O elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, encontra-se em funcionamento desde 25 de Março de 1883, sendo atualmente o funicular mais antigo do mundo em funcionamento utilizando contrapesos de água. O depósito da cabine que se encontra na parte superior do percurso é atestado de água para, através da diferença de peso, fazer a outra cabine subir a encosta, sendo a água esvaziada quando chega ao sopé.
O elevador veio substituir a carreira dos “americanos” de Braga que consistia em veículos que circulavam sobre carris puxados por cavalos e que foram os antecessores dos atuais carros elétricos existentes em várias cidades. Porém, devido à subida íngreme para o Santuário do Bom Jesus, a tração dos veículos tinha aqui de ser também efetuada com a ajuda de bois.
Coube ao engenheiro suíço Niklaus Riggenbach a autoria do projeto que, a partir do seu país, deu todas as indicações para a sua execução, no local orientada pelo engenheiro Raul Mesnier du Ponsard. O êxito obtido levou à construção de vários ascensores em Lisboa, entre os quais o da Bica, Lavra, Glória e Santa Justa que ainda se mantêm em funcionamento.
No virar do século XIX, a taxa de analfabetos em Portugal rondava 75%. Com maior incidência nas zonas rurais do que nos centros urbanos, mais a sul do que a norte em virtude da influência da Igreja Católica e das condições sociais dos agricultores e ainda a situação profissional. Por essa altura, começaram a surgir sobretudo nas zonas operárias das grandes cidades os chamados centros republicanos escolares e multiplicaram-se as coletividades – então designadas por agremiações – que entre outras atividades se dedicavam à instrução escolar, sobrevivendo atualmente algumas delas com escola própria.
Na década de quarenta do século XX, em pleno Estado Novo, são construídas em todo o país as chamadas escolas dos centenários e, nos meios rurais, as famílias forçadas a enviar os seus filhos para a escola, até então subtraídos ao ensino para serem ocupados no meio rural como a guarda do gado ou em lides domésticas.
O tema é demasiado vasto e complexo para se abordar aqui. Porém, atendendo a que o artesanato popular é porventura o melhor indicador do nível psicológico e cultural do povo, permite-nos entender a qualidade artística e o grau de literacia dos seus artífices.
Tomando como exemplo os lenços de namorados, registamos a sua sensibilidade e talento, tal como nos descreveu o escritor Ramalho Ortigão: “A aldeã do distrito de Viana é, por via de regra, tecedeira. É preciso não se confundir o que no Minho se chama tecedeiracom o que geralmente se entende por teceloa. A tecedeira de Viana não se emprega numa fábrica nem tem propriamente uma oficina. Sabe simplesmente tecer como a menina de Lisboa sabe fazer crochet; e junto da janela engrinaldada por um pé de videira o seu pequenino tear caseiro, como o da casta Penépole, tem o aspecto decorativo de um puro atributo familiar, como um cavalete de pintura ou um órgão de pedais no recanto de um salão.”.
É certo que à época poucas eram alfabetizadas pelo que nem todas saberiam bordar sem erros ortográficos, o que valoriza ainda mais a sua obra, atendendo a que a vida não lhes deu oportunidade para se instruírem devidamente, quanto mais para frequentarem o ensino artístico.
Mas não é inteiramente genuíno todo o artesanato popular que chega até aos nossos dias apresentado como tal. O Estado Novo criou em 1933 o Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo – vulgo SNI – que, não obstante a sua função de propaganda do regime, desenvolveu uma ação importante nomeadamente ao nível do folclore, incluindo a dança e as artes plásticas. Daí, quase todos os objetos de criação popular receberam um retoque por parte dos artistas do SNI, desde o galo de Barcelos às coreografias das danças folclóricas e, naturalmente ao vestuário. Por exemplo, às camisas alteraram-lhe as golas e passaram a inscrever versos bordados tão bem escritos que em nada condizem com o nível de literacia no início do século XX. E, esta representação foi de tal maneira aceite que muitos grupos folclóricos ainda atualmente tomam por genuína. E, quem diz as camisas bordadas pode referir o chapéu “vianez”, as calças vincadas e com fecho, as crianças com lenço tabaqueiro, velhas matriarcas de traje vermelho exibindo seis moedinhas de libra e outras bizarrias do nosso folclore. Isto é, nem tudo o que reluz é ouro, o mesmo é dizer que no folclore nem tudo o que se mostra é genuíno!
Identi(Cidade) desafia á descoberta e ao conhecimento de espaços históricos e arqueológicos
Centenas de crianças, jovens e seniores vão apropriar-se do Centro Histórico de Braga, na próxima Terça-feira, 28 de Março, com visitas guiadas aos espaços, monumentos e vestígios arqueológicos mais emblemáticos da cidade.
A iniciativa intitulada “Identi(Cidade)” é promovida pelo Município de Braga e enquadra-se nas comemorações do Dia Nacional dos Centros Históricos, resultando de um desafio às escolas e outras instituições do concelho e não só, para a descoberta, exploração e conhecimento de diversos espaços, como as Termas do Alto da Cividade; a Domus Velha da Sé; a Fonte do Ídolo, o Centro de Interpretação do Posto de Turismo e um circuito orientado por monumentos e praças do centro histórico.
Este circuito terá início no Arco da Porta Nova, passando pela Rua da Violinha, Sé de Braga, Rua do Cabido, Igreja da Misericórdia, Praça do Município, Largo do Paço, Casa e Capela dos Coimbras, Largo Carlos Amarante (Igreja de São Marcos e Santa Cruz), Palácio do Raio, Avenida da Liberdade, Theatro Circo, Praça da República, Torre de Menagem, Jardim de Santa Bárbara, Igreja e Convento do Pópulo e Palácio dos Biscainhos, regressando ao Arco da Porta Nova e Campo das Hortas.
Braga é uma cidade bimilenar, detentora de um vasto património arquitectónico, arqueológico e cultural, onde convivem diferentes correntes artísticas de diversas épocas. As ruas pedonais do centro histórico e o comércio tradicional são palco de convívio entre gerações.
As escolas e instituições interessadas em efectuar a sua inscrição ainda podem fazê-lo através do email atlas.mediacaocultural@cm-braga.pt
Refira-se que esta actividade está integrada no «ATLAS – Programa de Mediação Cultural», promovido pelo Município de Braga, alinhado com a Estratégia Cultural de Braga 2020-2030.
Transcrevemos parte de um extenso texto da autoria do escritor ponte-limense Conde d’Aurora, D. José de Sá Coutinho, o qual constitui o prefácio da "Antologia da Terra Portuguesa", publicado pela Livraria Bertrand, através do qual se rebate a ideia errónea com que muitas vezes se encara parte do Minho como se tratando de uma nova província – o Douro Litoral – construindo-se conceitos errados nomeadamente no domínio do folclore e da etnografia.
“Cabe, este volume da Antologia da Terra Portuguesa, aos escritores da Província do Douro Litoral.
Trata-se de uma novíssima divisão territorial, transitória medida, esperemos (com seu muito de arbitrário), tentativa de adaptação à divisão liberal por distritos à moda francesa revolucionária dos departamentos – e contrariando toda a tradição, costumes e condições naturais.
Criou-se nos últimos anos, mutilando a velha e tradicional Província de Entre Douro e Minho (já truncada em 1834, subdividida em Minho e em Douro, já então sendo Santo Tirso, no Douro, por exemplo, mas não tendo qualquer efeito prático essa divisão de Províncias), de modo a ficarem nela incluídos o Distrito do Porto e ainda os Concelhos de Espinho, Arouca, Castelo de Paiva e Vila da Feira, do Distrito de Aveiro – e os de Resende e Cinfães, no de Viseu.
E sendo a nova comarca administrativa denominada Minho, apenas constituída pelos distritos de Braga e de Viana do Castelo.
Divisão de critério meramente ferroviário, baseado na penetração das duas velhas linhas do Estado, a do Minho e a do Douro, subdividindo-se em Ermesinde.
A querer partilhar a velha e ancestral Província na sua unidade inegável que resistira a tantos séculos, por se achar demasiado grande, porque não dar-lhe então os títulos, respectivamente, de Alto e Baixo Minho?
Assim poderiam continuar a ser minhotos, oficialmente, os povos do resto da velha comarca interamnense; minhotos sem distinção dos restantes, hoje destinados à condição de douro-litoralenses, os minhotos de Felgueiras, de Santo Tirso, da Póvoa ou de Baião…
De resto o leitor verá, pelos trechos da presente antologia, como todos os escritores, à excepção dos burocratas da actualidade, tratam este pedaço de território nacional como Minho, e seus habitantes por minhotos, que o são com a maior propriedade e legitimidade. Ao acaso, citarei o grande escritor Carlos Malheiro Dias sempre apelidando os portugueses de minhotos nos três volumes das suas magistrais Cartas de Lisboa; o mesmo sucedendo a Almeida Garrett; e ao imortal criador de Fradique Mendes, considerando coração do Minho a Quinta de Moreira da Maia, de Luís de Magalhães, tão admiravelmente descrita sob o título de Quinta de refaldes (Minho), e a de Santa Cruz, em Baião, dos Condes de Resende, imortalizada como Tormes.
Ora porque o Entre Douro e Minho continua a ser uma indiscutível unidade mas tão vastos seus interesses culturais, espirituais e temporais, enchendo o tempo e o Espaço, justo é caberem-lhe três volumes nesta colecção de antologias; e que por tácito entendimento entre os dois ilustres pensadores que orientam a do Minho e a do Porto, e o humilde escrevedor anotante desta prefacção, se relegasse para o mais obscuro o esboço do conjunto provincial.
Já o Padre João Baptista de Castro, no seu Mapa de Portugal, publicado no ano distante de 1745, se referia à divisão de Portugal em seis províncias – e quanto à do Minho relatava:
“Como esta Província está encerrada entre as famosas correntes dos rios Douro e Minho no Ocidente setentrional da Espanha tomou nome de Entre Douro e Minho, que em latim se diz Interamnensis, ou Duriminea. Quase todos os geógrafos (e cita Duarte Nunes de Leão, João de Barros Faria, João Salgado de Araújo e outros) “lhe dão de comprido de Norte a Sul dezoito léguas, e de Nascente a Poente doze de largo na sua maior largura, porque em algumas partes não tem mais de oito.
Confina esta Província da bando do Meio-Dia com o rio Douro, que a separa da Beira: da banda do Ocidente parte com o mar oceano, começando em S. João da Foz e acabando na vila de Caminho, onde o rio Minho divide Portugal da Galiza.”
(E não transcrevo mais porque é o repetido por todos os geógrafos e no texto o tem o leitor avonde: Castro laboreiro ao Gerês, serra de Barroso a Cavez e Amarante, e, por Baião, outra vez ao rio Douro).
E refere ainda o Padre Baptista as “estãncias da musa de um engenho espanhol”:
“Es entre-Duero, y Miño la primera
Porcion del Reyno, en rios muy bañada
Donde Braga magnânima propéra
De los Brachatos hija sublimada
Al Romano difícil, y guerrera:
A los de Porto altiva, y respetada:
De Augusto honor, Juridico Convento
Corte Sueva, y Arçobispal assiento.
Del Duero ilistra el margen atractivo
Porto que de Gatelo Pueblo raro
Com mitra Episcopal se ostenta altivo,
Dandole a Portugal nombre preclaro
Guimarães, Villa es noble, y primitivo
Solio de Reys Lusos. Tiene claro
Timbre Puente de Lima: altas belezas
Viana, de partido ambas cabeças.”
Província das romarias (da Peneda e do São Torcato, da Agonia e das “Feiras Novas” à de S. Gonçalo e á da srª da Graça).
Comarca das feiras, semanais, quinzenais e anuais, tão célebres as de Ponte de Lima e Barcelos como a do S. Martinho em Penafiel, feira de cavalos rivalizando com a do S. Miguel em Famalicão (da faca minhota e do garrano travadinho).
Terra do granito, terra negra de aluvião, do vinho verde de enforcado e de latadas, desde Monção a Amarante: seus pequeninos campos de propriedade não pulverizada como o pretendem tantos economistas, mas ábia e socialmente dividida: total de cem mil produtores de vinho, agasalhando menos de duas pipas (ou seja menos de mil litros!) cerca de cinquenta mil colheteiros; trinta mil arrecadando de duas a cinco pipas anuais; apenas uns escassos noventa e cinco atingindo a centena; e só dez, ao todo, ultrapassando duzentas pipas, mas nenhum colhendo mais de quinhentas!
Província interamnense do consórcio do feijão e do milho, ininterruptamente, há séculos, sem um sinal de erosão – essa lepra que arruinou já quatro quintas partes do território total da grande América do Norte.
Terra dos lindos jugos trabalhados em madeira ainda hoje entalhada com os primitivos desenhos de beleza ingénua do século XVI, idêntica à velhas arquibancadas monásticas.
Com seus lindos boizinhos piscos de focinhito negro luzidio e alta cornadura de belo desenho em lira.
Carro de eixo móvel girando em admirável cântico vesperal de louvar a Deus, nos altos córregos dos pequeninos altos montes minhotos.
E das danças e dos cantares, da gota e do vira de Carreço e de Santa marta, à chla de Paredes e de Penafiel.
E das soberbas mulheres de peito estrelado a oiro – esse oiro trabalhado à mão pelos mesteirais da Póvoa de Lanhoso e de Gondomar (é curioso ter havido contrastarias nestas duas localidades). Entre Douro e Minho das mil águas de rega, de lima e rega, de torna-tornarás, e seus mil cantantes e bucólicos regatinhos (“espertos regatinhos” dizia Eça!) movendo as 30.000 azenhas registadas na Repartição de Hidráulica como existentes já desde antes do Código Civil e ainda há pouco laborando…
Como diferenciar nos livros de Camilo. O grande escritor quase exclusivamente minhoto, suas páginas do Minho actual das do actual Douro Litoral: Landim, Famalicão, Santo Tirso, Braga, Amarante, Porto?
Profético, parece, também, outro grande escritor que se sublimava no descritivo do Minho, Antero de Figueiredo, haver saltitado entre terras idênticas hoje separadas pelo risco dos repartidores administrativos…
Minho, bem Minho, essa terra negra de Bougado, ao diante transcrita na pintura anteriana.
Terra de brasileiros, todo esse Entre Douro e Minho, aquém e além Ave – que a admirável página de Fialho, ao descrever o chalet de Famalicão, podia-o ter encaixado em qualquer outra silória interamnense, dos Arcos de Valdevez a Fafe.
Excelente tipo de portugueês, tão mal tratado pela literatura e ao qual se devem tantos dos benefícios da Província no terrível período da crise do liberalismo.
Seja um primeiro acto de desagravo a inserção neste volume da página da Monografia de Gondomar referente à grande figura desse protótipo de brasileiro torna-viagem, a imortal figura do Conde de Ferreira, Deus tenha em Santa guarda a sua alma.
Aos escritores (desde Eça a Garrett, desde Alberto Sampaio a todos os seus pares da Portugália; desde Gonçalo Sampaio a João penha; desde Régio a Pascoais, desde Vila Moura a António Patrício) – não me referirei se não muito rapidamente, porque a antologia fala pela própria boca deles mesmos.
(…)
Deste pedaço irridente da velha província de Entre Douro e Minho do Sudeste, hoje Douro Litoral, melhor do que a minha pálida e descolorida prosa falarão os escritores, dos mais célebres e afamados de Portugal, tanto os nascidos como os radicados na Província de que o presente trabalho é antologia.”
Através da Portaria nº. 5816, de 31 de Dexembro, publicado em Diário do Governo nº. 301/1928, Série I de 31 de Dezembro de 1928, o Ministério da Justiça e dos Cultos – Diracção Geral da Justiça e dos Cultos – 2ª Repartição (Cultos), determinou a entrega de vários bens à corporação encarregada do culto católico na freguesia de Chaviães, concelho de Melgaço.
Integrada no projeto ‘Quintas Patrimoniais’, a Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira promove uma conferência dedicada à temática da origem do burgo, com o ilustre Prof. Doutor Carlos Brochado de Almeida, além de apresentar a Conta Suevo-Visigótica, numa das suas raras aparições públicas, dado o valor histórico. A iniciativa decorre na terça-feira, 28 de março, por forma a assinalar o Dia Nacional dos Centros Históricos.
Sob proteção do Castelo D. Dinis surgiu, no século XIV, o pequeno burgo de Vila Nova de Cerveira que corresponde hoje ao centro histórico, demarcando-se um novo paradigma na história dos cerveirenses e, sobretudo, da sua identidade. O núcleo urbano histórico de Vila Nova de Cerveira é enaltecido pela existência de uma harmonização entre o valioso legado patrimonial e as marcas que alguns dos mais importantes episódios da história nacional deixaram. Com o intuito de potenciar a defesa, valorização e revitalização do centro histórico, Vila Nova de Cerveira aderiu à Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico (APMCH).
O prestigiado Prof. Doutor Carlos Brochado de Almeida é o orador convidado desta conferência, pelo seu vasto conhecimento sobre o património cerveirense, concretizado em várias publicações, mas também pela sua experiência e forte ligação a Vila Nova de Cerveira, que remonta já há década de 80, quando liderou os trabalhos arqueológicos efetuados na estação do Forte de Lovelhe.
Foi no decorrer de uma escavação arqueológica, em 1985, sobre uma faixa de térreo situada entre a estrada que faz ligação à marina e o muro da Quinta do Forte, que foi encontrada a Conta Suevo-Visigótica. Com cerca de 3cm de comprimento por 1.5cm de largura, a conta tem uma forma bitroncocónica e pesa 8.5gr, de 95% de ouro, sendo os restantes 5% de prata e ferro, numa distribuição muito irregular.
Dada a sua raridade, este Tesouro Nacional - de valor histórico incalculável – pode ser contemplado no final desta conferência, entre as 12h30 e as 14h00, numa das suas raras aparições públicas. Os paralelos mais aproximados que se conhecem são duas Contas de brincos enfiados num fio torso de ouro procedentes de Daganzo de arribas (Madrid), depositadas no Museu Nacional de Arqueologia e datadas do seculo VI e outros semelhantes provenientes da Torre Dondimen e depositadas no Museu Arqueológico de Barcelona.
O objetivo das ‘Quintas Patrimoniais’ é dar a conhecer a história e a riqueza patrimonial dispersa pelo concelho, contribuindo para a sua preservação e valorização. ‘A origem do burgo’ é o segundo encontro associado ao projeto agendado, a título excecional, no dia 28 de março, terça-feira, às 10h30, no Auditório da Biblioteca Municipal, assinalando também o Dia Nacional dos Centros Históricos.
Um total de 12 iniciativas, entre março e novembro, sustentam o ‘Cerveira Saudável’ 2023. A programação, lançada pela Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, arranca já a 26 de março, e pretende consolidar a promoção de sessões monitorizadas de exercício físico para todas as idades e fortalecer a vertente de conhecimento histórico de vários pontos de interesse do concelho e/ou degustação de produtos saudáveis. A participação em cada atividade carece sempre de inscrição online.
A primeira atividade decorre no domingo, 26 de março, com o Trilho do Cervo, em parceria com o Clube Celtas do Minho. Tendo como ponto de encontro a Praça do Município, às 09h00, os participantes são desafiados a caminhar cerca de 10kms entre as mais belas paisagens naturais de Cerveira, enquanto poderão aprofundar algumas histórias e factos relacionados com monumentos importantes do concelho, como o Castelo D. Dinis, o Forte de Lovelhe, a Atalaia, as Escadinhas, a Encarnação, as Gravuras e o Espírito Santo. A participação é gratuita, mas sujeita a inscrição ( https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSehVSUMHtruVAeBMhlpb89iQGmBo3EHvf2EoHbkZ2fbDaTPpw/viewform ).
Da programação do ‘Cerveira Saudável’ 2023 constam ainda mais dois trilhos pedestres que promovem a visita por algumas freguesias do concelho e respetiva visita guiada aos monumentos, nomeadamente o ‘Trilho do Fonte da Carranca’, de Gondarém, que proporciona a visita a moinhos e a um itinerário do Caminho de Santiago; e o ‘Trilho das Levadas’, de Sopo, com passagem pelas Levadas e a Torre do Relógio.
A realização do caminho até Santiago de Compostela, em nove etapas, com transporte do ponto de partida e o respetivo regresso, é outra atividade desta edição 2023, assim como estão igualmente agendadas duas iniciativas a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro, uma caminhada e a venda de dorsais da corrida para a vida com o principal objetivo de angariação de verbas para a entidade; um passeio BTT Ibérico e termina, em novembro, com uma prova gastronómica.
Cada atividade será promovida atempadamente, dando-se a conhecer o horário, valor e formulário para inscrição. Para obter informações adicionais também se pode contactar através do número 251 708 071.
O Equinócio da Primavera ocorre hoje, dia 20 de março. Este instante marca o início da Primavera no Hemisfério Norte.
A Primavera, de Botticelli
A partir daqui até ao início do outono, o comprimento do dia passa a ser maior do que a duração da noite, devido ao Sol percorrer um arco mais longo e mais alto no céu todos os dias, atingindo uma altura máxima no início do Solstício de Verão. É exatamente o oposto no Hemisfério Sul, onde o dia 20 de março marca o início do Equinócio de Outono.
O Equinócio da Primavera encontra-se intimamente associado a tradições dos povos como a celebração da Páscoa, a Serração da Velha, o Ramadão, a Queima do Judas e muitas outras com origem nas mais diversas culturas, quase sempre originárias de ancestrais rituais pagãos.
Na Páscoa, o Cristianismo celebra a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o que faz desta festividade porventura a mais importante e de maior significado para os cristãos. Com efeito, é a crença na ressurreição de Jesus Cristo que distingue a fé cristã em relação a outras confissões religiosas. Foi apenas no século II que a Igreja Católica fixou a Páscoa no domingo, sem a menor referência à celebração judaica. Sucede que Jesus Cristo, segundo o calendário hebraico, terá nascido em 14 de Nissan, precisamente o início do Pessach ou seja, o mês religioso judaico que marca o início da Primavera.
Com efeito, de acordo com a tradição judaica, a Páscoa provém de Pessach que significa passagem e evoca a fuga dos judeus do Egipto em busca da Terra Prometida. Na realidade, tal significação remonta a raízes ainda mais ancestrais, concretamente às celebrações pagãs que ritualizavam a passagem do Inverno para a Primavera ou seja, as festas equinociais associadas à fertilidade e ao renascimento dos vegetais.
Tais celebrações eram antecedidas pela Serração da Velha, o Entrudo e as saturnais que originaram as festividades de Natal. Mas, as novas religiões monoteístas alicerçaram-se sobre as ruínas das crenças antigas e, por cima dos antigos santuários pagãos ergueram-se as novas catedrais românicas e góticas. Da mesma forma que, sobre as ruínas dos velhos castros foram construídos os castelos medievais. E, assim, também as celebrações pagãs se revestiram de novas formas mais de acordo com novas conceções religiosas e se cristianizaram, adquirindo uma nova simbologia e significação.
Subsistem, no entanto, antigas usanças que denunciam as origens pagãs da festividade pascal associadas a costumes importados da cultura anglo-saxónica que, em contacto com as tradições judaico-cristãs originam um sincretismo que conferem à celebração pascal uma conceção religiosa bastante heterodoxa. É o que se verifica, nomeadamente, com toda a simbologia associada ao coelho e aos ovos da Páscoa, sejam eles apresentados sob a forma de chocolate, introduzidos nos folares ou escondidos no jardim, rituais estes ligados à veneração praticada pelos nórdicos a Ostera, considerada a deusa da fertilidade e do renascimento, por assim dizer a “deusa da aurora”.
Em todos os casos, tais celebrações indiciam o culto solar, desde o Solstício de Inverno – Natale Solis Invicti – até à festividade do Equinócio da Primavera que assinala o nascimento do novo ano solar!
Ao longo do tempo, várias têm sido as versões criadas do Hino da Maria da Fonte – o Hino do Minho! – adaptadas à música composta por Ângelo Frondoni, ao jeito de várias sensibilidades ideológicas. Porém, a letra original, composta por Paulo Midosi em 1846, é a seguinte:
Baqueou a tirania Nobre povo, és vencedor, Generoso, ousado e livre, Dêmos glória ao teu valor.
Refrão: Eia avante, Portugueses! Eia avante, não temer! Pela santa Liberdade, Triunfar ou perecer!
Algemada era a Nação, Mas é livre ainda uma vez; Ora, e sempre, é caro à Pátria O heroísmo Português.
Lá raiou a Liberdade Que a Nação há-de aditar! Glória ao Minho que primeiro O seu grito fez soar!
Segue, ó Povo, o belo exemplo De tamanha heroicidade: Nunca mais deixes tiranos Ameaçar a Liberdade.
Fugi déspotas! Fugi, Vis algozes da Nação! Livre, a Pátria vos repulsa, Terminou a escravidão
Casimiro José Vieira (Vieira do Minho, 1817 – 1895), foi um sacerdote católico português. Era um forte defensor do culto das Cinco Chagas de Cristo e um legitimista convicto, que proclamava El-Rei D. Miguel do alto do Bom Jesus do Monte, e que foi um dos líderes da Revolução da Maria da Fonte. Tendo ido viver para a vila de Margaride no concelho de Felgueiras, foi aí pároco da Paróquia de Margaride (Santa Eulália) de 27-03-1867 a 09-12-1867.
Publicou um relato das suas atividades guerreiras à frente de um grupo de camponeses, sob o título: Apontamentos para a história da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte, Braga, Typographia Lusitana, 1883; Lisboa, Rolim, 1987 (edição facsimile da edição de 1883 com prefácio de José Manuel Sobral).
Rebelião que deflagrou no Minho em abril de 1846, iniciada por um grupo de mulheres lideradas por Maria da Fonte, assim chamada por ser oriunda de Fonte Arcada.
A causa para a rebelião foram as leis da saúde de novembro de 1845 que, entre outras disposições, proibiam os enterramentos nas igrejas como sempre se fizera até aí, confinando-os aos cemitérios.
As mulheres minhotas protestaram pela primeira vez em 19 de março na aldeia de Santo André de Frades, concelho de Póvoa do Lanhoso, quando, após obrigarem o pároco a sepultar na igreja uma mulher recentemente falecida, as autoridades decidiram exumar o corpo no cumprimento da lei. Logo os sinos tocaram a rebate e um grupo de camponesas obrigou à fuga das autoridades, com risco das próprias vidas.
De uma forma aparentemente espontânea e genuinamente popular, os protestos foram-se repetindo até meados de abril, quando passaram a ser direcionados para os funcionários da Fazenda que faziam um levantamento de bens para efeitos do lançamento de impostos.
Num misto de anarquia e defesa de dignidade, houve, em Vieira do Minho, novos protestos, mas assumindo já o carácter de uma revolta; as mulheres assaltaram a Administração e destruíram os arquivos. A revolta depressa alastrou pelo resto do Minho e Trás-os-Montes.
Partiu então de Braga uma força de infantaria para restabelecer a ordem. Como reação, o movimento toma o aspeto de grupos de guerrilha. É na liderança destes grupos que surge uma série de clérigos como o padre Casimiro José Vieira, o padre João Cano, o padre Manuel de Agra, entre outros, que dão ao movimento popular um carácter político, visando a restauração do absolutismo de D. Miguel. Posteriormente, também os setembristas se colocariam do lado dos revoltosos.
Com o apoio das Câmaras, Costa Cabral nomeia o seu irmão, José Bernardo, comissário do Governo com poderes quase ilimitados sobre as autoridades civis e militares. À força que José Bernardo iria empregar responde o país com a formação de Juntas locais um pouco por todo o lado, as quais detiveram o poder por algum tempo à escala regional, recusando-se a obedecer ao governo central.
O duque da Terceira, presidente do ministério, perante tão conclusiva demonstração de força e apercebendo-se de que tinha todo o país contra si, convoca uma reunião do Gabinete, presidido pela rainha, em que propõe à monarca a demissão do governo como única forma de debelar a revolta.
A rebelião parece ser a resposta popular aos exageros da ditadura de Costa Cabral; mas, se assim foi, o povo só se inquietou quando se sentiu diretamente atingido, ou seja, com as leis da saúde e com os impostos. Não se trata, pelo menos inicialmente, de uma revolta de cariz político mas tão-somente de defesa de valores tradicionais e seculares.
Fonte: Porto Editora – Maria da Fonte na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-03-19 16:29:36]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$maria-da-fonte
No âmbito do prolongamento da linha Vermelha de São Sebastião a Alcântara, o Metropolitano de Lisboa informa que o Jardim da Parada manterá todas as suas atuais características depois das obras de construção da nova estação de Campo de Ourique.
O prolongamento da linha Vermelha a Alcântara constitui um projeto estratégico no âmbito do Plano de Expansão da rede e resulta de um processo de análise aprofundado e detalhado, de envolvimento de diversas entidades de reconhecido mérito e competência técnica e de pareceres das autoridades decisoras, tendo recebido parecer favorável da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), condicionado ao cumprimento de um conjunto de termos e condições que serão cumpridas pelo Metropolitano de Lisboa mas que não implicam a deslocalização de qualquer uma das quatro novas estações previstas.
O Metropolitano de Lisboa, em articulação com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Junta de Freguesia de Campo de Ourique, organizou em junho passado, uma sessão Pública de esclarecimento aberta à população da Freguesia de Campo de Ourique, sobre o projeto de Extensão da Linha Vermelha a Alcântara e em particular sobre a implantação da estação de Campo de Ourique e localização dos respetivos acessos. Da mesma forma, o Metropolitano de Lisboa recebeu todas as organizações que mostraram interesse em reunir com esta empresa sobre esta matéria.
Num projeto desta natureza, a compreensão de aspetos particulares do projeto só poderá ser alcançada através de uma compreensão robusta da globalidade da extensão do prolongamento em causa, das suas condicionantes e restrições ao traçado do projeto, reconhecimento hidrogeológico e geotécnico do território atravessado e à coerência do mesmo no espaço urbano consolidado com potencial para implantação dos túneis e estações.
Na análise de viabilidade do projeto, consubstanciada nas suas diferentes disciplinas e na ponderação de todos os fatores, concorrem para a opção de localização da estação Campo de Ourique sob o Jardim da Parada, os seguintes principais fatores:
A sua centralidade relativamente ao Bairro de Campo de Ourique, possibilitando a distribuição rápida para outras zonas de Lisboa, nomeadamente para o centro e zona oriental da cidade e redução significativa dos tempos estimados de percurso;
Assegurará 12% dos movimentos diários das novas quatro estações do prolongamento da linha Vermelha. Para qualquer outra localização avaliada para a estação Campo de Ourique não se alcançaram resultados desta ordem de grandeza;
Menor risco de interferência dos processos construtivos com a estabilidade do edificado da envolvente;
Menor impacto durante o período construtivo no que respeita à definição das áreas destinadas a estaleiro e à interferência das mesmas com vias de circulação públicas.
A área predominante do Jardim manterá a sua utilidade e atividade social atual. Será implementado um Plano de Monitorização do Ruído e de Vibrações;
Redução de interferências com infraestruturas técnicas no subsolo.
A solução adotada servirá, assim, o máximo de pessoas causando o menor impacto e constrangimentos possíveis noutros locais da freguesia, marcada por uma malha urbana apertada, com uma única faixa de circulação por via e com pouco estacionamento, bem como evitar a proximidade do túnel aos edifícios existentes, na fase de construção.
A estação Campo de Ourique ficará implantada sob o Jardim da Parada a uma profundidade de 35 metros e será construída integralmente em zona rochosa de maciço calcário, estrato onde ocorre a perfuração para a travessia do túnel e que é favorável em termos de estabilidade.
Relativamente à estrutura arbórea existente no Jardim da Parada, constata-se que as espécies em presença, tendo em consideração o seu porte e idade, terão uma profundidade máxima do enraizamento de cerca de 6 metros, situando-se na camada de aterros e argilas não atravessada pelo futuro túnel e pela estação de metro. Assim, pode aferir-se que os trabalhos que o Metro de Lisboa irá realizar no subsolo não terão qualquer interferência no enraizamento das árvores.
Para montar o estaleiro e fazer a estação (e realça-se que o estaleiro do Metro ocupará somente cerca de 15% da área do Jardim), será necessário retirar seis lódãos (situação prevista e conciliada com a Direção Municipal dos Espaços Verdes da CML). Como medida de compensação, serão plantadas 50 novas árvores na freguesia de Campo de Ourique, em local a definir entre a CML e a Junta de Freguesia. No final da obra, desses seis lódãos que foram retirados, quatro (não esses, mas outros) serão plantados exatamente no mesmo local. Os outros dois lódãos não podem ser plantados exatamente no mesmo sítio, mas serão plantados dentro do jardim. Ou seja, no balanço final, não haverá supressão de árvores no Jardim da Parada.
Ainda no que às árvores diz respeito, na fase de obra será garantida uma zona de proteção de 20 metros de raio dos 3 exemplares arbóreos classificados (fitomonumentos) existentes e que o Metro de Lisboa não irá intervir. Será, igualmente, garantido o acompanhamento ambiental do estado fitossanitário desses exemplares classificados.
Foi também coordenado com os serviços da CML, o estudo pela autarquia para o programa de requalificação do Jardim da Parada com eventual ampliação da área verde e criação de via pedonal na Rua 4 de Infantaria, ou seja, implementação de um programa de recuperação e integração paisagística, a definir pela autarquia.
Na fase de execução de obra, e por questões de segurança, o espaço infantil existente será relocalizado e as áreas de estaleiro a ocupar serão restringidas ao máximo. Será construído um único poço no espaço onde hoje pontua um edifício para apoio. Quando a estação abrir ao público, dois elevadores serão apenas as únicas estruturas emergentes, ficando localizados no espaço atualmente ocupado pelo edifício atrás referido.
A implantação dos acessos à estação foi definida em estreita colaboração e coordenação com a Direção Municipal do Urbanismo e Direção Municipal da Mobilidade da CML, prevendo-se um acesso na Rua Almeida e Sousa, próximo do cruzamento da Rua Ferreira Borges e outro na Rua Francisco Metrass, potenciando assim a ligação e o fácil acesso ao serviço da estação de Metro às zonas do bairro de Campo de Ourique de maior densidade habitacional, de serviços e de atividade social.
O prolongamento da linha Vermelha é um projeto complexo, que exige uma visão global e abrangente, oferecendo a melhor solução de mobilidade aos lisboetas. A localização de cada uma das quatro estações previstas não resulta de uma análise casuística, mas de uma ampla e exigente ponderação para a adoção de uma solução equilibrada, assente em estudos técnicos e na consulta de diversas entidades da especialidade de reconhecido mérito e competência.
Depois da linha Circular, o futuro do Metropolitano passa pelo prolongamento da linha Vermelha a Alcântara. Previsto no PRR, conta com um investimento de 304 milhões de euros e afigura-se essencial para o novo paradigma da mobilidade sustentável e da descarbonização.
O Jardim Teófilo Braga ou jardim da Parada em Campo de Ourique é da autoria de António Augusto da Costa Motta. Em 1920 para comemorar os 100 anos da proclamação do regime liberal, foi inaugurado o monumento à Maria da Fonte da autoria de Costa Motta. A estátua é de mármore branco e representa uma mulher jovem, descalça, envergando vestes minhotas, empunhando um chuço sobre o ombro esquerdo, e uma pistola erguida na mão direita.
As obra de prolongamento da rede de metropolitano em Lisboa vão dispor de uma entrada no Jardim da Parada, desconhecento-se até ao momento se a estátua da Maria da Fonte não deverá ser relocalizada.
A Presidência do Conselho, através do Despacho de 28 de Março, publicado em Diário do Governo nº. 74/1969, Série I de 28 de Março de 1969, determinou que os membros do Governo têm direito ao Hino da Maria da Fonte de acordo com o Regulamento de Continências e Honras Militares.
Maria da Fonte (ou Revolução do Minho) é o nome dado a uma revolta popular ocorrida na primavera de 1846 contra o governo cartista (designação que se deu em Portugal à tendência mais conservadora do liberalismo surgido após a revolução de 1820, centrada em torno da Carta Constitucional de 1826, outorgada por D. Pedro IV), presidido por António Bernardo da Costa Cabral. A revolta resultou das tensões sociais remanescentes das guerras liberais (guerra civil travada em Portugal entre liberais constitucionalistas e absolutistas sobre a sucessão real, que durou de 1828 a 1834), exacerbadas pelo grande descontentamento popular gerado pelas novas leis que se lhe seguiram de recrutamento militar, por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.
Iniciou-se na zona de Póvoa de Lanhoso (Minho) por uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a todo o norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada (que até ao início do século XIX constituiu o couto de Fonte Arcada, um lugar imune), que por isso ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta.
Maria da Fonte e os motins iniciais…
Depois de múltiplos incidentes e arruaças isoladas, ocorridos um pouco por todo o país, mas com maior relevo no norte, o gatilho da revolta será um acontecimento deveras banal: a morte, a 21 de Março de 1846, da idosa Custódia Teresa, habitante da freguesia de Fontarcada, dos arredores da Póvoa de Lanhoso.
Quando na manhã do dia seguinte, 22 de Março de 1846, um grupo de vizinhos, onde predominavam mulheres, decide proceder ao sepultamento da defunta na Igreja do Mosteiro de Fonte Arcada, sem autorização da Junta de Saúde e ao total arrepio das normas legais (lembre-se: era proibido realizar enterros dentro de igrejas), as autoridades decidem intervir, até porque aquele seria o segundo incidente do género naquele ano (a 20 de Janeiro, no enterro de José Joaquim Ribeiro, ali falecido).
No caso do sepultamento de Custódia Teresa, o povo não permitiu que o comissário de saúde viesse atestar o óbito, tendo-o espancado, nem os familiares aceitaram pagar a taxa de covato (taxa de funeral). O enterro terá sido mesmo feito sem acompanhamento religioso (o pároco recusou-se a participar no desacato, embora o povo alegasse que o fazia por razões religiosas, pois se o corpo fosse enterrado fora da igreja, noutro chão qualquer que não o do templo, o morto estaria desprotegido).
Talvez por considerarem menos provável que as autoridades agissem de forma violenta contra mulheres, parecem estas ter tido papel preponderante nos eventos e é às mulheres do lugar que se imputam as principais culpas. Esta imagem de liderança feminina também pode ter resultado da forma como o evento foi descrito pelas autoridades, que procuraram minimizar os incidentes atribuindo-os a grupos de beatas fanatizadas pelos apostólicos.
Perante os fatos, as autoridades resolveram prender as cabecilhas da revolta e proceder à exumação do cadáver e à sua sepultura no terreno destinado a cemitério. Para tal a 24 de Março dirigiram-se à freguesia, tendo sido recebidas à pedrada pela população armada com foices, tamancos e cajados. Sem poderem exumar o cadáver, procederam à prisão de quatro mulheres que foram consideradas cabecilhas dos incidentes dos dias anteriores: Joaquina Carneira, Maria Custódia Milagreta, Maria da Mota e Maria Vidas.
Quando a 27 de Março as presas iam ser ouvidas pelo juiz, os sinos tocaram a rebate, reunindo o povo, que marchou até à vila para arrombar com machados as portas da cadeia. À frente deste grupo, confiadas de que não se atreveriam a atirar sobre as mulheres, estavam algumas jovens, entre elas, vestida de vermelho, Maria Angelina, a irmã do sapateiro local, que terá sido a primeira a acometer à machadada a porta da cadeia.
Então, quando as autoridades procuravam identificar os rebeldes, a jovem Maria Angelina, que se distinguia das demais apenas por estar vestida de vermelho, foi colocada no topo da lista. Como os circunstantes se recusavam a identificar os amotinados, ficou registada simplesmente por Maria da Fonte Arcada, depois abreviado para Maria da Fonte.
Contudo, sobre esta matéria as opiniões divergem, já que nos anos imediatos muitas foram as Marias da Fonte que apareceram pelo norte de Portugal, reclamando, com maior ou menor justiça, a glória do nome. A identificação com Maria Angelina, que de fato foi processada e pronunciada nos tumultos da Póvoa de Lanhoso, parece a mais credível, já que o padre do lugar, Casimiro José Vieira, pertencia à corrente mais à esquerda do movimento liberal e viveu de perto os acontecimentos, deixando testemunhos nos seus Apontamentos para a História da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte. Outra explicação alternativa, dado o enquadramento social e político dos eventos, é a alcunha Maria da Fonte ser um epíteto desdenhoso, lançado pelos políticos contrários à revolução, para designar colectivamente as mulheres que, convenientemente para a versão minimizadora dos incidentes, pareciam liderar a contestação. Assim, em vez de uma Maria da Fonte, teríamos uma multidão de Marias. Depois, romantizado pela intelectualidade da época, a Maria da Fonte acabaria por transformada no epítome das virtudes guerreiras das mulheres do norte de Portugal, passando de defensora de ideias reaccionárias, materializadas em costumes atávicos, a genuína expressão do desejo de liberdade da alma popular. Afinal, é assim que nascem os mitos. Durante a Revolução da Maria da Fonte, Angelo Frondoni (músico, maestro, compositor, poeta e crítico de arte, de origem italiana que fez carreira em Portugal) compôs um hino popular que ficou conhecido pelo nome de Hino da Maria da Fonte ou Hino do Minho, música patriótica que teve larga divulgação e que chegou a ser aceite, pela generalidade da população portuguesa, nos últimos tempos da Monarquia, quase como hino nacional. Obra que respira entusiasmo belicoso e que por muito tempo foi o canto de guerra do Partido Progressista (um dos partidos históricos portugueses do rotativismo da Monarquia Constitucional de finais do século XIX, caracterizado pela alternância no poder dos dois grandes partidos políticos do centro-direita e centro-esquerda).
Ainda hoje, o Hino da Maria da Fonte continua a ser a música com que se saúdam os ministros portugueses, sendo utilizado em cerimónias cívicas e militares.
A Revolução da Maria da Fonte teve início na freguesia de Fontarcada na Primavera de 1846, e foi protagonizada por centenas de mulheres do concelho da Póvoa de Lanhoso, aproveitando o pretexto da contestação das “Leis da Saúde” para pôr em causa o exercício das novas autoridades liberais.
Rapidamente replicados os confrontos por todo o Minho, e por todo o país, a Revolução culminaria com a demissão do Governo da nação.
A Maria da Fonte – heroína / mulher – vai, ao longo dos anos, tornar-se no maior símbolo da luta por justiça e igualdade em Portugal, sendo-lhe erigida a primeira estátua em 1920, em Lisboa, na evocação do centenário da Revolução Liberal.
Na vila da Póvoa de Lanhoso, apesar de tentativas anteriores, apenas lhe é dedicada uma estátua em 1978, do escultor bracarense Jorge Ulisses.
Em 29 de maio de 2022 esta estátua é recolocada neste local, o dos primeiros confrontos que marcam o início da Revolução!