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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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PARTIDO REPUBLICANO EVOLUCIONISTA PRETENDEU CANDIDATAR A DEPUTADO O DR. ALVES DOS SANTOS PELO CÍRCULO DE CABO VERDE EM 1915

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Carta de Joaquim de Saint Maurice para o Presidente da Junta Central do Partido Republicano Evolucionista, António José de Almeida, comunicando recepção de telegrama informando da indigitação do candidato às eleições seguintes pelo círculo de Cabo Verde, Augusto Joaquim Alves dos Santos, professor da Universidade de Coimbra. Datada de 26 de Junho de 1915.

Recorde-se que o Dr. Alves dos Santos foi um ilustre limiano, nascido na Freguesia de Santa Maria da Cabração.

Fonte: Museu da Presidência da República

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA PROPÔS AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM 1922 A ATRIBUIÇÃO DE CONDECORAÇÃO AO DR. AUGUSTO JOAQUIM ALVES DOS SANTOS

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Nota [para o Presidente da República, António José de Almeida,] indicando os nomes de diversos possíveis condecorados com ordens honoríficas. Mencionando os nomes de João Duarte de Oliveira, Augusto Joaquim Alves dos Santos, Manuel Luís Coelho da Silva, Alberto Homem Pinto da Costa Cabral, Francisco da Cunha Matos, Manuel da Silva Gaio e Manuel Mário de Figueiredo Temido. Datada de 1922

Recorde-se que o Dr. Alves dos Santos foi um ilustre limiano, nascido na Freguesia de Santa Maria da Cabração e veio a ser Presidente da Câmara Municipal de Coimbra entre outros cargos que exerceu.

Fonte: Museu da Presidência da República

PONTE DE LIMA: PADRE ABEL VARZIM QUESTIONOU EM 1939 NA ASSEMBLEIA NACIONAL OS HORÁRIOS E REMUNERAÇÕES AUFERIDAS PELOS TRABALHADORES DAS MINAS DA CABRAÇÃO

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Abel Varzim da Cunha e Silva nasceu em Cristelo, a 29 de Abril de 1902. Ordenado sacerdote em Braga, a 29 de Junho de 1925, com 23 anos apenas, aceitou ser enviado para o Alentejo. Começou aí a sua vida paroquial. Lecionou no Seminário de Serpa e fundou aí o primeiro grupo de Escuteiros daquela província.

Para melhor habilitação na defesa da justiça, frequentou entre 1930 e 1934, a Universidade de Lovaina, na Bélgica, conseguindo o grau de Doutor em Ciências Políticas e Sociais, com tese editada em França sobre a Liga dos Agricultores Belgas.

Regressado a Portugal, dedicou-se em pleno, dentro dos condicionalismos existentes, à defesa dos trabalhadores e de todos os desprotegidos.

Dirigiu, de 1939 a 1948, o Secretariado Económico-Social da Acção Católica Portuguesa, onde, durante horas seguidas, atendia e procurava resolver casos de desemprego e de falta de realização humana.

Foi deputado à Assembleia Nacional, em representação da Igreja, na legislatura de 1938 a 1942. Não voltou ao lugar nas legislaturas seguintes, porque as suas principais intervenções beneficiaram da hostilidade governamental.

O seu amor à classe trabalhadora e o conhecimento que possuía dos seus problemas e aspirações fizeram dele fundador e inesquecível assistente da Liga Operária Católica, cuja atividade veio também a ser reprimida.

Abel Varzim sentiu-se obrigado, em 1948, a deixar o lugar de professor do Instituto de Serviço Social, que ocupava desde 1938, sob a ameaça de a escola cessar de receber o subsídio do Governo, caso ele não saísse.

Nomeado pároco da Encarnação, no Chiado, em Lisboa, em 1951, também aí o seu trabalho de recuperação das prostitutas do Bairro Alto, suas paroquianas, teve má sina, não obstante a criação de um centro de reintegração na Amadora e no Porto e da fundação da Liga Nacional Contra a Prostituição.

Cansado e doente, foi aconselhado, em 1957, a retornar à sua terra natal, onde ainda se lançou na constituição e colocação em funcionamento, juntamente com alguns conterrâneos, da Sociedade Avícola do Minho, para desenvolvimento da região.

Vigiado pela PIDE, durou seis anos e meio o seu cativeiro. Faleceu a 20 de Agosto de 1964, em atividade.

Fonte: Fátima Vilaça / http://jlrodrigues.blogspot.pt/

DR. ALVES DOS SANTOS FALECEU HÁ 100 ANOS – EFEMÉRIDE ASSINALA-SE NO PRÓXIMO DIA 17 DE JANEIRO!

Passam no próximo dia 17 de Janeiro precisamente 100 anos sobre a data do falecimento do ilustre limiano Augusto Joaquim Alves dos Santos.

É sabido que o Concelho de Ponte de Lima possui uma extensa galeria de figuras notáveis como nenhum outro se pode orgulhar. É de igual modo verdade que, por vezes, muitas destas figuras ilustres permanecem durante certo tempo ignoradas por falta de conhecimento, apesar de em vida terem atingido grande notoriedade.

Foto existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, cedida ao autor por aquela entidade

O Dr. Alves dos Santos tem sido precisamente uma dessas figuras ilustres e desconhecidas cuja estatura moral e craveira intelectual em muito prestigiam o nosso concelho.

De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, o nosso ilustre conterrâneo nasceu em 14 de Outubro de 1866, na Freguesia de Cabração, tendo falecido em 17 de janeiro de 1924 na cidade de Coimbra onde viveu e se distinguiu.

Apesar dos esforços desenvolvidos não conseguimos identificar possíveis descendentes ou outros familiares, nomeadamente na Freguesia de que foi natural. Sabemos unicamente que era filho de Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos e Ana Maria Alves Soares.

Não é nosso propósito aqui fazer a sua biografia mas, no caso vertente, não resistimos a enumerar alguns dados biográficos pois o conhecimento do Dr. Alves dos Santos não dispensa apresentação.

Entre os inúmeros cargos que exerceu, o Dr. Alves dos Santos foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Ministro do Trabalho e por três vezes eleito deputado pelo círculo de Coimbra entre 1910 e 1921, chegando inclusivamente a presidir à Câmara dos Deputados. Foi ainda Diretor da Biblioteca da Universidade de Coimbra e, um ano após a implantação da República, Chefe do Gabinete do Presidente do Governo provisório.

Foi um eminente teólogo, tendo frequentado o curso de Teologia do Seminário de Braga e recebido ordens sacras. Comendador da Ordem de Santiago em 1904, lecionou Grego e Hebraico no Liceu de Coimbra, Pedagogia, Psicologia e Psicologia Infantil nomeadamente na Escola Normal Superior daquela cidade e, entre inúmeras cadeiras, Pedagogia, Psicologia e Lógica, História da Filosofia e Psicologia Experimental na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A ele se deveu a instalação do Laboratório de Psicologia daquela Faculdade, no qual também desempenhou as funções de Diretor.

A sua obra literária é igualmente vasta, sendo de destacar os seguintes trabalhos:

- “Concordismo e Idealismo”, publicado em 1900;

- “O Problema da origem da família e do matrimónio em face da Bíblia e da Sociologia”, editado em 1901;

- “A nossa escola primária – o que tem sido e o que deve ser”, em 1910;

- “O ensino primário em Portugal, nas suas relações com a história geral da nação”, em 1913;

- “Elementos de filosofia científica”, em 1918;

- “Portugal e a Grande Guerra” (duas conferências), Coimbra, 1913;

- “Psicologia experimental e Pedagogia”, Coimbra, 1923;

O Dr. Alves dos Santos foi militante do Partido Republicano Nacionalista desde que se extinguira o Partido Republicano Evolucionista do Dr. António José de Almeida.

Sobre o seu perfil político, o periódico “O Despertar” de Coimbra, na sua edição de 19 de janeiro de 1924 afirmava:

Foi um orador fluente. Tanto da tribuna sagrada como em comícios públicos e mais tarde no parlamento, o sr. Dr. Alves dos Santos era sempre ouvido com o mais vivo interesse.

Conhecedor a fundo da língua, o saudoso extinto era fecundo em maravilhosas imagens, chegando, por vezes, a empolgar a assistência, com o seu gesto largo e manifesta sinceridade que exprimia às suas palavras.

Os seus adversários políticos, nomeadamente, eram os primeiros a reconhecer-lhe o mais formoso talento”.

Ainda segundo o mesmo periódico, o Dr. Alves dos Santos era uma figura “essencialmente popular, sem escusados preconceitos”, “estimadíssimo em Coimbra” e “um amigo devotado das crianças, às quais dedicava os mais vivos afectos”, razão pela qual lhes consagrou muitos dos seus estudos.

O Dr. Alves dos Santos residia no número catorze da rua Alexandre Herculano, na cidade de Coimbra, e faleceu na sequência de “uma horrorosa enfermidade para a qual a sciencia médica é ainda impotente”, conforme noticiava a “Gazeta de Coimbra”, no dia do seu falecimento.

No seu funeral estiveram representadas a Universidade de Coimbra, o Governador Civil do Distrito, os ministros do Interior e do Trabalho, a Câmara Municipal de Coimbra e a Misericórdia local entre numerosas outras entidades. Isto apesar da vontade manifesta do Dr. Alves dos Santos na realização de uma cerimónia fúnebre discreta.

Na Câmara Municipal e no Centro Nacionalista foi içada a bandeira nacional a meia haste e na Câmara dos Deputados foi aprovado um voto de sentimento.

Os restos mortais do Dr. Alves dos Santos encontram-se depositados no Cemitério da Conchada, em Coimbra, mais concretamente na sepultura nº. 16 do leirão nº. 23, conforme notícia publicada em “O Despertar” de 19 de janeiro de 1924.

O seu nome não consta da toponímia da cidade de Coimbra nem do Concelho de Ponte de Lima.

Contudo, como dizia o periódico acima citado na referida edição, o Dr. Alves dos Santos foi um “patriota dos mais eminentes, foi sempre um grande liberal, perdendo o país no saudoso finado um dos seus filhos mais ilustres”.

- Carlos Gomes em “O Anunciador das Feiras Novas”, nº X, Ponte de Lima, 1993

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O Dr. Alves dos Santos (segundo a contar da direita) foi Ministro do Trabalho no governo do Dr. Cunha Leal

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A foto, publicada na revista “Ilustração Portugueza” de 28 de janeiro de 1922, mostra a visita do Dr. Alves dos Santos, na qualidade de Ministro do Trabalho, ao asilo D. Maria Pia 

Notas:

1. Alguns anos após a publicação deste artigo, a Câmara Municipal de Ponte de Lima atribuiu o seu nome a uma das artérias da vila limiana.

2. O Dr. Alves dos Santos não teve descendentes diretos. De acordo com pesquisas genealógicas posteriormente efetuadas pelo autor, Augusto Joaquim Alves dos Santos era oriundo da família Carmo (da Cabração) da qual descendiam os de apelido Santos.

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Transcrição:

“Aos vinte e hum dias do mês de outubro do anno de mil e oito centos sasenta e seis n’esta parochial Igreja de Sancta Maria da Cabração, concelho de Ponte do Lima Diocese de Braga Primaz Baptizei Solenemente hum indevido do sexo masculino a quem dei o nome de Augusto Joaquim Santos que nasceo nesta freguesia no dia quatorze de outubro pelas quatro horas da manha do dito mês e anno folho legitimo de Manoel Joaquim Rodrigues dos Santos e Anna Maria Alves Soares natural da freguesia de Sam João da Rebeira e ele natural desta freguesia recebidos (…) de Ponte de Lima mas parochianos Proprietarios e moradores no Lugar da Igreja desta freguesia. Nepto Paterno de Antonio Jose Rodrigues dos Santos já defunto e Anna Joaquina Dantas proprietários e moradores no Lugar de Igreja que he desta freguesia e ella hoje residente na freguesia da Labruje deste concelho Materno de Antonio Jose Alves, Soares digo de Antonio Jose Alves e Mariana Luisa Soares da freguesia de Sam João da Ribeira Lugar de Crasto proprietários e forão Padrinhos o Reverendo Manoel Joaquim Soares thio do Baptizado e Maria Rosa Alves, solteira thia do Baptizado ambos da freguesia de Sam João da Rebeira Lugar de Crasto os quais todos sei serem os próprios. E para constar labrei em duplicado o prezente assento que depois de lido e conferido perante os Padrinhos comigo assinarão Era est supra.

os Padrinhos Manoel Joaquim Soares

                      Maria Rosa Alves

O Parocho     Antonio Raymundo da Cunha Ferreira”

(Arquivo Distrital de Viana do Castelo. Fundo Paroquial de Ponte de Lima – Cabração. Livro de baptismos. Datas extremas: 1855 – 1890. Fls. 33 Cota 3.13.1.32)

REVISTA "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA" NOTICIOU O FALECIMENTO DO DR. ALVES DOS SANTOS

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A revista “Ilustração portuguesa” de 26 de janeiro de 1924, publicou a notícia do falecimento do Dr Alves dos Santos.

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PONTE DE LIMA: PADRE MANUEL MIRANDA – PÁROCO DE CABRAÇÃO – FALECEU HÁ 45 ANOS – FOI O ÚLTIMO EXORCISTA!

Até meados dos anos setenta do século passado, a freguesia de Cabração, no concelho de Ponte de Lima, ficou famosa em todo o país pelos rituais de exorcismo que dois párocos ali praticaram.

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Este tema mereceu inclusive a publicação de um artigo na edição de 1998 da revista “O Anunciador das Feiras Novas” sob o título “Cabração: o último exorcista”.

O padre Miranda foi o último pároco que ali exerceu tal ofício. Era extraordinária afluência diária de visitantes à localidade. O atendimento era geralmente feito durante a manhã até à hora de almoço. E, no exterior da capela de Nossa Senhora do Azevedo, podia ver-se uma longa fila de automóveis que por vezes chegava às três dezenas.

A pequena capela enchia-se por completo de pessoas que invariavelmente recorriam aos serviços do gentil pároco. Este procurava saber os pecados que condenavam a “alma penada” a encostar-se à criatura que atormentava. E, com umas valentes bofetadas, sempre acompanhadas de algumas preciosidades do nosso mais requintado vernáculo, lá tratava de enviar a alma atormentada para “o alto do monte onde só ouvisse cantar o mocho”

O padre Manuel Lopes Miranda faleceu em 26 de Janeiro de 1978 e foi sepultado em jazigo de família, em Barcelos, no cemitério paroquial de Cristelo, sua terra natal.

Com ele, a prática do exorcismo extinguiu-se na freguesia de Cabração. Resta na memória dos seus habitantes, sobretudo dos menos jovens, a forma como o mesmo era tratado – O “Pintinho”!

PONTE DE LIMA: CABRAS SÃO, SENHOR... – PAINEL DE AZULEJOS DA AUTORIA DE JORGE COLAÇO ALUSIVO À PASSAGEM DE D. AFONSO HENRIQUES PELA LOCALIDADE DA CABRAÇÃO

Rezam os cálculos dos historiadores, o torneio de Valdevez deverá ter ocorrido nos começos de 1140, após o qual volteou D. Afonso Henriques “pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis” e, com os seus ricos-homens e infanções, terá chegado ao “sítio que hoje se chama Cabração”. Desde então, não há memória de algum Chefe de Estado – rei ou presidente da República – ter visitado a Freguesia de Cabração, nem que ao menos fosse para caçar ursos e javalis…

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Painel de azulejos existente em Ponte de Lima, da autoria de Jorge Colaço

“Após o recontro no Rêgo do Azar, quiz D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções. Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã à busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro. Em boa hora vinha a refeição. Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo. D. Nuno Soares por alcunha o Velho e o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.

- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o Rei brincando. – Ai Real Senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que me não lembre do momento em que o bom cavaleiro Gonçalo da Maia exalou o derradeiro suspiro encostado ao meu peito.

- Quisera eu ouvir da tua boca essa heroica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre do Loivo obedeceu, com voz pausada e lágrimas nos olhos.

Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.

Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergueu-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.

- Que examinas D. Egas? – Perguntou o Príncipe. – Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos dcescuidados.

De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do tropel era cada vez mais distinto.

- Sejamos prestes – gritou o Rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo. – Cavalgar, cavalgar, já não era outra a voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde prendera o seu cavalo. O capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e além os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando… - Deixa-los ir que voltam breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A historia do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.

Pouco depois voltavam os monteadores rindo à gargalhada. – Cabras são: - disse o rei ao apear-se, e, dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou.

- Bebi todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.

Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnada de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.

Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós.

Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora do Azevedo. O dito do Rei “Cabras são” corrompeu-se em Cabração.”

Conde de Bertiandos, Cabras São, in “Almanaque de Ponte de Lima, 1923

PONTE DE LIMA: DIA MUNDIAL DA TERCEIRA IDADE – SOCIALIZAÇÃO REDUZ O STRESS E A DEPRESSÃO

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Este sábado é Dia Mundial da Terceira Idade: uma fase da vida para enfrentar acompanhado. A SIC foi até Ponte de Lima para ver de perto a realidade de muitos idosos que vivem em lares.

A solidão e o isolamento social têm um impacto negativo na saúde e na mortalidade dos idosos. Pelo contrário, o convívio reduz o stress e a depressão.

Num lar que a SIC foi conhecer, em Ponte de Lima, 25 idosos têm as famílias fora do país. Para encurtar distâncias, os utentes são incentivados a recorrer à tecnologia. Primeiro estranharam, mas com o hábito acabaram por se render às videochamadas.

Aqui, a tecnologia possibilita não só o contacto mais próximo e frequente com os familiares, como também com o mundo exterior.

A costura, as artes plásticas e as simples tarefas diárias também são atividades úteis para estimular a socialização e promover o bem estar.

Em Portugal, há mais de dois milhões de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos. Segundo um estudo do Observatório da Solidão, 70% dos idosos dizem que se sentem sós.

Fonte: SIC

PONTE DE LIMA: NO INÍCIO DO PRÓXIMO ANO CUMPRE-SE O PRIMEIRO CENTENÁRIO DO FALECIMENTO DO ILUSTRE LIMIANO QUE FOI O DR. ALVES DOS SANTOS

Passa no próximo dia 17 de Janeiro de 2024 precisamente o 1º centenário do falecimento em Coimbra do Dr. Alves dos Santos. De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, nasceu em 14 de Outubro de 1866 na Freguesia de Santa Maria da Cabração, concelho de Ponte de Lima, e faleceu na cidade de Coimbra. Era filho de Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos e de Ana Maria Alves Soares.

A atribuição do seu nome a um estabelecimento de ensino em Ponte de Lima como seu patrono seria a homenagem mais digna a dar a conhecer a personalidade e a obra de um dos mais ilustres limianos

O Dr. Alves dos Santos – um dos mais ilustres filhos de Ponte de Lima – foi o pioneiro do estudo e investigação da psicologia no nosso país, continuando a sua obra a ser estudada pelos mais notáveis académicos decorridos mais de oito décadas desde a data do seu desaparecimento. A obra que publicou em 1923, Psicologia Experimental e Pedologia”, é considerada aliás um marco “na história da psicologia em Portugal pelo seu pioneirismo e importância histórica”.

Figura controversa, padre apóstata, monárquico convertido ao republicanismo, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É apontado como o principal autor da reforma do ensino primário de 1911. Pioneiro em Portugal da Psicologia Experimental, criou o primeiro laboratório nesta área. Conhecia em profundidade os principais psicólogos europeus do seu tempo, tendo privado com Henri Piéron (colaborador de Binet), cursou no Instituto Jean-Jacques Rosseau, em Genebra, com Edouard Claparède e Paul Godin.

De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, o nosso ilustre conterrâneo nasceu em 14 de Outubro de 1866, na Freguesia de Cabração, tendo falecido em 17 de janeiro de 1924 na cidade de Coimbra onde viveu e se distinguiu.

Entre os inúmeros cargos que exerceu, o Dr. Alves dos Santos foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Ministro do Trabalho e por três vezes eleito deputado pelo círculo de Coimbra entre 1910 e 1921, chegando inclusivamente a presidir à Câmara dos Deputados. Foi ainda Diretor da Biblioteca da Universidade de Coimbra e, um ano após a implantação da República, Chefe do Gabinete do Presidente do Governo provisório.

Foi um eminente teólogo, tendo frequentado o curso de Teologia do Seminário de Braga e recebido ordens sacras. Comendador da Ordem de Santiago em 1904, lecionou Grego e Hebraico no Liceu de Coimbra, Pedagogia, Psicologia e Psicologia Infantil nomeadamente na Escola Normal Superior daquela cidade e, entre inúmeras cadeiras, Pedagogia, Psicologia e Lógica, História da Filosofia e Psicologia Experimental na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A ele se deveu a instalação do Laboratório de Psicologia daquela Faculdade, no qual também desempenhou as funções de Diretor.

A sua obra literária é igualmente vasta, sendo de destacar os seguintes trabalhos:

  • “Concordismo e Idealismo”, publicado em 1900;
  • “O Problema da origem da família e do matrimónio em face da Bíblia e da Sociologia”, editado em 1901;
  • “A nossa escola primária – o que tem sido e o que deve ser”, em 1910;
  • “O ensino primário em Portugal, nas suas relações com a história geral da nação”, em 1913;
  • “Elementos de filosofia científica”, em 1918;
  • “Portugal e a Grande Guerra” (duas conferências), Coimbra, 1913;
  • “Psicologia experimental e Pedagogia”, Coimbra, 1923.

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A foto, publicada na revista “Ilustração Portugueza” de 28 de janeiro de 1922, mostra a visita do Dr. Alves dos Santos, na qualidade de Ministro do Trabalho, ao asilo D. Maria Pia 

Transcreve-se o assento paroquial de batismo de Manoel Joaquim Rodrigues dos Santos, pai de Augusto Joaquim Alves dos Santos, também ele natural da Freguesia de Cabração, concelho de Ponte de Lima, cuja imagem junto se reproduz.

“Manoel Joaquim filho legitimo de Antonio Jose Rodriguez dos Sanctos, e de Anna Joaquina Dantas do Lugar da Egreja desta freguesia de Santa Maria da Cabração julgado de Ponte de Lima; nasceo no dia quinze de Agosto de mil oito centos trinta, e nove, foi baptizado solenemente na pia Baptismal desta Igreja, com imposição dos sanctos oleos, no dia dezoito do ditto mês, por mim padre Joao Antonio Pereira de Amorim Paroco desta Igreja. Forao padrinhos, Joao Antonio Rodrigues, solteiro (…) Maria Joanna Rodrigues solteira ambos (…) e do mesmo Baptizado. Nepto Paterno de Joao Rodrigues dos Sanctos, e de Maria Affonso do Lugar da Igreja desta mesma (…) materno do Padre Manoel Jose de (…), e de Rosa Maria de Antas solteira, ambos da freguesia da Labruje, Lugar do Socorro. Pª constar fiz este assento que assino: era dia mês comes est. Supra.

O Paroco Joao Antº Perª de Amorim Vigº”

(Arquivo Distrital de Viana do castelo. Fundo paroquial de Ponte de Lima – Cabração. Livro de baptismos. Nº. do livro: 2 Fls 4 Cota 3.13.1.31)

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O Dr. Alves dos Santos (segundo a contar da direita) foi Ministro do Trabalho no governo do Dr. Cunha Leal

A revista “Ilustração portuguesa” de 26 de janeiro de 1924, publicou a notícia do falecimento do Dr Alves dos Santos.

PONTE DE LIMA: ANTÓNIO MANUEL GOMES HASTEOU EM 1919 A BANDEIRA DA MONARQUIA NA CABRAÇÃO – DECORRIA A “MONARQUIA DO NORTE” CHEFIADA POR PAIVA COUCEIRO!

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A casa do Carmo, assim designada por ter pertencido a uma família com esse apelido (antecessora dos Santos), conserva na fachada o escudo nacional que evoca a adesão do seu antigo proprietário à "Monarquia do Norte" em 1919

A revolta conhecida por “Monarquia do Norte” estalou no Porto em 1919 sob o comando de Paiva Couceiro. O movimento obteve enorme adesão em quase toda a região norte do país. Ponte de Lima não foi excepção à regra e aqui, a freguesia da Cabração foi uma das que contou com numerosos adeptos à causa monárquica.

Alguns partiram para a linha da frente dar combate às forças republicanas. O entusiasmo levou António Manuel Gomes – um dos partidários da causa realista – a içar a bandeira monárquica na sua própria casa, sita no lugar de Além.

Executado por um tio a seu pedido, a casa ainda ostenta na fachada o escudo nacional sem coroa real, a testemunhar ocorrências históricas com mais de um século.

Este tema foi abordado na edição de 1994 da revista “O Anunciador das Feiras Novas” que se publica em Ponte de Lima.

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António Manuel Gomes e esposa, Maria Joaquina dos Santos (prima em 1º grau do Dr. Augusto Joaquim Alves dos Santos). A foto data do início do século XX.

Transcrição do assento de Baptismo de António Manuel Gomes, em 1881, na Igreja Paroquial de Santa Maria da Cabração.

Certidão de baptismo de António Manuel Gomes

Cabração. 9/9/1881 – f. Cabração. 26/8/1965

Aos quinze dias do mêz de septembro do anno de mil oito centos oitenta e um, n’esta parochial Egreja de Sancta Maria da Cabração, concelho de Ponte do Lima, Archidiocese de Braga Primaz, baptizei solennemente e pûz os sanctos olêos a um individuo do sexo masculino a que dei o nome de Antonio, que nascêo n’esta freguezia no dia nove do ditto mêz e anno pelas dêz horas da manhã, filho legitimo e primeiro d’este nome de João Luiz Gomes e sua mulher Anna Maria de Mattos, lavradores, naturaes e moradores no lugar da Ballouca, que é d’esta freguezia, n’ella recebidos e d’ella parochianos; nepto paterno de Manoel Antonio Gomes e de sua mulher Bernardina Joanna Alves, lavradores, naturaes e moradores no lugar da Escuza, que é d’esta freguezia; e materno de João Manoel de Mattos e de sua mulher Maria do Carmo, lavradores, naturaes e moradores no lugar d’Alem, que é d’esta freguezia. Foram seos padrinhos João Manoel de Mattos Junior, solteiro, tio do baptizado, lavrador, natural e morador no lugar d’Alem que é d’esta freguezia, e Emilia d’Azevedo de Mattos, solteira, tia do baptizado, lavradora natural e moradora no lugar d’Alem que é d’esta freguezia, os quaes todos sei serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado o presente assento, que depois de ser lido e conferido perante os padrinhos, o passo a assignar, e junctamente o padrinho e madrinha por saberem lêr e escrever. Erat est supra.

O padrinho - Joao Manoel de Mattos Junior

A madrinha – Emilia d’Azevedo de Mattos

O Parocho Jose Miguel Domingues Carreira

FALECEU O PADRE JOÃO MARTINS BATISTA – ERA NATURAL DE BARCELOS

Faleceu o Pe. João Martins Batista | 1932-2023

O Pe. João Batista nasceu a 16 de Julho em Cossourado (Barcelos), tendo frequentado o Seminário de Braga. Ordenado padre em 1957, foi até 1960 pároco na paróquia de Cabração (Ponte de Lima), de 1960 a 1975 pároco da paróquia de Vitorino dos Piães (Ponte de Lima), e de 1975 a 2011 pároco da Paróquia de Vila Praia de Âncora (Caminha).

O seu funeral será no sábado, pelas 15.00, em Cossourado.

Fonte: Diocese de Viana do Castelo

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PONTE DE LIMA: GOVERNO MANDOU EXPROPRIAR TERRENOS NA CABRAÇÃO PARA OS COLOCAR AO SERVIÇO DA EXPLORAÇÃO MINEIRA

O Ministério da Economia – Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos, através do Decreto nº. 32109 publicado no Diário do Governo nº. 147/1942, Série I de 26 de Junho de 1942, concedeu à Compagnie Française des Mines, concessionária da mina denominada Monteiro, situada no concelho de Ponte do Lima, a expropriação por utilidade pública de vários terrenos para assegurar o abastecimento de água à lavaria e construir uma barragem destinada a reter as areias provenientes da oficina de tratamento do minério.

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NELSON VILARINHO, UMA HISTÓRIA DE AMOR – POR MANUEL TINOCO

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Morreu há um par de anos, era já uma lenda dos cantares ao desafio (ou desgarradas, como alguns insistem, mal, em chamar-lhes), mas depois de partir tornou-se um deus da arte milenar que dizem os estudiosos ter origem na Grécia Antiga.

Vilarinho representa para os cantares ao desafio o que significa Marceneiro para o Fado. É pouco? Não, é tudo! Nascido no Brasil, desde tenra idade filho adoptivo de Covas, adolescência mourejada na Lisboa das tabernas e carvoarias, Nelson Vilarinho era mais do que um tocador de concertina. Era uma lenda dos arraiais e romarias do Alto Minho.

O concelho de Paredes de Coura conheceu-o desde o dia em que, desenhando incandescente história de amor, raptou de casa dos pais, em Rubiães, aquela que viria a ser a mulher da sua vida. O homem que personificou a festa nas romarias e a vivacidade dos cantares ao desafio, não pôs freio na impetuosa paixão e convenceu a jovem e enamorada rubianense a saltar pela janela e a fugir com ele para Viana.

Sem vontade de regressar aos dias da vida escrava de Lisboa, nada quis, porém, com a lavoura, somando mil vivências que não aceitavam regras nem imposições. Foi detido várias vezes por não se encontrar registado na Conservatória; foi, como direi?, poeta das franjas da vida e inebriou-se em todas as romarias da região deleitando-nos com a velha concertina em São João de Arga, na Senhora da Bonança, em São Roque de Romarigães, na Cabração, no Livramento, em São Bento da Porta Aberta, e que mais eu sei.

Falar de Cultura Popular no Alto Minho é em boa parte falar de Nelson Vilarinho, que soube dobrar as esquinas de todas as idades, e partir sem que a morte o impedisse de ser o mais emblemático transmissor do imemorial património dos cantares ao desafio, tradição oral tão querida das nossas gentes.

PONTE DE LIMA: QUEM FOI MANUEL JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS – NATURAL DA CABRAÇÃO – PAI DO ILUSTRE LIMIANO AUGUSTO JOAQUIM ALVES DOS SANTOS

“Manuel Joaquim filho legítimo de Antonio Jose Rodriguez dos Sanctos, e de Anna Joaquina Dantas do lugar da Egreja desta freguezia de Sancta Maria da Cabração julgado de Ponte doLima; nasceo no dia quinze de Agosto de mil oito centos trinta, e nove, foi baptizado solenemente na pia Baptismal deste Igreja, com imposição dos sanctos oelos, no dia dezoito do ditto mês, por mim Padre Joao Antonio Pereira de Amorim Paroco desta Igreja. Forao padrinhos, Joao Antonio Rodrigues solteiro, (…) Maria Joanna Rodrigues solteira ambos (…) e do mesmo Baptizado. Nepto Paterno de João Rodrigues dos Sanctos, e de Maria Affonso do Lugar de Igreja desta mesma materno do Padre Manoel Jose de (…), e de Rosa Maria de Antas solteira, ambos da freguezia da Labruje, Lugar do Socorro, Pª constar fiz este assento que assino: era dia e mês est supre.

O Paroco Joao Antº Perª de Amorim Vigº”

Transcrição do assento de baptismo de Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos, pais de Augusto Joaquim Alves dos Santos.

Fonte: Arquivo Distrital de Viana do Castelo. Fundo Paroquial de Ponte de Lima – Cabração. Livro de batismos. Nº. do livro: 2. Fls. 4 Cota 3.13.1.31.

Foto existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, cedida ao autor

PONTE DE LIMA: IGREJA DE SANTA MARIA DA CABRAÇÃO ANTES DE 1920

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Em meados do século XIX, o governo cartista de Costa Cabral, a pretexto de implementação de medidas sanitárias, decretou a proibição da realização de enterros dentro das igrejas, o que foi então interpretado como uma forma de diminuir a influência social da Igreja Católica. Esta medida constituiu então num dos motivos que levaram à eclosão em 1846 da revolta popular da Maria da Fonte que rapidamente alastrou a todo o Minho.

Pese embora a contestação, foram a partir de então construídos cemitérios junto às igrejas e capelas paroquiais, numa solução de compromisso entre o sagrado e o profano. E, por todo o país, as ossadas dos defuntas começaram a ser retiradas das sepulturas existentes no interior dos templos para serem trasladadas para os novos cemitérios. Um processo que demorou várias décadas estendendo-se quase até meados do século XX.

As lápides funerárias foram removidas para o adro das igrejas e as sepulturas fechadas com pavimentos de madeira que em muitos casos vieram mais recentemente a serem atulhadas e pavimentadas de cimento e tijoleira.

Em Ponte de Lima, mais concretamente na freguesia da Cabração, tal empreendimento teve lugar nos começos do século XX, numa altura em que decorriam as obras de construção da torre da capela, tal como a vemos na foto.

Era mestre-de-obras João Manoel de Mattos Junior – da famílias dos Santos desta freguesia – que, na ocasião, por mero acidente, veio a cair numa das sepulturas entretanto abertas no interior da capela. Sucede que o efeito psicológico foi de tal modo que a partir de então se recusou a prosseguir as obras dentro da igreja, apenas aceitando a sua condução a partir do exterior. Crê-se que deixou de realizar tal tarefa dadas as circunstâncias.

Esta história chegou até nós através de tradição oral no seio familiar pelo que é susceptível de conter algumas imprecisões.

João Manoel de Mattos Junior nasceu na Cabração em 10 de Agosto de 1844. Do seu assento de baptismo consta o seguinte:

“Joao Manoel filho legittimo de Joao Manoel de Mattos, e sua mulher Maria do Carmo do lugar de Alem desta freguezia de Sancta Maria da Cabraçao julgadod e Ponte de Lima. Nasceo no dia dez do mês de Agosto de mil oito centos quarenta e catro e foi Baptizado Solenemente na Pia Baptismal desta Igreja Solenemente com imposição dos Santos oleos no dia dezoito do mês por mim o Padre Joao Antonio Pereira paroco desta Igreja. Nepto paterno de Bernardo Antonio de Matos ja defunto e Anna Rosa Rodrigues desta. Forao padrinhos Joao Manoel Affonso de Oliveira digo Manoel Pereira da Costa, e Anna Rosa viuva ambos desta. Para constar fiz este termo q. asigno. Stª Mª de Cabração era dia mês e Anno est supra.”

PONTE DE LIMA: GENTES DA CABRAÇÃO PROMOVEM ARBORIZAÇÃO

Promovida pelo Município de Ponte de Lima com enquadramento no projeto “Ponte de Lima: Pulmão do Alto Minho” realizou-se ontem no Baldio de Santa Maria da Cabração uma ação conjunta da Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos de arborização com folhosas a faixa de gestão de combustível envolvente Estrada Municipal n.º 524 .

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A Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos, reconhecida, em 2005, como Zona Húmida de Importância Internacional, ao abrigo da Convenção de Ramsar, assinalou ontem o Dia Internacional das Zonas Húmidas.

A iniciativa que também tem enquadramento no projeto "Ponte de Lima: Pulmão do Alto Minho" focou-se na arborização da faixa de gestão de combustível no troço da Estrada Municipal n.º 524, com cerca de 1,8km, entre a aldeia da Cabração e o limite do concelho de Ponte de Lima com o concelho de Vila Nova de Cerveira.

A ação resultou de uma parceria entre a Área Protegida, Associação Florestal, Junta de Freguesia de Cabração e Moreira do Lima e da Comunidade Local do Baldio de Santa Maria da Cabração.

O Vereador do Municipio de Ponte de Lima, Eng.º Gonçalo Rodrigues, que detém os pelouros do Ambiente e Espaços Verdes e das Florestas, identificou os objetivos desta ação "que, naturalmente, passam em primeiro lugar, por assinalar a Dia Internacional das Zonas Húmidas. A iniciativa deve ser entendida como um sinal de reconhecimento da importância que é conferida pela Área Protegida ao restante território da bacia hidrográfica do rio Estorãos, tendo em consideração que, ao estar localizada no último terço da bacia, a Área Protegida e Zona Húmida de Importância Internacional funciona como um espaço coletor da mesma absorvendo, por conseguinte, um conjunto de efeitos que são promovidos a montante do espaço classificado".

O Eng.º Gonçalo Rodrigues destacou em, segundo lugar, "o contributo da ação para o projeto "Pulmão do Alto Minho" no qual, entre outras ações, é pretendida a criação de uma infraestrutura verde que possa perdurar no tempo e no espaço em áreas, tal como a que estamos hoje aqui a executar, que possam conectar-se entre si aumentando a resiliência do território, a transferência de valores naturais e estética da paisagem".

Marcaram presença nesta atividade a Comunidade Local do Baldio de Santa Maria da Cabração, que louva a iniciativa da autarquia pela visão estratégica revelada em matéria de floresta; populares da freguesia e Junta de Freguesia de Cabração e Moreira do Lima, técnicos do Gabinete Técnico Florestal e da Área Protegida do Município de Ponte de Lima e técnicos e sapadores florestais da Associação Florestal do Lima. Com sempre, dada a importância da educação ambiental no contexto destas ações, marcaram ainda presença os alunos da turma do 3º ano da EB1 de Arcozelo que ajudaram a na plantação de espécies autóctones, desde carvalhos, salgueiros, castanheiros e nogueiras.

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DEOLINDA LEONES – UMA FADISTA LIMIANA NATURAL DA CABRAÇÃO

BLOGUE DO MINHO recupera um artigo publicado há 4 anos

Deolinda Leones é uma popular fadista natural de Cabração, concelho de Ponte de Lima, que acaba de editar um CD em cuja capa não podia faltar a vista panorâmica da vila limiana e a sua ponte românica sobre o rio Lima. A convite do BLOGUE DO MINHO, dá-se a conhecer aos nossos leitores na primeira pessoa, falando sobretudo da sua experiência como artista do fado, apesar de ter nascido numa terra profundamente marcada pelo folclore alegre e esplendoroso que caracteriza o Minho.

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São, pois, suas as palavras que se seguem:

“Além do meu trabalho, cantar é o que mais gosto de fazer. Era ainda muito pequena e cantava com uns vizinhos que também cantavam e tocavam viola. E assim passava os meus dias quando não tinha escola.

Perto da minha casa, em Lisboa, havia então uma casa típica chamada Arcadas do Rego, onde havia fados aos fins-de-semana. Então, refugiava-me lá para ouvir os fadistas e pedia para cantar... e, tanto pedi que certo dia lá me deixaram cantar. Recordo que cantei à capela, como se diz quando não se tem música. Interpretei então o fado “Povo que lavas no rio” cujo pema é, como se sabe, do grande poeta Pedro Homem de Mello.

Fui então muito ovacionada. E o êxito foi tão surpreendente que, no meio de tantas palmas, dois senhores vieram ter comigo e perguntaram-me:

- Como te chamas miúda?

E, depois de ter-lhes dito o meu nome, questionaram-me de novo:

- Gostas de cantar?

Foi então que confessei: disse-lhes que adoro cantat mas o meu pai não deixa porque diz que as artistas se portam mal.

Foi então que eles prometeram: Vamos falar com o teu pai e tu vai cantar!

E assim sucedeu…

Eu era então uma moça humilde e envergonhada mas, após terem conversado com o meu pai, ele lá me deixou, não sem me presentear com vários ralhetes na presença deles. Vim posteriormente a saber para minha enorme surpresa que, os referidos cavalheiros eram, nem mais nem menos, que Raul Solnado e Raul Indipo!

E assim iniciei a minha carreira artista como cantadeira de fados. A primeira casa onde passei a actuar situava-se no Bairro Alto – bairro que é um verdadeiro alfobre dos maiores fadistas! – mais precisamente O “Viela” na rua das Taipas e era gerida pelo sr. Sérgio. Concluí o meu curso mas, até hoje, não parei jamais de cantar o fado!”

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