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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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PORQUE EXIBEM AS MINHOTAS O OURO DE FORMA TÃO EXUBERANTE?

É frequente algumas pessoas de diferentes regiões do país, ligadas ao meio folclórico, questionarem-se acerca da exuberante exibição do ouro em terras minhotas, lembrando as dificuldades com que o povo outrora vivia.

A atracção das nossas gentes por esse metal tão bonito quanto precioso remete-se aos confins da nossa História, ao tempo em que as nossas mulheres se adornavam com torques e braceletes que inspiram a moderna ourivesaria minhota. Os próprios romanos chegaram a explorar as abundantes jazidas existentes na nossa região. Contudo, a importância do ouro na tradição minhota possui uma exlicação bem mais recente!

No meio rural, aliás à semelhança do meio urbano, existiam várias classes sociais de camponeses (na cidade, de burgueses!) ou seja, havia desde os mais abastados até àqueles quem praticamente nem propriedade para cultivar possuíam, sendo por isso forçados a trabalhar ao jornal por conta de outrem.

Na região de Entre-o-Douro e Minho, muitos camponeses foram obrigados a emigrar para o Brasil para escapar à miséria que então assolava os campos. Não raras as vezes escapavam clandestinamente escondidos nos porões dos navios que partiam de Viana do Castelo ou outros portos.

Porém, muitos deles regressaram ricos, construíram os seus solares e casas apalaçadas, as chamadas as casas dos brasileiros, sobretudo ao longo do litoral minhoto. Eram os “brasileiros de torna-viagem”.

Do seu bolso ajudaram a construir escolas, beneficiaram igrejas e de um modo geral contribuíram para o progresso das suas terras de origem. Mas também não esqueceram as suas afilhadas, oferecendo-lhes geralmente um rico dote em oiro para que também elas viessem a conseguir um bom casamento... é isso que em grande medida explica uma exibição mais exuberante do ouro nesta região em contraste com outras regiões do país!

Em relação à exuberância, tal constitui um traço do carácter minhoto que define bem a sua personalidade. Longe da monotonia de outras terras, o minhoto vive desde que nasceu rodeado de uma paisagem alegre e deslumbrante onde a grandeza das montanhas contrasta com a doçura verdejante das suas veigas. Por isso, ele é jovial e alegre. E, todos os momentos da vida, incluindo os mais difíceis, enfrenta-os com um sorriso nos lábios. O trabalho, a religião e a própria gastronomia são vividos em festa! A sua enorme paixão pelo fogo-de-artifício e a forma como decora os arcos de romaria são disso um exemplo… como poderia ser de outro modo o seu gosto pela ourivesaria?

Foi também esta procura pelos objectos de adorno em ouro que permitiu o desenvolvimento da ourivesaria sobretudo em Gondomar e Póvoa de Lanhoso, fazendo desta arte um dos ex-líbris de Portugal mundialmente reconhecido.

Carlos Gomes

Foto: José Carlos R. Vieira