As Feiras Novas – festas concelhias de Ponte de Lima, celebradas em honra de Nossa Senhora das Dores – acabam de ser inscritas pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), aguardando publicação em Diário da República.
Enquadradas na categoria das festividades cíclicas, marcadas por um forte pendor religioso e cultural, as festas concelhias vão buscar as suas raízes à devoção a Nossa Senhora das Dores e ao apego à terra e às tradições, apresentando e mantendo um programa eclético que estabelece uma simbiose perfeita entre o ciclo da natureza e o calendário litúrgico.
O processo de registo da expressão cultural foi iniciado em 2016 pelo anterior executivo do Município de Ponte de Lima, em estreita colaboração com os principais elementos organizadores, encetando um rigoroso trabalho de investigação com vista à sua inventariação na plataforma MatrizPCI. Além do levantamento de toda a documentação existente, procedeu à recolha de testemunhos e ao desenvolvimento de trabalhos de campo para fundamentar e atestar a relevância das Feiras Novas, efetivando o pedido de inscrição em 2017.
Mais tarde, já com o atual executivo, dirigido pelo Eng.º Vasco Ferraz, e com a nova direção da Associação Concelhia das Feiras Novas, sob a alçada do Vereador Eng.º Gonçalo Rodrigues, o processo de inventariação foi alvo de aperfeiçoamentos para uma melhor sustentação da importância desta manifestação de fé fortemente associada ao mundo rural.
A decisão favorável da DGPC traduz-se no reconhecimento público da pertinência das Feiras Novas – assim designadas desde 1826, ano da autorização oficial por Provisão Régia da Chancelaria de D. Pedro IV que permitiu o alargamento da festa para três dias – enquanto reflexo da comunidade ponte-limense, espelhando a identidade de um povo arraigado na terra, na ruralidade e na devoção à Senhora das Dores.
O INPCI tem como principal missão a proteção legal dos bens culturais imateriais. Nesse sentido, ao concretizar a inscrição das Feiras Novas na plataforma MatrizPCI, o Município de Ponte de Lima, proponente do pedido de inventariação, em articulação com a Associação Concelhia das Feiras Novas – criada em 2001 e principal responsável pela sua dinamização – e com a Paróquia de Santa Maria do Anjos, deu mais um importante e significativo passo para a salvaguarda das suas festas concelhias, garantindo, desta forma, a sua projeção e fortalecendo a sua valorização.
Há três publicações anuais dedicadas às feiras que desde 1826 se realizam em Ponte de Lima associadas aos festejos a Nossa Senhora das Dores[1], todas de iniciativa estranha à organização das mesmas, a merecerem lugar na história da imprensa local.
Em 1926, ano de comemoração dos 100 anos das Feiras Novas, mas na realidade correspondendo aos 101 da sua efectivação, surgiu o O Arauto das Feiras Novas, iniciativa de Eduardo de Castro e Sousa. O último, que conhecemos, corresponde ao 13.º, foi editado em 1938, ano da inauguração, em Ponte de Lima, do monumento ao poeta António Feijó, a obter, na revista, o devido destaque:
“E Ponte de Lima, a terra natal do Poeta e de outros vates ilustres, consagra-o, com saudade, no monumento de iniciativa da nossa Municipalidade, ali erigido na Praça da República, belo desenho do arquitecto Paulo Carvalho Cunha, apreciável obra de granito, executada sob a direcção de José Manuel Lopes e seus operários da terra do insigne poeta António Feijó, e aonde assenta um admirável busto de bronze, trabalho do Mestre Teixeira Lopes (…) ”.
Em 1947, o recentemente regressado Augusto de Castro e Sousa, que em Lisboa vivera vários anos, segue o exemplo de seu pai, troca a palavra arauto, e dá à estampa o O Anunciador das Feiras Novas. Este primeiro anunciador, que o responsável em carta a Alberto do Vale Loureiro afirma lhe ter infligido “penosos sofrimentos”, teve vida curta. Termina no número 2, em 1948 e, curiosamente, disso já não se recordava Augusto de Castro e Sousa, em 1984, na epístola a Alberto do Vale Loureiro, narrando ter saído “um único número”, esquecendo que, em 1948, tinha escrito no seu anunciador, por exemplo e referindo-se às Feiras Novas: «as tocatas – e são às centenas as que vêm à festa – ferem o espaço e oferecem aos nossos distintos hóspedes tudo quanto somos de simples e de bons.»
E por ser simples e bom, genuíno, Alberto do Vale Loureiro, confessadamente um homem gostando “das coisas que falam, mexem, fazem progredir e elevar Ponte de Lima”, decidiu retomar o O Anunciador das Feiras Novas, gesto de estima pelo seu Mestre de Artes Gráficas, Augusto de Castro e Sousa, pois outro título, se a vaidade se sobrepusesse ao coração, não lhe estava interdito.
(Re)surge desta forma, a partir de 1984, o O Anunciador das Feiras Novas, em II Série, afectiva, generosa, que, fruto dos tempos e da possibilidade dos homens, apresenta um cunho histórico e cultural predominante, aflorados nas modestas publicações anteriores
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[1] - Existe, por vezes, alguma confusão quanto às feiras (novas) e à festividade. De facto, as feiras, três dias, autorizadas pela Chancelaria de D. Pedro IV, por Provisão de 5 de Maio de 1826, e interpretando livremente extracto da referida provisão, foram solicitadas para se conservar o culto a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem, para promoção da piedade cristã, tinha sido colocada na Igreja Matriz da vila de Ponte e Lima e era festejada no mês de Setembro. Assim, antes das feiras (novas) já existiam, em Ponte de Lima e na sua Igreja Matriz, festejos a Nossa Senhora das Dores, cujo retábulo remonta a 1729.
Fontes:
- Loureiro, Alberto do Vale, 25 anos, Em segunda série, O Anunciador das Feiras Novas, 2008.
- Loureiro, José Carlos de Magalhães Loureiro, Índice da Revista “O Anunciador das Feiras Novas” (1984-2013), O Anunciador das Feiras Novas, 2013.
- O Anunciador das Feiras Novas, Ano II – Setembro de 1948, N.º 2.
- O Arauto das Feiras Novas, Ano 13.º, 1938.
- Vieira, Amândio de Sousa, Feiras Novas, 1826-2006, Foto Lethes, Ponte de Lima, 2006.
- Vieira, José Sousa, As Feiras Novas em Revista, Limiana – Revista de Informação, Cultura e Turismo, Ano II, N.º 10, Dezembro de 2008.
- Vieira, José Sousa, A Imprensa das Feiras Novas, O Anunciador das Feiras Novas, 2007.
O boi barrosão – também conhecido por pisco – é um animal possante que facilmente se distingue pela sua enorme barbela e grandes hastes, chegando a pesar com frequência mais de quatrocentos quilos. Em virtude de ter sido durante muito tempo empregue nos trabalhos da lavoura, veio a tornar-se num dos cartazes emblemáticos da região de Entre-o-Douro-e-Minho, sendo a sua carne muito apreciada por se alimentar sobretudo dos pastos nos lameiros do Soajo e do vale do Lima.
O folclore animou ontem as Feiras Novas. Desde as atuações em palco aos desfiles pelas ruas da vila. Hoje é o último dia das grandiosas festas que decorrem com o seguinte programa:
08h00 - SALVA DE MORTEIROS
09h00 - CONCERTOS BANDAS DE MÚSICA
LARGO DE CAMÕES (DURANTE TODO O DIA)
Banda de Música da Casa do Povo de Moreira do Lima (Ponte de Lima)
Banda Musical de São Martinho de Gandra (Ponte de Lima)
10h30 - MISSA SOLENE COM SERMÃO EM HONRA DE NOSSA SENHORA DAS DORES
IGREJA MATRIZ
Presente junto da Cruz, Maria vive e sente os sofrimentos de seu Filho.
16h00 - VÉSPERAS SOLENES
IGREJA MATRIZ
16h30 - PROCISSÃO EM HONRA DE NOSSA SENHORA DAS DORES
CENTRO HISTÓRICO
Para além do carácter profano da Festa é a parte religiosa que a sustenta na sua origem. Assim, as festas das Feiras Novas têm uma forte componente de religiosidade que marcam o seu ponto alto com a procissão realizada neste dia e que constitui uma forma singular de praticar o culto. Afluem a este ato milhares de pessoas, dando praticamente por encerradas as atividades das Festas.
19h00 - DESPEDIDA DAS BANDAS
LARGO DE CAMÕES
22h00 - ÚLTIMA NOITE DE FESTA – NOITE DE BAILE VERBENA – “FUNÇÃO PÚBLIKA”
No melhor da sua interpretação musical, despertará os inevitáveis movimentos de dança ao ritmo da música, culminado a festa, alta madrugada.
A foto é da autoria de José Maria Barroso Coelho e mostra a Ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, levada pelo entusiasmo de quem vive as Feiras Novas de Ponte de Lima.
Esta foto é da autoria de Dina Morais e acaba de ser premiada em dois sites na internet. Refere-se ao grupo Bombos Amigos d’Areia, de Darque, concelho de Viana do Castelo.
Os gigantones, rodeados de cabeçudos, constituem uma característa da cultura tradicional minhota, das suas lendas e etnografia. Os contos tradicionais nórdicos incluem muitas referências à existência de gigantes como sucede nas “Crónicas de Nárquia” de C.S.Lewis ou os mais popularizados como o “João pé de feijão” popularizada por Joseph Jacobs.
O gigantone – outrora também designada por Armazonas – é um boneco com figura humana que pode atingir 4 metros de altura, com presença obrigatória nas festas e romarias do Minho.
Com cabeça produzida a partir de pasta de papel, o “boneco” é manuseado por alguém que se abriga no seu interior e acompanha o ritmo dos bombos com uma desajeitada coreografia.
Em regra, aparecem agrupados em casais, acompanhados pelos cabeçudos que possuem o tamanho normal de uma pessoa.
A tradição dos gigantones e cabeçudos constituem uma das manifestações mais genuínas do imaginário popular digna de integrar a lista do nosso património cultural imaterial.
Concurso pecuário, cortejo etnográfico com a participação de 25 Juntas de Freguesias numa mostra de usos, costumes e tradições das freguesias, concertinas, bombos, gigantones e fogo de artifício fazem o grande dia da romaria das Feiras Novas, o autêntico congresso vivo da cultura popular.
Remonta a milhares de anos Antes de Cristo a descoberta na China do fogo-de-artifício. Foram, porém, os gregos e os árabes que trouxeram para a Europa e, nomeadamente para a Península Ibérica o conhecimento desta arte. Inicialmente ligada nas culturas orientais à celebração de rituais de exorcização dos maus espíritos e, entre os povos árabes e islamizados, a práticas alquimistas, a pirotecnia encontra-se presentemente associada a ocasiões festivas e outras manifestações caraterizadas por momentos de alegria e felicidade dos povos ou das comunidades.
Constituindo o Minho uma região particularmente festiva e marcada pela exuberância das suas festas e romarias, bem definidoras do caráter alegre e jovial das suas gentes, o espetáculo do fogo-de-artifício tornou-se bastante apreciado ao ponto de não haver cidade ou aldeia, por mais recôndita e insignificante que seja, que não possua a sua demonstração por ocasião da festa à padroeira e ainda, no período pascal, a acompanhar o compasso ou visita pascal.
Este fascínio do minhoto pelo espetáculo de luz e cor que o fogo-de-artifício proporciona e que, aliás, se manifesta de igual modo no traje, no artesanato, nas decorações das romarias, enfim, em muitas formas na maneira de viver do minhoto, levou-o ainda a tornar-se um exímio pirotécnico e dominar as suas técnicas de produção, ao ponto de se encontrarem aqui os melhores artistas e industriais de fogo-de-artifício – e a pirotecnia do Minho encontrar-se atualmente entre as mais reconhecidas do mundo!