PONTE DE LIMA: A IGREJA DA CABRAÇÃO / É FEITA DE PEDRA MORENA / QUANDO O MEU AMOR LÁ ENTRA / NÃO HÁ PEDRA QUE NÃO TREMA - POPULAR
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A azulejaria que reveste o interior da estação de S. Bento, no Porto, é porventura a mais conhecida e apreciada pelo público das obras do ceramista Jorge Colaço. Não obstante, foram inventariados cerca de mil painéis em 116 locais diferentes em todo o país e no estrangeiro. Entre nós, no Minho, destacamos este painel existente em Ponte de Lima que narra o episódio da passagem do rei D. Afonso Henriques pela Cabração.
A actual aldeia da Cabração, terá sido uma quinta de algum nobre godo, o que se retira de uma escritura que as freiras do mosteiro levaram quando foram para o Convento do Salvador de Braga. Aí se diz que, "indo D. Afonso Henriques à caça dos javalis, a esta freguesia, que é na serra de Arga, acompanhado de Nuno Velho, Sancho Nunes, Gonçalo Rodrigues, Lourenço Viegas, Soeiro Mendes (o Gordo), Gonçalo Ramires e outros fidalgos, o abade de Vitorino, D. Fernando, lhes deu aí de jantar, junto à capela de Nossa Senhora de Azevedo, no fim do qual o rei lhe demarcou o couto."
A Lenda da Cabração
Após o recontro no Rêgo do Azar, quis D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções.
Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das Freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã á busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro.
Em boa hora vinha a refeição.
Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo.
D. Nuno Soares por alcunha Nuno velho o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.
- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o rei brincando.
- Ai Real senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que não me lembre do momento em que o bom Cavaleiro Gonçalo da Maria exalou o derradeiro suspiro encostado a meu peito.
- Quisera eu ouvir da tua boca essa heróica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre de Loivo obedeceu, com voz pousada e lágrimas nos olhos.
Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.
Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergue-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.
- Que examinais D. Egas? – perguntou o Príncipe.
- Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos descuidados.
De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do torpel era cada vez mais distinto.
- Sejamos prestes – gritou o rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo.
- Cavalgar, cavalgar; - já não era outra voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde se prendera o seu cavalo.
O Capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e alem os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando:
- Deixa-los ir que voltam em breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A história do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.
Pouco depois voltavam os monteadores rindo á gargalhada.
- Cabras são: - disse o Rei ao apear-se, e dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou:
Bebei todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.
Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnadas de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.
Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós. Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora de Azevedo.
O dito do rei Cabras são corrompeu-se em Cabração.
Fonte: Conde de Bertiandos, Cabras São, in Almanaque de Ponte de Lima, 1923.
Igreja de Santa Maria da Cabração antes de 1920
Em meados do século XIX, o governo cartista de Costa Cabral, a pretexto de implementação de medidas sanitárias, decretou a proibição da realização de enterros dentro das igrejas, o que foi então interpretado como uma forma de diminuir a influência social da Igreja Católica. Esta medida constituiu então num dos motivos que levaram à eclosão em 1846 da revolta popular da Maria da Fonte que rapidamente alastrou a todo o Minho.
Pese embora a contestação, foram a partir de então construídos cemitérios junto às igrejas e capelas paroquiais, numa solução de compromisso entre o sagrado e o profano. E, por todo o país, as ossadas dos defuntas começaram a ser retiradas das sepulturas existentes no interior dos templos para serem trasladadas para os novos cemitérios. Um processo que demorou várias décadas estendendo-se quase até meados do século XX.
As lápides funerárias foram removidas para o adro das igrejas e as sepulturas fechadas com pavimentos de madeira que em muitos casos vieram mais recentemente a serem atulhadas e pavimentadas de cimento e tijoleira.
Em Ponte de Lima, mais concretamente na freguesia da Cabração, tal empreendimento teve lugar nos começos do século XX, numa altura em que decorriam as obras de construção da torre da capela, tal como a vemos na foto.
Era mestre-de-obras João Manoel de Mattos Junior – da famílias dos Santos desta freguesia – que, na ocasião, por mero acidente, veio a cair numa das sepulturas entretanto abertas no interior da capela. Sucede que o efeito psicológico foi de tal modo que a partir de então se recusou a prosseguir as obras dentro da igreja, apenas aceitando a sua condução a partir do exterior. Crê-se que deixou de realizar tal tarefa dadas as circunstâncias.
Esta história chegou até nós através de tradição oral no seio familiar pelo que é susceptível de conter algumas imprecisões.
João Manoel de Mattos Junior nasceu na Cabração em 10 de Agosto de 1844. Do seu assento de baptismo consta o seguinte:
“Joao Manoel filho legittimo de Joao Manoel de Mattos, e sua mulher Maria do Carmo do lugar de Alem desta freguezia de Sancta Maria da Cabraçao julgadod e Ponte de Lima. Nasceo no dia dez do mês de Agosto de mil oito centos quarenta e catro e foi Baptizado Solenemente na Pia Baptismal desta Igreja Solenemente com imposição dos Santos oleos no dia dezoito do mês por mim o Padre Joao Antonio Pereira paroco desta Igreja. Nepto paterno de Bernardo Antonio de Matos ja defunto e Anna Rosa Rodrigues desta. Forao padrinhos Joao Manoel Affonso de Oliveira digo Manoel Pereira da Costa, e Anna Rosa viuva ambos desta. Para constar fiz este termo q. asigno. Stª Mª de Cabração era dia mês e Anno est supra.”
Datas de produção: 1542 a 1899
A história de Santa Maria de Cabração está associada à do Mosteiro de "Victorino", criado, segundo o Padre António Carvalho da Costa, por D. Afonso Henriques. Este Mosteiro terá sido extinto pelo rei D. Sancho I.
No Memorial feito pelo vigário Rui Fagundes sobre a avaliação dos benefícios eclesiásticos da comarca de Valença, organizado entre os anos de 1545 e 1549, sendo arcebispo D. Manuel de Sousa, Santa Maria de Cabração foi avaliada em 30 mil réis.
O Censual de D. Frei Baltasar Limpo, redigido entre 1555 e 1581, refere que Santa Maria de Cabração esteve anexa perpetuamente ao Mosteiro de Vitorino das Donas. Diz-se ainda no aludido documento que a capela de Santa Maria era da apresentação de padroeiros.
Segundo Américo Costa, a antiga freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Cabração foi vigairaria da apresentação do Mosteiro de São Salvador de Braga, no termo da vila de Ponte de Lima e antiga comarca de Viana.
No século XIX esta igreja paroquial esteve anexa provisoriamente à de São Julião de Moreira do Lima.
Pertence à Diocese de Viana do Castelo desde 3 de Novembro de 1977.
HISTÓRIA CUSTODIAL E ARQUIVÍSTICA
Esteve na posse da igreja paroquial até à criação do Registo Civil, em 1911, publicada no Diário do Governo nº 41 de 20/02/1911. Nesta data as paróquias foram obrigadas, por lei, a entregar os livros de registo de baptismos, casamentos e óbitos às repartições do Registo Civil. O Decreto-Lei nº 3286, de 11 de Agosto de 1917, que cria o Arquivo Distrital de Braga, estipula na alínea i) do artº 1º que nele devem ser incorporados os cartórios paroquiais do distrito, nos termos do decreto 1.630 de 9 de Junho de 1915. No entanto, por despacho ministerial, e enquanto não foi instalado o Arquivo Distrital em Viana do Castelo, já então criado em 1965, aqueles arquivos foram sendo recolhidos pelo seu congénere bracarense. Finalmente, em 11 de Setembro de 1985, os livros e documentos dos arquivos paroquiais do distrito entraram, por transferência de Braga, no Arquivo Distrital de Viana do Castelo.
FONTE IMEDIATA DE AQUISIÇÃO OU TRANSFERÊNCIA
Livros entrados no Arquivo por transferência de Braga, onde se encontravam provisoriamente, em 11/9/1985 e por incorporações da Conservatória do Registo Civil de Ponte da Lima de 11/6/1985, 17/3/1992 e 3/12/1998 e da Conservatória do Registo Civil de Viana do Castelo de 19/5/1988 e 2/2/2000.
Fonte: Arquivo Distrital de Viana do Castelo
Rezam os cálculos dos historiadores, o torneio de Valdevez deverá ter ocorrido nos começos de 1140, após o qual volteou D. Afonso Henriques “pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis” e, com os seus ricos-homens e infanções, terá chegado ao “sítio que hoje se chama Cabração”. Desde então, não há memória de algum Chefe de Estado – rei ou presidente da República – ter visitado a Freguesia de Cabração, nem que ao menos fosse para caçar ursos e javalis…
“Após o recontro no Rêgo do Azar, quiz D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções. Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã à busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro. Em boa hora vinha a refeição. Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo. D. Nuno Soares por alcunha o Velho e o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.
- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o Rei brincando. – Ai Real Senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que me não lembre do momento em que o bom cavaleiro Gonçalo da Maia exalou o derradeiro suspiro encostado ao meu peito.
- Quisera eu ouvir da tua boca essa heroica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre do Loivo obedeceu, com voz pausada e lágrimas nos olhos.
Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.
Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergueu-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.
- Que examinas D. Egas? – Perguntou o Príncipe. – Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos dcescuidados.
De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do tropel era cada vez mais distinto.
- Sejamos prestes – gritou o Rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo. – Cavalgar, cavalgar, já não era outra a voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde prendera o seu cavalo. O capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e além os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando… - Deixa-los ir que voltam breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A historia do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.
Pouco depois voltavam os monteadores rindo à gargalhada. – Cabras são: - disse o rei ao apear-se, e, dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou.
- Bebi todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.
Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnada de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.
Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós.
Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora do Azevedo. O dito do Rei “Cabras são” corrompeu-se em Cabração.”
Conde de Bertiandos, Cabras São, in “Almanaque de Ponte de Lima, 1923
"(...) Mas saltara tão de improviso, que mal o viram relampejar, através do brejo, por uma das suas seitas, e num ápice se punha lá para a Cabração, em cujos tesos, a avaliar pelos latidos espaçados, os cães lhe perderam o rasto. Agora, em despeito da ressega, a cada passo os podengos soltavam a sua fanfarra e os gritos dos caçadores: cerca; aboca; ai, cãezinhos duma cana! repercutiam alacremente nas circunvolações dos oiteiros, debaixo do céu lavado.
O tojo, às duas margens do córrego, dava pela cinta dum homem; sobros e carvalhiços anões cresciam em touceiras tão fartas que a caça facilmente se escamugia e tinha bom encosto para alapardar-se."
Aquilino Ribeiro, em A Casa Grande de Romarigães
Até meados dos anos setenta do século passado, a freguesia de Cabração, no concelho de Ponte de Lima, ficou famosa pelos rituais de exorcismo que dois párocos ali praticaram.
Este tema mereceu inclusive a publicação de um artigo na edição de 1998 da revista “O Anunciador das Feiras Novas” sob o título “Cabração: o último exorcista”.
O padre Miranda foi o último pároco que ali exerceu tal ofício. Era extraordinária afluência diária de visitantes à localidade. O atendimento era geralmente feito durante a manhã até à hora de almoço. E, no exterior da capela de Nossa Senhora do Azevedo, podia ver-se uma longa fila de automóveis que por vezes chegava às três dezenas.
A pequena capela enchia-se por completo de pessoas que invariavelmente recorriam aos serviços do gentil pároco. Este procurava saber os pecados que condenavam a “alma penada” a encostar-se à criatura que atormentava. E, com umas valentes bofetadas, sempre acompanhadas de algumas preciosidades do nosso mais requintado vernáculo, lá tratava de enviar a alma atormentada para “o alto do monte onde só ouvisse cantar o mocho”…
O padre Manuel Lopes Miranda faleceu em 26 de Janeiro de 1978 e foi sepultado em jazigo de família, em Barcelos, no cemitério paroquial de Cristelo, sua terra natal.
Com ele, a prática do exorcismo extinguiu-se na freguesia de Cabração. Resta na memória dos seus habitantes, sobretudo dos menos jovens, a forma como o mesmo era tratado – O “Pintinho”!
“O mel desta terra merece ser tam celebrado de nós como he de Horacio o do monte Hymeto – P. António Carvalho da Costa
Qual monte Hymeto, a Cabração é desde tempos imemoriais uma magnífica colmeia de onde sempre se praticou a apicultura e produziu o melhor mel de toda a região – porventura um dos melhores de todo o país!
São numerosas as referências à qualidade do mel da Cabração, porventura o produto que lhe dá mais fama. Na “Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal...”, P. Antonio Carvalho da Costa narra o seguinte:
“Nossa Senhora da Natividade de Cabração, parece que foi toda, ou parte Couto do Mosteiro de Vitorino, que devia ali ter quinta de criação de gados, o que se infere de uma escritura, que dele se conserva no do Salvador de Braga, para onde se mudou, na qual se diz, que indo El Rei Dom Afonso Henriques à caça de porcos-bravos a esta Freguesia, que é parte da Terra de Arga, acompanhando-o Nuno Velho, Sancho Nunes, Gonçalo Rodrigues, Lourenço Viegas, e outros fidalgos, o Abade de Vitorino lhe deu um jantar junto da Ermida de Azevedo posta no dito monte de Cabração, no fim do qual El Rei lhe demarcou ali um Couto; mas arruinando-se a Capela, Dom Pascoal, Celeireiro em Ponte de Lima d’El Rei Dom Sancho o Primeiro, quis no ano de 1187 devassa-lo com lhe pagarem certos direitos, a que se opôs Dona Sancha Abadessa de Vitorino, e a Justiça mandou se entremeter-se entre o Celeireiro no Couto: hoje o não é, mais que Paróquia com Vigário, que apresentam as freiras do Salvador de Braga: tem oitenta vizinhos. O mel desta terra merece ser tão celebrado de nós, como é de Horácio o do monte Himeto.”
Localiza-se o monte Hymeto na Ática, a sul de Atenas, na Grécia. Reza a mitologia clássica que estava povoado de abelhas que produziam o mel mais rico e saboroso e a cera mais suave de toda a Grécia, encntrando-se na sua origem a fragância das suas magníficas flores, a tal ponto que os répteis que ali habitavam deixaram de ser venenosos.
Isolalada em relação aos grandes aglomerados urbanos e vias de comunicação, a Cabração beneficia de extraordinárias condições ambientais que lhe permitem implementar nomeadamente os melhores projectos turísticos, desportivos e outros cuja actividade humana não coloque em causa a natureza. E, nos tempos que correm, tal desiderato é cada vez mais difícil de alcançar. Não admira, pois, que o mel constitua uma autêntica reserva de ouro, adquirindo uma importância de tal ordem que explica a presença das abelhas no seu próprio brasão.
Por isso desci para livrá-los das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde há leite e mel com fartura: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus.
- Escrituras Sagradas. Êxodo: 3-8
Tal como o povo de Israel foi conduzido à terra prometida onde jorraria o leite e o mel, também os limianos foram abençoados com uma terra fértil na qual se produz uma das maiores riquezas do Minho – o mel!
De características multiflorais, o mel da Cabração, no concelho de Ponte de Lima, possui uma doçura ímpar aliado a uma fluidez e suavidade no paladar que lhe conferem uma qualidade que o torna num produto que se encontra ao nível daquilo que de melhor se produz em todo o Minho.
De acordo com pesquisas científicas, a produção do mel por abelhas remonta há quase 20 milhões de anos, portanto a uma época bastante mais recuada à existência do próprio Homem. Porém, o começo da apicultura deverá ter ocorrido há mais de 4 mil anos no Antigo Egipto. De resto, foram em 1922 encontradas no túmulo de Tutankhamón várias vasilhas com mel em perfeitas condições, apesar do tempo decorrido.
No século I, os Chineses, Hindus, Árabes e Celtas tratavam a hidrofobia com o recurso ao chá de abelhas. De igual mdo, os Romanos utilizavam-no para a conservação de frutas e peixe que era guardado em ânforas e coberto de mel. E, finalmente, é num antigo costume romano que tem origem a designação “Lua de Mel”. A mãe da noiva tinha por regra deixar na alcova nupcial um pote de mel para os recém-casados recuperarem energias, mantendo-se esta prática durante toda a lua ou seja, a semana lunar.
A produção de mel ocupa um lugar de destaque na economia, da mesma forma que a apicultura é da maior importância para o aumento da produção frutúcula e riqueza dos pomares.
Por tudo quanto o mel representa na vida da sociedade e atendendo à elevada qualidade daquele que é produzido na Serra do Formigoso, bem merece o mel da Cabração ser certificado e classificado com Denominação de Origem Protegida de modo a valorizá-lo. Ele é uma dádiva dos deuses ao concelho de Ponte de Lima e às suas gentes!
Carta de Joaquim de Saint Maurice para o Presidente da Junta Central do Partido Republicano Evolucionista, António José de Almeida, comunicando recepção de telegrama informando da indigitação do candidato às eleições seguintes pelo círculo de Cabo Verde, Augusto Joaquim Alves dos Santos, professor da Universidade de Coimbra. Datada de 26 de Junho de 1915.
Recorde-se que o Dr. Alves dos Santos foi um ilustre limiano, nascido na Freguesia de Santa Maria da Cabração.
Fonte: Museu da Presidência da República
Nota [para o Presidente da República, António José de Almeida,] indicando os nomes de diversos possíveis condecorados com ordens honoríficas. Mencionando os nomes de João Duarte de Oliveira, Augusto Joaquim Alves dos Santos, Manuel Luís Coelho da Silva, Alberto Homem Pinto da Costa Cabral, Francisco da Cunha Matos, Manuel da Silva Gaio e Manuel Mário de Figueiredo Temido. Datada de 1922
Recorde-se que o Dr. Alves dos Santos foi um ilustre limiano, nascido na Freguesia de Santa Maria da Cabração e veio a ser Presidente da Câmara Municipal de Coimbra entre outros cargos que exerceu.
Fonte: Museu da Presidência da República
Abel Varzim da Cunha e Silva nasceu em Cristelo, a 29 de Abril de 1902. Ordenado sacerdote em Braga, a 29 de Junho de 1925, com 23 anos apenas, aceitou ser enviado para o Alentejo. Começou aí a sua vida paroquial. Lecionou no Seminário de Serpa e fundou aí o primeiro grupo de Escuteiros daquela província.
Para melhor habilitação na defesa da justiça, frequentou entre 1930 e 1934, a Universidade de Lovaina, na Bélgica, conseguindo o grau de Doutor em Ciências Políticas e Sociais, com tese editada em França sobre a Liga dos Agricultores Belgas.
Regressado a Portugal, dedicou-se em pleno, dentro dos condicionalismos existentes, à defesa dos trabalhadores e de todos os desprotegidos.
Dirigiu, de 1939 a 1948, o Secretariado Económico-Social da Acção Católica Portuguesa, onde, durante horas seguidas, atendia e procurava resolver casos de desemprego e de falta de realização humana.
Foi deputado à Assembleia Nacional, em representação da Igreja, na legislatura de 1938 a 1942. Não voltou ao lugar nas legislaturas seguintes, porque as suas principais intervenções beneficiaram da hostilidade governamental.
O seu amor à classe trabalhadora e o conhecimento que possuía dos seus problemas e aspirações fizeram dele fundador e inesquecível assistente da Liga Operária Católica, cuja atividade veio também a ser reprimida.
Abel Varzim sentiu-se obrigado, em 1948, a deixar o lugar de professor do Instituto de Serviço Social, que ocupava desde 1938, sob a ameaça de a escola cessar de receber o subsídio do Governo, caso ele não saísse.
Nomeado pároco da Encarnação, no Chiado, em Lisboa, em 1951, também aí o seu trabalho de recuperação das prostitutas do Bairro Alto, suas paroquianas, teve má sina, não obstante a criação de um centro de reintegração na Amadora e no Porto e da fundação da Liga Nacional Contra a Prostituição.
Cansado e doente, foi aconselhado, em 1957, a retornar à sua terra natal, onde ainda se lançou na constituição e colocação em funcionamento, juntamente com alguns conterrâneos, da Sociedade Avícola do Minho, para desenvolvimento da região.
Vigiado pela PIDE, durou seis anos e meio o seu cativeiro. Faleceu a 20 de Agosto de 1964, em atividade.
Fonte: Fátima Vilaça / http://jlrodrigues.blogspot.pt/
Passam no próximo dia 17 de Janeiro precisamente 100 anos sobre a data do falecimento do ilustre limiano Augusto Joaquim Alves dos Santos.
É sabido que o Concelho de Ponte de Lima possui uma extensa galeria de figuras notáveis como nenhum outro se pode orgulhar. É de igual modo verdade que, por vezes, muitas destas figuras ilustres permanecem durante certo tempo ignoradas por falta de conhecimento, apesar de em vida terem atingido grande notoriedade.
Foto existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, cedida ao autor por aquela entidade
O Dr. Alves dos Santos tem sido precisamente uma dessas figuras ilustres e desconhecidas cuja estatura moral e craveira intelectual em muito prestigiam o nosso concelho.
De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, o nosso ilustre conterrâneo nasceu em 14 de Outubro de 1866, na Freguesia de Cabração, tendo falecido em 17 de janeiro de 1924 na cidade de Coimbra onde viveu e se distinguiu.
Apesar dos esforços desenvolvidos não conseguimos identificar possíveis descendentes ou outros familiares, nomeadamente na Freguesia de que foi natural. Sabemos unicamente que era filho de Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos e Ana Maria Alves Soares.
Não é nosso propósito aqui fazer a sua biografia mas, no caso vertente, não resistimos a enumerar alguns dados biográficos pois o conhecimento do Dr. Alves dos Santos não dispensa apresentação.
Entre os inúmeros cargos que exerceu, o Dr. Alves dos Santos foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Ministro do Trabalho e por três vezes eleito deputado pelo círculo de Coimbra entre 1910 e 1921, chegando inclusivamente a presidir à Câmara dos Deputados. Foi ainda Diretor da Biblioteca da Universidade de Coimbra e, um ano após a implantação da República, Chefe do Gabinete do Presidente do Governo provisório.
Foi um eminente teólogo, tendo frequentado o curso de Teologia do Seminário de Braga e recebido ordens sacras. Comendador da Ordem de Santiago em 1904, lecionou Grego e Hebraico no Liceu de Coimbra, Pedagogia, Psicologia e Psicologia Infantil nomeadamente na Escola Normal Superior daquela cidade e, entre inúmeras cadeiras, Pedagogia, Psicologia e Lógica, História da Filosofia e Psicologia Experimental na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
A ele se deveu a instalação do Laboratório de Psicologia daquela Faculdade, no qual também desempenhou as funções de Diretor.
A sua obra literária é igualmente vasta, sendo de destacar os seguintes trabalhos:
- “Concordismo e Idealismo”, publicado em 1900;
- “O Problema da origem da família e do matrimónio em face da Bíblia e da Sociologia”, editado em 1901;
- “A nossa escola primária – o que tem sido e o que deve ser”, em 1910;
- “O ensino primário em Portugal, nas suas relações com a história geral da nação”, em 1913;
- “Elementos de filosofia científica”, em 1918;
- “Portugal e a Grande Guerra” (duas conferências), Coimbra, 1913;
- “Psicologia experimental e Pedagogia”, Coimbra, 1923;
O Dr. Alves dos Santos foi militante do Partido Republicano Nacionalista desde que se extinguira o Partido Republicano Evolucionista do Dr. António José de Almeida.
Sobre o seu perfil político, o periódico “O Despertar” de Coimbra, na sua edição de 19 de janeiro de 1924 afirmava:
“Foi um orador fluente. Tanto da tribuna sagrada como em comícios públicos e mais tarde no parlamento, o sr. Dr. Alves dos Santos era sempre ouvido com o mais vivo interesse.
Conhecedor a fundo da língua, o saudoso extinto era fecundo em maravilhosas imagens, chegando, por vezes, a empolgar a assistência, com o seu gesto largo e manifesta sinceridade que exprimia às suas palavras.
Os seus adversários políticos, nomeadamente, eram os primeiros a reconhecer-lhe o mais formoso talento”.
Ainda segundo o mesmo periódico, o Dr. Alves dos Santos era uma figura “essencialmente popular, sem escusados preconceitos”, “estimadíssimo em Coimbra” e “um amigo devotado das crianças, às quais dedicava os mais vivos afectos”, razão pela qual lhes consagrou muitos dos seus estudos.
O Dr. Alves dos Santos residia no número catorze da rua Alexandre Herculano, na cidade de Coimbra, e faleceu na sequência de “uma horrorosa enfermidade para a qual a sciencia médica é ainda impotente”, conforme noticiava a “Gazeta de Coimbra”, no dia do seu falecimento.
No seu funeral estiveram representadas a Universidade de Coimbra, o Governador Civil do Distrito, os ministros do Interior e do Trabalho, a Câmara Municipal de Coimbra e a Misericórdia local entre numerosas outras entidades. Isto apesar da vontade manifesta do Dr. Alves dos Santos na realização de uma cerimónia fúnebre discreta.
Na Câmara Municipal e no Centro Nacionalista foi içada a bandeira nacional a meia haste e na Câmara dos Deputados foi aprovado um voto de sentimento.
Os restos mortais do Dr. Alves dos Santos encontram-se depositados no Cemitério da Conchada, em Coimbra, mais concretamente na sepultura nº. 16 do leirão nº. 23, conforme notícia publicada em “O Despertar” de 19 de janeiro de 1924.
O seu nome não consta da toponímia da cidade de Coimbra nem do Concelho de Ponte de Lima.
Contudo, como dizia o periódico acima citado na referida edição, o Dr. Alves dos Santos foi um “patriota dos mais eminentes, foi sempre um grande liberal, perdendo o país no saudoso finado um dos seus filhos mais ilustres”.
- Carlos Gomes em “O Anunciador das Feiras Novas”, nº X, Ponte de Lima, 1993
O Dr. Alves dos Santos (segundo a contar da direita) foi Ministro do Trabalho no governo do Dr. Cunha Leal
A foto, publicada na revista “Ilustração Portugueza” de 28 de janeiro de 1922, mostra a visita do Dr. Alves dos Santos, na qualidade de Ministro do Trabalho, ao asilo D. Maria Pia
Notas:
1. Alguns anos após a publicação deste artigo, a Câmara Municipal de Ponte de Lima atribuiu o seu nome a uma das artérias da vila limiana.
2. O Dr. Alves dos Santos não teve descendentes diretos. De acordo com pesquisas genealógicas posteriormente efetuadas pelo autor, Augusto Joaquim Alves dos Santos era oriundo da família Carmo (da Cabração) da qual descendiam os de apelido Santos.
Transcrição:
“Aos vinte e hum dias do mês de outubro do anno de mil e oito centos sasenta e seis n’esta parochial Igreja de Sancta Maria da Cabração, concelho de Ponte do Lima Diocese de Braga Primaz Baptizei Solenemente hum indevido do sexo masculino a quem dei o nome de Augusto Joaquim Santos que nasceo nesta freguesia no dia quatorze de outubro pelas quatro horas da manha do dito mês e anno folho legitimo de Manoel Joaquim Rodrigues dos Santos e Anna Maria Alves Soares natural da freguesia de Sam João da Rebeira e ele natural desta freguesia recebidos (…) de Ponte de Lima mas parochianos Proprietarios e moradores no Lugar da Igreja desta freguesia. Nepto Paterno de Antonio Jose Rodrigues dos Santos já defunto e Anna Joaquina Dantas proprietários e moradores no Lugar de Igreja que he desta freguesia e ella hoje residente na freguesia da Labruje deste concelho Materno de Antonio Jose Alves, Soares digo de Antonio Jose Alves e Mariana Luisa Soares da freguesia de Sam João da Ribeira Lugar de Crasto proprietários e forão Padrinhos o Reverendo Manoel Joaquim Soares thio do Baptizado e Maria Rosa Alves, solteira thia do Baptizado ambos da freguesia de Sam João da Rebeira Lugar de Crasto os quais todos sei serem os próprios. E para constar labrei em duplicado o prezente assento que depois de lido e conferido perante os Padrinhos comigo assinarão Era est supra.
os Padrinhos Manoel Joaquim Soares
Maria Rosa Alves
O Parocho Antonio Raymundo da Cunha Ferreira”
(Arquivo Distrital de Viana do Castelo. Fundo Paroquial de Ponte de Lima – Cabração. Livro de baptismos. Datas extremas: 1855 – 1890. Fls. 33 Cota 3.13.1.32)
A revista “Ilustração portuguesa” de 26 de janeiro de 1924, publicou a notícia do falecimento do Dr Alves dos Santos.
Até meados dos anos setenta do século passado, a freguesia de Cabração, no concelho de Ponte de Lima, ficou famosa em todo o país pelos rituais de exorcismo que dois párocos ali praticaram.
Este tema mereceu inclusive a publicação de um artigo na edição de 1998 da revista “O Anunciador das Feiras Novas” sob o título “Cabração: o último exorcista”.
O padre Miranda foi o último pároco que ali exerceu tal ofício. Era extraordinária afluência diária de visitantes à localidade. O atendimento era geralmente feito durante a manhã até à hora de almoço. E, no exterior da capela de Nossa Senhora do Azevedo, podia ver-se uma longa fila de automóveis que por vezes chegava às três dezenas.
A pequena capela enchia-se por completo de pessoas que invariavelmente recorriam aos serviços do gentil pároco. Este procurava saber os pecados que condenavam a “alma penada” a encostar-se à criatura que atormentava. E, com umas valentes bofetadas, sempre acompanhadas de algumas preciosidades do nosso mais requintado vernáculo, lá tratava de enviar a alma atormentada para “o alto do monte onde só ouvisse cantar o mocho”…
O padre Manuel Lopes Miranda faleceu em 26 de Janeiro de 1978 e foi sepultado em jazigo de família, em Barcelos, no cemitério paroquial de Cristelo, sua terra natal.
Com ele, a prática do exorcismo extinguiu-se na freguesia de Cabração. Resta na memória dos seus habitantes, sobretudo dos menos jovens, a forma como o mesmo era tratado – O “Pintinho”!
Rezam os cálculos dos historiadores, o torneio de Valdevez deverá ter ocorrido nos começos de 1140, após o qual volteou D. Afonso Henriques “pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis” e, com os seus ricos-homens e infanções, terá chegado ao “sítio que hoje se chama Cabração”. Desde então, não há memória de algum Chefe de Estado – rei ou presidente da República – ter visitado a Freguesia de Cabração, nem que ao menos fosse para caçar ursos e javalis…
Painel de azulejos existente em Ponte de Lima, da autoria de Jorge Colaço
“Após o recontro no Rêgo do Azar, quiz D. Afonso Henriques voltear pelas montanhas próximas, caçando ursos e javalis. Convidou alguns poucos ricos-homens e infanções. Quando estavam no sítio que hoje se chama Cabração, apareceu muito açodado o Capelão das freiras de Vitorino das Donas, que à frente de moços com cestos pesados andava desde manhã à busca do real monteador, com um banquete mandado do Mosteiro. Em boa hora vinha a refeição. Estendeu-se na relva uma toalha de linho e sentados em troncos de carvalho cortados à pressa, começou o jantar. Alegre ia correndo. D. Nuno Soares por alcunha o Velho e o postrimeiro para diferença de seu avô, a quem também haviam chamado o Velho e cujas proezas ainda se recontavam em toda a terra da Cervaria, começou a trinchar um leitão assado.
- Parece-me que tens mais jeito para matar infiéis, - disse-lhe o Rei brincando. – Ai Real Senhor, antes eu ficasse morto com os últimos que matei, que desde essa refrega não passo um dia que me não lembre do momento em que o bom cavaleiro Gonçalo da Maia exalou o derradeiro suspiro encostado ao meu peito.
- Quisera eu ouvir da tua boca essa heroica morte do Lidador, interrompeu o Monarca triste, mas curioso. E o Senhor da Torre do Loivo obedeceu, com voz pausada e lágrimas nos olhos.
Ia escurecendo o dia e era tão esquisita a coincidência de estar ali um punhado de homens, senão solenizando um aniversário, festejando uma vitória, que talvez um pressentimento apertasse o coração dos guerreiros.
Atentos, escutavam silenciosos a narração. De golpe ergueu-se o Espadeiro e olhou fito para as bandas da Galiza.
- Que examinas D. Egas? – Perguntou o Príncipe. – Vejo além muito ao longe um turbilhão de pó, que se aproxima. São talvez inimigos que procuram encontrar-nos dcescuidados.
De facto vagalhões de poeira negra encobriam multidão fosse do que fosse. O ruído do tropel era cada vez mais distinto.
- Sejamos prestes – gritou o Rei, cingindo o seu enorme espadão. Todos fizeram o mesmo. – Cavalgar, cavalgar, já não era outra a voz que se ouvia, enquanto cada um se dirigia para o lugar onde prendera o seu cavalo. O capelão olhou, escutou e sentou-se começando a comer aqui e além os deliciosos postres e bebendo aos goles pachorrentos um licor estomacal, resmungando… - Deixa-los ir que voltam breve. Eu era capaz de apostar todo o mel deste monte, em como sei que inimigos são aqueles. E mais dizem que é mel igual ao do Himeto. A historia do Lidador é que lhes esquentou a cabeça.
Pouco depois voltavam os monteadores rindo à gargalhada. – Cabras são: - disse o rei ao apear-se, e, dirigindo-se ao padre: - bem fizestes vós que não bulistes. E D. Afonso tomando um púcaro e enchendo-o de vinho num cangirão, acrescentou.
- Bebi todos, que estais muito quentes e podeis ter um resfriado, e dizei-me depois se não valeu a pena o engano para nos refrescarmos agora com este delicioso néctar.
Capelão, quero comemorar o caso de confundir rebanhos de cabras com mesnada de leonezes e beneficiar o convento para vos honrar a vós que fostes, não sei se mais perspicaz, se mais valente do que nós debicando mui sossegadamente em todos os doces.
Vou coutar aqui uma terra, para que as boas monjas possam de vez em quando apanhar bom ar da montanha e rir-se de nós.
Riscou-se o couto e nessa noite os cavaleiros dormiram na ermida da Senhora do Azevedo. O dito do Rei “Cabras são” corrompeu-se em Cabração.”
Conde de Bertiandos, Cabras São, in “Almanaque de Ponte de Lima, 1923
Este sábado é Dia Mundial da Terceira Idade: uma fase da vida para enfrentar acompanhado. A SIC foi até Ponte de Lima para ver de perto a realidade de muitos idosos que vivem em lares.
A solidão e o isolamento social têm um impacto negativo na saúde e na mortalidade dos idosos. Pelo contrário, o convívio reduz o stress e a depressão.
Num lar que a SIC foi conhecer, em Ponte de Lima, 25 idosos têm as famílias fora do país. Para encurtar distâncias, os utentes são incentivados a recorrer à tecnologia. Primeiro estranharam, mas com o hábito acabaram por se render às videochamadas.
Aqui, a tecnologia possibilita não só o contacto mais próximo e frequente com os familiares, como também com o mundo exterior.
A costura, as artes plásticas e as simples tarefas diárias também são atividades úteis para estimular a socialização e promover o bem estar.
Em Portugal, há mais de dois milhões de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos. Segundo um estudo do Observatório da Solidão, 70% dos idosos dizem que se sentem sós.
Fonte: SIC
Passa no próximo dia 17 de Janeiro de 2024 precisamente o 1º centenário do falecimento em Coimbra do Dr. Alves dos Santos. De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, nasceu em 14 de Outubro de 1866 na Freguesia de Santa Maria da Cabração, concelho de Ponte de Lima, e faleceu na cidade de Coimbra. Era filho de Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos e de Ana Maria Alves Soares.
A atribuição do seu nome a um estabelecimento de ensino em Ponte de Lima como seu patrono seria a homenagem mais digna a dar a conhecer a personalidade e a obra de um dos mais ilustres limianos
O Dr. Alves dos Santos – um dos mais ilustres filhos de Ponte de Lima – foi o pioneiro do estudo e investigação da psicologia no nosso país, continuando a sua obra a ser estudada pelos mais notáveis académicos decorridos mais de oito décadas desde a data do seu desaparecimento. A obra que publicou em 1923, “Psicologia Experimental e Pedologia”, é considerada aliás um marco “na história da psicologia em Portugal pelo seu pioneirismo e importância histórica”.
Figura controversa, padre apóstata, monárquico convertido ao republicanismo, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É apontado como o principal autor da reforma do ensino primário de 1911. Pioneiro em Portugal da Psicologia Experimental, criou o primeiro laboratório nesta área. Conhecia em profundidade os principais psicólogos europeus do seu tempo, tendo privado com Henri Piéron (colaborador de Binet), cursou no Instituto Jean-Jacques Rosseau, em Genebra, com Edouard Claparède e Paul Godin.
De seu nome completo Augusto Joaquim Alves dos Santos, o nosso ilustre conterrâneo nasceu em 14 de Outubro de 1866, na Freguesia de Cabração, tendo falecido em 17 de janeiro de 1924 na cidade de Coimbra onde viveu e se distinguiu.
Entre os inúmeros cargos que exerceu, o Dr. Alves dos Santos foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Ministro do Trabalho e por três vezes eleito deputado pelo círculo de Coimbra entre 1910 e 1921, chegando inclusivamente a presidir à Câmara dos Deputados. Foi ainda Diretor da Biblioteca da Universidade de Coimbra e, um ano após a implantação da República, Chefe do Gabinete do Presidente do Governo provisório.
Foi um eminente teólogo, tendo frequentado o curso de Teologia do Seminário de Braga e recebido ordens sacras. Comendador da Ordem de Santiago em 1904, lecionou Grego e Hebraico no Liceu de Coimbra, Pedagogia, Psicologia e Psicologia Infantil nomeadamente na Escola Normal Superior daquela cidade e, entre inúmeras cadeiras, Pedagogia, Psicologia e Lógica, História da Filosofia e Psicologia Experimental na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
A ele se deveu a instalação do Laboratório de Psicologia daquela Faculdade, no qual também desempenhou as funções de Diretor.
A sua obra literária é igualmente vasta, sendo de destacar os seguintes trabalhos:
A foto, publicada na revista “Ilustração Portugueza” de 28 de janeiro de 1922, mostra a visita do Dr. Alves dos Santos, na qualidade de Ministro do Trabalho, ao asilo D. Maria Pia
A casa do Carmo, assim designada por ter pertencido a uma família com esse apelido (antecessora dos Santos), conserva na fachada o escudo nacional que evoca a adesão do seu antigo proprietário à "Monarquia do Norte" em 1919
A revolta conhecida por “Monarquia do Norte” estalou no Porto em 1919 sob o comando de Paiva Couceiro. O movimento obteve enorme adesão em quase toda a região norte do país. Ponte de Lima não foi excepção à regra e aqui, a freguesia da Cabração foi uma das que contou com numerosos adeptos à causa monárquica.
Alguns partiram para a linha da frente dar combate às forças republicanas. O entusiasmo levou António Manuel Gomes – um dos partidários da causa realista – a içar a bandeira monárquica na sua própria casa, sita no lugar de Além.
Executado por um tio a seu pedido, a casa ainda ostenta na fachada o escudo nacional sem coroa real, a testemunhar ocorrências históricas com mais de um século.
Este tema foi abordado na edição de 1994 da revista “O Anunciador das Feiras Novas” que se publica em Ponte de Lima.
António Manuel Gomes e esposa, Maria Joaquina dos Santos (prima em 1º grau do Dr. Augusto Joaquim Alves dos Santos). A foto data do início do século XX.
Transcrição do assento de Baptismo de António Manuel Gomes, em 1881, na Igreja Paroquial de Santa Maria da Cabração.
Certidão de baptismo de António Manuel Gomes
Cabração. 9/9/1881 – f. Cabração. 26/8/1965
Aos quinze dias do mêz de septembro do anno de mil oito centos oitenta e um, n’esta parochial Egreja de Sancta Maria da Cabração, concelho de Ponte do Lima, Archidiocese de Braga Primaz, baptizei solennemente e pûz os sanctos olêos a um individuo do sexo masculino a que dei o nome de Antonio, que nascêo n’esta freguezia no dia nove do ditto mêz e anno pelas dêz horas da manhã, filho legitimo e primeiro d’este nome de João Luiz Gomes e sua mulher Anna Maria de Mattos, lavradores, naturaes e moradores no lugar da Ballouca, que é d’esta freguezia, n’ella recebidos e d’ella parochianos; nepto paterno de Manoel Antonio Gomes e de sua mulher Bernardina Joanna Alves, lavradores, naturaes e moradores no lugar da Escuza, que é d’esta freguezia; e materno de João Manoel de Mattos e de sua mulher Maria do Carmo, lavradores, naturaes e moradores no lugar d’Alem, que é d’esta freguezia. Foram seos padrinhos João Manoel de Mattos Junior, solteiro, tio do baptizado, lavrador, natural e morador no lugar d’Alem que é d’esta freguezia, e Emilia d’Azevedo de Mattos, solteira, tia do baptizado, lavradora natural e moradora no lugar d’Alem que é d’esta freguezia, os quaes todos sei serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado o presente assento, que depois de ser lido e conferido perante os padrinhos, o passo a assignar, e junctamente o padrinho e madrinha por saberem lêr e escrever. Erat est supra.
O padrinho - Joao Manoel de Mattos Junior
A madrinha – Emilia d’Azevedo de Mattos
O Parocho Jose Miguel Domingues Carreira