A Câmara Municipal de Viana do Castelo aprovou, esta terça-feira, o projeto de execução da Ampliação da Rede de Abastecimento de Água em Carreço, empreitada de praticamente 1,6 milhões de euros que vai permitir servir a totalidade da freguesia.
Neste momento, encontra-se aberta a candidatura ao Norte 2023 – Ciclo Urbano de Água em Baixa, para ampliação de redes de água e saneamento. A Câmara Municipal presente submeter o projeto de execução, agora aprovado, à referida candidatura, com uma estimativa orçamental de 1.575.626 euros.
De acordo com o documento, hoje apresentado pelo Presidente da Câmara Municipal, Luís Nobre, o projeto de execução vai permitir criar 22,5 quilómetros de rede nova de abastecimento de água, com 740 ramais de água.
Esta obra permitirá um incremento de 835 fogos habitacionais. Atualmente, a acessibilidade física à rede de abastecimento de água na freguesia de Carreço, na área coberta pela Águas do Alto Minho, é de 168 fogos habitacionais (17%). Após a intervenção, a acessibilidade física de Carreço será de 1.003 fogos habitacionais, ou seja, a totalidade da freguesia.
Recorde-se que a construção de infraestruturas de abastecimento de água e drenagem de águas residuais são uma competência da Câmara Municipal, na promoção da qualidade de vida dos seus munícipes. Neste momento, a cobertura da rede de abastecimento de água no concelho é de 97%, tendo o Município o objetivo de cobrir todo o concelho. Desta forma, e mediante os recursos financeiros disponíveis, o investimento nesta área será sempre efetuado nos locais onde não existe cobertura de rede de água ou a mesma é distribuída por redes das Juntas de Freguesia, com captações próprias.
Considera-se que a atual rede da Junta de Freguesia de Carreço não reúne condições de integrar o Sistema de Abastecimento da Águas do Alto Minho uma vez que a referida rede é composta maioritariamente por tubagens e acessórios com materiais que não se enquadram com as normas e patrões utilizados por um sistema integrado de gestão, para garantir os padrões de qualidade de água e acessibilidade exigidos. Nesse sentido, fez-se a avaliação da rede de água existente da Junta de Freguesia de Carreço e desenvolveu-se o projeto de execução com as condições técnicas necessárias à sua integração na ADAM.
O Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Luís Nobre, marcou, esta sexta-feira, presença na bênção da nova ERPI - Estrutura Residencial para Idosos do Centro Social e Cultural de Carreço, valência que representa um investimento global que ascende a 4,5 milhões de euros, financiada pelo PRR, que deverá estar concluída até final do ano para servir cerca de 50 utentes.
O autarca vianense assumiu que este é “um dia de alegria para a comunidade de Carreço, de apresentação de uma grande obra”. Destacou a atenção que tem sido dada ao setor social nas freguesias do concelho e reconheceu “o trabalho e a dedicação” de todos aqueles que dão o melhor de si na instituição de Carreço.
O Presidente da Direção do Centro Social e Cultural de Carreço, Joaquim Viana da Rocha, explicou que esta construção foi projetada há mais de 4 anos, garantindo que “a ideia e a visão sempre foi construir este lar no melhor local da freguesia, garantindo a qualidade de vida dos utentes”.
Em setembro de 2022, recorde-se, o autarca vianense marcou presença na sessão de assinatura de 63 protocolos para a requalificação e alargamento da rede de equipamentos e respostas sociais no Norte, que incluiu financiamento a este importante investimento para o concelho vianense. No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, o Centro Social e Cultural de Carreço receberá 1.749.065 euros para a construção do novo hotel sénior.
De acordo com a IPSS, o novo equipamento criará cerca de 30 postos de trabalho, permitindo assim alargar a capacidade de resposta da instituição às necessidades da comunidade.
O Centro Social e Cultural de Carreço é uma Instituição Particular de Solidariedade Social e, como tal, possui como âmbito de intervenção a área social. Foi fundado em 1994 com o intuito de colmatar graves lacunas sociais na freguesia, designadamente a precariedade de vida dos idosos e a falta de acompanhamento e apoio às faixas etárias mais jovens.
Atualmente com seis respostas sociais protocoladas com a Segurança Social, o Centro Social e Cultural de Carreço “cuida com amor” há mais de 30 anos, tendo atualmente cerca de 300 sócios. Com uma equipa técnica multidisciplinar, esta instituição oferece à comunidade serviços de grande qualidade, através das seguintes respostas: Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (Hotel Sénior), Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário, Centro de Convívio, Creche e Cantina Social.
Quem já alguma vez teve a felicidade de contactar de alguma forma com o labor do moleiro, num moinho de vento, certamente se apercebeu da extraordinária semelhança de numerosos vocábulos empregues neste ofício relativamente à linguagem das gentes do mar. Com efeito, existem muitos termos que são comuns às duas atividades, em grande medida resultante da identidade de processos utilizados em ambas as atividades.
À semelhança das naus e, em geral, de todas as embarcações à vela, também os moinhos de vento aproveitam a mesma fonte de energia, recorrendo a uma técnica semelhante para assegurarem o seu próprio funcionamento. Tal como o marinheiro, também o moleiro deve saber medir a direção e intensidade do vento e manobrar as velas para dele tirar o máximo rendimento. Para tal, utiliza o cata-vento estrategicamente colocado sobre o capelo do moinho e os búzios atados na extremidade das vergas. Na realidade, o moinho de vento é como um veleiro a navegar em terra firme que requer a sabedoria do seu marinheiro – o moleiro!
Quando os portugueses se fizeram ao mar, a tripulação das naus partiu de terra e era naturalmente constituída por gente que, nas suas lides quotidianas, se dedicava aos mais variados ofícios. Entre ela encontravam-se certamente os moleiros cuja arte foi seguramente determinante para as atividades de manobra uma vez que, à semelhança dos moinhos, as naus e as caravelas navegavam à vela, sendo necessários marinheiros experimentados na arte de marinharia que era, afinal de contas, a arte dos próprios moleiros.
Não admira, pois, que ambas as linguagens se confundam em grande medida. De resto, é bastante sintomática a expressão outrora utilizada pelos navegadores quando, ao constatarem a evolução demasiado lenta da nau, a ela se referiam dizendo que “a nau ia moendo”, numa clara alusão ao ritmo pachorrento com que o moinho procede à moagem do grão.
O estudo dos moinhos é de uma extraordinária riqueza e elevado interesse cultural, sob todas as suas variantes, desde o ponto de vista tecnológico como ainda etnográfico, histórico e linguístico. Refira-se, a título de exemplo, que os construtores de moinhos eram outrora apelidados de engenheiros por se tratarem, na realidade, de construtores de engenhos.
Desde que o Homem sentiu necessidade de recorrer a processos mais eficazes para moer os grãos que utilizava na sua alimentação, ultrapassando a forma primitiva de os esmagar à mão com o emprego de duas pedras, os moinhos acompanharam a evolução do seu conhecimento e refletiram a sua própria organização social. Aproveitando os mais diversos recursos naturais e apresentando-se sob variadas formas, incluindo as azenhas e os moinhos de maré, eles encontram-se presentes nas novas tecnologias para captação da energia eólica ou ainda para bombagem de água como sucede na captação de água dos poços ou na manutenção dos diques da Holanda.
Atendendo ao valor cultural que o estudo dos moinhos representa, junta-se um pequeno dicionário comparado da linguagem utilizada pelos moleiros que trabalham nos moinhos de vento relativamente à empregue no meio náutico
Andadeira–Mó de cima. Corredor.
Bolacho– Diz-se quando a vela tem três voltas em torno da vara.
Braços– Varas, Vergas.
Búzio– Alcatruz. Pequeno objeto de barro, por vezes com a forma de uma cabaça, contendo um só orifício, que se coloca na ponta das vergas das velas dos moinhos de vento e que, com o girar destas, produz uma espécie de assobio que permite ao moleiro calcular a intensidade do vento e a velocidade adquirida pelas velas.
Cabrestante– Sarilho. Dispositivo para fazer rodar o capelo do moinho. – Nos navios, refere-se ao sarilho para manobrar e levantar a âncora e outros pesos.
Cabresto– Corda comprida que segura as varas e que serve para efetuar a amarração das velas no exterior. – Cada um dos cabos que, da ponta do gurupés vem à proa do navio, junto ao couce do beque. O gurupés é o mastro oblíquo situado na proa dos navios.
Calha– Peça que leva o grão da tremonha para o olho da mó. Ligação entre o tegão e o olho da mó. Quelha.
Canoura- Vaso de madeira donde o grão vai caindo para a mó. Moega. Tremonha.
Capelo– Parte superior do moinho que roda em função da direção do vento. Existem, contudo, moinhos que são rodados a partir da base, com a utilização de rodados. – Em linguagem náutica, diz-se da volta da amarra na abita que constitui a peça de madeira ou ferro, existente na proa dos navios, para fixar a amarra da âncora. Esta peça, apresenta-se geralmente de forma retilínea e liga ao “pé de roda” e termina na roda de proa. Nos barcos rabões, embarcações da família dos rabelos durienses, indica a sua extremidade superior. Nos valvoeiros, refere-se à parte superior da caverna.
Carreto– Roda colocada na parte superior do eixo central do moinho e ligado à entrosa.
Corredor– Mó de cima, com raio idêntico ao poiso, mas com altura inferior a esta.
Eixo– Mastro.
Entrosa– Rosa dentada existente no mastro do moinho, com os dentes na lateral engrenando noutra roda dentada.
Frechal– Calha onde assenta a cúpula móvel sobre a torre do moinho.
Forquilha– Vara comprida e com a ferragem em ponta em forma de “V”. – No meio náutico também se designa por forqueta e é constituído por duas hastes de madeira onde os pescadores arrumam o mastro, a verga e a palamenta enquanto pescam. A forquilha de retranca é uma cruzeta de madeira ou de ferro colocada na borda do navio, à popa, a meia-nau, para descanso da retranca.
Mastro– Eixo do moinho de vento. – Numa embarcação designa cada uma das peças altas constituídas por vergônteas de madeira que sustentam as velas.
Meia-ponta– Diz-se quando a vela tem cinco voltas em torno da vara.
Meia-vela– Diz-se quando a vela do moinho tem uma volta em redor da vara.
Mó– Pedra cilíndrica em forma de anel que serve para moer o grão.
Moageiro– Aquele que produz moagem.
Moagem– Acto ou efeito de moer. Moedura
Moedura– Moagem.
Moega– Canoura. Tremonha.
Moenda– Mó. Acto ou efeito de moer. Maquia que o moleiro retribui em géneros. Moinho. Moenga.
Moenga– Moenda
Moer– acto ou efeito de transformar o grão em farinha – Em linguagem antiga de marinha, “a nau ir moendo” referia-se à evolução demasiado lenta de um navio.
Olho da mó– Parte vazia no centro da mó.
Pano– Diz-se quando a vela do moinho se encontra toda aberta. – Os marinheiros referem “navegar a todo o pano” quando se pretende que o navio obtenha a sua velocidade máxima, aludindo ao completo desfraldar das velas.
Pião– Eixo do moinho de vento. Mastro.
Picadeira– Ferramenta usada para picar a mó a fim de criar novos sulcos. Picão.
Picão– Picadeira.
Poiso– A mó que fica por debaixo, estática.
Ponta– Diz-se quando a vela tem quatro voltas em torno da vara.
Quelha– Calha.
Sarilho– Dispositivo para fazer rodar o capelo. Cabrestante. – Nos navios consiste na máquina onde se enrola o cabo ou cadeia do cabrestante.
Segurelha– Suporte metálico regulável que fixa o corredor ao eixo vertical. Peça onde entra o ferro que segura a mó inferior ou poiso para tornar uniforme o movimento da superior ou andadeira.
Taleiga– Saco pequeno para condução de farinha.
Tegão– Peça por onde o grão passa para moer.
Traquete– Diz-se quando a vela do moinho tem duas voltas em redor da vara. – Nos navios, é a maior vela do mastro da proa.
Tremonha– Canoura. Moega.
Varas– Hastes de madeira de auxílio à amarração. Vergas. – Nos navios, constituem peças longas de madeira colocadas horizontalmente sobre os mastros para nelas se prenderem as velas.
Vela– Pano forte e resistente que se prende aos braços dos moinhos para os fazer girar sob a ação do vento. – Nos navios e embarcações, é o pano que se prende aos mastros para as fazer navegar.
Vela fechada– Diz-se quando a vela tem seis voltas em torno da vara.
Vela latina– Vela de formato triangular geralmente utilizada nos moinhos e nos navios.
Velame– Conjunto das velas de um moinho ou de um navio.
Vergas– Varas de auxílio à amarração. – Na linguagem náutica, existe uma grande variedade de designações, as quais remetem para as velas que nelas envergavam. De sublinhar, aliás, a proveniência do verbo envergar.
Bibliografia: LEITÃO, Humberto; LOPES, J. Vicente. Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual. Edições Culturais de Marinha. Lisboa. 1990.
Moinhos de Cima e do Marinheiro, em Carreço, no Concelho de Viana do Castelo.
Localizado no promontório de Montedor, na freguesia de Carreço, a cerca de quatro milhas a norte da foz do rio Lima e a sete da foz do rio Minho, o Farol de Montedor é uma sentinela vigilante para todos quantos navegam ao longo da costa minhota.
No cimo de uma torre quadrangular com 28 metros de altitude e a 103 metros acima do nível médio das águas do mar, o Farol de Montedor projeta atualmente dois grupos de relâmpagos brancos, num período de 9,5 segundos, com um raio de alcance de 22 milhas náuticas.
O Farol de Montedor foi um dos oitos faróis mandados construir por Júlio Zeferino Schultz Xavier, tendo entrado em funcionamento em 20 de março de 1910. Inicialmente alimentado a azeite, em 1936 passou a funcionar a petróleo e, com a sua ligação à rede pública de distribuição de energia efetuada em 1947, passou a trabalhar a eletricidade.
Sendo o mais setentrional do país, a luz do Farol de Montedor cruza com a do farol das Ilhas Cies, situado à entrada da Ria de Vigo e ainda com o Farol da barra do Rio Douro, no Porto.
Para além do seu interesse museológico, o Farol de Montedor proporciona uma vista soberba sobre toda a região envolvente, vendo-se toda a zona costeira desde a Areosa até Vila Praia de Âncora e as veigas em redor. O Farol de Montedor encontra-se aberto ao público para visitas todas as quartas-feiras, às 14h, 15h e 16 h.
As gentes da região dedicam-lhe uma graciosa cantiga que faz parte do cancioneiro popular cuja letra se transcreve.
A primeira referência conhecida a esta igreja remonta ao século X, "et Oori et Karrezo".
Em 1258, na lista das igrejas situadas no território de Entre Lima e Minho, que foi efectuada por ocasião das Inquirições de D. Afonso III, Carreço, que então se chamava "Carrezo", é citada como uma das igrejas pertencentes ao bispado de Tui.
Em 1320, no catálogo das mesmas igrejas, mandado elaborar pelo rei D. Dinis, para o pagamento da taxa, Santa Maria de Carreço tinha de rendimento 200 libras.
Em 1444, D. João I conseguiu do Papa que este território fosse desmembrado do bispado de Tui, passando a pertencer ao de Ceuta, onde se manteve até 1512. Neste ano, o arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, deu a D. Henrique, bispo de Ceuta, a comarca eclesiástica de Olivença, recebendo em troca a de Valença do Minho. Em 1513, o Papa Leão X aprovou a permuta.
Quando, entre 1514 e 1532, o arcebispo D. Diogo de Sousa procedeu à avaliação dos benefícios eclesiásticos incorporados na diocese de Braga, São Julião da Silva rendia 144 réis e 8 pretos.
Em 1546, no registo da avaliação dos benefícios da comarca de Valença do Minho, a igreja de Santa Maria de Carreço era comenda, valendo 160 mil réis, mais 24 mil réis a vigairaria, pé de altar, casas e pomar.
Na cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo sobre a situação canónica destes benefícios, diz-se que um quarto da igreja pertencia ao arcebispo, outro a São Salvador da Torre (sendo ambas, portanto, da mesa arcebispal) e as restantes a São Romão do Neiva e mosteiro de Tibães, respectivamente.
Segundo Américo Costa, Santa Maria de Carreço era reitoria da apresentação alternada da Mitra e comenda da Ordem de Cristo.
No foro administrativo, a freguesia de Carreço fez parte, em 1839, da comarca de Ponte de Lima e, em 1852, da de Viana do Castelo. Em 1878, era cabeça de julgado.
Pertence à Diocese de Viana do Castelo desde 3 de Novembro de 1977.
HISTÓRIA CUSTODIAL E ARQUIVÍSTICA
Esteve na posse da igreja paroquial até à criação do Registo Civil, em 1911, publicada no Diário do Governo nº 41 de 20/02/1911. Nesta data as paróquias foram obrigadas, por lei, a entregar os livros de registo de baptismos, casamentos e óbitos às repartições do Registo Civil.
O Decreto-Lei nº 3286, de 11 de Agosto de 1917, que cria o Arquivo Distrital de Braga, estipula na alínea i) do artº 1º que nele devem ser incorporados os cartórios paroquiais do distrito, nos termos do decreto 1.630 de 9 de Junho de 1915. No entanto, por despacho ministerial, e enquanto não foi instalado o Arquivo Distrital em Viana do Castelo, já então criado em 1965, aqueles arquivos foram sendo recolhidos pelo seu congénere bracarense.
Finalmente, em 11 de Setembro de 1985, os livros e documentos dos arquivos paroquiais do distrito entraram, por transferência de Braga, no Arquivo Distrital de Viana do Castelo.
Fonte: ANTT
Moinhos de Carreço em 1929. Fonte: Ilustração, nº 74, 16 Janeiro 1929 / Hemeroteca Municipal de Lisboa
Quem já alguma vez teve a felicidade de contactar de alguma forma com o labor do moleiro, num moinho de vento, certamente se apercebeu da extraordinária semelhança de numerosos vocábulos empregues neste ofício relativamente à linguagem das gentes do mar. Com efeito, existem muitos termos que são comuns às duas atividades, em grande medida resultante da identidade de processos utilizados em ambas as atividades.
À semelhança das naus e, em geral, de todas as embarcações à vela, também os moinhos de vento aproveitam a mesma fonte de energia, recorrendo a uma técnica semelhante para assegurarem o seu próprio funcionamento. Tal como o marinheiro, também o moleiro deve saber medir a direção e intensidade do vento e manobrar as velas para dele tirar o máximo rendimento. Para tal, utiliza o cata-vento estrategicamente colocado sobre o capelo do moinho e os búzios atados na extremidade das vergas. Na realidade, o moinho de vento é como um veleiro a navegar em terra firme que requer a sabedoria do seu marinheiro – o moleiro!
Quando os portugueses se fizeram ao mar, a tripulação das naus partiu de terra e era naturalmente constituída por gente que, nas suas lides quotidianas, se dedicava aos mais variados ofícios. Entre ela encontravam-se certamente os moleiros cuja arte foi seguramente determinante para as atividades de manobra uma vez que, à semelhança dos moinhos, as naus e as caravelas navegavam à vela, sendo necessários marinheiros experimentados na arte de marinharia que era, afinal de contas, a arte dos próprios moleiros.
Não admira, pois, que ambas as linguagens se confundam em grande medida. De resto, é bastante sintomática a expressão outrora utilizada pelos navegadores quando, ao constatarem a evolução demasiado lenta da nau, a ela se referiam dizendo que “a nau ia moendo”, numa clara alusão ao ritmo pachorrento com que o moinho procede à moagem do grão.
O estudo dos moinhos é de uma extraordinária riqueza e elevado interesse cultural, sob todas as suas variantes, desde o ponto de vista tecnológico como ainda etnográfico, histórico e linguístico. Refira-se, a título de exemplo, que os construtores de moinhos eram outrora apelidados de engenheiros por se tratarem, na realidade, de construtores de engenhos.
Desde que o Homem sentiu necessidade de recorrer a processos mais eficazes para moer os grãos que utilizava na sua alimentação, ultrapassando a forma primitiva de os esmagar à mão com o emprego de duas pedras, os moinhos acompanharam a evolução do seu conhecimento e refletiram a sua própria organização social. Aproveitando os mais diversos recursos naturais e apresentando-se sob variadas formas, incluindo as azenhas e os moinhos de maré, eles encontram-se presentes nas novas tecnologias para captação da energia eólica ou ainda para bombagem de água como sucede na captação de água dos poços ou na manutenção dos diques da Holanda.
Atendendo ao valor cultural que o estudo dos moinhos representa, junta-se um pequeno dicionário comparado da linguagem utilizada pelos moleiros que trabalham nos moinhos de vento relativamente à empregue no meio náutico
Andadeira–Mó de cima. Corredor.
Bolacho– Diz-se quando a vela tem três voltas em torno da vara.
Braços– Varas, Vergas.
Búzio– Alcatruz. Pequeno objeto de barro, por vezes com a forma de uma cabaça, contendo um só orifício, que se coloca na ponta das vergas das velas dos moinhos de vento e que, com o girar destas, produz uma espécie de assobio que permite ao moleiro calcular a intensidade do vento e a velocidade adquirida pelas velas.
Cabrestante– Sarilho. Dispositivo para fazer rodar o capelo do moinho. – Nos navios, refere-se ao sarilho para manobrar e levantar a âncora e outros pesos.
Cabresto– Corda comprida que segura as varas e que serve para efetuar a amarração das velas no exterior. – Cada um dos cabos que, da ponta do gurupés vem à proa do navio, junto ao couce do beque. O gurupés é o mastro oblíquo situado na proa dos navios.
Calha– Peça que leva o grão da tremonha para o olho da mó. Ligação entre o tegão e o olho da mó. Quelha.
Canoura- Vaso de madeira donde o grão vai caindo para a mó. Moega. Tremonha.
Capelo– Parte superior do moinho que roda em função da direção do vento. Existem, contudo, moinhos que são rodados a partir da base, com a utilização de rodados. – Em linguagem náutica, diz-se da volta da amarra na abita que constitui a peça de madeira ou ferro, existente na proa dos navios, para fixar a amarra da âncora. Esta peça, apresenta-se geralmente de forma retilínea e liga ao “pé de roda” e termina na roda de proa. Nos barcos rabões, embarcações da família dos rabelos durienses, indica a sua extremidade superior. Nos valvoeiros, refere-se à parte superior da caverna.
Carreto– Roda colocada na parte superior do eixo central do moinho e ligado à entrosa.
Corredor– Mó de cima, com raio idêntico ao poiso, mas com altura inferior a esta.
Eixo– Mastro.
Entrosa– Rosa dentada existente no mastro do moinho, com os dentes na lateral engrenando noutra roda dentada.
Frechal– Calha onde assenta a cúpula móvel sobre a torre do moinho.
Forquilha– Vara comprida e com a ferragem em ponta em forma de “V”. – No meio náutico também se designa por forqueta e é constituído por duas hastes de madeira onde os pescadores arrumam o mastro, a verga e a palamenta enquanto pescam. A forquilha de retranca é uma cruzeta de madeira ou de ferro colocada na borda do navio, à popa, a meia-nau, para descanso da retranca.
Mastro– Eixo do moinho de vento. – Numa embarcação designa cada uma das peças altas constituídas por vergônteas de madeira que sustentam as velas.
Meia-ponta– Diz-se quando a vela tem cinco voltas em torno da vara.
Meia-vela– Diz-se quando a vela do moinho tem uma volta em redor da vara.
Mó– Pedra cilíndrica em forma de anel que serve para moer o grão.
Moageiro– Aquele que produz moagem.
Moagem– Acto ou efeito de moer. Moedura
Moedura– Moagem.
Moega– Canoura. Tremonha.
Moenda– Mó. Acto ou efeito de moer. Maquia que o moleiro retribui em géneros. Moinho. Moenga.
Moenga– Moenda
Moer– acto ou efeito de transformar o grão em farinha – Em linguagem antiga de marinha, “a nau ir moendo” referia-se à evolução demasiado lenta de um navio.
Olho da mó– Parte vazia no centro da mó.
Pano– Diz-se quando a vela do moinho se encontra toda aberta. – Os marinheiros referem “navegar a todo o pano” quando se pretende que o navio obtenha a sua velocidade máxima, aludindo ao completo desfraldar das velas.
Pião– Eixo do moinho de vento. Mastro.
Picadeira– Ferramenta usada para picar a mó a fim de criar novos sulcos. Picão.
Picão– Picadeira.
Poiso– A mó que fica por debaixo, estática.
Ponta– Diz-se quando a vela tem quatro voltas em torno da vara.
Quelha– Calha.
Sarilho– Dispositivo para fazer rodar o capelo. Cabrestante. – Nos navios consiste na máquina onde se enrola o cabo ou cadeia do cabrestante.
Segurelha– Suporte metálico regulável que fixa o corredor ao eixo vertical. Peça onde entra o ferro que segura a mó inferior ou poiso para tornar uniforme o movimento da superior ou andadeira.
Taleiga– Saco pequeno para condução de farinha.
Tegão– Peça por onde o grão passa para moer.
Traquete– Diz-se quando a vela do moinho tem duas voltas em redor da vara. – Nos navios, é a maior vela do mastro da proa.
Tremonha– Canoura. Moega.
Varas– Hastes de madeira de auxílio à amarração. Vergas. – Nos navios, constituem peças longas de madeira colocadas horizontalmente sobre os mastros para nelas se prenderem as velas.
Vela– Pano forte e resistente que se prende aos braços dos moinhos para os fazer girar sob a ação do vento. – Nos navios e embarcações, é o pano que se prende aos mastros para as fazer navegar.
Vela fechada– Diz-se quando a vela tem seis voltas em torno da vara.
Vela latina– Vela de formato triangular geralmente utilizada nos moinhos e nos navios.
Velame– Conjunto das velas de um moinho ou de um navio.
Vergas– Varas de auxílio à amarração. – Na linguagem náutica, existe uma grande variedade de designações, as quais remetem para as velas que nelas envergavam. De sublinhar, aliás, a proveniência do verbo envergar.
Bibliografia: LEITÃO, Humberto; LOPES, J. Vicente. Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual. Edições Culturais de Marinha. Lisboa. 1990.
Moinhos de Cima e do Marinheiro, em Carreço, no Concelho de Viana do Castelo.