S. JOÃO D’ARGA NO CONCELHO DE CAMINHA É A ROMARIA MAIS GENUÍNA DE PORTUGAL
Manda a tradição que os romeiros também deiam uma esmola ao Diabo para este não andar a fazer diabruras
Milhares de romeiros rumaram a Arga de S. João para cumprir promessas a S. João ou pedir-lhe ajuda para arranjarem casamento ou cura de verrugas, quistos, doenças de pele e infertilidade. Muitos ainda vêm em ranchos como antigamente, subindo a pé o monte, cantarolando aqui e merendando acolá.
Pelo caminho, o “penedo do casamento” é sítio obrigatório de paragem no percurso dos romeiros. Os solteiros atiram-lhe uma pedra para que esta fique em cima dele, dependendo o tempo de espera do casamento das tentativas feitas até o conseguir. Reza a lenda que o penedo “arranja testo para qualquer panela”… porém, como os tempos estão difíceis, vão ouvindo-se com frequência cantar os seguintes versos:
Ó meu Senhor S. João
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que bem sabeis
Uma vez chegado ao local do santuário, situado a cerca de 800 metros de altitude, os peregrinos dão três voltas à capela findas as vão dar uma esmola ao santo… e outra ao diabo!
Cumprida a devoção, a romaria dá lugar ao folguedo. Juntam-se os tocadores de concertina e abrem-se as goelas para os cantares ao desafio. Canta-se e dança-se no terreiro até ao amanhecer. Come-se e bebe-se nas tasquinhas à volta do santuário ou nas lojas dos “quarteis” onde também existe alojamento para pernoitar pois, caso contrário, terá de ser feito ao relento, na área envolvente do mosteiro. Apesar de ainda ser Verão, as noites são frias e, como agasalho, recomenda-se um copito de aguardente com mel, uma especialidade típica da Serra d’Arga.
Mal despontam os primeiros raios de sol, é chegada a altura de regressar a casa. A aldeia regressa à sua habitual pacatez e o silêncio volta à serra. Apenas uma escassa centena de almas habita as pouco mais de duas dezenas de habitações que compõem Arga de S. João, abrangendo uma extensão de treze quilómetros quadrados.
A Romaria de São João d’Arga é uma festividade única e de alcance nacional, como o comprovam os milhares de pessoas que ali se deslocam e a atenção dos media. Este ano, partiu de Caminha uma rusga com mais de uma centena de pessoas, para subir a serra a pé, a cantar, com a alegria que carateriza a romaria, que junta aspetos religiosos a outros de puro convívio e lazer.
Quem vai ao S. João d’Arga não prescinde da famosa aguardente com mel. Os cantadores fazem o gáudio do povo e, não raras as vezes, o desafio termina em pancadaria. E dança-se até a festa acabar que pode ser quando o sol despertar. Os céus iluminam-se com girândolas e lágrimas que fazem o orgulho do fogueteiro minhoto. E, quando a festa termina, depressa se reúnem os ranchos de gente que se haviam formado no dia anterior para a romaria. E lá vão todos abaixo, levando já consigo a saudade e a mente a fervilhar de sonhos. Para o ano, regressarão ao local, venerar o mesmo santo e reviver os momentos passados, pelo que é necessário que se façam novas promessas.
Fotos: Município de Caminha