Rio Caldo. Referiu a importância que o "Nelinho Sapateiro" teve na sua investigação sobre a origem histórica da obra de Camilo, nomeadamente, a confusão geográfica que levou ao enforcamento do Serafim Gonçalves em Braga. De igual modo, fez uma breve resenha de todo o processo que levou à abolição da pena de morte em Portugal.
A obra “Camilo e o último enforcado em Braga”: «O Demónio do Ouro» trata-se de uma homenagem ao povoense, Manuel Alves, mais conhecido como «Nelinho Sapateiro», que, durante décadas, exerceu a sua atividade na freguesia de Rio Caldo. Este livro, ao divulgar o espaço geográfico de Rio Caldo como parte integrante da narrativa camiliana, vem colocar o concelho de Terras de Bouro na rota dos estudos camilianos. “Camilo e o último enforcado em Braga”: «O Demónio do Ouro» contextualiza, ainda, o processo que levou a abolição da pena de morte em Portugal, o que fez com que o nosso país fosse reconhecido como um dos mais avançados civilizacionalmente, referindo ainda o papel das Misericórdias no acompanhamento prestado aos condenados, quer durante o processo executório, quer dando a pia sepultura ao corpo do padecente.
A Escola de Música de Terras de Bouro abrilhantou esta apresentação com mais uma atuação dos seus alunos, orientados pelo Prof. Luís Pinho.
“António filho legítimo de José Agostinho Castro Correa Feijó, natural da Freguezia de Santa Marinha de Rouças do Concelho de Melgaço e de Joanna do Nascimento Malheiro Sampaio natural desta Freguezia moradores na Rua Direita desta Freguezia nepto paterno de Joaquim Thomaz Correa Feijó, e Dona Cartona Delfina de Lima Azevedo Souza e Catro da Freguezia de Bouças do Concelho de Melgaço, sendo aquelle natural da Freguezia de Calheiros deste Concelho de Ponte do Lima, materno do Doutor Desembargador António Caetano Pereira de Lima Sampaio, solteiro, já fallecido e Dona Clemência Dias Malheiro, solteiros ambos desta Villa, nasceo no dia primeiro do mez de Junho de mil oito centos e cincoenta e nove e no dia seis do dito mex e anno foi Solenemente Baptizado com imposição dos Santos óleos, na pia Baptismal de Santa Maria dos Anjos, da dita Villa de Ponte de Lima digo de São Salvador da Feitosa deste Concelho, (…) pelo Reverendo Parocho Encomendado António José Fernandes, Padrinhos o Reverendo António Correa Feijó Reytor de Victorino das Donas deste Concelho e (…) Dona Anna Cândida de Castro Pimenta Feijó representada por seu sobrinho José Joaquim de Castro Pimenta Feijó, irmão do Baptizado. Em fé do que fiz este assento que assigno hoje 6 de Junho de 1859. (...) José António da Cunha"
Esta magnifica joia, foi criada nos finais do século XVIII, quando a Raínha D. Maria I (1734-1816) que, grata pelo nascimento do seu filho varão, pediu que lhe fosse feito um coração em ouro em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus.
Esta peça foi concebida numa forma de coração que se tornou icónica, e no topo, tem uma "coroa" com cornucópias que simbolizam as chamas que brotam desse símbolo cristão. Todo ele é preenchido com finos e delicados fios de filigrana.
Durante muito tempo, esta joia foi usada como símbolo religioso de dedicação e culto ao Sagrado Coração de Jesus, mas com o tempo, a sua popularidade conotou-a com o amor profano, passando a ser um símbolo de amor romântico.
Peça do Museu de Ourivesaria Tradicional de Viana do Castelo
Desde Fernando Magno, a D. Afonso Henriques, a Sé Catedral de Santa Maria de Viseu foi governada por priores, subordinados ao bispo de Coimbra, tendo sido o de maior relevância S. Teotónio, nascido em Tardinhade, freguesia de Ganfei, do concelho de Valença do Minho, sendo papa Gregório VII e rei de Leão e Castela Afonso VI.
Foram seus pais D. Oveco e D. Eugénia, "pessoas de vida, piedosas e das mais notáveis daqueles sítios.
Com 10 anos de idade (1092), partiu para Coimbra para junto de seu tio D. Crescónio, bispo daquela Diocese, que confiou a sua educação ao arcediago D. Telo "varão virtuoso e douto", que tinha a incumbência da educação dos mancebos, filhos dos nobres.
Teotónio era muito aplicado aos estudos das letras e do canto litúrgico, de tal modo que, no espaço de três anos, aprendeu Latim, Música e Retórica, com perfeição.
À medida que crescia em sabedoria crescia também em santidade.
No ano de 1098, faleceu D. Crescónio, vindo então para a Sé de Viseu o Prior Teotónio, onde se professava o instituto canónico de Santo Agostinho e onde era prior outro seu tio, D. Teodónio, a quem, por sua morte (1112), a instância do bispo de Coimbra, veio a suceder nesta dignidade.
Por muitos anos, residiu na nossa cidade, nas salas onde hoje se instala o cartório do Cabido da Sé.
Como se escreve algures a sua casa era um abrigo de peregrinos e por isso a denominaram o "Seio de Abraão".
Todos os sábados celebrava a Missa a Nossa Senhora, e às sextas-feiras a celebração era na Igreja de S. Miguel do Fetal, por todos os fiéis defuntos. Ao acto, assistia quase toda a população da cidade. No final da procissão em redor do cemitério, distribuía pelos pobres, "que sempre em multidão ali acorriam, o pão, o vinho e a cera das ofertas"
Ao impulso da sua Fé, fez duas peregrinações a Jerusalém, tendo renunciado o priorado da Sé de Viseu, antes de efectuar a primeira dessas peregrinações.
Com o seu dileto amigo e antigo mestre D. Telo, e outros companheiros, fundou, em Coimbra, o Mosteiro de Santa Cruz, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, do qual foi o primeiro Prior
O Conde D. Henrique, "querendo erigir o bispado de Viseu, ofereceu ao Prior S. Teotónio a dignidade episcopal, que ele recusou". Como testemunho dessa recusa, a imagem de S. Teotónio figura ao centro do corpo intermédio do frontispício da Catedral, sob o frontão angular, vestido com a indumentária dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, empunhando na mão direita o báculo, enquanto a mitra jaz a seus pés, em sinal de que, por humildade, não usou.
A sua morte ocorreu no dia 18 de Fevereiro de 1163, e um ano depois foi a sua canonização. Decorridos 830 anos, essa efeméride foi comemorada com várias cerimónias, realizadas no Salão Nobre da Câmara Municipal, na Catedral e após elas com o descerramento da lápide que dá o nome ao "Largo de São Teotónio", uma homenagem muito sentida que a Cidade e a Diocese prestaram a essa notável e veneranda figura da Igreja e da Pátria.
O clero e o povo de Viseu elegeram-no por padroeiro da cidade e de todo o bispado, tendo sido esta eleição aprovada pelo papa Clemente VIII
Desde o dia 18 de Fevereiro de 1603, que existe na Catedral, como relíquia, um braço de S. Teotónio, sendo então Bispo de Viseu D. João de Bragança, que tinha feito este pedido com muito empenho a D. Lourenço Prior do Mosteiro de Santa Cruz.
Teotónio continuará a abençoar, a nossa cidade e a nossa Diocese!
R.C. 1999
Conta-se que, em certo dia que a Rainha D. Teresa ouvia Missa na Sé, mandou pedir, pelo seu pagem, ao prior S. Teotónio "que abreviasse a Missa, porque necessitava de tempo para outros negócios" e que o Santo Prior deu as seguintes respostas:
"Dizei à Rainha que no Céu há outra Rainha, muito mais excelsa, a quem eu determino oferecer esta Missa, com suma veneração e pausa e que, se Sua Alteza tem necessidade do tempo, em sua mão está ausentar-se, quando for servida".
Terminada a Missa a Rainha foi à sacristia pedir perdão, como refere o Pe. Leonardo de Sousa
o Prior S. Teotónio, num dos nichos do frontispício da Catedral
vendo-se a Mitra a seus pés o braço de S. Teotónio, relíquia exposta na Catedral
6ªf, 20 Set, 21h15, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva
Vai começar a 2ª edição do "Roteiro do Livro Insubmisso". No próximo dia 20 de Setembro, 6ªf, pelas 21h15, em Braga, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, com a apresentação pública do livro "Vendaval de Utopias. Os Católicos da Revolução e o PCP" contando com a presença do autor, EDGAR SILVA, licenciado em Teologia e membro do Comité Central do PCP, MANUEL PINTO, professor e investigador, membro do Conselho de Ética da Universidade do Minho, e RAQUEL GALLEGO, da DOR Braga do PCP.
A 2ª edição do "Roteiro" vai percorrer a região de Braga com a apresentação de livros comprometidos com o Portugal de Abril e com a transformação progressista da sociedade. A iniciativa seguinte será em Fafe, em torno do livro "Os Lusíadas – Antologia Temática e Texto Crítico" de António Borges Coelho e da revista Vértice.
Sabia que…há 47 anos circulou o último comboio a vapor na Linha do Minho?
Em março de 1977, no âmbito das comemorações do fim da tração a vapor na rede de via larga portuguesa, a locomotiva CP 0187, construída pelo fabricante alemão Henschel & Sohn em 1924, rebocou, entre Porto-São Bento e a Trofa, o último comboio a vapor da Linha do Minho.
O fim da tração a vapor na rede de via larga representou o fim de um ciclo de 121 anos, iniciado em 1856. Atualmente, com 133,5 km de extensão, a Linha do Minho é uma ligação ferroviária eletrificada que liga a cidade do Porto, a partir da estação de São Bento, a Valença. É servida pelo comboio internacional Celta, Comboios Urbanos do Porto até Nine e pelos serviços Intercidades, Regional e InterRegional, este último assegurado pelas modernizadas carruagens Arco.
“PRIMEIRA PÁGINA DE Instrumento de conserto e amigável composição e desistência” das arras, móveis, imóveis e dinheiro prometidas em dote de casamento, feito pelo secretário, Gaspar de Faria Severim, procurador de D. Maria de Noronha, viúva de D. João Luís de Vasconcelos e Meneses, governador da praça de Mazagão aos Viscondes de Vila Nova de Cerveira, D. Diogo de Lima e sua mulher D. Joana de Vasconcelos EM 14 DE SETEMBRO DE 1608
Estava na capilha do documento com a cota: Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 32, n.º 19; tem cosido no fim uma meia folha com a informação "Nomeação do prazo da Travanca e Mafra "; número atribuído ao documento: 566. Este número no Índice da documentação, referido no documento: Portugal, Torre do Tombo, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 2, n.º 4 (PT-TT-VNC/A/204), pertence ao mç. 17. No inventário intitulado: "Livro Geral do cartório de D. Tomás José Xavier de Lima, 2º Marquês de Ponte de Lima, no qual se contém todos os títulos e padrões, morgados, senhorios, propriedades, quintas, fazendas, foros, casais e mais rendas, privilégios, bulas apostólicas, testamentos e outros bens que pertencem à dita casa. Tudo extraído dos originais, títulos e mais documentos que no dito cartório se acham mando [sic] por ordem do dito senhor em Julho de 1819" (PT-TT-VNC/A/1), mç. 17 corresponde ao "Morgado e bens dos Vasconcelos".
Relação complementar: documento mencionado no elemento de informação "História custodial e arquivística": (PT-TT-VNC/A/1), mç.17, n.º 14: "escritura de de D. Diogo de Lima com D. Joana de Vasconcelos e Meneses e por ele consta os bens que vieram à casa dos Viscondes, ano de 1642"; Relação complementar: Portugal, Torre do Tombo, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 2, n.º 12, (PT-TT-VNC/A//212), inventário das instituições "delas", do Morgado de Santa Ana, bens da Coroa e Morgado de Soalhães, f. 6, 6v, mç 2, n.º 25 (702): "Para haver de casar D. Diogo de Lima com a Senhora D. Joana de Vasconcelos e Meneses filha de D. João Luís de Vasconcelos e Meneses lhe fez o Visconde pai de D. Diogo dote e D. João Luís de Vasconcelos também qualquer deles dê 400 reis de renda D. João Luís pôs rendimentos da quinta da Valada que chamam Malpica 200 reis e na alcaidaria mor de Castelo Bom 100 reis e 100 reis nos rendimentos do concelho de Aregos e na dita Joana noiva além do mais que lhe dotaram fizeram nomeação do prazo da Golegã que é do convento de Tarouca, do prazo de Travanca junto a Viseu senhorio a Universidade de Coimbra, e do prazo da Enxara dos Cavaleiros, senhorio o Hospital de Todos os Santos e dos prazos que pertencem à quinta de Malpica foreiros a saber um às freiras de Chelas, outro à igreja de São João em Porto de Mós outros à igreja de Alcáçova em Santarém e também o dito D. João Luís e sua mulher fizeram deste à dita sua filha de todos os seus bens livres havidos e por haver com reserva somente do usufruto, todo o sobredito por escritura feita em Lisboa em 28 de Junho de 1642 tabelião Gaspar de Carvalho". À margem "1642". "Depois falecendo D. João Luís, sua mulher D. Maria de Noronha fez contrato com seu genro e filha acima nomeados por modo de partilhas: ela D. Maria de Noronha desistiu das arras prometidas por seu marido, móveis e dinheiro do dote e do que resultou d venda das casas e cardal nomeados no dito dote e da acção que podia ter contra os bens de seu marido e do direito e nomeação dos prazos que este lhe fez da quinta de Valada e da parte que tinha nas propriedades livres que ficaram no casal e dos bens móveis tudo a favor dos viscondes filha e genro e fez a sobredita desistência e cessão dos serviços que tinha de seu marido D. João Luís para os haverem os viscondes e estes se obrigaram a dar-lhe cada ano 200 reis de que lhe fizeram consignações no juro do Almoxarifado de Alenquer 80 reis e 80 reis na Cabana do pescado e o restante nos foros de Carnide e os viscondes lhe largaram a pretensão do prazo de Travanca para o gozar em sua vida e a dita D. Maria de Noronha lhe largou o direito que tinha vindo e viesse de Mazagão para fazer o visconde umas casas e ele ficaria obrigado a pagar as dívidas do casal excepto o serviço dos criados, de que há escritura feita em Lisboa ano de 1648. Tabelião Gregório de Souto Craveiro. À margem direita: há rol incorporado na mesma escritura. À margem na f. 6, 6 v: foi filho do Visconde D. Lourenço de Lima além do mais que depois foi visconde"; Relação complementar: Portugal, Torre do Tombo, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, "Livro que contém o rendimento das fazendas das minhas casas e morgados a elas anexos", cx. 20, n.º 1 (PT-TT-VNC/B/2001), f. 171.
Nota ao elemento de informação "Datas": escritura feita em Lisboa junto á igreja das Chagas, nas casas do Visconde de Vila Nova de Cerveira, D. Diogo de Lima [D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7º visconde de Vila Nova de Cerveira].
Rosa Ramalho (14 de Agosto de 1888 - 24 de Setembro de 1977), nome artístico de Rosa Barbosa Lopes, ceramista, faleceu há 47 anos.
“O seu trabalho é caracterizado por peças figurativas que evocam o surrealismo e transitam entre o real e o fantástico. As suas peças exprimem uma imaginação prodigiosa e uma visão singular do através de personagens como as alminhas, o cristo, os cabeçudos, o galo, o galo mulher, o homem-sereia, o carrocho, a cabra, a pinha, a banda, a ceia, o cavaleiro, entre outras.
Rosa Ramalho nasceu no lugar da Cova, na freguesia de São Martinho de Galegos, concelho de Barcelos. O apelido adotado por ela, e sob o qual veio a ser conhecida, vem de uma expressão que sua avó dizia a seu pai: “não saias daqui, põe-te à sombra dos ramalhos!”. Filha de um sapateiro, Luís Lopes e de uma tecedeira, Emília Barbosa, ela nunca frequentou a escola. Aprendeu a trabalhar o barro desde muito nova, mas interrompeu a atividade quando se casou aos 18 anos e teve oito filhos (três morreram à nascença). Durante esse período, para fazer algum dinheiro, Rosa ia para casa de uma vizinha que modelava figuras, depois das suas atividades domésticas e domiciliárias. Inicialmente, para tecer tiras de cestas, mas depois para, por olho e por hábito, aprender a fazer essas tais figuras com barro por cozer (ou chacota) e com tintas não-cerâmicas, a partir da terra que tinha à disposição. Mas foi só após a morte do marido, em 1956, que, já com 68 anos de idade, iniciou o trabalho pelo qual veio a ser conhecida, com figuras de contornos dramáticos e fantasiosos, provenientes de uma imaginação fértil e repleta de mitologias locais.
A trajetória artística de Rosa começa com as tradicionais feiras populares, e foi assim que ela vendeu seus primeiros bonecos em Barcelos. Quando o pintor Antonio Quadros conheceu seu trabalho, passou a divulgar as suas exposições nas feiras. Quando o trabalho de Rosa ficou conhecido pelos membros da Escola Superior de Belas Artes do Porto, a modelagem de figuras em barro passou a ser valorizada pela "elite" artística e ganhou um estatuto superior no país.
Uma das suas peças, encontrada no acervo da Fundação Marques da Silva (FMS), da Universidade do Porto, integrou a exposição "Mais que Arquitectura", no Palacete Lopes Martins, em 2020.
Boa parte da obra de Rosa Ramalho pode ser encontrada no Museu de Olaria, em Barcelos, numa sala inteiramente dedicada ao figurado. São cerca de 250 peças que representam as várias fases do seu trabalho. Algumas da primeira fase, quando ela também pintava as peças, e outras da fase em que começou a contactar com os alunos de Belas-Artes da Universidade do Porto, e ainda figuras inacabadas.
O seu trabalho é continuado atualmente pela neta Júlia Ramalho que a acompanhava no trabalho do telheiro.
Em 1968 recebeu a medalha "As Artes ao Serviço da Nação". Nesse ano foi apresentada na Feira de Artesanato de Cascais e os seus trabalhos passaram a ser procurados por milhares de portugueses e estrangeiros.
Foi a primeira barrista a ser conhecida individualmente pelo próprio nome e teve o reconhecimento, entre outros, da Presidência da República, que em 9 de Abril de 1981, a título póstumo, lhe atribuiu o grau de Dama da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.”
Fonte: Wikipédia
Rosa Ramalho pôs as mãos no barro desde criança, mas só ficou célebre na arte da olaria tradicional portuguesa depois de ficar viúva.
De origens humildes, filha de um sapateiro e de uma tecedeira, Rosa Barbosa Lopes nasceu em 1888 na freguesia de S. Martinho de Galegos, em Barcelos. A partir de uma expressão de uma frase recorrente da avó ao seu pai – “Não saias daqui, põe-te à sombra dos ramalhos!” – juntou ao seu nome o apelido Ramalho pelo qual ficou conhecida.
Nunca frequentou a escola e com apenas sete anos, a troco de algum dinheiro, começou por fazer tiras de cestas em casa de uma vizinha que modelava uns bonecos toscos em barro, imitando as cestas em vime que vira umas mulheres ciganas fazer.
Casou aos 18 anos, juntando-se ao seu marido no ofício de moleiro para sustento da família. Teve 8 filhos (três morreram à nascença) e durante os quase 50 anos de casamento, o barro tornou-se apenas num passatempo familiar com as crianças.
Só em 1956, tinha então 68 anos, é que se dedicou novamente à arte de moldar o barro, dando asas à sua imaginação fértil. Inspirada pela vida rural minhota que a envolvia e pelo imaginário fantasmagórico de infância produziu peças retratando cenas como a matança do porco e as procissões, passando por bruxas, lobisomens, bichos e monstros de um universo surreal que a distinguiria entre os barristas da região.
Percorreu feiras locais e regionais do norte de Portugal e foi na feira das Fontainhas no Porto que o pintor António Quadros reparou no seu trabalho, divulgando-o e contribuindo assim para o seu reconhecimento, tendo também sugerido que assinasse as suas peças retirando a sua obra do anonimato.
Umas das mais importantes ceramistas portuguesas, elevou a arte do figurado de barro de Barcelos, tendo trabalhado até ao fim dos seus 89 anos de vida.
Barcelos regressa à Idade Média durante quatro dias
Ao longo de quatro dias, de 19 a 22 deste mês, Barcelos faz uma viagem no tempo e recua à Idade Média, através da realização da IX edição de Barcelos Cidade Medieval, este ano subordinada ao tema “Barcelos no Caminho de Santiago”.
À semelhança do ano passado, a iniciativa concentra-se no Parque da Cidade, onde durante esse período se podem encontrar artesãos de várias artes e ofícios, mercadores e taberneiros, animação com arautos, torneios medievais (justas), espetáculos de fogo, queimadas, demonstrações de aves, répteis e outros animais, e ainda atuações de grupos de música, teatro e dança medieval.
A recriação de Barcelos Cidade Medieval começa no dia 19 (quinta-feira) com o desfile de abertura, desde a Torre Medieval até ao Parque da Cidade. Ainda neste dia, às 19h00, destaque para a conversa com Lúcio Lourenço sob o tema “O Peregrino a Santiago”.
Na sexta-feira, há danças medievais, torneio de cavaleiros, queimada galega e espetáculo de fogo.
No sábado, a programação inclui treino de cavaleiros, treino de armas, voo de aves de caça, teatro e música medieval e ainda uma conversa com Cláudio Brochado, com o tema “Como era Barcelos na Época Medieval?”.
No domingo, último dia do certame, o destaque vai para o grande cortejo medieval, com início às 15h00, e que conta com a participação de todos os atores do evento e das várias associações que colaboram neste evento.
Certame tem dezenas de mercadores e tendas de alimentação
Este ano, no Barcelos Cidade Medieval, participam mais de 50 mercadores que, em tendas de alimentação, de artigos variados e de elementos místicos, irão promover a melhor recriação do ambiente que se vivia no Burgo, permitindo que todos os visitantes do certame tenham a oportunidade de embarcar numa autêntica viagem no tempo e reviver aquela remota época.
O evento Barcelos Cidade Medieval resulta de uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal e da Associação Burgo Divertido, e tem como objetivo dinamizar a atratividade à cidade e, ao mesmo tempo, proporcionar aos visitantes bons momentos de socialização, convívio e divertimento.
Além dos inúmeros mercadores, participam neste certame as seguintes associações:
- Via3
- Teatro Popular de Carapeços
- Forjães em Cena
- Amigos do Pato,
- D'Improviso
- APACI
- Banda de Oliveira
- Albergue Cidade de Barcelos
- Ás do Saber.
A Cidade Medieval pode ser visitada na quinta e sexta-feira, das 18h00 às 24h00; e sábado e domingo, das 12h00 às 24h00.
É de origem remota o costume das comunidades piscatórias pintarem ou gravarem siglas ou marcas nas suas embarcações e outros apetrechos de pesca. Alguns estudiosos identificam-nas com as runas germânicas e de outros povos nórdicos, indo ao encontro das origens visigóticas das gentes do Minho.
São famosas as siglas dos pescadores poveiros – refira-se Póvoa de Varzim – que para além do seu valor patrimonial passou a constituir um elemento de promoção turística. Porém, tal tradição é comum a outras comunidades piscatórias do Minho como sucede no concelho de Esposende.
Nas horas de ócio quando as havia, o pescador entretinha-se com a sua navalha a sulcar as cortiças das redes e outros aprestos para identificar a sua pertença, não podendo confundir-se com as utilizadas por outros membros da comunidade. Nas embarcações e nos antigos palheiros – barracos ou cabanas – eram naturalmente pintadas. Regra geral, o significado das siglas era desconhecido fora da comunidade.
As siglas dos pescadores fazem parte do nosso património cultural e constituem uma componente da etnografia do litoral minhoto.
Quais sacerdotisas dos ritos próprios do culto pagão, as chamadas bruxas desde sempre povoam o nosso imaginário, associado ao mal e representando figuras demoníacas que ao longo dos séculos foram inculcadas nas nossas mentes pela religião Cristã que entre nós viria a impor-se ao paganismo. Tal como a figura de Pã, deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores veio ao longo da Idade Média a ficar associada à do Diabo transfigurado na dama pé-de-cabra.
Proveniente do latim paganus que significa literalmente camponês ou rústico, o paganismo constitui uma forma de expressão religiosa em íntima comunhão com os fenómenos da natureza e profundamente ligado às necessidades espirituais do indivíduo inserido no mundo rural. Prova evidente dessa realidade constitui as tradições que respeitam aos ritos do inverno e ao culto dos mortos, desde os peditórios de “Pão Por Deus” até à “Serração da Velha”, passando pela celebração do solstício de Inverno e o Entrudos, celebrações quase todas convertidas em celebrações cristãs como o Natal, como se de festividades pagãs não se tratassem a sua origem. O mesmo sucede com outras festividades como o Solstício de Verão, com os seus ritos associados ao fogo e transformados em festividades são-joaninas.
Existem entre nós vestígios de antigos santuários pagãos como a do deus Endovélico na região do Alandroal, registando a própria toponímia a sua ancestral influência como sucede com a serra do Larouco, proveniente do deus Laraucus.
Porém, no ano 312 deu-se a alegada conversão do Imperador Constantino ao Cristianismo e, a partir do ano 392, passou o paganismo a ser proibido no Império Romano e consequentemente reprimido e perseguido, sendo essas medidas agravadas com a pena de morte a partir de 435 para quem praticasse ritos envolvendo o sacrifício de animais. Não obstante, o paganismo continuou a praticar-se, de forma mais ou menos discreta, sobretudo entre as gentes que viviam no campo. E a conversão à nova religião trazida pelos invasores romanos não foi tarefa fácil, deparando-se com maiores dificuldades entre os povos de regiões com maior apego às mais ancestrais tradições como se verificou no Minho e em Trás-os-Montes.
Os antigos templos e santuários pagãos foram destruídos para em seu lugar serem erguidas igrejas, o mesmo sucedendo com as encruzilhadas dos caminhos rurais e outros locais de culto nas aldeias que deram lugar a cruzeiros e a pequenos nichos contendo retábulos com as “alminhas” do Purgatório que passaram espiritualmente a aterrorizar as mentes dos humildes camponeses, até então habituados a uma relação mais sadia com a natureza que os rodeavam. Os sacerdotes pagãos conferiram uma nova roupagem às festas pagãs, procurando por esse meio conferir-lhes um novo sentido.
Mas, ainda assim, a religiosidade pagã sobrevive ao lado da nova fé, traduzida na manutenção de velhas tradições como as máscaras transmontanas e as festas dos caretos, o entrudo e as fogueiras de S. João. E, mesmo no Minho onde aparentemente existe forte religiosidade cristã, o que se verifica realmente é uma verdadeira manifestação de exuberância que caracteriza o minhoto, mais não constituindo a festa cristã do que um pretexto para exteriorizar a sua alegria como uma forma de profunda comunhão com a vida e o meio que o rodeia, iluminada por magníficas girândolas de fogo-de-vistas que revelam o seu apego embora inconsciente a antigas práticas religiosas.
Devemos a tais práticas religiosas pagãs os nossos mais profundos conhecimentos de medicina popular no uso das mais variadas espécies botânicas, o saber da meteorologia baseado na observação constante dos fenómenos naturais e da própria astronomia transmitido de geração em geração através de axiomas, a riqueza da nossa gastronomia e um infinito universo de conhecimentos que fazem parte do rico património do nosso folclore.
Com o decorrer do tempo, as perseguições acentuaram-se, tornando-se mais implacáveis durante a Idade Média e sobretudo no período da Inquisição. As sacerdotisas do paganismo eram perseguidas sob a acusação de bruxaria, sempre associada a práticas identificadas com ritos satânicos e talentos que lhes permitiam voar sentadas em rudimentares vassouras…
Nos tempos que correm, tais feitos mais não passam de fantasias literárias e até antigos rituais ligados ao culto dos mortos foram pela sociedade de consumo transformados em motivos de diversão, tal como no passado foram associados ao mal. Mas, o certo é que as bruxas jamais deixaram de existir e o paganismo parece estar de volta!
Depois de alguns jantares isolados, apresentação de algumas sugestões gastronómicas nos últimos tempos, como a Paella, os cogumelos recheados com alheira, o Arroz de pato no forno e o Arroz de Bacalhau, o Morgado´s Tavern pretende preencher alguns serões de Inverno com Tertúlias Gastronómicas.
Deste modo, em parceria com o Clube de Gastronomia de Ponte de Lima, a Academia do Bacalhau de Bruxelas e a Confraria dos Vinhos de Portugal na Bélgica, estão em estudo algumas propostas de receitas antigas e outras inovadas para satisfazer os admiradores de comida tradicional portuguesa e outras iguarias lá de fóra…
Com afincada pesquisa em Ponte de Lima e Minho, com informações a reunir nos próximos tempos, na reunião de ontem resultaram já algumas propostas, com base no encontro de Julho, com os chefs : Paulo Santos, Domingos Gomes e Filipe Morgado, e os Ajudantes João Leonardo Matos e Filipe Matos. É o caso de dois acepipes belgas: os tomates recheados com camarão (foto) e as Endívias á Moda da Flandres, que certo dia António Feijó serviu na embaixada de Portugal em Estocolmo, onde foi diplomata durante um quarteirão de anos (1891-1917).
Reconstituição do “Banquete Real” de 1901, em Ponte de Lima
No âmbito do receituário nacional, Pontelimês, também algumas singularidades de culinária e momentos sociais poderão ser reconstituídos. É o caso do almoço de coelho servido nos Paços do Concelho de Ponte de Lima, em 8 de Outubro de 1901, ao Príncipe Real D. Luis Filipe (foto), seu aio Mouzinho de Albuquerque, o preceptor Keraush e o conde de Bertiandos, pelo jurista e então Presidente do município, Luiz da Cunha Nogueira. Recorde-se, que com a presença do herdeiro ao trono nesta capital da Ribeira Lima, foi inaugurada a (nova) avenida marginal do Lima, com seu nome, a popular “ dos Plátanos”, com a República alterada a designação toponímica para – 5 de Outubro – tal como se mantém.
Os artesãos que procedem à construção dos bombos tradicionais usados pelos zés pereiras nas arruadas das romarias minhotas sempre tiveram as cores mais variadas, como aliás se pode verificar pelas peças recolhidas nos museus etnográficos e de etnologia. Porém existem dois exemplares que, ao longo do tempo, continuam a sobressair desse conjunto: os que apresentam as cores azul e branca e os verde e rubro!
Tal como se verificava com os adornos nos aventais, incluindo o próprio brasão nacional encimado pela coroa real, também da construção dos intrumentos musicais eram empregues adornos tradicionais ao gosto popular e as cores mais em voga à época, vulgarmente as que identificavam a bandeira nacional.
Da mesma forma que o tradicional barrete de cor preta ou azul passou a a partir de 1910 a apresentar-se com as cores republicanas – qual barrete frígio à portuguesa! – também os bombos passaram a adoptar as cores da Carbonária que vieram a inspirar a nova bandeira nacional.
Sucede que, dependendo da época que se pretende representar, as cores dos bombos devem ser escolhidas com critério histórico – da mesma forma que os aventais dos trajes não deverão exibir motivos decorativos que não correspondem à época, nomeadamente brasões municipais que apenas foram criados a partir da década de trinta do século passado.
Casas do Povo foram criadas há 90 anos e desempenharam um importante papel na criação de ranchos folclóricos
Passam precisamente 86 anos desde a inauguração pelo regime do Estado Novo, no concelho de Elvas, da primeira Casa do Povo, organismo corporativo para o mundo rural criado por Decreto-Lei n.º 23 051 de 23 de Setembro de 1933. A cerimónia de inauguração contou com a presença do Dr. António de Oliveira Salazar, acompanhado pelo Sub-Secretário de Estado das Corporações e Previdência Social, o Dr. Pedro Theotónio Pereira, o Director do Secretariado de Propaganda Nacional, Dr. António Ferro e o Director dos Serviços da Previdência Social, o Dr. Augusto Costa entre outras entidades.
Implantadas a nível local numa área que poderia abranger uma ou mais freguesias pertencentes a um concelho, às “casas do povo” estava destinada a missão de colaborar no desenvolvimento económico-social e cultural das comunidades locais, bem como a assegurar a representação profissional e a defesa dos legítimos interesses dos trabalhadores agrícolas dentro dos parâmetros então vigentes, assegurar a previdência social – o que actualmente se designa por segurança social – incluindo a assistência médica. Estes organismos de cooperação social agrupavam-se em federações regionais na Corporação da Lavoura e eram apoiadas pelo Estado corporativo através da Junta Central das Casas do Povo.
À semelhança do que sucedeu com outros organismos criados pelo Estado Novo como sucedeu com a FNAT, entretanto transformada na Fundação INATEL, também as “casas do povo” sobreviveram à mudança do regime político. A Lei nº 4/82 de 11 de Janeiro conferiu-lhes o estatuto jurídico de pessoas colectivas de utilidade pública, de base associativa, tendo como finalidade o desenvolvimento de actividades de carácter social e cultural e a cooperação com o Estado e com as autarquias locais, com vista à resolução de problemas que afectem a população local.
Deve-se às “casas do povo” entre outros aspectos a dinamização de numerosas actividades culturais, entre as quais a projecção de cinema em aldeias remotas cujas populações jamais haviam tido contacto com a sétima arte, a maioria das vezes sem sequer acesso à luz eléctrica. E, foi ainda no seu seio que um pouco por todo o país foram criados muitos grupos folclóricos que ainda existem nos nossos dias, actividade cultural que também foi fomentada pela FNAT e a Mocidade Portuguesa Feminina.
Naturalmente, também foi através destes organismos que algumas adulterações no nosso folclore foram introduzidas pelos “técnicos” do antigo regime com vista a alindar a sua representação… mas tudo deve ser visto à luz do pensamento da época. Cabe aos actuais dirigentes do folclore fazer melhor do que antes foi feito, corrigir o que deve ser corrigido e compreender a importância que, dentro do contexto histórico, tiveram as “casas do povo” na promoção do folclore.
Prestes a assinalar 9 séculos desde a atribuição do Foral por D. Teresa – mãe de D. Afonso Henriques, Primeiro Rei de Portugal – em 4 de Março de 1125, Ponte de Lima viu hoje desfilar o Cortejo Histórico, qual fita do tempo, a lembrar os grandes acontecimentos que marcaram a História da vila limiana.
Ponte de Lima e os limianos orgulham-se do seu passado glorioso. E dele guardam a memória para que possam projetar-se no futuro sem perda de identidade e preservar o seu património.
Data de 4 de setembro de 1892, a mais antiga referência escrita acerca da existência de um grupo de folclore em Portugal. Trata-se de um artigo com ilustração de Sebastião de Sousa Sanhudo, publicado no jornal humorístico “O Sorvete”, nº 123, dando conta da deslocação à cidade do Porto de “Grupo de Lavradeiras de Ponte de Lima”. Este é o dia histórico do folclore português.
Durante muito tempo, considerou-se o antigo Rancho das Lavradeiras de Carreço, fundado em 1904, como o mais antigo agrupamento folclórico constituído em Portugal. Contudo, um documento que data de mais de dez anos anteriores à sua fundação leva-nos a concluir que, até novas provas em contrário, foi em Ponte de Lima que pela primeira vez surgiu um grupo folclórico devidamente organizado e trajado, o que não significa que não seja o Rancho das Lavradeiras de Carreço actualmente o mais antigo em actividade.
E, com o título “O grupo de lavradeiras de Ponte de Lima no Porto”, fá-lo nos seguintes termos: “Graças à iniciativa dos generosos Bombeiros Voluntarios tiveram os portuenses occasião de vêr com os seus proprios olhos o que é uma esturdia no Minho. Lavradores e lavradeiras de puro sangue. Musica genuina da aldeia, cantadores e cantadeiras de fina raça; danças e cantares, tudo, enfim que o Minho tem.
Lourenço, o director da musica, tornou-se a figura mais saliente entre o seu grupo, pois que, ás primeiras gaitadas adquiriu logo as simpatias do publico que o chamou repetidas vezes e o cobriu de aplausos delirantes.
O sympathico Lourenço, quer na flauta, que toca bem – quer no sanguinho de Nosso Senhor Jesus Christo – mostrou-se um bom beiço. Das raparigas: a Thereza, a Rita e a Maria, muito alegres e folgazonas, as outras tambem muito pandegas. E p’ra que viva Ponte do Lima!”
A notícia vem acompanhada de uma ilustração que constitui um desenho assinado pelo próprio responsável da publicação, o conceituado caricaturista Sebastião de Sousa Sanhudo, também ele natural de Ponte de Lima. A gravura mostra as lavradeiras com o seu traje característico incluindo os lenços de franjas, os aventais de quadros e as chinelas enquanto os homens com seus coletes e casacas de botões negros e, como não podia deixar de suceder, o inconfundível chapéu braguês por vezes bastante esquecido entre os grupos folclóricos minhotos da actualidade. Uma particularidade que nos salta à vista é o facto do sympathico Lourenço que aparece com a sua flauta e era o director da música ser um negro cuja origem se desconhece, aparecendo aqui integrado naquele que se julga ter sido o primeiro grupo folclórico português.
Em 14 de janeiro de 1966, o jornal limiano “Cardeal Saraiva” transcrevia uma crónica produzida pelo jornalista Severino Costa no “Comércio do Porto” na qual asseverava ser o “grupo de lavradeiras de Ponte do Lima” originário da freguesia da Correlhã, dizendo a dado passo: “Lembrava-me muito bem do simpático Lourenço. Era um exímio tocador de flauta que na minha infância ouvi diversas vezes, não podendo porém, dizer como nem onde. Mas da pessoa lembro-me muito bem. Era um homem de fala muito suave, muito educado, alegre, e tinha uma prosóide curiosa… Nada sei da sua família e de como veio para Ponte de Lima”. De resto, não sabemos o que levou o autor a concluir a proveniência daquele “grupo de lavradeiras”, a não ser porque ainda deverá ter conhecido ou obtido informações a respeito de algumas pessoas mencionadas na notícia publicada em “O Sorvete”. E conclui: “Mas do que parece não ficarem dúvidas, depois do aparecimento deste documento autêntico, é que Correlhã tinha, em 1892, um rancho folclórico. Não se concebe que alguém se tenha lembrado, por acaso, da freguesia de Correlhã.
Se dali foi levado ao Porto, pelos Bombeiros Voluntários, tal grupo, é porque ele existia constituído, com suas danças próprias, com nome firmado, com indumentária”.
Em todo o caso e qualquer que seja a proveniência exacta do primeiro grupo folclórico, a referida edição do jornal “O Sorvete” vem documentar ter sido em Ponte de Lima a sua origem, informação essa que vem corrigir uma opinião que durante muito tempo foi sustentada nomeadamente pelas vozes mais autorizadas. Não obstante, o eventual aparecimento de novas provas poderá reservar-nos mais surpresas e inclusive contrariar as conclusões a que até agora chegámos, pelo que nunca devemos dar por definitivo os resultados da nossa investigação.
- Carlos Gomes, Correlhã, Berço do Folclore Português. O Anunciador das Feiras Novas, nº XX, 2003, Ponte de Lima
Foto do sympatico Lourenço, o “director da música” do Grupo de Lavradeiras de Ponte de Lima. (Colecção particular de Ovídio de Sousa Vieira)