No próximo dia 18 de outubro comemora-se o Dia de São Frutuoso, uma figura maior do monaquismo peninsular do século VII, fundador de mosteiros e bispo de Dume e de Braga.
Este ano assinalam-se os 1160 anos da sua morte e os 60 anos da devolução das suas relíquias a Braga – um episódio fascinante, conhecido como o “Pio Latrocínio”, que apenas agora chega ao fim.
A Capela de São Frutuoso de Montélios, um dos mais notáveis monumentos da Alta Idade Média, afeto ao Património Cultural, Instituto Público, contará, a partir desta data, com um dispositivo museográfico interativo que permitirá aos visitantes descobrir a história do santo, a incrível viagem das suas relíquias e as características singulares da capela-mausoléu que mandou construir.
Fonte: Património Cultural, IP
A Capela de São Frutuoso é um “monumento de grande valia no contexto da arte paleocristã, prevalecendo uma série de questões sobre a sua origem e enquadramento artístico”. Supõe-se que este monumento seja o primitivo mausoléu de São Frutuoso, bispo de Braga entre os anos 656 e 665.
Descoberta por entre as paredes do Convento de S. Francisco, por intermédio de Ernesto Korrodi em 1897, foi alvo de um longo processo de restauro, que levantou grandes polémicas entre os investigadores bracarenses.
Frutuoso de Braga ou Frutuoso de Dume (em latim:Fructuosus) foi um monge e bispo godo do século VII, venerado como santo.
A história da sua vida chega-nos via São Valério, um dos seus discípulos, monge copista e escritor, que a escreveu imediatamente após a sua morte. Na obra Vita Sancti Fructuosi destacam-se quase exclusivamente os aspectos da vida monástica do biografado, omitindo a sua actuação como bispo e sua intervenção na vida civil e religiosa do Reino Visigótico que, certamente, terão tido grande importância no seio dos godos hispânicos.
O arcebispo de Compostela Diego Gelmírez, no ano 1102, foi o responsável pelo roubo do corpo enquanto relíquia, de Dume, em Braga, para Santiago, onde foi enterrado solenemente na cripta da catedral. A catedral de Compostela celebra a solenidade litúrgica dessa transladação, acto que veio a ser designado por "Pio latrocínio", a 16 de dezembro.
Actualmente, as relíquias podem ser veneradas no seu local original, tendo sido apenas devolvidas por Santiago de Compostela em 1966, 864 anos depois.
A importância de Frutuoso para compreender a espiritualidade da Hispânia visigótica é fundamental. Foi padre no monasticismo hispânico, viajante infatigável, fundador de inúmeros mosteiros, venerador de duas regras monásticas, a Regra Monachorum e a Regra Monastica Communis - que se podem considerar como as mais tipicamente hispâncias do monasticismo peninsular. Depois dele, ainda persistiram outras regras europeias, mesmo nos próprios centros frutuosianos, particularmente a Beneditina; não obstante, muitos dos mosteiros fundados por Frutuoso subsistiram até épocas recentes. Frutuoso, conhecedor do monasticismo oriental, das regras europeias e das normas isidorianas, refundiu-as todas dotando-lhes uma originalidade tal que, frente ao latente latinismo da Regra de Santo Isidoro, podem ser consideradas reflexo de um carácter hispânico que se identificou com o espírito bárbaro dos visigodos.
Em Braga, é venerado na Capela de São Frutuoso bem como na Sé Catedral.
São Frutuoso foi o fundador do mosteiro de São João d’Arga
“Com origem incerta, a Capela de São Frutuoso de Montélios terá sido construída junto a um convento, no século VII, por São Frutuoso, bispo de Braga e de Dume, para nela se fazer sepultar, vindo a ser reconstruída e redecorada entre os séculos IX e X. Possui uma planta centralizada em cruz grega, sobressaindo no cruzeiro uma torre com banda lombarda. Exteriormente é caracterizada pela existência de uma arcada cega, alternando arcos de volta perfeita e arcos angulares, demonstrativa da influência moçárabe, segundo alguns autores.
Apesar de o antigo cenóbio ser destruído para a fundação de um novo convento franciscano, em 1523, por D. Diogo de Sousa, a capela manter-se-á intacta, vindo a ser integrada na própria igreja do Convento de São Francisco, aquando das obras de reconstrução de 1728, por ordem do arcebispo D. Rodrigo de Moura Telles. Entre as décadas de 1930 e 1950, a capela será alvo de intervenção da DGEMN, com direção de João Moura Coutinho e Sousa Lobo, segundo a tese que teria sido mandada construir por São Frutuoso no século VI como capela-funerária, reconstruindo-se as cúpulas, a cobertura e as paredes, bem como realizando-se diversos arranjos no adro e interior da capela.”
É Arga! É São João! É São João d’Arga! É festa e romaria. Alegria e tradição. Sagrado e profano. São as rusgas e as concertinas. As bandas filarmónicas e os cantares ao desafio. As voltinhas em torno da capela e o cumprimento das promessas ao santo… sem esquecer a esmola ao diabo!
Os romeiros vêm de todo a parte, serra acima, com as suas merendas e os agasalhos para a noite ao relento. Vêm de Caminha e Vila Praia de Âncora, de Paredes de Coura e Cerveira, de Ponte de Lima e até de mais longe, das bandas da Galiza.
E, uma vez chegados ao terreiro da capela, seguindo atrás dos tocadores de concertina que animam os ranchos de gente, eis que se misturam na grande mole humana. Cumpridos os deveres da Fé, percorrem as tasquinhas em redor num ritual quase obrigatório: uma malguinha de verdasco aqui, um xiripiti acolá, e lá se vão preparando as goelas para as cantorias que a noite é longa. E, o regresso a casa, apenas acontece ao romper d’aurora.
A romaria de São João d’Arga é de uma beleza indescritível, digna do mais sublime quadro dos mais notáveis pintores. Quis Deus que São Frutuoso mandasse erguer este tão rico santuário a São João para que os povos aqui se juntassem em devoção – e também em profunda alegria, a festejar à sua maneira uma das mais castiças romarias do Minho e de Portugal.
A tradição ainda é o que era! – milhares de romeiros já partiram de suas aldeias e, com os seus ranchos, já rumam serra d’Arga acima em direção ao santuário de São João d’Arga. Naturalmente, aqueles que querem manter os antigos costumes e dispensam o conforto do automóvel para o efeito.
Levam consigo a merenda e a manta para pernoitarem no monte porque por aqueles lados não existem hotéis… e poderem dessa forma experimentar a dureza com que viviam os velhos frades do mosteiro.
A meio caminho, o “penedo do casamento” é paragem obrigatória, sobretudo para as moças casadoiras. E, vai de lançar a pedrinha para que fique sobre o dito na esperança de que prenuncie o casamento, dependendo a demora do tempo de espera para o conseguir. Vestígios, seguramente, de antigos ritos de fertilidade. E vai de cantar uma estrofe muito conhecida:
Ó meu Senhor S. João
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que bem sabeis
E, chegados ao local da festa, já todos sabemos. Cumprem-se as promessas, dá-se a esmola ao santo – e outra ao diabo! – dão-se as três voltas à capela, e o resto é folia até de madrugada. Divirtam-se!
Começa amanhã, dia 28 de Agosto, na localidade de Arga de São João, concelho de Caminha, a Romaria de S. João d'Arga, uma das romarias mais antigas e tradicionais do nosso Alto Minho.
Cumprindo a tradição, os romeiros, peregrinos e visitantes mantêm a tradição de, após a subida da serra e chegados ao Mosteiro dar três voltas à capela, e a entrega de uma esmola ao santo... e outra ao diabo....
A noite de 28 para 29 {próxima quinta-feira para sexta-feira} é uma grande festa, a animação e a boa disposição são uma constante. Os romeiros oriundos das freguesias e dos concelhos vizinhos, pernoitam na zona envolvente ao Mosteiro para assistirem às cantigas ao desafio, dançarem ao som das concertinas, bem como provarem as especialidades locais, a aguardente com mel, néctar oficial desta romaria vulgarmente chamado de xiripiti, a broa, o chouriço, o cabrito e o vinho verde, petiscos considerados já uma tradição.
Entre os romeiros existem muitos devotos, que se deslocam à serra somente para pagarem promessas e assistirem às cerimónias religiosas.
Do programa religioso para estes dias, destaca-se:
Quinta-feira, dia 28, às 11h00 e 16h30, celebração da eucaristia. No segundo horário, no final da eucaristia, ocorrerá a procissão.
Sexta-feira, dia 29, às 09h00 e 10h30, celebração da eucaristia. No segundo horário, no final da eucaristia, ocorrerá a procissão.
Nos próximos dias 28 e 29 de Agosto, realiza-se na localidade de Arga de São João, concelho de Caminha, a Romaria de S. João d'Arga, uma das romarias mais antigas e tradicionais do nosso Alto Minho.
Cumprindo a tradição, os romeiros, peregrinos e visitantes mantêm a tradição de, após a subida da serra e chegados ao Mosteiro dar três voltas à capela, e a entrega de uma esmola ao santo... e outra ao diabo....
A noite de 28 para 29 {próxima quinta-feira para sexta-feira} é uma grande festa, a animação e a boa disposição são uma constante. Os romeiros oriundos das freguesias e dos concelhos vizinhos, pernoitam na zona envolvente ao Mosteiro para assistirem às cantigas ao desafio, dançarem ao som das concertinas, bem como provarem as especialidades locais, a aguardente com mel, néctar oficial desta romaria vulgarmente chamado de xiripiti, a broa, o chouriço, o cabrito e o vinho verde, petiscos considerados já uma tradição.
Entre os romeiros existem muitos devotos, que se deslocam à serra somente para pagarem promessas e assistirem às cerimónias religiosas.
Do programa religioso para estes dias, destaca-se:
Quinta-feira, dia 28, às 11h00 e 16h30, celebração da eucaristia. No segundo horário, no final da eucaristia, ocorrerá a procissão.
Sexta-feira, dia 29, às 09h00 e 10h30, celebração da eucaristia. No segundo horário, no final da eucaristia, ocorrerá a procissã
A cada ano a magia de São João d’Arga repete-se. Milhares de pessoas, vindas um pouco de todo o lado, invadem a Serra d’Arga. São rostos de imensa alegria, gente que dança, canta, toca, diverte-se e vibra com a majestosa romaria que é uma das “7 Maravilhas da Cultura Popular”
Não ir a São João d’Arga pelo menos uma vez na vida é como o muçulmano não ir a Meca.
A aproximadamente vinte quilómetros do aglomerado urbano mais próximo, o Mosteiro de S. João d´Arga transfigura-se entre 28 e 29 de agosto. Quem de lá se aproxima, vê uma estrada reduzida a um simples sentido, esbarra com a avalanche de peregrinos, que impede a velocidade normal do carro, e vê a música dentro do automóvel esmagada pelo som dos altifalantes. Diante de cada um está outra mentalidade, outro estilo de vida. O conforto é reduzido ao mínimo indispensável e, a certa altura da noite, andar simplesmente 100 m parece uma eternidade. No meio das conversas, das danças ou das rusgas que chegam, abre-se espaço para a passagem da procissão e o silêncio impera para acompanhar das bandas que a finalizam: a seguir será tempo para as 3 voltas à capela, sempre em silêncio, e para a romagem à imagem de S. João, tocando nela com uma cruz, como que entregando a S. João a vida que, durante aquele ano, foi decorrendo. É uma romaria paradoxal: festeja-se o martírio de um inocente. Um olhar distante vê mais depressa nesta festa a hipocrisia e a ostentação do banquete de Herodes, que o silêncio e o recolhimento da cela de João. Porém, uma observação refinada e atenta percebe que, aqui ocorre o oposto; o motivo do festejo é diferente: juntamo-nos porque não temos medo de viver uma vida de Ressuscitados.
“Creio que podemos sintetizar a Romaria de São João d’Arga como uma festa verdadeiramente humana, tal qual Jesus Cristo. Desde os romeiros que se deslocam, através da forma mais rudimentar que é caminhar, passando pela espontaneidade das cantigas e das danças. Nada está programado e não existem adornos. A natureza severa da Serra impede que isso aconteça. Aliás, participar nesta Romaria é recuar ao homem ancestral, é perceber que não precisamos de muitas coisas para viver, é deixar de viver como turista, para passar a ser peregrino”, recorda o pároco, Pe. Paulo Emanuel.
Há muitos, muitos anos, vivia na Serra d’Arga um perigoso salteador de estradas e casais, de seu nome Aginha. Por entre os arvoredos, caminhos e casas da Serra corria o temor de algum dia ser-se confrontado com tão perigoso meliante. A sua fama corria por todos os recantos, espalhando um misto de pânico e admiração. Já ninguém se atrevia a cortar a serra sozinho e, muito menos, de noite. Contavam-se histórias e histórias dos seus feitos, durante os serões da serra, ao calor das fogueiras. Os mais velhos, querendo o respeito e a obediência das crianças, ameaçavam com a presença do Aginha. Mas estas, depois da repreensão, preferiam brincar recriando as aventuras do malvado.
Quando menos esperava, o viajante via aparecer-lhe pela frente, de punhal em riste e chapelão, o malfadado Aginha! E se não levasse consigo fazenda ou moeda, passava um mau bocado, porque o assaltante só desistia da presa depois de a esbulhar, nem que tosse da roupa que trazia. Qualquer gesto de autodefesa era suficiente para a aventura não ficar apenas pelo roubo. Ao maltratar as vítimas mais intimoratas, Aginha marcava a fronteira do medo, e justificava a impunidade conquistada. Descia um dia, ainda noite alta, um frade do convento de S. João para a missa da matina em Arga de Baixo, quando o meliante lhe saltou ao caminho. A escuridão confundiu-se no hábito do frade. Aginha só reconheceu o homem de Deus quando o confrontou em pleno caminho. Mas Aginha não era homem de grandes rezas, e seria muito mau para a fama conquistada, se não fizesse o que sempre fazia nestes casos. Por isso, apontando o grande facalhão ao pobre do frade atónico, exigiu o salteador:
- A bolsa ou a vida!
A normalidade da sua exigência deu com a anormalidade do caminhante. O frade nem tinha bolsa, nem se preocupava muito com a vida terrena:
- Ó meu filho, não tenho nada de valor comigo, a não ser as pobres vestes de frade e a cruz que trago ao peito!
De que lhe serviam tais «trastes»? Nem umas botas ele trazia! Aginha não sabia o que fazer, pois tal nunca lhe havia acontecido. Vendo-o assim sem jeito e mudo, o pobre do frade lá foi conversando com o salteador, usando palavras mansas e sábias, às quais, perplexo, o Aginha, sentado agora, respondeu com um longo silêncio. Ainda hoje ninguém sabe o que o frade lhe disse! O certo é que, em puro milagre, decidiu abandonar aquela vida de salteador! Caindo aos pés do frade, banhado em lágrimas de arrependimento, confessou os seus crimes e converteu-se. Como penitência, impôs-lhe o frade a missão de permanecer na serra, ajudando agora aqueles que antes havia maltratado.
Poucos dias depois, passou por ali um lavrador, decidido a atravessar a serra com um carro de lenha. Ainda não era noite. Por isso, apesar de receoso, o nosso lavrador foi avançando apressado, como sempre fazia quando passava por tão mal afamado sítio. Na pressa não reparou numa grande pedra do caminho que, repentinamente, lhe tombou o carro em tremenda barulheira.
Não podia o dia ser tão azarado! Como podia aquilo acontecer mesmo ali! Depois de soltar dois ou três palavrões, sempre olhando em volta, assustado, decidiu o lavrador que a única solução era levantar o carro e atrelar novamente os animais o mais depressa possível. Mas como podia fazê-lo sozinho?
O estrondo do acidente atraiu Aginha. Vendo a incapacidade do lavrador, decidiu ir ajudá-lo, e assim dar cumprimento à penitência prescrita pelo frade.
Quando os olhos do lavrador deram com a figura conhecida do Aginha, sentiu que o sangue lhe fugia pelas pernas, e, por momentos, ficou petrificado, pois desconhecia a intenção do penitente. Julgava o lavrador que Aginha vinha para o maltratar, já que não o sabia convertido. Mais refeito da surpresa, e vendo-o sem guarda, pegou na machada de cortar a lenha, e desferiu-lhe um golpe na cabeça, que o matou.
Angustiado por tão hediondo crime, apesar de se julgar em autodefesa, arrastou o cadáver para o matagal mais próximo, e regressou, ainda assustado, à aldeia.
Passados dias, chegou à Serra d’Arga uma ordem do rei que prometia grande prémio a quem terminasse as aventuras do temível salteador, O lavrador, ao ter conhecimento desta ordem, e desejando fazer-se ao prémio, logo denunciou o seu feito heróico. Porém, chegados ao local onde tinha lançado o cadáver, povo e autoridades ficaram estarrecidos ao ver o corpo intacto! Aproximaram-se mais um pouco e, segundo dizem, sentiram que o corpo exalava um suave cheiro de flores silvestres, não obstante terem decorrido já alguns dias após o trágico desfecho. A estupefação só ficou mitigada quando souberam, pelo frade, da conversão do ladrão. Imediatamente o povo aclamou Aginha como santo, construindo ali uma capela em sua honra.
A "aguardente de mel" da Serra d'Arga é uma bebida típica do Alto Minho, comumente vendida nas romarias da região, como em São João d'Arga. A bebida, tradicionalmente chamada "chiripiti" por alguns, é uma mistura de água, mel, açúcar e aguardente, embora a qualidade possa variar, sendo ainda apreciada nas romarias mais autênticas. Embora a qualidade possa variar com o tempo e com os produtores, a aguardente de mel da Serra d'Arga continua a ser uma bebida apreciada nas romarias mais genuínas da região.
SARAPATEL É UMA ESPECIALIDADE DA COZINHA TRADICIONAL DA SERRA D'ARGA QUE A EPOPEIA DOS DESCOBRIMENTOS LEVOU ATÉ À ÍNDIA E AO BRASIL
O sarapatel é uma das especialidades da gastronomia tradicional das aldeias da serra d’Arga. Constituindo uma espécie de cabidela feita com as miudezas de cabrito, este prato é especialmente apreciado por ocasião da Romaria ao São João d’Arga que todos os anos se realiza nos dias 28 e 29 de agosto, considerada uma das mais genuínas festas minhotas.
Existe também no Alto Alentejo uma variante do sarapatel, confecionado com carne de borrego e cabrito, incluindo miudezas e vísceras, servido quente sobre finas fatias de pão alentejano.
À semelhança de muitos dos costumes portugueses, também o sarapatel foi levado pelos navegadores da era dos Descobrimentos até terras distantes do Brasil e da Índia Portuguesa, dando aí origem a novas versões e paladares com a introdução de especiarias e outras iguarias.
É atualmente afamado o sarapatel goês, temperado com açafrão, malaguetas, canela, gengibre, cravinho, tamarindo e outras especiarias, tornando-se um verdadeiro símbolo da cultura indo-portuguesa. Mas também no Brasil, em particular na Baía, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, o sarapatel é uma das especialidades da sua cozinha tradicional.
O sarapatel é, pois, uma dos pratos típicos da nossa culinária que bem poderia servir de mote para a realização de um grandioso evento gastronómico, servindo à mesma mesa uma especialidade gastronómica que passou a ligar os povos que em três continentes partilham um idioma comum – a Língua portuguesa!
Igreja Paroquial, construída nos princípios do séc. XVIII, é formada por dois corpos rectangulares – a nave e a capela-mor ligados por um arco triunfal de meio ponto. Do lado norte, adossada à capela-mor, encontra-se a sacristia.
Por sua vez, a Capela de S. João de Arga, de cunho românico, mas completamente desfigurada no século XIX, mantém como testemunho da sua primitiva traça a cachorrada sobre a cornija.
Simboliza a formação da nacionalidade. Funciona como local de abrigo e protecção das populações cansadas da guerra.
A Capela da Nossa Senhora da Conceição, fica situada a meio do lugar de Santo Aginha, estando praticamente encaixada numa propriedade particular que, outrora, pertenceu à Casa da Torre.
Há, pelo menos duas Alminhas, no lugar de Santo Aginha: umas junto à estrada florestal e outras, no sítio da Presa. Arga de S. João, em meados do século XVIII, era a freguesia com menos população em toda a Serra d’Arga. Com vinte e nove fogos e cento e dezassete pessoas, conseguiu, em meio século, baixar a população, já que nos fins do século XVII, tinha trinta fogos. Nesta época ainda se chamava Santa Maria de Felgueiras, hoje um lugar da freguesia.
Foi durante o séc. XVIII que se construiu a nova igreja, que ainda persiste, entre os lugares de Santo Aginha e Felgueiras.
Porém é uma aldeia muito bem cuidada e que possui encantos impares. Assim é que se observam lindas moradias, desde aquelas recuperadas e conservados de traça mais antiga, até às recentemente construídas habitações de alta qualidade, como que a dizerem – aqui sim há qualidade de vida .
Hoje, a luta persistente do homem com o meio ambiente conseguiu criar espaços verdes e aráveis que, se não dão produtos agrícolas para o mercado, produzem o suficiente para alimentar a população. Milho, centeio batata e vinho, sobretudo americano, são os produtos mais abundantes da freguesia, colhidos nalgumas chãs e socalcos dispersos pelos três lugares – Arga, Felgueiras e Santo Aginha.
Sendo a agricultura a principal ocupação dos habitantes da freguesia, quase todas as casas possuem gado bovino e algumas cabeças de gado ovino e caprino que, geralmente acompanham no pastoreio as vacas. Rebanhos de ovelhas e cabras só há um, em regime de vezeira.
Ainda a respeito da história desta freguesia, no livro “Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo” diz textualmente:
«Esta freguesia remonta as suas origens à data da fundação do Mosteiro de São João de Arga.
Este terá sido fundado, em 661, por São Frutuoso, sofrendo, na Idade Média, obras de restauro levadas a cabo pelos frades beneditinos.
Em 1258, na lista das igrejas situadas no território de Entre Lima e Minho, elaborada por ocasião das Inquirições desse ano, São João de Arga é citada como uma das igrejas pertencentes ao bispado de Tui.
O rei não detinha o seu padroado, pagando o mosteiro pelo São Miguel, um tributo de 15 dinheiros para a coroa. Pertencia nesta época ao julgado de Cerveira.
Em 1599, D. Manuel doou o padroado deste mosteiro ao marquês de Vila Real, tendo posteriormente, a partir de 1641, passado para a Casa do Infantado, que o conservou até 1834.
Segundo o P. Cardoso, Arga de São João sujeitava-se no secular às justiças da vila de Caminha e no eclesiástico às de Valença.»
A tradição ainda é o que era! – milhares de romeiros rumaram a Arga de S. João para cumprir promessas a S. João ou pedir-lhe ajuda para arranjarem casamento ou cura de verrugas, quistos, doenças de pele e infertilidade. Nem todos vão a pé como antigamente mas poucos são os minhotos que dispensam esta festa pois ela continua a ser uma das mais genuínas de toda a região e do país. E, até da vizinha Galiza não faltam os nossos irmãos galegos a comungar da mesma Fé – e da mesma identidade cultural!
Muitos ainda vêm em ranchos como antigamente, subindo a pé o monte, cantarolando aqui e merendando acolá. Pelo caminho, o “penedo do casamento” é sítio obrigatório de paragem no percurso dos romeiros. Os solteiros atiram-lhe uma pedra para que esta fique em cima dele, dependendo o tempo de espera do casamento das tentativas feitas até o conseguir. Reza a lenda que o penedo “arranja testo para qualquer panela”… porém, como os tempos estão difíceis, vão ouvindo-se com frequência cantar os seguintes versos:
Ó meu Senhor S. João
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que bem sabeis
Uma vez chegado ao local do santuário, situado a cerca de 800 metros de altitude, os peregrinos dão três voltas à capela findas as vão dar uma esmola ao santo… e outra ao diabo!
Cumprida a devoção, a romaria dá lugar ao folguedo. Juntam-se os tocadores de concertina e abrem-se as goelas para os cantares ao desafio. Canta-se e dança-se no terreiro até ao amanhecer. Come-se e bebe-se nas tasquinhas à volta do santuário ou nas lojas dos “quarteis” onde também existe alojamento para pernoitar pois, caso contrário, terá de ser feito ao relento, na área envolvente do mosteiro. Apesar de ainda ser Verão, as noites são frias e, como agasalho, recomenda-se um copito de aguardente com mel, uma especialidade típica da Serra d’Arga.
Um poeta alfacinha de que não recordamos o nome, terá criado estes graciosos versos a repeito de S. João Baptista e de seu primo Jesus a quem baptizou nas águas do rio Jordão:
São João, reparem nisto,
Teve este grande condão;
Ao baptizar Jesus Cristo,
Foi quem fez de Cristo cristão
Mal despontam os primeiros raios de sol, é chegada a altura de regressar a casa. A aldeia regressa à sua habitual pacatez e o silêncio volta à serra. Apenas uma escassa centena de almas habita as pouco mais de duas dezenas de habitações que compõem Arga de S. João, abrangendo uma extensão de treze quilómetros quadrados.
- S. João d’Arga é uma das mais genuínas romarias minhotas. Para o ano lá voltaremos!
Os peregrinos, uma vez chegados ao local do santuário, situado a cerca de 800 metros de altitude, dão três voltas à capela findas as quais vão dar uma esmola ao santo… e outra ao diabo. Não vá ele fazer travessuras ao longo do ano!