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A Rusga de São Vicente de Braga - Grupo Etnográfico do Baixo Minho e a Santa Casa da Misericórdia de Braga, levam a efeito a 3ª edição das "Conferências Rusgueiras - Arco Cultural/25" e o lançamento do livro "Nichos de Alminhas do Concelho de Braga", a levar a efeito no dia 05, sábado, de abril, no Palácio do Raio, sito na Rua do Raio, nº 400, em Braga.
As "Confêrencias Rusgueiras" têm início às 09h30, com pausa para o almoço das 12h30 às 14h30. Findos os trabalhos, às 17h15, temos o lançamento do livro, sendo a apresentação da responsabilidade de Luís Fontes.
Caso esteja interessado em participar, inscreva-se aqui!: https://forms.gle/yd9hBeF9wvpvVMf47
Link das "Conferências Rusgueiras - Arco Cultural/25": https://conferenciasrusgueiras2025.webnode.page/
Comissão de Honra
Município de Braga
Ricardo Rio
Universidade do Minho
Rui Vieira de Castro
Universidade Católica Portuguesa | Braga
Paulo Dias
Arquidiocese de Braga
José Cordeiro
Comando Distrital da PSP de Braga
Henriques Almeida
Regimento de Cavalaria Nº 6 de Braga
José Pedro Mataloto
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N)
António Cunha
Fundação INATEL
José Costa Soares
Tema da 3ª edição das 'Conferências': "Entre a vida e a morte - Crença, culto(s) e assistência."
Conferencistas:
Aida Reis da Mata (Rusga de S. Vicente de Braga - GEBM)
Clara Saraiva (Instituto de Ciências Sociais - Universidade de Lisboa)
José Alberto Sardinha (Investigador, etnomusicólogo)
José Carlos Miranda (Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa - Braga)
José Cordeiro (Arcebispo da Arquidiocese de Braga)
Marta Lobo (Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho)
Norberto Tiago Ferraz (Investigador)
P'la Direção
O Presidente
José Pinto
Póvoa de Lanhoso leva a efeito no próximo dia 29 de março a Comemoração dos 160 anos do Professor Gonçalo Sampaio, iniciativa que terá lugar no Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos, de acordo com o seguinte programa:
10h30 – Sessão de Abertura
Boas-vindas e introdução ao evento
Breve apresentação sobre a vida e o legado do Professor Gonçalo Sampaio
10h45 – Atuação do Grupo de Cantares do Cancioneiro Minhoto
Interpretação de temas tradicionais minhotos em homenagem ao Professor
11h00 – Participação dos alunos do Agrupamento Gonçalo Sampaio
Atividade de germinação de 160 novos carvalhos
11h50 – Plantação da Árvore Comemorativa
Gesto simbólico para assinalar os 160 anos do homenageado
12h15 – Lanche de Confraternização
Corte e partilha do bolo de aniversário
12h45 – Encerramento do evento
Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio (Póvoa de Lanhoso, Calvos, São Gens, 29 de Março de 1865 — Porto, 27 de Julho de 1937), mais conhecido por Gonçalo Sampaio, foi um naturalista que se notabilizou na área da botânica.
Professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), dedicou-se ao estudo dos líquenes e das plantas vasculares portuguesas, demonstrando na sua obra uma marcada preocupação com a nomenclatura botânica, apresentando alguns princípios divergentes dos seguidos no Código Internacional de Nomenclatura Botânica, ideias que defendeu acerrimamente.
Como investigador notabilizou-se sobretudo como sistemata e nomenclaturista distinto, particularmente na flora de plantas vasculares e de líquenes. Também foi estudioso da música popular e do folclore, publicou um Cancioneiro Minhoto com cerca de duzentas canções tradicionais.
Nasceu no povoado de São Gens de Calvos, no concelho da Póvoa de Lanhoso. Depois de frequentar o Liceu de Braga, inscreveu-se em 1885 na Escola Normal do Porto, com o objectivo de se tornar professor primário. Contudo, pouco depois abandonou os estudos e regressou ao Liceu de Braga para concluir os estudos secundários e preparatórios. Matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, mas abandonou os estudos sem concluir o curso.
Em 1891 matriculou-se na Academia Politécnica do Porto, frequentando as cadeiras de Química Mineral, Botânica e Zoologia, mas também nesta escola interrompeu os estudos sem concluir o curso. Enquanto estudante na Academia Politécnica interessou-se pela botânica, revelando excepcionais aptidões para o estudo das plantas que demonstrou ao organizar um herbário a pedido do seu professor de botânica, o lente Manuel Amândio Gonçalves.
Apesar de ter abandonado os estudos, dedicou-se ao estudo da botânica e à herborização, publicando em 1895 o seu primeiro trabalho científico, a que deu o título de Flora Vascular Portugueza. Quadro dichotomico para a determinação das famílias, uma obra de grande interesse para o trabalho de campo.
A partir de 1901 começou a trabalhar na Academia Politécnica do Porto como naturalista adjunto da cadeira de Botânica. Apesar de não ser diplomado, no ano seguinte foi encarregue da direcção dos trabalhos práticos da cadeira, trabalhando como assistente de Manuel Amândio Gonçalves. Pelo mesmo decreto foram igualmente nomeados Augusto Nobre e Rocha Peixoto.
Em 1904 publicou a obra Rubus Portugueses, uma revisão do género Rubus em Portugal que o estabelece como um dos grandes sistematas botânicos do início do século XX. A obra resulta da compilação e aprofundamento dos trabalhos que ente 1902 e 1904 publicara em várias revistas sobre os Rubus portugueses. No obra são propostas diversas novas espécies para a ciência e feitas importantes contribuições para a sistemática daquele que é um dos mais complexos géneros das rosáceas.
No prosseguimento do seu trabalho de investigação, dedica-se à elaboração de uma flora de Portugal, publicando entre 1909 e 1914, em fascículos, uma obra que intitulou Manual da Flora Portuguesa (1909-1914), Apesar de não ser uma flora completa, faltando-lhe algumas famílias de plantas vasculares, foi uma obra fundamental para o conhecimento da flora portuguesa e a mais importante publicada em vida por Gonçalo Sampaio.[2] Apesar de diferenças substanciais em escopo e organização, a obra foi considerada como a primeira edição da Flora de Portugal, obra que apenas seria publicada postumamente e com a indicação de "2.ª edição".
Quando em 1910 o Professor Amândio Gonçalves adoeceu gravemente, coube a Gonçalo Sampaio assumir a regência da cadeira de Botânica, mas essa experiência foi interrompida pela implantação da República Portuguesa, a 5 de Outubro daquele ano, já que sendo um monárquico convicto e apoiante público de João Franco foi forçado a exilar-se na Galiza. O exílio foi curto, regressando a Portugal no ano imediato e retomando as suas funções.
Em 1912 foi nomeado professor de Botânica da recém-criada Faculdade de Ciências da novel Universidade do Porto, passando em 1913 a director do Gabinete de Botânica.
O seu envolvimento político manteve-se: após o assassinato de Sidónio Pais a 14 de Dezembro de 1918, apoiou a efémera Monarquia do Norte, que sob o comando de Henrique Mitchell de Paiva Couceiro governou o Porto em Janeiro e Fevereiro de 1919. Quando o movimento colapsou e o regime republicano retomou o controlo da cidade, Gonçalo Sampaio foi detido e acusado de apoiado a organização do Batalhão Académico do Porto. Ficou preso no Aljube durante vários meses, escrevendo, ou pelo menos concluindo, uma obra a que deu título de Epítome da Flora Portuguesa. Trata-se de uma flora abreviada para uso no ensino da botânica sistemática, que não chegou a publicar,[2] mas que foi usado na sua actividade docente.
Retomou no ano seguinte a sua actividade académica, distinguindo-se como um docente com exposição clara e precisa, que utilizava técnicas modernas nas suas aulas práticas. Introduziu no ensino português as técnicas histológicas do estudo da Botânica, ensinamentos que aprendera no estrangeiro, e teve um importante papel no desenvolvimento do ensino e da investigação e na estruturação da disciplina na fase de transição entre a Academia Politécnica e a Faculdade de Ciências.
Em 1935, quando o Gabinete de Botânica foi elevado à categoria de instituto de investigação científica passou a ser designado por Instituto de Botânica «Dr. Gonçalo Sampaio», em homenagem ao seu labor no ano em que abandonou a docência universitária.
Ao longo da sua carreira descreveu cerca de 50 novas espécies de plantas vasculares, salientando-se a sua monografia dos Rubus portugueses. Organizou um herbário notável, um dos mais completos no que respeita a espécies que ocorrem em Portugal. Outra das suas áreas de excelência foi a liquenologia, tendo publicado um catálogo dos líquenes de Portugal, com referência a várias centenas de espécies. Neste último campo, publicou, em associação com o botânico espanhol Luis Crespí Jaume, um importante estudo da flora liquenológica da Galiza e organizou uma exsiccata dos líquenes portugueses da qual resultou a descrição de cerca de 70 novas espécies para a ciência e a criação do género Carlosia. No contexto do seu trabalho sobre líquenes também se dedicou ao estudo das desmídias, um grupo de algas microscópicas, entre as quais identificou cinco novas espécies.
Apesar do papel periférico da ciência portuguesa, Gonçalo Sampaio manteve uma importante actividade no esforço que no início do século XX procurava a internacionalização da ciência e, no campo da sistemática, o estabelecimento de regras internacionais unificadores. Participou activamente no estabelecimento em diversos debates no campo da sistemática e da nomenclatura botânica, com destaque para o Congresso Luso-Espanhol do Porto, realizado em 1921 sob a égide da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências e da sua congénere espanhola. Na conferência que ali proferiu propôs às regras da nomenclatura botânica que haviam sido estabelecidas no Congresso de Viena (1905). No âmbito desse esforço, manteve contacto com botânicos proeminentes, portugueses e estrangeiros, com destaque para Júlio Henriques e António Xavier Pereira Coutinho, com os quais colaborou no estudo da flora portuguesa. Outro colaborador próximo foi o micologista espanhol Romualdo González Fragoso, que dedicou a Gonçalo Sampaio o género Sampaioa Gonz. Frag. (1923), tendo Sampaioa pinastri Gonz. Frag. (1923) como espécie tipo. Sampaio retribuiu dedicando a Fragoso duas espécies novas de líquenes: Chiodecton fragasoi e Leciographa fragasoi.
Quando faleceu em Julho de 1937, aos 72 anos de idade, Gonçalo Sampaio deixou dois manuscritos de uma nova flora vascular de Portugal, nos quais faltavam apenas algumas famílias. Esses manuscritos, e as obras anteriores de Sampaio, com destaque para o Manual da Flora Portuguesa (1909-1914), permitiram a edição póstuma de uma flora vascular de Portugal, aparecida em 1946 com o título de Flora Portuguesa. A publicação foi dirigida por Américo Pires de Lima e custeada pelo Instituto para a Alta Cultura, sendo apresentada como a 2.ª edição da obra de 1914, embora completamente diferente em abrangência, incluindo diversas figuras destinadas à identificação dos espécimenes. Mais que uma reedição, a obra é uma síntese do Manual da Flora Portuguesa de 1914 e de diversos manuscritos posteriores não-publicados, sendo as descrições dos géneros Calendula a Hieracium, da família Asteraceae, elaborados por Arnaldo Rozeira, que também ordenou o índice dos nomes específicos e da sinonímia.
Para além da sua actividade científica, Sampaio foi um estudioso musical, com destaque para a Música Regional Portuguesa. Foi músico amador, tendo o violino como seu instrumento predilecto, que estudou como autodidacta. Também foi folclorista, publicando um Cancioneiro Minhoto com cerca de 200 canções tradicionais do noroeste de Portugal.
Gonçalo Sampaio teve um importantíssimo papel na etnografia do Baixo Minho, nomeadamente na recolha de danças e cantares tradicionais desta zona do país. Em 1936 cumpriu um sonho que há muito acalentava, a criação de um grupo folclórico. Este grupo, inicialmente denominado de Grupo Regional do Minho, teve a sua primeira actuação pública em 24 de Junho de 1936, por ocasião das festas de São João de Braga.
Como em todos os aspectos da sua vida, também neste projecto foi extremamente exigente, procurando recolher e divulgar as tradições, sempre fiéis à sua origem. Após muita insistência, em 8 de Dezembro de 1936, Dr. Gonçalo Sampaio cede o seu nome ao Grupo, na condição de se manter sempre a inteira fidelidade às tradições populares, para não ter um dia que se levantar da campa e vir cá retirar o seu nome ao Grupo. Na sequência dessa iniciativa nasceu o "Grupo Folclórico Dr. Gonçalo Sampaio", em Braga, que com mais de 76 anos de história, com uma discografia vasta e um historial de sucessos, continua até hoje a manter vivo o legado do seu patrono.
Em 1952 foi criado o "Conjunto de Cavaquinhos Dr. Gonçalo Sampaio", sendo um dos mais antigos em actividade até aos dias de hoje.
Fonte: Wikipédia
Sob uma forma mais ou menos cristianizada, os povos modernos preservam tradições cujas origens pagãs atestam a sua antiguidade. São disso exemplo as festas equinociais que anunciam a chegada da Primavera como sucede com o Entrudo e a Páscoa, as fogueiras de São João que celebram o solstício do Verão e ainda as saturnais romanas que foram substituídas pela quadra natalícia. De igual modo, também a Serração da Velha continua a ser celebrada, ainda que por vezes sob a forma cristianizada da "Queima do Judas".
Através do rito, o ser humano participa na ação criadora dos deuses. Através da Serração da Velha - ritual que invariavelmente tem lugar na quarta-feira da terceira semana da Quaresma - mais não se pretende do que celebrar o renascimento da Natureza e a expulsão dos demónios do Inverno, nomeadamente através de manifestações ruidosas como a utilização de sarroncas, zaquelitraques e outros instrumentos musicais. Ao invés do cristianismo, a crença antiga unia a vida à morte num ciclo de perpetuo renascimento, tal como ao inverno sucede a Primavera. O cristianismo haveria de fazer coincidir a Ressurreição do Senhor com a celebração da Primavera, tal como à data em que ocorriam as saturnais romanas e entre os povos mais antigos tinham lugar os cultos de adoração ao Sol foi atribuído o nascimento de Jesus, sem que no entanto exista qualquer comprovação bíblica.
Nesta quadra, o ovo pascal assume um particular significado por aquilo que simboliza. Tal como o coelho, o ovo representa a fertilidade e o nascimento de uma vida, razão pela qual ele aparece com frequência nos tradicionais folares ou sob a forma de chocolate. Ainda atualmente, é habitual os camponeses da Alemanha enterrarem ovos nos solos agrícolas convencidos de que tal rito é propiciador à fertilidade dos campos. É que os rituais antigos se encontram intimamente ligados ao ciclo de vida dos vegetais.
Apesar de tratarem-se de diferentes versões de uma mesma celebração, os ritos da Serração da Velha e da Queima do Judas apresentam extraordinárias semelhanças, a mais importante das quais constitui a leitura do respetivo testamento que, em ambos os casos, é invariavelmente utilizado como arma de crítica social aceite por todos. Localidades existem em que esta função se apresenta sob a forma e designação de "pulhas". Tal como o jejum observado por cristãos durante a Quaresma e pelos muçulmanos no Ramadão pretende purificar o corpo e a alma do indivíduo, a crítica subjacente ao "Testamento" lido na Queima do Judas ou na Serração da Velha procura corrigir certos defeitos conhecidos entre a comunidade.
Francisco José Torres Sampaio (Barcelos, 7 de Junho de 1937 - 31 de dezembro de 2021), também conhecido como Senhor Turismo e Noivo do Minho, foi um professor português. Foi fundador e antigo presidente da Região de Turismo do Alto Minho, sendo considerado uma referência do turismo da região do Alto Minho, e uma das maiores figuras do turismo de Portugal.
Nasceu em Barcelos, a 7 de Junho de 1937, residindo em Afife durante a infância e juventude. Licenciou-se em Ciências Históricas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, obtendo uma pós-graduação em Programa de Direção de Empresas, pelo Instituto de Estudos Superiores da Empresa.
Exerceu funções docentes no ensino secundário, no Instituto Superior de Turismo e Empresas, tendo sido membro da Comissão Instaladora da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, onde foi professor e coordenador do curso superior de Turismo, assim como presidente do Conselho Pedagógico, entre 1993 e 2000.
Entre 1973 a 1979 presidiu à Junta de Turismo de Vila Praia de Âncora, no concelho de Caminha, onde residia.Participou no processo de constituição da Região de Turismo do Alto Minho, que presidiu de sde 1980 até se reformar, em 2009, defendendo a instalação da sede no Castelo Santiago da Barra, onde continua até hoje.
Foi fundador da Confraria dos Gastrónomos do Minho,[4] da qual foi juiz entre 1984 e 2012, tendo, neste âmbito, sido responsável pela organização de uma quinzena de Congressos de Gastronomia, assumindo a publicação de diversas obras no âmbito da Gastronomia e Vinhos, produto turístico reconhecido em 2007 em grande medida pelo trabalho que desenvolveu tanto como docente, como Presidente da Região de Turismo.
Ao longo de 40 anos foi responsável pelas Festas da Senhora da Agonia, nas quais se destacava como organizador do cortejo histórico etnográfico. Era tido como um dos maiores conhecedores das tradições da Romaria d'Agonia, tendo redigido a Declaração de Interesse para o Turismo da Romaria d'Agonia, aprovada em 2013. Desenvolveu um trabalho semelhante nas Festas da Senhora da Bonança, em Vila Praia de Âncora.
É autor de cerca de 50 livros sobre temas de caráter histórico, arqueológico, turístico, etnográfico e gastronómico, sendo também colaborador de várias publicações do Alto Minho e de centenas de pequenas publicações em jornais e revistas.
Morreu a 31 de dezembro de 2022, aos 84 anos. A Câmara Municipal de Viana do Castelo divulgou no mesmo dia um voto de pesar pela sua morte.
Em 1996, foi condecorado com a Medalha de Mérito Turístico – Grau Prata, da Secretaria de Estado do Turismo.
Em 2000, recebeu a Medalha de Ouro ao Mérito Turístico, do Comércio de Pontevedra 2000.
Em 2003, foi agraciado com a Medalha de Honra – Grau Prata, da Junta da Galiza, recebendo em 2004 o título de Cidadão de Mérito de Viana do Castelo pela Câmara Municipal da mesma cidade.
Em 2005, recebeu a Medalha de Mérito Turístico – Grau Ouro, da Secretaria de Estado de Turismo, e em 2007, a Medalha da Academia Portuguesa de Gastronomia.
Em junho de 2019, o Município de Viana do Castelo atribuiu o nome de Francisco Sampaio à galeria do piso 0 do Museu do Traje.
Em outubro de 2021, foi homenageado numa cerimónia que contou com a presença dos presidentes da Entidade de Turismo do Porto e Norte (ETPN), da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Durante a homenagem, foi atribuído o nome de Francisco Sampaio ao Centro de Congressos do Castelo Santiago da Barra, em Viana do Castelo.
Fonte: Wikipédia
Foi hoje inaugurado, na aldeia do Urjal, em Seramil, o Museu da Herança Rural: um espaço cheio de memórias que recria a casa e a vida familiar, a par com o trabalho rural, e que vai permitir ao visitante descobrir e sentir a vivência tradicional deste belo recanto do concelho.
O Museu pretende incentivar a transmissão e salvaguarda da memória coletiva local e a ideia é que esteja permanentemente aberto e aos fins de semana disponha de visitas guiadas.
Com um investimento de 200 mil euros, dos quais 80% através do PDR gerido pela ATAHCA, o espaço é composto por uma sala de domingo, um quarto de casal e de criança, um fumeiro, uma adega com alfaias agrícolas e uma zona de venda de produtos locais.
O Museu da Herança Rural foi inaugurado pelo Presidente do Município de Amares, Manuel Moreira, pelo Presidente da União de Freguesia de Vilela, Seramil e Paredes Secas, Rui Tomada, e o Presidente da ATAHCA, José Mota Alves.
Mulheres da seca do bacalhau em 1948, Gafanha da Nazaré. (Fotografia de Maria Lamas).
Tal como o nome indica, as “fafeiras” eram moças do concelho de Fafe que migravam sazonalmente para a Gafanha da Nazaré, a fim de trabalharem na seca do bacalhau. A sua presença naquela freguesia do concelho de Ílhavo deixou marcas indeléveis na cultura local, mormente no seu folclore. A esse respeito e acerca das suas lides e modos de vida, transcrevemos a crónica de Gaspar Albino que é divulgada pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.
FAFEIRAS – POR GASPAR ALBINO
Era às segundas-feiras. Logo pela manhã, dirigia-me aos correios de Aveiro em busca do sempre desejado telegrama com notícias de bordo do navio, nos mares da Terra Nova.
E era com sofreguidão que regressava ao Largo do Rossio, ao escritório da empresa, para abrir o cofre em busca da cifra que me permitia descodificar o seu conteúdo. Quase todo ele incompreensível para quem não tivesse a chave.
Ficava-se a saber do tempo que tinha feito, dos pesqueiros que o barco tinha frequentado, da saúde e da doença da tripulação, das avarias e, finalmente, a quantidade de bacalhau capturado na semana com aproximada definição dos tamanhos do peixe embarcado no porão.
Os momentos que se seguiam eram comandados pela informação que chegara: alegria pela fartura; tristeza, pela míngua. Às vezes, euforia pelas somas de bons parciais; outras, a tristeza e a dúvida que as brisas (ventos fortes, em linguagem marinheira) alimentavam de maus augúrios quanto ao resultado final da safra.
Tudo isto, entretanto, era guardado com um certo secretismo, conferindo ao ritual das segundas-feiras uma atmosfera singular que, hoje, decorridos que são tantos anos, ainda recordo com emoção.
A nova safra da pesca iniciava-se sempre ainda com o bacalhau da campanha anterior em mãos.
E era certo e sabido que ninguém me largava, ao sábado, quando me deslocava à seca na Gafanha para fazer o pagamento ao pessoal.
Começava pela ti Maria Rita (como a recordo no seu corpanzil de mulherona nos seus quarenta e tais anos que não passavam pela cara de menina que, no fundo, sempre foi) com o seu "então, que tal vamos de escama?"
E, depois, era o senhor Manuel Vareta, o carpinteiro, que, mal me pressentia, lá saltava do sobrado até ao pequeno escritório, onde eu me ia desfazendo dos envelopes das semanadas das mulheres. Os nossos olhares já continham, também eles, um código. As mais das vezes, nem trocávamos palavra sobre a pesca, mas o sorriso, ou o encolher de ombros com que ele ficava para o fim do pagamento ao pessoal, era a garantia da mensagem transmitida e bem compreendida.
Legenda da foto: Perspectiva aérea das secas da Cale da Vila com os seus estendais de peixe. Em primeiro plano a "Seca do Milena", hoje à espera de ser convertida em pólo do Museu Marítimo de Ílhavo.
O Zé Catarino, o ajudante de carpinteiro, nesta questão das capturas, vinha sempre também ajudar à missa e conforme a reacção do chefe, assim era o bulir da enchó que nunca largava.
A Fátima, a filha do guarda, o Ti Augusto, era mais afoita nos seus assumidos dezoito anos que o título de segunda encarregada não conseguia disfarçar.
E lá escorregava eu com a informação que mais tranquilizasse as fafeiras que, respondendo ao seu número na folha de férias, lá se chegavam ao postigo para receberem o soldo que guardavam, de pronto, no seio, por botão entreaberto da blusa.
É que da forma como estivesse a correr a viagem muito dependia o regresso às suas terras, lá para o Minho, para Fafe e seus arredores, onde as famílias as aguardavam para as vindimas e os namorados para aprazar casamento.
Ainda sou do tempo em que o sol mandava no trabalho das secas.
Desarreigadas da sua terra, das suas famílias, as fafeiras constituíam o grosso do pessoal que nelas trabalhava.
Na seca de Lavadores, na Barra, até dispunham dum dormitório. Mas a maior parte das moças que trabalhava nas secas da Cale da Vila vivia em grupos, em acomodações disseminadas pelo povoado, paredes meias com as famílias locais e com estas muito intimamente ligadas.
A forma como se instalavam e viviam na Gafanha, longe da sua terra, fazia com que se estabelecesse uma relação muito forte com a encarregada da sua seca.
É que, pelas décadas de 50 e de 60, também neste sector, havia uma grande fidelidade à empresa de pesca em que cada grupo trabalhava. Um grupo de jovens mulheres, quase todas solteiras e casadoiras, que se comportava de forma coesa, como se de uma irmandade se tratasse, e aceitando, de forma natural, a liderança de uma colega mais experimentada nestas andanças do trabalho nas secas.
Era com esta chefe pacificamente aceite que a encarregada tudo tratava.
Eu conto.
Mal se adivinhava o final da viagem, com o carregamento de peixe a propiciar o regresso do barco, a encarregada do secadouro, trabalhadora permanente, começava a preparar tudo para a nova safra. E lá telefonava para a chefe do grupo, lá para a sua aldeia fafense, para que o grupo se prevenisse. Os carpinteiros já andavam às voltas com as "lambretas" e os carros de mão que tinham de estar reconstruídos, afinados e lubrificados. Mas para cortar a relva, reparar as mesas de secagem, lavar e pintar com cal e metabissulfito de sódio os armazéns de peixe verde, de peixe em mãos, e de peixe seco, já era necessária a primeira leva de mulheres.
E logo que chegavam se ficava a saber quem tinha casado e, por isso, permanecia na sua terra. As neófitas já tinham metido a sua "cunha" para preencher as vagas no grupo.
Era vê-las com os seus ademanes minhotos, com o seu tagarelar exuberante, com o seu praguedo nortenho tão natural.
Sentia-se que a nova safreira vivia a sua deslocação para a Gafanha como se fosse para uma festa.
Festa que, pelo que lhes tinha sido contado pelas mais batidas, sabiam ser de não horários, de muito suor, de muito esforço, mas também de agradáveis sestas quando o tempo o permitia, tudo à mistura com os seus descantes minhotos que ritmavam tanto o trabalho como o descanso.
No dia da chegada do barco, tudo aparecia vestido como se fosse para romaria.
E as fafeiras misturavam-se com as famílias da tripulação, quase deixando transparecer a mesma ânsia de quem aguarda por longos meses o reencontro de entes queridos.
O "spring" era lançado para terra e o ti Vareta mais o Zé Catarino já sabiam que fazer. Nó hábil e rápido no moitão e o barco, lentamente, aproximava-se do trapicho.
Ao longo do cais, que o guarda-fiscal não deixava que se aproximassem, as fafeiras não perdiam pitada. Especialmente as "caloiras".
A encarregada, a Ti Maria Rita, essa já não era, ao fim de tantos anos de experiência, para essas andanças. Aguardava no seu tugúrio, a que pomposamente chamava de escritório, que o contra-mestre lá fosse combinar o início da descarga.
Quantas mulheres para o porão, quantas para o convés e ao trapicho, quantas aos carros, quantas para as pilhas, quem ficava à balança, enfim: o princípio do rodopio comandado pelo bacalhau, rei e senhor.
Não era trabalho fácil este, o da descarga.
Mas a verdade é que estas mulheres do coração do Minho revelavam um espírito de corpo, de inter-ajuda, verdadeiramente excepcional.
Um dia, logo nos princípios de responsável, verificou-se que o ritmo de descarga tinha abrandado.
E o contra-mestre, velho amigo, aconselhou-me que fosse ao porão, pois era lá que estava a causa.
Lá desci de gatas, que a altura até ao convés era pouca, e lá andavam elas a atirar o peixe para a dala estendida.
Vi que não dava para mais. Mas mesmo assim lá gritei: "Amiguinhas! Só vamos sair daqui quando estiverem pesados "tantos" quintais!"
E lá do escuro, bem do extremo do porão, uma voz que nunca identifiquei saiu-se com esta que nunca mais esqueci:
"Ai o estupor do homem! Se nos chama a nós de amigas, que há-de chamar à mulher?".
Para não me verem rir, corri a subir para o convés, deixando-as no seu ritmo marcado pelas suas cantigas.
Não sei como, mas a verdade é que à hora prevista, da balança vieram-me dizer que os quintais previstos para o dia de descarga tinham sido ultrapassados.
Ainda havia peixe no porão e já se começava a lavar nas pias.
Os tempos eram de dinheiro magro e havia que começar a secar, para se começar a realizar fundos.
E apesar de o trabalho, por vezes, se iniciar às seis da manhã, a verdade é que, se o tempo o justificava, se fazia serão, a lavar nos tanques, a separar e a enfardar, por noite dentro.
O espírito da "fafeira" era esse mesmo.
O que interessava era juntar o melhor pé-de-meia possível no decurso da safra para o enxoval que todas sonhavam rico de promessas de casório futuro.
Safra que não rendesse mais um cordão de ouro não era safra nem era nada.
As horas extra eram sempre desejadas e o castigo do corpo – diziam elas – afastava vícios.
Para moças que sempre tinham vivido o campo, era de espantar como, num ápice, se adaptavam ao novo meio, às novas gentes, às novas práticas do seu trabalho.
As expressões mais cerradas do seu novo oficio eram aprendidas e usadas como de nascença.
O "tratamento" do bacalhau "seleco", que aparecia sempre que os cascos de madeira dos barcos deixavam entrar água no porão e o seu esgoto se não fazia convenientemente, para elas era canja. O lavar e salgar de novo afastava os fumos de cheiros doentios e o bacalhau ressuscitava nas mesas, como se nada se tivesse passado.
Fazer a cosmética ao "rouge" e ao "empoado" para elas era brinquedo. Pincel na mão, peixe na mesa, caldo de metabissulfito e lá se ia o vermelho ao fim de algumas horas de sol.
Escova bem esfregada na carne do bacalhau e lá desaparecia o acastanhado do pó que atirava para sortido de segunda o peixe mais especial, o grado.
Fadas de milagres, estas fafeiras.
Sentia-se que o bacalhau era a sua razão de ser e que a seca era a sua casa. O convívio que se estabelecia no trabalho era encarado como sucedâneo da família que se tinha deixado lá para o norte.
Durante todo o santo dia cantavam. Normalmente, era quando se lavava peixe que as cantigas brilhavam mais.
À solista, que sempre havia, respondia o coro. Canções de trabalho do Minho, próprias do amanho dos campos, mas que a inventiva adaptava às tarefas da seca.
E à merenda, quando se sabia que o peixe só seria recolhido lá mais para tarde, às cantigas juntava-se o bailarico dumas com outras.
Era certo e sabido. Ao fim de pouco tempo, as que não tinham deixado namoro na terra arranjavam derriço gafanhão.
E era vê-los, aos moços, ao portão, à hora do despegar, à espera da fafeira apetecida, namorada de outras falas, de outros lados.
Quando se desenhava o fim da safra, todo o mundo começava a sonhar com a festa: era o jantar da seca, para algumas com a presença do namorado e o bailarico que entrava pela noite dentro.
E depois era a despedida até que houvesse notícia de novo carregamento a chegar ao cais.
Mas quantas daquelas moças não ficaram por cá, enriquecendo, com os seus costumes, a sua cozinha, os seus cantares, as suas danças, os hábitos das nossas Gafanhas?
A conclusões bem seguras nesta matéria já terá chegado, de há muito, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré no seu cuidadoso levantamento das riquezas culturais da sua terra.
E por certo que só esta interpenetração de danças e cantares do Minho – mais precisamente da região de Fafe – daria para um trabalho de grande fôlego etnográfico.
Haja quem o queira fazer.
A todos nos enriqueceria.
Fonte: Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré
Exposição, patente ao público no Museu Monção & Memórias, até 18 de janeiro, pretende revisitar a história do ROCONORTE, o mítico Rancho Folclórico de Monção.
A sala de exposições temporárias do Museu Monção & Memórias, recebe, até 18 de janeiro, a exposição “Roconorte – Rancho Folclórico de Monção”. A abertura ao público teve lugar no passado dia 19 de setembro, quinta-feira, contando com a presença de alguns elementos daquele rancho folclórico.
No ato inaugural, João Oliveira, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Monção, destacou a importância desta exposição para a preservação da memória de um grupo folclórico que marcou diferentes gerações de monçanenses, entre as décadas de 30 e de 60, do século XX. Agradeceu a todas as pessoas que contribuíram para a exposição, através da cedência de imagens, objetos e adereços.
Antes do brinde, em nome da defesa e promoção cultural do nosso território, João Oliveira, deixou um convite a todos os monçanenses para visitarem a exposição, um valioso legado histórico/etnográfico da nossa gente e um testemunho memorável da identidade coletiva da nossa terra.
Além dos trajes feminino e masculino, a mostra conta, ainda, com a última bandeira deste rancho folclórico, adornada com as fitas de estandarte e enriquecida com textos da autoria de Fernando Prego (retirados do livro: “Folclore em Terras de Deu-La-Deu”), os quais contam e cantam a vasta história do ROCONORTE.
Neste universo de apego e valorização cultural da nossa terra, destaca-se, igualmente, a projeção de um vídeo da atuação deste grupo no Cine Teatro João Verde, em 1988, na altura integrada num espetáculo apresentado pela Orquestra Lá Mi Ré.
Os grupos folclóricos, de ontem e de hoje, constituem a garantia da preservação etnográfica e da transmissão das tradições entre gerações. Os usos e costumes, as expressões orais, os pormenores do trajar, da dança e dos cantares, fazem parte de uma recolha etnográfica que marcam as tradições de um povo.
É de origem remota o costume das comunidades piscatórias pintarem ou gravarem siglas ou marcas nas suas embarcações e outros apetrechos de pesca. Alguns estudiosos identificam-nas com as runas germânicas e de outros povos nórdicos, indo ao encontro das origens visigóticas das gentes do Minho.
São famosas as siglas dos pescadores poveiros – refira-se Póvoa de Varzim – que para além do seu valor patrimonial passou a constituir um elemento de promoção turística. Porém, tal tradição é comum a outras comunidades piscatórias do Minho como sucede no concelho de Esposende.
Nas horas de ócio quando as havia, o pescador entretinha-se com a sua navalha a sulcar as cortiças das redes e outros aprestos para identificar a sua pertença, não podendo confundir-se com as utilizadas por outros membros da comunidade. Nas embarcações e nos antigos palheiros – barracos ou cabanas – eram naturalmente pintadas. Regra geral, o significado das siglas era desconhecido fora da comunidade.
As siglas dos pescadores fazem parte do nosso património cultural e constituem uma componente da etnografia do litoral minhoto.
Acabou a festa, ficam as saudades. Ninguém fica indiferente a este folguedo bem minhoto, muito ao jeito das gentes limianas. Ponte de Lima recebeu visitantes do país inteiro. E dos irmãos da Galiza. O Cortejo Etnográfico é, juntamente com o de Viana do Castelo, o maior e mais grandioso que se realiza em Portugal. A sua fama é cada vez maior e ultrapassa fronteiras. Para o ano que vem cá estaremos, se Deus quiser!
Milhares de pessoas afluíram ontem a Ponte de Lima para assistir e participar no Cortejo Histórico das Feiras Novas, um autêntico museu vivo das atividades, costumes e tradições das freguesias limianas. O esplendor da etnografia do Alto Minho.
O Cortejo Etnográfico contou com a participação de 26 juntas de Freguesia numa mostra de usos, costumes e tradições das nossas gentes onde não faltaram as concertinas, bombos e gigantones, num autêntico congresso vivo da cultura popular.
Lembramos que o início das Feiras Novas coincidiu com a data em que assinala o aparecimento pela primeira vez em Portugal, há 132 anos, de um grupo folclórico, precisamente em Ponte de Lima.
Com efeito, data de 4 de setembro de 1892, a mais antiga referência escrita acerca da existência de um grupo de folclore em Portugal. Trata-se de um artigo com ilustração de Sebastião de Sousa Sanhudo, publicado no jornal humorístico “O Sorvete”, nº 123, dando conta da deslocação à cidade do Porto de “Grupo de Lavradeiras de Ponte de Lima”. Este é o dia histórico do folclore português que deverá ser celebrado nas Feiras Novas em Ponte de Lima.
O Cortejo Histórico das Feiras Novas é a melhor manifestação popular a evocar o folclore e a etnografia minhota.
Quem nunca se emocionou com as histórias e maravilhou com os quadros pitorescos do mundo rural e as situações hilariantes criados pela cinematografia portuguesa dos anos trinta e quarenta do século passado é porque jamais teve a oportunidade de assistir à exibição da “Aldeia da Roupa Branca” de Chianca de Garcia ou “Ala Arriba!” de Leitão de Barros. Apesar da idade e ainda das características da imagem e som produzidos, muitas das fitas do velho cinema português continuam a manter o sucesso entre o público que gosta sempre de recordar antigos êxitos e conserva a memória as deixas engraçadas e os graciosos temas musicais que constituíram a sua banda sonora.
No domínio cinematográfico, os anos trinta e sobretudo a década seguinte ficaram assinalados por uma certa preferência pelos temas relacionados com aspectos da vida rural e piscatória, do folclore e das tradições populares. São ainda desta época, para além dos já mencionados, os filmes “Gado Bravo” de António Lopes Ribeiro, “As Pupilas do Senhor Reitor” de Heinrich Gärtner, “Maria Papoila” de Leitão de Barros e “A Canção da Terra” de Jorge Brum do Canto. No entanto, o recurso a argumentos de alguma forma relacionados com o folclore remonta ao cinema mudo com “Rosa do Adro”, “Mulheres da Beira”, “Tempestades da Vida” e “Campinos” que foi a última longa-metragem do cinema mudo português. Também a registar as curtas-metragens desta época, constituídas por reportagens e documentários, como “Santo da Serra”, “Reconstituição de Aspectos da Vida Madeirense” e “Revelação de Costumes Populares” produzidas pela Empresa Cinegráfica Atlântida e “A Serra da Estrela” de Raul de Caldevilla.
Em 1929, Leitão de Barros produz o comentário “Nazaré, Praia de Pescadores”, produção que marca o começo entre nós da antropologia visual, seguindo-se, neste domínio, “Douro, Faina Fluvial” de Manoel de Oliveira. Porém, é no ano seguinte que faz rodar o drama “Maria do Mar”, filme este que constitui a primeira etnoficção produzida em Portugal e a segunda a nível mundial, pelo que podemos afirmar sem ambiguidade que este filme marca o início da produção do cinema etnográfico em Portugal.
O cinema etnográfico constitui um conceito que, no domínio cinematográfico, abrange o documentário e a ficção, entendido de forma separada ou associada, neste caso também designado por etnoficção. O documentário etnográfico é sobretudo realizado por cineastas e etnólogos com o propósito de investigar e preservar o testemunho do elemento étnico, naquilo que no meio científico se designa por Etnografia de salvaguarda. Esta possui como principal preocupação a salvaguarda dos registos de uma cultura antes do seu desaparecimento, nomeadamente a mitologia, a religião, a língua, a organização social, as relações de parentesco e o folclore, daí também ser classificada como Antropologia visual.
Obedecendo às leis da dialética, a utilização do cinema etnográfico como instrumento da investigação etnológica encontra-se diretamente relacionada com o aparecimento do filme de dezasseis milímetros com câmara de fácil transporte e gravadores portáteis de som síncrono. Não admira, pois, que seja sobretudo a partir dos anos sessenta do século passado que este género regista maior crescimento, facto a que não é alheio o movimento cineclubista então emergente.
É então que, no domínio da etnoficção, o realizador Manoel de Oliveira produz em 1962, “Acto da Primavera” e, nos anos setenta, são rodados “Gente da Praia da Vieira” de António Campos, “Mau Tempo, Marés e Mudança” de Ricardo Costa, “Trás-os-Montes” de António Reis e Margarida Cordeiro e “O Pão e o Vinho” de Ricardo Costa.
Procurando captar a realidade através da imagem e, desse modo, permitir o estudo das sociedades tradicionais, o filme etnográfico constitui um meio de salvaguarda do património cultural com vista à sua recolha, inventariação, estudo e divulgação, à semelhança do que sucede com etnomusicologia e o estudo do artesanato. É nessa perspetiva que, inspirado na tese de Jorge Dias e antes que as águas da albufeira da barragem do Alto Lindoso mergulhem para sempre as casas e os terrenos de cultivo e, com eles, os hábitos comunitários das suas gentes, o cineasta António Campos parte em 1971 para o Gerês e aí roda o filme “Vilarinho das Furnas”.
Estamos em pleno período do chamado “cinema novo”, ainda influenciado pela pobreza estética do neo-realismo, o qual vai prolongar-se até ao derrube do Estado Novo. Na senda do filme acerca de Vilarinho das Furnas, o realizador produz em 1974 “Falamos de Rio de Onor” e Ricardo Costa, em 1976, o filme “Avieiros”, procurando captar para a câmara uma realidade que ameaça extinguir-se a todo o instante.
O aparecimento das tecnologias digitais constituirá certamente um estímulo a uma nova abordagem estética no domínio cinematográfico, incluindo a etnoficção. Por outro lado, disponibiliza novas ferramentas no domínio da Etnografia de salvaguarda, aspeto que deve ser considerado nomeadamente no domínio da museologia. E, tal como sucedeu no passado com o aparecimento do filme sonoro e, algum tempo depois, o filme de dezasseis milímetros, também a técnica digital pode abrir novos caminhos à cinematografia e, nomeadamente ao cinema etnográfico e à antropologia visual.
Bibliografia: PINA, Luís de. História do Cinema Português. Publicações Europa-América. Mem Martins, 1987
AS COLEÇÕES DO MUSEU ETNOGRÁFICO DA MADEIRA | INSTRUMENTOS MUSICAIS | O BRINQUINHO
O brinquinho ou “bailhinho”, designações populares utilizadas na Madeira, é um dos instrumentos musicais tradicionais madeirenses mais divulgados, sendo a cana vieira uma das matérias-primas utilizadas na sua construção.
É um idiofone misto de concussão direta, composto por um conjunto de bonecos em pano (usualmente sete figuras, masculinas e femininas), trajando indumentária tradicional, portadores de castanholas nas costas e fitilhos, dispostos na extremidade de uma cana de roca, em duas ou mais séries circulares, de diâmetro desigual e encimado por uma destas figuras. É ornamentado, ainda, com tampas de garrafas (caricas), que também funcionam como castanholas.
Era costume, nos arraiais, para entretenimento, o povo formar rodas, tocando, cantando e dançando – os chamados brincos - termo que estará, provavelmente, relacionado com a designação deste instrumento.
Este instrumento possui um arame, o qual entra na cana, e o tocador segura no cabo imprimindo movimentos verticais, que fazem tocar as castanholas. É utilizado usualmente para marcar compasso. Sendo o seu uso mais comum entre os grupos de folclores da Região, também aparece isolado pelas mãos do povo, nos arraiais tradicionais.
Embora a sua origem seja incerta, segundo alguns autores este instrumento terá sido trazido para o arquipélago pelos primeiros colonizadores, estando a sua origem provavelmente relacionada com um instrumento que era utilizado nas Regiões do Minho e do Douro: a charola ou cana de bonecos.
BIBLIOGRAFIA
CAMACHO, Rui, TORRES, Jorge; Catálogo “Instrumentos musicais da tradição popular madeirense”, Centro de Documentação Musical Xarabanda, 2006.
Catálogo da “1ª Mostra instrumentos musicais populares: recolha, restauro, construção”, Direção Regional dos Assuntos Culturais, Câmara Municipal do Funchal, 1982.
Fonte: Museu Etnográfico da Madeira
O Minho é festa em todo o seu esplendor! A alegria que carateriza o minhoto manifesta-se em todos os aspetos da vida quotidiana. É a exuberância no cantar e no trajar, na gastronomia e nas tradições religiosas, na forma impulsiva de falar e de festejar. Mas, o Minho também é trabalho. Ao longo do ano, desde o amanhecer ao pôr-do-sol, há muito para labutar.
A lavoura ocupa a maior parte do tempo aos lavradores – e às lavradeiras. Há que roçar o mato e cuidar da corte dos animais, criar o porco e estender as carnes na salgadeira, lavrar e amanhar os campos de cultivo, cuidar da vinha e fazer o vinho, cortar o milho e apanhar a azeitona. E, se o campo já não garante o sustento da família, o minhoto vai pelo mundo fora à procura de meios para garantir a sua subsistência.
Mas, sempre que pode, o minhoto faz a festa: dança o vira e canta ao desafio, confraterniza e fala em voz alta de forma desassombrada. É minhoto!
Quem diz Viana diz mar! Viana do Castelo é terras de pescadores, marnotos e sargaceiros. São eles da Ribeira de Viana e de Castelo de Neiva. Os marnotos – salineiros – de Darque é uma lembrança de tempos idos.
Foi a devoção dos pescadores vianenses à Senhora d’Agonia que fizeram com que fosse venerada pela cidade e celebrada como sua padroeira.
Mas a santa não esquece o mar nem os seus filhos. E, nos cortejos, eles tomam a dianteira. E lá vão com o galhapão e as carrelas cheias de sargaço. Com os seus trajes caraterísticos. As varinas – ou vareiras – com a sua forma própria de trajar e os seus jeitos mais desenvoltos. Também trajam à vianesa à sua maneira.
A História e as tradições desfilaram pelas ruas do centro histórico de Viana do Castelo. Dezenas de ranchos folclóricos, bandas de música e grupos de zés p’reiras deram vida ao cortejo histórico e etnográfico da romaria de Nossa Senhora d’Agonia. As gentes da ribeira de Viana encabeçaram a festa que é sua por natureza.
Viana do Castelo – a vetusta Viana do Minho – aninhada aos pés de Santa Luzia, entre a serra e o mar, repleta de tradições, desfilou com os seus trajes caraterísticos. São as lavradeiras de Afife e de Carreço, da Areosa e da Meadela, de Lanheses e do Castelo do Neiva, de Geraz e de Santa Marta de Portuzelo. É o colorido diversificado dos trajes tradicionais. São as músicas e os cantares tradicionais – é a alegria das gentes do Minho!
É de origem remota a tradição do Banho Santo que se celebra na Romaria de São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende, que a cada ano atrai maior número de visitantes àquela localidade minhota plena de tradições.
A romaria de São Bartolomeu do Mar aparece documentada desde o século XVI, muito embora evidencie marcas de ancestralidade, devendo muito provavelmente ter tido a sua origem nalgum culto a uma divindade numa época anterior à cristianização dos povos peninsulares. De resto, a associação do cão à representação do diabo remete-nos para a figura do cão tricéfalo guardião do Hades que nos é descrita pela mitologia clássica.
Com efeito, tudo leva a crer que estas práticas têm a sua origem mais remota nos ancestrais cultos pagãos em louvor das ninfas e outras divindades pré-romanas das águas ou ainda em rituais dedicados à deusa grega Ártemis – Diana na mitologia romana – cujos templos situavam-se geralmente junto a cursos de água. Ou ainda a Alfeu – deus do rio e filho de Oceano na mitologia grega – e a Posídon – Neputno, deus do mar na mitologia romana.
A tradição do Banho Santo ligado a rituais de purificação que têm na água a sua função primordial, é porventura aquela que confere maior significado a estas festividades e muito provavelmente a que se encontra nas suas origens mais remotas. De resto, a água está associada aos ritos do baptismo e às peregrinações a Santiago de Compostela. Mantido ao longo dos tempos pela devoção popular, tais práticas foram sujeitas a perseguições desde o século IV à época do imperador Diocleciano até à Idade Média. Acabariam, porém, por serem aceites pelo Cristianismo.
À semelhança de outras festas cíclicas, os rituais do Banho Santo tendo por objecto a purificação e preservação da saúde de pessoas ou animais levados pelos pastores, predominam em regra no meio rural, junto ao mar, a rios ou outros cursos de água. Para além da tradição em São Bartolomeu do Mar, no concelho de Esposende, temos ainda entre nós o “Banho da Degola” em louvor de São João da Degola que se realiza em Vila Real de Santo António, em Lagos, na serra de Monchique e os banhos de ano novo em Carcavelos e noutras localidades.
Com o decorrer do tempo, é possível que tenham ocorrido influências de várias culturas relacionadas com a presença de comunidades religiosas distintas, originando mesmo um certo sincretismo. É o que se verifica nomeadamente com o ritual de exorcização com recurso à galinha preta que muito provavelmente terá sido originado de uma influência mais tardia, muito provavelmente de raiz judaica.
Quando em 1496, o rei D. Manuel ordenou a conversão dos judeus ao Cristianismo sob pena de expulsão, existia em Barcelos uma comunidade judaica, à semelhança aliás do que sucedia noutras localidades minhotas como Braga, Viana do Castelo e Ponte de Lima. Refira-se que, à altura, o território que atualmente faz parte do concelho de Esposende era parte do termo de Barcelos, apenas tendo sido elevado à categoria de município com a atribuição do foral pelo rei D. Sebastião em 19 de agosto de 1572. Terão então os judeus conversos ou seja, os cristãos-novos que habitavam a região, adaptado a sua prática religiosa às que eram geralmente mantidas pela Igreja Católica a fim de serem tolerados no seio das comunidades locais, atitude aliás comum à generalidade dos judeus que permaneceram no país.
O Yom Kippur constitui uma das festividades mais importantes e solenes do judaísmo, destinada ao arrependimento e ao pedido de perdão, correspondendo ao Ano Novo no calendário hebraico (Rosh Hashana) e coincidindo geralmente com os meses de setembro ou outubro do calendário cristão. Nos dias que antecedem o Yom Kippur, praticam os judeus um ritual de expiação dos pecados (Kaparot) que culmina na matança de milhares de galos e galinhas, preferencialmente de cor branca como símbolo de purificação. O ritual propriamente dito consiste em elevar o animal sobre as suas próprias cabeças, dando com eles três voltas enquanto murmuram :“Esta é minha mudança, este é meu substituto, esta é minha expiação”, sendo de seguida degolado com recurso a faca de lâmina rigorosamente afiada, cumprindo-se desta forma o sacrifício.
Com efeito, para além das semelhanças existentes, a altura do ano em que os judeus praticam o Kaparot é praticamente coincidente com a realização da romaria de São Bartolomeu do Mar, da mesma forma que se constata terem os primeiros registos desta festividade surgido pouco tempo decorrido após o início da conversão forçada dos judeus ordenada pelo rei D. Manuel I, fatos que nos levam a acreditar na possível relação entre ambas as tradições.
Os romeiros levam os filhos transportando consigo ao colo uma galinha preta, dando três voltas em redor da capela antes de nela entrarem procederem á oferenda sacrificial, após o que colocam na cabeça a imagem de São Bartolomeu. Uma vez cumprido o ritual, encaminham-se para a praia onde terá lugar o “banho santo” das crianças nas águas gélidas e purificadoras do mar – aonde o diabo regressará ao anoitecer – que, com a ajuda do sargaceiro, é imersa por diversas vezes, contadas as ondas sempre em número ímpar.
Todos os anos, por ocasião da festa litúrgica a São Bartolomeu que se celebra a 24 de agosto, vão as gentes Esposende em romaria à igreja do santo padroeiro da freguesia de Mar – São Bartolomeu do Mar – para invocar a sua proteção contra o medo e outros males atribuídos ao diabo como a epilepsia e a gaguez. Reza a lenda que, nesse dia, São Bartolomeu solta o diabo que durante o resto do ano traz preso, simbolizado num cão que mantém com uma trela.
Fotos: Alfredo Cunha / Arquivo Municipal de Lisboa