PONTE DE LIMA: IGREJA DE SANTA MARIA DA CABRAÇÃO ANTES DE 1920
Em meados do século XIX, o governo cartista de Costa Cabral, a pretexto de implementação de medidas sanitárias, decretou a proibição da realização de enterros dentro das igrejas, o que foi então interpretado como uma forma de diminuir a influência social da Igreja Católica. Esta medida constituiu então num dos motivos que levaram à eclosão em 1846 da revolta popular da Maria da Fonte que rapidamente alastrou a todo o Minho.
Pese embora a contestação, foram a partir de então construídos cemitérios junto às igrejas e capelas paroquiais, numa solução de compromisso entre o sagrado e o profano. E, por todo o país, as ossadas dos defuntas começaram a ser retiradas das sepulturas existentes no interior dos templos para serem trasladadas para os novos cemitérios. Um processo que demorou várias décadas estendendo-se quase até meados do século XX.
As lápides funerárias foram removidas para o adro das igrejas e as sepulturas fechadas com pavimentos de madeira que em muitos casos vieram mais recentemente a serem atulhadas e pavimentadas de cimento e tijoleira.
Em Ponte de Lima, mais concretamente na freguesia da Cabração, tal empreendimento teve lugar nos começos do século XX, numa altura em que decorriam as obras de construção da torre da capela, tal como a vemos na foto.
Era mestre-de-obras João Manoel de Mattos Junior – da famílias dos Santos desta freguesia – que, na ocasião, por mero acidente, veio a cair numa das sepulturas entretanto abertas no interior da capela. Sucede que o efeito psicológico foi de tal modo que a partir de então se recusou a prosseguir as obras dentro da igreja, apenas aceitando a sua condução a partir do exterior. Crê-se que deixou de realizar tal tarefa dadas as circunstâncias.
Esta história chegou até nós através de tradição oral no seio familiar pelo que é susceptível de conter algumas imprecisões.
João Manoel de Mattos Junior nasceu na Cabração em 10 de Agosto de 1844. Do seu assento de baptismo consta o seguinte:
“Joao Manoel filho legittimo de Joao Manoel de Mattos, e sua mulher Maria do Carmo do lugar de Alem desta freguezia de Sancta Maria da Cabraçao julgadod e Ponte de Lima. Nasceo no dia dez do mês de Agosto de mil oito centos quarenta e catro e foi Baptizado Solenemente na Pia Baptismal desta Igreja Solenemente com imposição dos Santos oleos no dia dezoito do mês por mim o Padre Joao Antonio Pereira paroco desta Igreja. Nepto paterno de Bernardo Antonio de Matos ja defunto e Anna Rosa Rodrigues desta. Forao padrinhos Joao Manoel Affonso de Oliveira digo Manoel Pereira da Costa, e Anna Rosa viuva ambos desta. Para constar fiz este termo q. asigno. Stª Mª de Cabração era dia mês e Anno est supra.”