Governar a pensar nas pessoas, não é “cuspir para o ar”!... Governar a pensar nas pessoas, é zelar pelos seus direitos fundamentais. Pelos seus “direitos, liberdades e garantias” por um lado; e pelos direitos e deveres económicos, sociais e culturais pelo outro; tal qual determina e a isso obriga, a Constituição da República Portuguesa.
Governar a pensar nas pessoas, não significa por isso governar contra as pessoas. Pessoas, a quem é reconhecido o seu direito à identidade, à sua capacidade civil, à cidadania e à protecção contra quaisquer formas de discriminação. Governar a pensar nas pessoas, não significa exclusividade na preservação do lobo e esquecer as pessoas.
Ou seja: os seus direitos básicos, que representam questões essenciais para o ser humano, no estrito respeito pela sua existência e pela sua autonomia, e que contêm uma natureza de necessidade inerente à sua própria existência.
E sendo assim, quem não respeita tais princípios, não governa a pensar nas pessoas. Governa isso sim CONTRA as pessoas. E isso, é exactamente aquilo que pretendem fazer às pessoas e ao nosso território, invadindo-o, esventrando-o e saqueando tudo quanto lhes interessa até “encherem a barriga”, deixando as pessoas entregues à sua sorte.
Estamos por isso perante um crime de lesa-pátria e por conseguinte, teremos que ser nós a combater esta farsa chamada de prosperidade, que afinal de contas – a vingar, se tornará na maior tragédia para a nossa terra e para o nosso povo. Barroso não pode ser uma nova Àfrica para o país e para a Europa, como a Borralha foi para a Alemanha nazi!... É preciso dizer “NÃO”.
Aquilo que nos querem vender é um engodo, é uma falcatrua, é um conto do vigário, tal qual foi conto do vigário a Borralha, que depois de espremida e abandonada custou mais de 2 milhões de euros ao Municipio para a sua reabilitação.
Ninguém de nós com toda a certeza, gostaria de ver um BURACO com uma largura de 800 metros e centenas de outros tantos de profundidade, perto da nossa casa. Ninguém com toda a certeza, gostaria de ver uma área correspondente a 80 campos de futebol e tudo à sua volta, completamente destruída. A isto, chama-se de Monstro!... Um monstro que devora tudo – floresta, águas, fontes, terrenos aráveis, fauna, flora e por aí fora.
É preciso por isso, que em nome da nossa terra, do seu povo e das novas gerações, derrotar o monstro e lutar por um Barroso limpo, tal qual como é, e ao serviço dos Barrosões. É preciso acreditar!... É preciso remar contra a maré e tocar a rebate os sinos da liberdade contra a ganância e a prepotência que faz dos seres humanos desprovidos de sentimentos, dos valores em sociedade e da irracionalidade. É preciso remar contra as “máquinas devoradoras” alimentadas pelo “petróleo” da usura, capazes que são de exterminar o que de melhor temos na nossa terra, para manterem o poder e o domínio que elas próprias estabeleceram.
Se assim o fizermos e no dia em que o povo resolver tomar a palavra, o seu coração chorará de alegria e o medo tornar-nos-à mais fortes e corajosos.
No dia em que tomarmos a palavra, o sistema abana e a sua máquina deixa de ser uma máquina. Esse será o dia em que o Homem volta a ser Homem, o Povo volta a ser Povo e pode pensar por si próprio e sem medo.
É preciso dizer “sim” ao nosso direito a decidir. Um direito contra quem corrompe e nos procura “educar sob a capa do medo e da ameaça” para sermos submissos.
Não há que hesitar!... E não hesitando, será aí que os políticos e quem gira à sua volta, sentirão o medo de perder o seu Poder e vão responder como melhor se deve fazer, deixando de agir como máquinas e de atacar aqueles que acordaram.
Teremos que sentir e redescobrir que há vida antes da morte. Por isso é importante que ninguém se esconda!... Se nos escondermos, deixaremos de ter para onde fugir num mundo corrompido onde nos educam para sermos subjugados. VIVA BARROSO SEM MINAS.
Ferreira de Castro era um homem que gostava de conhecer o ser humano em todas as suas vicissitudes, um estudioso das questões sociais, utilizando as suas observações para a realização da maioria dos seus livros.
“Terra Fria” é um dos romances onde ele aplica o fruto das suas longas observações, traçando-nos um retracto da vida do povo do nordeste transmontano, evidenciando o sofrimento, a luta quotidiana e o modo de vida quase medieval que se fazia sentir nos início dos anos 30 do século passado.
E, para mim, é aqui que reside a principal beleza deste romance. Escrito em 1934, Ferreira de Castro pretendeu transmitir a imagem da vida nessa região. Hoje em dia, 80 anos depois, esse cenário desapareceu ou poucos vestígios existem, pelo que é nas páginas de “Terra Fria” que descobrimos esse passado e que faz deste livro uma espécie de romance histórico.
Aldeia de Padornelos, Montalegre. Leonardo luta dia a dia pelo sustento da sua família. Ele a mulher, ainda sem filhos, procura em trabalhos esporádicos e principalmente no contrabando, ganhar algum dinheiro enquanto sonha em se estabelecer por conta própria com uma venda (espécie de mercearia que ainda conheci no Alentejo nos anos 80).
É neste contexto que Ferreira de Castro nos descreve a actividade do contrabando, tão em voga nessa altura. Mas o autor vai mais longe.
Volta a Padornelos um homem que havia estado emigrado nos Estados Unidos e, como era apanágio, fica conhecido pelo “americano”. Depressa dá mostras da sua riqueza que o leva a ser considerado um dos homens mais importantes e influentes da aldeia e é ele que dá origem ao drama que irá assolar a aldeia.
É um romance que nos faz sentir uma constante solidão. Somos assaltados por imagens de uma terra desoladora, fria, onde a pobreza é a única condição conhecida e onde o rico julga ter todo o poder sobre o pobre. A meu ver, Ferreira de Castro para além de evidenciar a pobreza do Portugal profundo, nesse caso em Trás-os-Monte, lança aqui uma crítica feroz ao abuso de poder do regime caracterizado no “americano” e a sua forma de agir.
As fotos datam de 1933 e mostram vários aspectos da vida quotidiana à época na região do Barroso. Entre outros, registe-se o comprador de peles e o costume de deitar as reses à vezeira. Observe-se ainda o traje e o aspecto do interior da habitação, o mobiliário e, entre ele, o tradicional escano que também servia de arca e outrora servia ainda de mesa e cama. O que, na linguagem actual, diríamos um multifunções.
O gado barrosão é porventura a raça autóctone de gado bovino mais emblemática do Minho. Os seus pastos verdejantes e lameiros tornaram-se um dos locais de eleição para a sua criação. No entanto, apesar da excelente qualidade da sua carne, o interesse pela sua criação tem vindo a decrescer nas últimas décadas.
A área geográfica outrora ocupada pelo gado barrosão tem vindo a reduzir-se drasticamente. Atualmente, a sua zona de criação restringe-se quase exclusivamente às regiões mais montanhosas de Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Melgaço, Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto. Caso não venham a ser tomadas medidas para aumentar o interesse por esta raça bovina, em breve ficará restringida ao planalto barrosão se não entrar em risco de extinção.
Corpulento e robusto, o boi barrosão entusiasma o povo nas tradicionais chegas de bois que se envolve em apostas para saber qual é o que se sagra campeão. Um dos seus traços mais caraterísticos é o acentuado tamanho dos seus chifres que nas feiras e concursos parecem exibir com garbo, fazendo o orgulho dos seus proprietários.
Apesar de originária do planalto barrosão de onde lhe provém o nome, o gado barrosão rápido de disseminou no Minho a partir das feiras de Cabeceiras de Basto e outras localidades onde era comercializado. De resto, a Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Barrosã encontra-se sediada na freguesia de Salto, localidade de tradições minhotas, atualmente pertencente ao concelho de Montalegre, mas tendo no passado pertencido a Cabeceiras de Basto.
Segundo o Registo Zootécnico, o número de exemplares desta espécie deve rondar atualmente os dez mil exemplares. A sua carne tem “denominação de origem controlada”.
Em Cabeceiras de Basto e no planalto barrosão subsistem velhas usanças que testemunham uma existência comunitária que os novos tempos teimam em fazer desaparecer. Sublinhe-se que, noutros tempos, o Concelho de Cabeceiras de Basto estendia-se para além dos limites actuais, englobando a importante Freguesia do Salto, em Montalegre, junto às minas da Borralha, cujas gentes mantém os seus hábitos minhotos apesar da transferência administrativa que lhes foi imposta.
Chega de bois em Cabeceiras de Basto (Foto: Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto)
O povo partilhava o forno onde cozia o pão da mesma forma que todos os habitantes concorriam para a lavra de cada um. Por mais árduo que fosse, o trabalho era vivido num ambiente de intensa alegria, desde a época das sementeiras até ao malhar do centeio. E depois vinha a festa e o divertimento que a vida não era só feita de sacrifícios.
Entre os vestígios dessa vivência comunitária salientamos o boi do povo, assim designado por cada aldeia possuir o seu animal que alimentava e preparava para o combate com o da aldeia vizinha em dia aprazado com a finalidade de saber qual era o mais possante e corajoso, até chegar a altura em que deveria ser abatido. A esse combate pesado que ainda actualmente faz o gáudio das gentes minhotas de Cabeceiras de Basto e do Barroso designa-se vulgarmente por "chegas" de bois. Curiosamente, tal costume também é usual nos Emirados Árabes Unidos.
A expressão empregue justifica-se pelo facto dos seus promotores se limitarem a chegarem os animais um ao outro, não possuindo outra interferência na luta que travam.
O boi barrosão é um animal possante que facilmente se distingue pela sua enorme barbela e grandes hastes, chegando a pesar com frequência mais de quatrocentos quilos. Em virtude de ter sido durante muito tempo empregue nos trabalhos da lavoura, veio a tornar-se num dos cartazes emblemáticos da região de Entre-o-Douro-e-Minho, sendo a sua carne muito apreciada por se alimentar sobretudo dos pastos nos lameiros do Soajo e do vale do Lima.
Em tempos idos, sucedia com frequência que, antes do dia combinado para o combate, havia quem pela calada da noite vinha raptar o animal para medir forças com o boi da sua aldeia a fim de saber as probabilidades deste sair vencedor. Actualmente, são os criadores que os levam para o terreiro e os chegam com outro de idêntica compleição física que esteja destinado à chega. O povo acorre, entusiasma-se e até se fazem apostas a saber qual deles vai ser o campeão. Ao avistarem-se a reduzida distância, os animais enfrentam-se com denodada bravura até que um deles desiste e afasta-se dando-se por vencido. O boi vencedor, vulgarmente designado por campeão, é o orgulho do criador tal como noutros tempos o era de igual modo da aldeia que representava. As chegas de bois continuam a ser uma das tradições mais emblemáticas das gentes barrosãs, sobretudo do concelho de Montalegre.