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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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PONTE DE LIMA: CABO VÍTOR DANTAS - NATURAL DA CABRAÇÃO – PARTICIPA NO DIA DA MARINHA A BORDO DO NAVIO-ESCOLA SAGRES

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Dia da Marinha: As nossas caras, as nossas histórias

O Cabo Manobra Vítor Dantas ingressou na marinha no ano 2005 e é natural da aldeia Cabração, em Ponte de Lima.

No início do seu percurso descobriu que a sua paixão é o NRP Sagres. Ao ser um marinheiro deste navio, ao longo das suas missões, orgulha-se de levar um pouco de Portugal aos portugueses que se encontram nas diversas partes do mundo.

A bordo do NRP Sagres, já visitou 48 países e participou na circum-navegação, em 2010.

Para ele o mar “é a força que nos move” e acrescenta “que quando se faz o que se gosta é meio caminho andado para o sucesso”.

Ao saber que as celebrações do Dia da Marinha seriam em Viana do Castelo ficou muito feliz por poder mostrar o seu navio às suas gentes, e convida todos a visitarem o NRP Sagres, que tantas vezes leva Portugal aos portugueses.

Junte-se ao Cabo Vítor Dantas e venha visitar o Navio-Escola Sagres entre os dias 14 e 20 de maio em Viana do Castelo.

Fonte: Marinha Portuguesa

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PONTE DE LIMA RESGATAM O PELÉ NA MINA DOS MONTEIROS NA CABRAÇÃO

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RESGATE ANIMAL | MISSÃO CUMPRIDA

Depois de mais de 5 horas de trabalho intenso e cuidadoso, os nossos operacionais conseguiram resgatar, com sucesso, o Pelé

O Pelé, é um cão que se encontrava a cerca de 50 metros de profundidade numa antiga mina de minério, na freguesia de Cabração.

O alerta foi dado no sábado e, desde então, foram feitas várias tentativas de localizar e aceder em segurança ao local. Hoje, graças ao esforço conjunto, perícia técnica e espírito de missão, conseguimos trazer o Pelé de volta à superfície sem ferimentos

O animal encontra-se bem e já foi entregue aos cuidados do seu tutor

Agradecemos a todos os que acompanharam e apoiaram esta operação

Fonte: Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima

PONTE DE LIMA: GOVERNO CONCEDEU EM 1942 À COMPANHIA FRANCESA DE MINAS DIREITOS DE EXPROPRIAÇÃO DE TERRENOS E ÂGUAS NA CABRAÇÃO – A EUROPA ESTAVA EM GUERRA

O Ministério da Economia – Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos, através do Decreto nº. 32109, publicado em Diário do Governo nº. 147/1942, Série I de 26 de junho de 1942, concedeu à Compagnie Française des Mines, concessionária da mina denominada Monteiro, situada no concelho de Ponte do Lima, a expropriação por utilidade pública de vários terrenos para assegurar o abastecimento de água à lavaria e construir uma barragem destinada a reter as areias provenientes da oficina de tratamento do minério.

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PONTE DE LIMA: AUGUSTO JOAQUIM ALVES DOS SANTOS – UM DOS MAIS EMINENTES PEDAGOGOS E O INTRODUTOR DO ENSINO DA PSICOLOGIA EM PORTUGAL – FALECEU HÁ 101 ANOS!

Passam precisamente 101 anos desde a data do falecimento do ilustre limiano que foi Augusto Joaquim Alves dos Santos

O Dr. Alves dos Santos – um dos mais ilustres filhos de Ponte de Lima – foi o pioneiro do estudo e investigação da psicologia no nosso país, continuando a sua obra a ser estudada pelos mais notáveis académicos decorridos mais de oito décadas desde a data do seu desaparecimento. A obra que publicou em 1923, “Psicologia Experimental e Pedologia”, é considerada aliás um marco “na história da psicologia em Portugal pelo seu pioneirismo e importância histórica”.

Figura controversa, padre apóstata, monárquico convertido ao republicanismo, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É apontado como o principal autor da reforma do ensino primário de 1911. Pioneiro em Portugal da Psicologia Experimental, criou o primeiro laboratório nesta área. Conhecia em profundidade os principais psicólogos europeus do seu tempo, tendo privado com Henri Piéron (colaborador de Binet), cursou no Instituto Jean-Jacques Rosseau, em Genebra, com Edouard Claparède e Paul Godin.

De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, o nosso ilustre conterrâneo nasceu em 14 de Outubro de 1866, na Freguesia de Cabração, tendo falecido em 17 de janeiro de 1924 na cidade de Coimbra onde viveu e se distinguiu.

Entre os inúmeros cargos que exerceu, o Dr. Alves dos Santos foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Ministro do Trabalho e por três vezes eleito deputado pelo círculo de Coimbra entre 1910 e 1921, chegando inclusivamente a presidir à Câmara dos Deputados. Foi ainda Diretor da Biblioteca da Universidade de Coimbra e, um ano após a implantação da República, Chefe do Gabinete do Presidente do Governo provisório.

Foi um eminente teólogo, tendo frequentado o curso de Teologia do Seminário de Braga e recebido ordens sacras. Comendador da Ordem de Santiago em 1904, lecionou Grego e Hebraico no Liceu de Coimbra, Pedagogia, Psicologia e Psicologia Infantil nomeadamente na Escola Normal Superior daquela cidade e, entre inúmeras cadeiras, Pedagogia, Psicologia e Lógica, História da Filosofia e Psicologia Experimental na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A ele se deveu a instalação do Laboratório de Psicologia daquela Faculdade, no qual também desempenhou as funções de Diretor.

A sua obra literária é igualmente vasta, sendo de destacar os seguintes trabalhos:

  • “Concordismo e Idealismo”, publicado em 1900;
  • “O Problema da origem da família e do matrimónio em face da Bíblia e da Sociologia”, editado em 1901;
  • “A nossa escola primária – o que tem sido e o que deve ser”, em 1910;
  • “O ensino primário em Portugal, nas suas relações com a história geral da nação”, em 1913;
  • “Elementos de filosofia científica”, em 1918;
  • “Portugal e a Grande Guerra” (duas conferências), Coimbra, 1913;
  • “Psicologia experimental e Pedagogia”, Coimbra, 1923.

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A foto, publicada na revista “Ilustração Portugueza” de 28 de janeiro de 1922, mostra a visita do Dr. Alves dos Santos, na qualidade de Ministro do Trabalho, ao asilo D. Maria Pia 

PONTE DE LIMA: A TORRE QUE CONTA A LENDA DA CABRAÇÃO

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A Torre que conta uma lenda e regista a altura das cheias

A Torre de S. Paulo foi erigida no século XIV, fazendo parte da estrutura muralhada de defesa da vila. Na face voltada ao rio, um painel de azulejos assinado por Jorge Colaço representa um episódio imaginário de D. Afonso Henriques na Cabração (Cabras são, Senhor!). [Segundo a lenda, depois de uma caçada, descansando D. Afonso Henriques junto à Capela de Nossa Senhora de Azevedo com a sua comitiva, começou a notar-se ao longe uma nuvem de pó e um barulho ensurdecedor. Julgando ser o inimigo que iria atacar, prepararam-se para o combate, indo de encontro à poeira e ao barulho, quando, de repente, o aio D. Egas, parando, dirigiu-se ao rei dizendo em tom de riso: "Cabras são, Senhor!” Deste modo, aquela área, que era ocupada em grande parte por pastores e cabras, passou a chamar-se Cabração].

Fonte: https://www.pontedelima900.pt/

PONTE DE LIMA: ANTÓNIO DE MATOS PREGO REQUEREU EM 1812 LICENÇA PARA SER FREGUÊS DA CABRAÇÃO

Requerimento de António de Matos Prego, da freguesia de S. Julião de Moreira do Lima, como porteiro menor da Bula da Santa Cruzada da freguesia de Santa Maria de Cabração, a requerer licença para ser freguês na dita freguesia de Cabração, não prejudicando nos direitos paroquiais ao Reverendo Pároco de São Julião de Moreira. Datado de 20 de janeiro de 1812.

António de Matos Prego, um dos antepassados do General Norton de Mattos, era filho de Francisco de Matos Prego e de Isabel de Araújo, nasceu a 21 de dezembro de 1744. Foi morador no lugar da Arrifana na freguesia de Moreira e casou-se a 6 de setembro de 1812 com Maria Madalena Gonçalves, sendo que Maria Madalena fora antes casada com João Gonçalves. Deste casamento nasceu Francisco José de Matos Prego e António José de Matos Prego, este último casado com Maria Joaquina de Sousa. Constituiu seu universal herdeiro e testamenteiro o seu filho Francisco José de Matos Prego, casado e morador no lugar do Bárrio. Faleceu a 18 de dezembro de 1828.

De referir que o termo freguesia derivado de freguês provém do latim “filium ecclesiae” que significa “filho da igreja”. Com o tempo, o vocábulo passou a designar as paróquias civis distinguindo-as das paróquias eclesiáticas.

Fonte: Arquivo Municipal de Ponte de Lima

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O CULTO DOS MORTOS NO MINHO

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Igreja Paroquial de Cabração, concelho de Ponte de Lima, vendo-se o cemitério paroquial antigo e novo.

O cemitério – termo proveniente do latim coemeterium, por sua vez derivado do grego Kimitírion – constitui o local onde se depositam os mortos com vista ao seu repouso eterno ou seja, onde se abrem as respectivas sepulturas.

Nos tempos mais remotos, os cemitérios situavam-se geralmente fora dos muros da cidade, distantes das igrejs e outros locais de culto, como sucedia com a Geena às portas de Jerusalém. Na Roma antiga, encontravam-se nas catacumbas que constituíam espaços subterrâneos destinados ao sepultamento, as quais vieram a ser utilizadas pelos cristãos para as suas práticas religiosas com secretismo devido às perseguições de que eram alvo.

Com o tempo, as igrejas vieram a tornar-se locais de sepultamento uma vez que eram considerados como locais sagrados. Porém, sobretudo a partir do século XVIII, o crescimento populacional viria a causar falta de espaço no interior dos templos e nos espaços contíguos. Começaram então para o efeito a serem construídos cemitérios junto do adro das igrejas mas, por via da tradição, esta prática ainda não obtinha grande adesão.

Em 28 de Setembro de 1844, a pretexto de razões sanitárias, o governo de Costa Cabral proíbe os enterros nas igrejas. As famílias passaram a ser obrigadas ao pagamento das despesas do funeral depois do delegado de saúde certificar o óbito. Este constituiu o rastilho para a Revolução da Maria da Fonte, protesto a que se veio juntar a outras reclamações populares em todo o Minho.

A medida sanitária não era imediatamente aplicável por falta de locais destinados exclusivamente ao sepultamento – cemitérios – mas, com o decorrer do tempo, estes foram sendo construídos, as sepulturas abertas no interior das igrejas e os cadáveres transladados para os cemitérios paroquiais. Reduziam-se, desse modo, focos de contaminação no interior das igrejas onde o povo se juntava para o culto e os incensários eram insuficientes para purificar o local.

Nalgumas igrejas ainda se conservam as pedras tumulares identificando personalidades de relevo da comunidade, tal como o local de sepultamento. Noutras, onde não se cuidou da preservação da memória histórica, as sepulturas foram aterradas e o pavimento cimentado. E a memória local perdeu-se!

Foto: José Pinto

PONTE DE LIMA: GOVERNO CONCEDEU EM 2011 A EXPLORAÇÃO DE MINERAIS NA CABRAÇÃO

O Ministério da Economia e do Emprego – Direcção-Geral de Energia e Geologia, publicou em Diário da República nº. 234/2011, Série II de 2011-12-07, o extracto do Contrato nº. 1198/2011, de 7 de dezembro, visando a concessão de exploração de depósitos minerais de feldspato, quartzo, lítio e tântalo a que corresponde o número de cadastro C-123 «FORMIGOSO», localizado na freguesia de Cabração, concelho de Ponte de Lima, distrito de Viana do Castelo.

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PAINEL DE AZULEJOS DE JORGE COLAÇO EM PONTE DE LIMA EVOCA A PASSAGEM DE D. AFONSO HENRIQUES PELA CABRAÇÃO

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A azulejaria que reveste o interior da estação de S. Bento, no Porto, é porventura a mais conhecida e apreciada pelo público das obras do ceramista Jorge Colaço. Não obstante, foram inventariados cerca de mil painéis em 116 locais diferentes em todo o país e no estrangeiro. Entre nós, no Minho, destacamos este painel existente em Ponte de Lima que narra o episódio da passagem do rei D. Afonso Henriques pela Cabração.

A actual aldeia da Cabração, terá sido uma quinta de algum nobre godo, o que se retira de uma escritura que as freiras do mosteiro levaram quando foram para o Convento do Salvador de Braga. Aí se diz que, "indo D. Afonso Henriques à caça dos javalis, a esta freguesia, que é na serra de Arga, acompanhado de Nuno Velho, Sancho Nunes, Gonçalo Rodrigues, Lourenço Viegas, Soeiro Mendes (o Gordo), Gonçalo Ramires e outros fidalgos, o abade de Vitorino, D. Fernando, lhes deu aí de jantar, junto à capela de Nossa Senhora de Azevedo, no fim do qual o rei lhe demarcou o couto."

A Lenda da Cabração

Após o recontro no Rêgo do Azar, quis D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções.

Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das Freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã á busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro.

Em boa hora vinha a refeição.

Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo.

D. Nuno Soares por alcunha Nuno velho o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.

- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o rei brincando.

- Ai Real senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que não me lembre do momento em que o bom Cavaleiro Gonçalo da Maria exalou o derradeiro suspiro encostado a meu peito.

- Quisera eu ouvir da tua boca essa heróica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre de Loivo obedeceu, com voz pousada e lágrimas nos olhos.

Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.

Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergue-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.

- Que examinais D. Egas? – perguntou o Príncipe.

- Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos descuidados.

De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do torpel era cada vez mais distinto.

- Sejamos prestes – gritou o rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo.
- Cavalgar, cavalgar; - já não era outra voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde se prendera o seu cavalo.

O Capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e alem os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando:

- Deixa-los ir que voltam em breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A história do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.

Pouco depois voltavam os monteadores rindo á gargalhada.

- Cabras são: - disse o Rei ao apear-se, e dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou:

Bebei todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.

Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnadas de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.

Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós. Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora de Azevedo.

O dito do rei Cabras são corrompeu-se em Cabração.

Fonte: Conde de Bertiandos, Cabras São, in Almanaque de Ponte de Lima, 1923.

CABRAÇÃO É TERRA MINHOTA DE VELHOS PERGAMINHOS – 15 DE AGOSTO É O DIA DA SUA PADROEIRA!

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Igreja de Santa Maria da Cabração antes de 1920

Em meados do século XIX, o governo cartista de Costa Cabral, a pretexto de implementação de medidas sanitárias, decretou a proibição da realização de enterros dentro das igrejas, o que foi então interpretado como uma forma de diminuir a influência social da Igreja Católica. Esta medida constituiu então num dos motivos que levaram à eclosão em 1846 da revolta popular da Maria da Fonte que rapidamente alastrou a todo o Minho.

Pese embora a contestação, foram a partir de então construídos cemitérios junto às igrejas e capelas paroquiais, numa solução de compromisso entre o sagrado e o profano. E, por todo o país, as ossadas dos defuntas começaram a ser retiradas das sepulturas existentes no interior dos templos para serem trasladadas para os novos cemitérios. Um processo que demorou várias décadas estendendo-se quase até meados do século XX.

As lápides funerárias foram removidas para o adro das igrejas e as sepulturas fechadas com pavimentos de madeira que em muitos casos vieram mais recentemente a serem atulhadas e pavimentadas de cimento e tijoleira.

Em Ponte de Lima, mais concretamente na freguesia da Cabração, tal empreendimento teve lugar nos começos do século XX, numa altura em que decorriam as obras de construção da torre da capela, tal como a vemos na foto.

Era mestre-de-obras João Manoel de Mattos Junior – da famílias dos Santos desta freguesia – que, na ocasião, por mero acidente, veio a cair numa das sepulturas entretanto abertas no interior da capela. Sucede que o efeito psicológico foi de tal modo que a partir de então se recusou a prosseguir as obras dentro da igreja, apenas aceitando a sua condução a partir do exterior. Crê-se que deixou de realizar tal tarefa dadas as circunstâncias.

Esta história chegou até nós através de tradição oral no seio familiar pelo que é susceptível de conter algumas imprecisões.

João Manoel de Mattos Junior nasceu na Cabração em 10 de Agosto de 1844. Do seu assento de baptismo consta o seguinte:

“Joao Manoel filho legittimo de Joao Manoel de Mattos, e sua mulher Maria do Carmo do lugar de Alem desta freguezia de Sancta Maria da Cabraçao julgadod e Ponte de Lima. Nasceo no dia dez do mês de Agosto de mil oito centos quarenta e catro e foi Baptizado Solenemente na Pia Baptismal desta Igreja Solenemente com imposição dos Santos oleos no dia dezoito do mês por mim o Padre Joao Antonio Pereira paroco desta Igreja. Nepto paterno de Bernardo Antonio de Matos ja defunto e Anna Rosa Rodrigues desta. Forao padrinhos Joao Manoel Affonso de Oliveira digo Manoel Pereira da Costa, e Anna Rosa viuva ambos desta. Para constar fiz este termo q. asigno. Stª Mª de Cabração era dia mês e Anno est supra.”

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Qual quadro impressionista no qual o pintor pincelou a tons de verde a clorofila que domina a paisagem, a Cabração é obra-prima do Criador que nas fraldas da serra d’Arga criou um paraíso terreal onde corre o leite e o mel, por sinal tão afamado quanto ao de Himeto, entre os antigos gregos. Quem percorre trilhos e veredas desta povoação – de escassa população mas de grande extensão – pulando os muros de pedra e descendo as ravinas, desde as leiras da escusa às cachoeiras do Passadouro na Balouca, do alto do Chibadouro e dos caminhos sinuosos da Lousa aos recantos da Bemposta, é surpreendido por algo inesperado que se nos oferece aos sentidos.

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" (...) Mas saltara tão de improviso, que mal o viram relampejar, através do brejo, por uma das suas seitas, e num ápice se punha lá para a Cabração, em cujos tesos, a avaliar pelos latidos espaçados, os cães lhe perderam o rasto. Agora, em despeito da ressega, a cada passo os podengos soltavam a sua fanfarra e os gritos dos caçadores: cerca; aboca; ai, cãezinhos duma cana! repercutiam alacremente nas circunvolações dos oiteiros, debaixo do céu lavado.

O tojo, às duas margens do córrego, dava pela cinta dum homem; sobros e carvalhiços anões cresciam em touceiras tão fartas que a caça facilmente se escamugia e tinha bom encosto para alapardar-se."

Aquilino Ribeiro, em A Casa Grande de Romarigães

A actual aldeia da Cabração, terá sido uma quinta de algum nobre godo, o que se retira de uma escritura que as freiras do mosteiro levaram quando foram para o Convento do Salvador de Braga. Aí se diz que, "indo D. Afonso Henriques à caça dos javalis, a esta freguesia, que é na serra de Arga, acompanhado de Nuno Velho, Sancho Nunes, Gonçalo Rodrigues, Lourenço Viegas, Soeiro Mendes (o Gordo), Gonçalo Ramires e outros fidalgos, o abade de Vitorino, D. Fernando, lhes deu aí de jantar, junto à capela de Nossa Senhora de Azevedo, no fim do qual o rei lhe demarcou o couto."

Após o recontro no Rêgo do Azar, quis D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções.

Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das Freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã á busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro.

Em boa hora vinha a refeição.

Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo.

D. Nuno Soares por alcunha Nuno velho o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.

- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o rei brincando.

- Ai Real senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que não me lembre do momento em que o bom Cavaleiro Gonçalo da Maria exalou o derradeiro suspiro encostado a meu peito.

- Quisera eu ouvir da tua boca essa heróica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre de Loivo obedeceu, com voz pousada e lágrimas nos olhos.

Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.

Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergue-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.

- Que examinais D. Egas? – perguntou o Príncipe.

- Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos descuidados.

De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do torpel era cada vez mais distinto.

- Sejamos prestes – gritou o rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo.
- Cavalgar, cavalgar; - já não era outra voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde se prendera o seu cavalo.

O Capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e alem os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando:

- Deixa-los ir que voltam em breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A história do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.

Pouco depois voltavam os monteadores rindo á gargalhada.

- Cabras são: - disse o Rei ao apear-se, e dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou:

Bebei todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.

Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnadas de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.

Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós. Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora de Azevedo.

O dito do rei Cabras são corrompeu-se em Cabração.

Fonte: Conde de Bertiandos, Cabras São, in Almanaque de Ponte de Lima, 1923.

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No dia 15 de agosto, festeja a Cabração a Nossa Senhora do Azevedo, padroeira da terra que foi Freguesia durante séculos. Neste dia, todos os filhos que em terras distantes labutam, estejam em Lisboa ou no estrangeiro, regressam à terra para encontrarem-se com os seus familiares e amigos. É a festa maior da freguesia que por essa altura se torna muito populosa. Atualmente, durante a maior parte do ano, apenas ali vive pouco mais de uma centena de almas numa vastidão com mais de dezasseis quilómetros quadrados, superior ao território de alguns concelhos do país.

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Fotos: autores vários naturais da Cabração

PONTE DE LIMA: CABRAÇÃO É TERRA DE VELHOS PERGAMINHOS

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Datas de produção: 1542 a 1899

A história de Santa Maria de Cabração está associada à do Mosteiro de "Victorino", criado, segundo o Padre António Carvalho da Costa, por D. Afonso Henriques. Este Mosteiro terá sido extinto pelo rei D. Sancho I.

No Memorial feito pelo vigário Rui Fagundes sobre a avaliação dos benefícios eclesiásticos da comarca de Valença, organizado entre os anos de 1545 e 1549, sendo arcebispo D. Manuel de Sousa, Santa Maria de Cabração foi avaliada em 30 mil réis.

O Censual de D. Frei Baltasar Limpo, redigido entre 1555 e 1581, refere que Santa Maria de Cabração esteve anexa perpetuamente ao Mosteiro de Vitorino das Donas. Diz-se ainda no aludido documento que a capela de Santa Maria era da apresentação de padroeiros.

Segundo Américo Costa, a antiga freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Cabração foi vigairaria da apresentação do Mosteiro de São Salvador de Braga, no termo da vila de Ponte de Lima e antiga comarca de Viana.

No século XIX esta igreja paroquial esteve anexa provisoriamente à de São Julião de Moreira do Lima.

Pertence à Diocese de Viana do Castelo desde 3 de Novembro de 1977.

HISTÓRIA CUSTODIAL E ARQUIVÍSTICA

Esteve na posse da igreja paroquial até à criação do Registo Civil, em 1911, publicada no Diário do Governo nº 41 de 20/02/1911. Nesta data as paróquias foram obrigadas, por lei, a entregar os livros de registo de baptismos, casamentos e óbitos às repartições do Registo Civil. O Decreto-Lei nº 3286, de 11 de Agosto de 1917, que cria o Arquivo Distrital de Braga, estipula na alínea i) do artº 1º que nele devem ser incorporados os cartórios paroquiais do distrito, nos termos do decreto 1.630 de 9 de Junho de 1915. No entanto, por despacho ministerial, e enquanto não foi instalado o Arquivo Distrital em Viana do Castelo, já então criado em 1965, aqueles arquivos foram sendo recolhidos pelo seu congénere bracarense. Finalmente, em 11 de Setembro de 1985, os livros e documentos dos arquivos paroquiais do distrito entraram, por transferência de Braga, no Arquivo Distrital de Viana do Castelo.

FONTE IMEDIATA DE AQUISIÇÃO OU TRANSFERÊNCIA

Livros entrados no Arquivo por transferência de Braga, onde se encontravam provisoriamente, em 11/9/1985 e por incorporações da Conservatória do Registo Civil de Ponte da Lima de 11/6/1985, 17/3/1992 e 3/12/1998 e da Conservatória do Registo Civil de Viana do Castelo de 19/5/1988 e 2/2/2000.

Fonte: Arquivo Distrital de Viana do Castelo

Cabração-Lugar da Igreja3

Rezam os cálculos dos historiadores, o torneio de Valdevez deverá ter ocorrido nos começos de 1140, após o qual volteou D. Afonso Henriques “pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis” e, com os seus ricos-homens e infanções, terá chegado ao “sítio que hoje se chama Cabração”. Desde então, não há memória de algum Chefe de Estado – rei ou presidente da República – ter visitado a Freguesia de Cabração, nem que ao menos fosse para caçar ursos e javalis…

“Após o recontro no Rêgo do Azar, quiz D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções. Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã à busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro. Em boa hora vinha a refeição. Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo. D. Nuno Soares por alcunha o Velho e o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.

- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o Rei brincando. – Ai Real Senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que me não lembre do momento em que o bom cavaleiro Gonçalo da Maia exalou o derradeiro suspiro encostado ao meu peito.

- Quisera eu ouvir da tua boca essa heroica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre do Loivo obedeceu, com voz pausada e lágrimas nos olhos.

Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.

Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergueu-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.

- Que examinas D. Egas? – Perguntou o Príncipe. – Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos dcescuidados.

De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do tropel era cada vez mais distinto.

- Sejamos prestes – gritou o Rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo. – Cavalgar, cavalgar, já não era outra a voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde prendera o seu cavalo. O capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e além os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando… - Deixa-los ir que voltam breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A historia do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.

Pouco depois voltavam os monteadores rindo à gargalhada. – Cabras são: - disse o rei ao apear-se, e, dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou.

- Bebi todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.

Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnada de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.

Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós.

Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora do Azevedo. O dito do Rei “Cabras são” corrompeu-se em Cabração.”

Conde de Bertiandos, Cabras São, in “Almanaque de Ponte de Lima, 1923

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PONTE DE LIMA: O QUE DISSE DA CABRAÇÃO O ESCRITOR AQUILINO RIBEIRO?

"(...) Mas saltara tão de improviso, que mal o viram relampejar, através do brejo, por uma das suas seitas, e num ápice se punha lá para a Cabração, em cujos tesos, a avaliar pelos latidos espaçados, os cães lhe perderam o rasto. Agora, em despeito da ressega, a cada passo os podengos soltavam a sua fanfarra e os gritos dos caçadores: cerca; aboca; ai, cãezinhos duma cana! repercutiam alacremente nas circunvolações dos oiteiros, debaixo do céu lavado.

O tojo, às duas margens do córrego, dava pela cinta dum homem; sobros e carvalhiços anões cresciam em touceiras tão fartas que a caça facilmente se escamugia e tinha bom encosto para alapardar-se."

Aquilino Ribeiro, em A Casa Grande de Romarigães

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PONTE DE LIMA: CABRAÇÃO EXORCIZOU O "PINTINHO" HÁ 50 ANOS!

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Até meados dos anos setenta do século passado, a freguesia de Cabração, no concelho de Ponte de Lima, ficou famosa pelos rituais de exorcismo que dois párocos ali praticaram.

Este tema mereceu inclusive a publicação de um artigo na edição de 1998 da revista “O Anunciador das Feiras Novas” sob o título “Cabração: o último exorcista”.

O padre Miranda foi o último pároco que ali exerceu tal ofício. Era extraordinária afluência diária de visitantes à localidade. O atendimento era geralmente feito durante a manhã até à hora de almoço. E, no exterior da capela de Nossa Senhora do Azevedo, podia ver-se uma longa fila de automóveis que por vezes chegava às três dezenas.

A pequena capela enchia-se por completo de pessoas que invariavelmente recorriam aos serviços do gentil pároco. Este procurava saber os pecados que condenavam a “alma penada” a encostar-se à criatura que atormentava. E, com umas valentes bofetadas, sempre acompanhadas de algumas preciosidades do nosso mais requintado vernáculo, lá tratava de enviar a alma atormentada para “o alto do monte onde só ouvisse cantar o mocho”

O padre Manuel Lopes Miranda faleceu em 26 de Janeiro de 1978 e foi sepultado em jazigo de família, em Barcelos, no cemitério paroquial de Cristelo, sua terra natal.

Com ele, a prática do exorcismo extinguiu-se na freguesia de Cabração. Resta na memória dos seus habitantes, sobretudo dos menos jovens, a forma como o mesmo era tratado – O “Pintinho”!

PONTE DE LIMA: CABRAÇÃO É A COLMEIA DO MINHO – AÍ PRODUZEM AS ABELHAS UM MEL APENAS COMPARÁVEL AO DE HYMETO NA GRÉCIA

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“O mel desta terra merece ser tam celebrado de nós como he de Horacio o do monte Hymeto – P. António Carvalho da Costa

Qual monte Hymeto, a Cabração é desde tempos imemoriais uma magnífica colmeia de onde sempre se praticou a apicultura e produziu o melhor mel de toda a região – porventura um dos melhores de todo o país!

São numerosas as referências à qualidade do mel da Cabração, porventura o produto que lhe dá mais fama. Na “Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal...”, P. Antonio Carvalho da Costa narra o seguinte:

“Nossa Senhora da Natividade de Cabração, parece que foi toda, ou parte Couto do Mosteiro de Vitorino, que devia ali ter quinta de criação de gados, o que se infere de uma escritura, que dele se conserva no do Salvador de Braga, para onde se mudou, na qual se diz, que indo El Rei Dom Afonso Henriques à caça de porcos-bravos a esta Freguesia, que é parte da Terra de Arga, acompanhando-o Nuno Velho, Sancho Nunes, Gonçalo Rodrigues, Lourenço Viegas, e outros fidalgos, o Abade de Vitorino lhe deu um jantar junto da Ermida de Azevedo posta no dito monte de Cabração, no fim do qual El Rei lhe demarcou ali um Couto; mas arruinando-se a Capela, Dom Pascoal, Celeireiro em Ponte de Lima d’El Rei Dom Sancho o Primeiro, quis no ano de 1187 devassa-lo com lhe pagarem certos direitos, a que se opôs Dona Sancha Abadessa de Vitorino, e a Justiça mandou se entremeter-se entre o Celeireiro no Couto: hoje o não é, mais que Paróquia com Vigário, que apresentam as freiras do Salvador de Braga: tem oitenta vizinhos. O mel desta terra merece ser tão celebrado de nós, como é de Horácio o do monte Himeto.”

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Localiza-se o monte Hymeto na Ática, a sul de Atenas, na Grécia. Reza a mitologia clássica que estava povoado de abelhas que produziam o mel mais rico e saboroso e a cera mais suave de toda a Grécia, encntrando-se na sua origem a fragância das suas magníficas flores, a tal ponto que os répteis que ali habitavam deixaram de ser venenosos.

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Isolalada em relação aos grandes aglomerados urbanos e vias de comunicação, a Cabração beneficia de extraordinárias condições ambientais que lhe permitem implementar nomeadamente os melhores projectos turísticos, desportivos e outros cuja actividade humana não coloque em causa a natureza. E, nos tempos que correm, tal desiderato é cada vez mais difícil de alcançar. Não admira, pois, que o mel constitua uma autêntica reserva de ouro, adquirindo uma importância de tal ordem que explica a presença das abelhas no seu próprio brasão.

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Por isso desci para livrá-los das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde há leite e mel com fartura: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus.

- Escrituras Sagradas. Êxodo: 3-8

Tal como o povo de Israel foi conduzido à terra prometida onde jorraria o leite e o mel, também os limianos foram abençoados com uma terra fértil na qual se produz uma das maiores riquezas do Minho – o mel!

De características multiflorais, o mel da Cabração, no concelho de Ponte de Lima, possui uma doçura ímpar aliado a uma fluidez e suavidade no paladar que lhe conferem uma qualidade que o torna num produto que se encontra ao nível daquilo que de melhor se produz em todo o Minho.

De acordo com pesquisas científicas, a produção do mel por abelhas remonta há quase 20 milhões de anos, portanto a uma época bastante mais recuada à existência do próprio Homem. Porém, o começo da apicultura deverá ter ocorrido há mais de 4 mil anos no Antigo Egipto. De resto, foram em 1922 encontradas no túmulo de Tutankhamón várias vasilhas com mel em perfeitas condições, apesar do tempo decorrido.

No século I, os Chineses, Hindus, Árabes e Celtas tratavam a hidrofobia com o recurso ao chá de abelhas. De igual mdo, os Romanos utilizavam-no para a conservação de frutas e peixe que era guardado em ânforas e coberto de mel. E, finalmente, é num antigo costume romano que tem origem a designação “Lua de Mel”. A mãe da noiva tinha por regra deixar na alcova nupcial um pote de mel para os recém-casados recuperarem energias, mantendo-se esta prática durante toda a lua ou seja, a semana lunar.

A produção de mel ocupa um lugar de destaque na economia, da mesma forma que a apicultura é da maior importância para o aumento da produção frutúcula e riqueza dos pomares.

Por tudo quanto o mel representa na vida da sociedade e atendendo à elevada qualidade daquele que é produzido na Serra do Formigoso, bem merece o mel da Cabração ser certificado e classificado com Denominação de Origem Protegida de modo a valorizá-lo. Ele é uma dádiva dos deuses ao concelho de Ponte de Lima e às suas gentes!

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