QUEM DESCOBRIU A FLORIDA?
Reza a historiografia oficial que a Florida terá sido descoberta pelo navegador espanhol Juan Ponce de León em 1513. Porém, a existência em Itália de um mapa datado de 1502 ou, para sermos mais rigorosos, enviado àquela data para Itália, dá-nos conta da existência da Florida, aparecendo desenhada pelos cartógrafos portugueses, a par de uma vasta extensão da costa do Brasil. Daqui se depreende que o seu conhecimento terá resultado das navegações secretas empreendidas pelos portugueses nos finais do século anterior.
Sucede que o planisfério de Cantino constitui uma cópia do Padrão Real, uma obra cartográfica do século XVI que se encontrava exposta no Armazém da Casa da Guiné, Mina e Índias, registando todas as descobertas portuguesas, públicas e secretas, apenas acessível aos navegadores e cartógrafos ao serviço da Corte. Trata-se atualmente de uma das mais antigas cartas náuticas conhecidas que representam os Descobrimentos Portugueses.
O referido mapa deve o seu nome a Alberto Cantino, um espião italiano ao serviço do Duque de Ferrara, que chegou a ser secretário particular do Rei D. Manuel I. De autor desconhecido, Alberto Cantino terá obtido o referido mapa de forma expedita, enviando-o para Itália em 1502, daí resultando um notável incremento das relações comerciais daquele país em relação a Portugal face às informações nele contidas, por representar com uma notável precisão extensas regiões do mundo até então desconhecidas ou pouco exploradas pelos europeus.
O Planisfério de Cantino encontra-se desde 1868 na Biblioteca Estense, em Modena, na Itália, depois de durante muito tempo se ter julgado perdido e ocasionalmente Giuseppe Boni o ter encontrado numa salsicharia e decidido adquiri-lo.
Considerando a extensão da área cartografada relativamente à costa do Brasil e ao tempo que era necessário despender para proceder ao seu reconhecimento e trazer a informação para Portugal a fim de a poder reproduzir no Padrão Real, antes mesmo de Alberto Cantino poder obter uma cópia deste, fácil será de compreender que tal missão jamais poderia ter sido iniciada a partir de abril de 1500. De resto, o Planisfério de Cantino também nos dá conta da existência da península da Florida cuja descoberta é oficialmente atribuída ao navegador Juan Ponce de León, em 1513, do que se depreende que o seu conhecimento terá resultado das navegações secretas empreendidas pelos portugueses nos finais do século anterior.
Na realidade, coube a Duarte Pacheco Pereira realizar a missão atribuída em 1498, pelo Rei D. Manuel I, de proceder ao reconhecimento das áreas situadas para além da linha de demarcação estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, tendo atingido nesse ano a costa do Brasil, as Antilhas e a América do Norte, conforme relatou em “Esmeraldo de situ orbis”, obra preciosa de “cosmografia e marinharia” da maior importância no contexto do Renascimento português, nela se mencionando todas as coordenadas geográficas de latitude e longitude de todos os portos conhecidos à época em que escreveu e que constitui um roteiro comentado das costas ocidental e oriental de África.
A importância e consequências dos resultados que obteve foram de tal importância que levou Portugal a ocultar os resultados obtidos por aquela expedição e a manter a obra em segredo em virtude das informações valiosas de natureza geográfica, náutica e económica nelas contidas.
Duarte Pacheco Pereira foi um dos mais célebres navegadores, militares e cosmógrafos da época áurea dos Descobrimentos Portugueses. Hidrógrafo ao serviço do Rei D. João II e de D. Manuel I. Entre outros contributos do maior relevo, deve-se também a Duarte Pacheco Pereira o reconhecimento dos regimes de ventos e correntes e a experimentação de métodos de navegação astronómica, antecipando em mais de dois séculos o cálculo do valor do grau de meridiano com uma margem de erro de apenas 4%.
Luís de Camões imortalizou-o n’Os Lusíadas como “fortíssimo e Grão Pacheco Aquiles Lusitano” em louvor do seu heroísmo e feitos militares que lhe consagraram uma auréola de glória. Duarte Pacheco Pereira, a quem na realidade se deve o descobrimento do Brasil, nasceu em 1450 e morreu em 1533.
Finalmente, o topónimo Florida deve ser pronunciado em português e significa “cheio de flores”. Curiosamente, da mesma forma em castelhano empregue pelos colonizadores espanhois.