PONTE DE LIMA: ANTÓNIO FEIJÓ NAS FEIRAS NOVAS DE 1909 – AS REFEIÇÕES – CRÓNICA DE TITO DE MORAIS
Publicamos hoje mais umas notas sobre o roteiro – Nos Passos de António Feijó em Ponte de Lima – aquando nas passadas Feiras Novas recebemos os descendentes suecos do nosso ilustre conterrâneo. Desta vez, registamos o encontro com o Pároco da vila, Arca e Feitosa, Mons. José Caldas, e visita á Residência Paroquial, pois lá decorreram refeições do casal Feijó, por ocasião das Festas á Senhora das Dores em 1909.
Sabemos por carta do autor das Bailatas, datada de 12 de Setembro do supracitado ano de 1909, que as Feiras Novas de então decorreram de 18 a 20 de Setembro, mas com tristeza! O poeta na missiva seguinte, escrita a 28 do mesmo mês, faz-nos o relato da estadia na capital da Ribeira Lima: provenientes de Viana do Castelo, almoçaram no solar de Bertiandos (como já acontecera na deslocação no Outono de 1900), mas a caminho da vila começou uma “… chuva torrencial”, a qual “ … nunca mais … sessou de cair até 1h da madrugada”.
Os turistas, provenientes da Europa do Norte, parecem repartiram as férias entre a capital do distrito e a nossa vila, aqui hospedando-se na casa do extinto Banco Agrícola, Comercial e Industrial de Ponte de Lima, que lá funcionou entre 1875-1881, prédio hoje ocupado pelo “Sabores do Lima”. Mandado construir por João Inácio da Cunha e Sousa, antepassado do comendador Russel de Sousa que comprou a Casa da Torre das Donas e lá mandou colocar o portal de Nicolau Nasoni proveniente do palácio do Freixo, Porto, cidade onde residia e foi empreendedor da Litografia Nacional, o edifício passou depois a propriedade de José rodrigues de Sousa, regressado da Baía, Brasil, onde foi empresário têxtil, que cerca de 1886 comprou a Quinta da Roseira, às portas da Correlhã; o benfeitor limiano, trisavô do nosso amigo e bibliófilo Limiano Pedro Moreira Braga, residente na Póvoa de Varzim, era sogro de Benjamim Vieira Lisboa, da Casa da Freiria em Arcozelo, que sabemos entre 1902-06 exerceu o notariado em Ponte de Lima, e casara com Corina Rodrigues de Sousa, fixando residência no então denominado Campo (das Corridas) dos Touros, hoje Largo Rodrigues Alves, que foi Presidente do país-irmão, cujo pais eram da Correlhã, Ponte de Lima.
Se o descanso do nosso diplomata na Escandinávia nas vésperas da República ocorrera no centro da romaria, o mesmo não aconteceu com as refeições. Foi o caso de, para alivar da intempérie, visitaram no dia de chegada, na Rua do Souto um amigo, pai do alfaiate de seu progenitor, a “…casa do Araújo Lima que nos forneceu uma canja aguada mas reconfortante”, informa António Feijó na sua correspondência ao amigo Luís de Magalhães, de Moreira da Maia, em carta já enviada da Casa de Vilar, em Lousada, de seu sobrinho Rui.
O amigo em questão, recordemos, João Inácio de Araújo Lima (1868-1941), era íntimo de Feijó e gastrónomo, a quem o conterrâneo ofertava seus livros e outros sobre culinária, para o confessor da Rainha D. Amélia, professor no Liceu Camões em Lisboa e deputado da Nação, preparar suas iguarias … e inovar em outras! Por sua disposição testamental, o sacerdote-político, legou a sua casa para Residência do pároco da sede do concelho, e a selecta biblioteca à Confraria do Espírito Santo, desde há mais de trinta anos integrada no Instituto Limiano – Museu dos Terceiros.
Mas, os momentos de comida nesse descanso para vivência das Feiras Novas, realizaram-se isoladamente, entre amigos, principalmente. De acordo com informações dos saudosos Conde de Aurora, Coronel Alberto Sousa Machado e Cónego Barbosa Correia, houve Sarrabulhos na Casa do Rego em Calheiros, e na do médico Amândio Lisboa na Correlhã… pelos entretantos, umas conversas á mesa do café Camões, hoje Confeitaria Havaneza, completou o enauadramento social do programa, da presença dos primeiros Feijós da Suécia, e que 115 anos depois, os (actuais) Feijós da Suécia, percorreram, calcorrearam, em nossa companhia e de mais colegas do Clube de Gastronomia de Ponte de Lima.
Foto: Rui Melo