QUE IMPORTÂNCIA TEM O BOTÃO NO TRAJE E NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE?
Como seria possível abotoar o casaco e o colete com botões e sem "casas" em ambas as abas, para além do corte curvilíneo?
Remonta ao terceiro milénio Antes de Cristo a origem do botão, encontrando-se confirmada na civilização do Vale do Indo. Com efeito, esse pequeno e quase insignificante objeto acompanha a história da humanidade, desde os seus primórdios até aos nossos dias, acompanhando a sua evolução através das mais variadas formas com que se vem apresentando ao longo dos tempos.
O botão foi inicialmente concebido para ser utilizado como forma de ajustar as roupas ao corpo fixando-a numa presilha em posição determinada e, dessa forma, agasalhar e proteger do frio. Porém, com a evolução social, o botão tornou-se também objeto de adorno e identificação social, quer através do seu elemento decorativo como pela posição em que eram colocados no vestuário.
Desde a primitiva utilização do osso e da pedra, o botão foi evoluindo para outros materiais como o metal, a madeira, o vidro e, mais recentemente, os poliésteres. O mesmo sucede quanto aos formatos empregues e a outros aspetos de natureza estética. A evolução das técnicas do design associada aos materiais disponíveis tem introduzido novos elementos gráficos na criação de novas formas visuais num objeto que, à partida, fora concebido para uma função meramente utilitária.
Vem tudo isto a propósito de certos anacronismos com que nos deparamos na indumentária de determinados ranchos folclóricos identificados com a região do Minho. Apresentando-se, alegadamente, como representativos de uma época determinada situada geralmente entre os finais do século XIX e começos do século XX, alguns desses grupos incluem nos seus trajes materiais que à época ainda não haviam sido inventados como sucede com o plástico empregue nos botões. E, para tornar ainda mais vistosa a sua fantasia, cobrem casacos e coletes com muitos botões, de preferência de cor branca e grandes formatos que nos fazem lembrar a jaqueta do palhaço. E, mais pano houvera mais botões se mostrariam…
Consta que esta moda fora em tempos importada do Brasil por um conceituado rancho folclórico minhoto e prontamente copiado por muitos outros ranchos folclóricos. Esta atitude resulta do fato da maior parte dos grupos folclóricos limitar-se a copiar os outros sem qualquer critério em vez de se documentar, da mesma forma que muitos dos nossos compatriotas, vivendo por longos períodos de tempo distantes da sua região de origem, prestam-se não raras as vezes a certas bizarrias com o propósito de alindar o nosso folclore.
Sucede que o folclore não deve ser alindado mas apenas preservado respeitando à época em que o mesmo é apresentado. O exemplo do botão é apenas um de tantos outros que devem ser tidos em consideração como sucede com o chapéu, o calçado, a algibeira e o vestuário de um modo geral. Da mesma forma que a dança deve reportar à sua região de origem e não ser transladada para outra região que não lhe pertence pois, a título de exemplo, jamais se viu uma lavradeira de Ponte de Lima a dançar a vareira. A representação do folclore deve sempre respeitar o tempo e o espaço, observando a História da evolução dos hábitos e mentalidades, de acordo com a geografia dos costumes relacionados com a religiosidade, o trabalho, o lazer, a organização social e todos os aspetos da vida comunitária.