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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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INSTITUTO HIDROGRÁFICO DA MARINHA PORTUGUESA EDITA “NAVIOS HIDROGRÁFICOS PORTUGUESES”

O Instituto Hidrográfico, órgão da Marinha Portuguesa dedicado à investigação no domínio das ciências e técnicas do mar, acaba de editar o livro “Navios Hidrográficos Portugueses”. A publicação, da autoria de Carlos Gomes e do Capitão-de-fragata Paixão Lopes, até recentemente comandante do Agrupamento de navios Hidrográficos, constitui uma compilação da série de artigos publicados na Revista da Armada ao longo de dois anos. A cerimónia teve lugar no passado dia 14 de fevereiro, no âmbito das comemorações do Dia do Hidrógrafo.

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Com excelente aspeto gráfico e interessantes ilustrações, o livro faz uma resenha histórica de todos os navios que ao longo de mais de um século prestaram apoio às atividades da hidrografia nas suas mais variadas vertentes, desde os iates Amélia adquiridos pelo Rei D. Carlos aos modernos navios hidro-oceanográficos, passando pelas missões hidrográficas que, nos antigos territórios ultramarinos, tornaram possível o conhecimento da sua hidrografia, legado que foi transmitido aos novos países de expressão portuguesa.

Coube a Carlos Gomes a apresentação da obra, cujo teor seguidamente se transcreve.

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O livro “Navios Hidrográficos Portugueses” constitui uma compilação adaptada da série “Navios Hidrográficos” publicada pela “Revista da Armada” durante cerca de dois anos. Esta publicação apresenta os navios que, desde os finais do século XIX, foram colocados ao serviço da hidrografia nas mais diversas parcelas do território nacional, desde a Metrópole até às longínquas paragens do Oceano Índico.

Os navios são essenciais às atividades de investigação científica do mar. Ao longo de mais de um século, diversas gerações de hidrógrafos navegaram a bordo destes navios para realizarem a sua missão.

Desde os primórdios da moderna oceanografia, sob o impulso do Rei D. Carlos I até ao Agrupamento de Navios Hidrográficos no âmbito do Instituto Hidrográfico, a história dos navios hidrográficos portugueses constitui uma rota que acompanha a evolução tecnológica no domínio das ciências do mar e, sobretudo, as mudanças e opções políticas tomadas ao longo do tempo pelos diferentes regimes em relação ao mar.

Espírito culto e lúcido, o Rei D. Carlos procurou dotar o país dos meios necessários ao desenvolvimento científico e das pescas, colocando-o entre as nações mais avançadas da Europa no que respeita à investigação oceanográfica.

Por seu turno, as preocupações relativamente à soberania dos territórios ultramarinos levaram a Primeira República a dotar as missões hidrográficas de meios navais adequados à realização dos trabalhos hidrográficos, orientação que foi prosseguida pelo Estado Novo.

Perante a descolonização dos territórios ultramarinos e a consequente extinção das missões hidrográficas, a investigação passou a centrar-se em Portugal Continental e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, áreas entretanto dilatadas mediante a atribuição da Zona Económica Exclusiva e, mais recentemente, da proposta de Extensão da Plataforma Continental.

De igual modo, no que respeita ao seu fabrico, é de assinalar um determinado período histórico no qual é notória a preocupação em proceder à sua construção com recurso à indústria naval portuguesa em detrimento das compras efetuadas ao estrangeiro.

Os quatro iates “Amélia” são os primeiros navios portugueses propositadamente adquiridos e equipados com vista ao seu emprego na investigação oceanográfica. Neles embarcaram, juntamente com o Rei D. Carlos I, uma equipa de cientistas que, entre 1896 e 1907, estudaram a fauna marinha na costa portuguesa. Efetuaram estudos que abrangeram domínios tão diversos como a hidrografia e o estudo das correntes oceânicas, colheita de sedimentos e medição de temperaturas, a captura de espécies marinhas e ornitológicas, as correntes e a topografia dos fundos oceânicos.

Com a implantação da República em 1910, o último dos iates “Amélia” foi rebatizado como “5 de Outubro” e atribuído à Missão Hidrográfica da Costa de Portugal. Participou em levantamentos hidrográficos na costa de Portugal Continental e ainda nos arquipélagos dos Açores e Madeira.

Comecemos, a partir de agora, a enumerar os navios atribuídos à Marinha com a missão de prestar apoio às atividades oceanográficas.

Em 1904. o Vapor “General Silvério” encontrava-se ao serviço da Repartição das Obras Públicas. Verificando-se a necessidade de efetuar levantamentos hidrográficos nos territórios ultramarinos com recurso a meios navais que ali estivessem regularmente localizados e a fim de evitar deslocações demoradas, este navio transitou para a Marinha, passando a prestar apoio à Missão Hidrográfica em Quelimane.

O Vapor “Pebane” era um navio mercante alemão que, em 1916, encontrava-se surto em Moçambique. Tendo Portugal então entrado na Primeira Grande Guerra, este navio foi requisitado pelo governo português. Entre 1923 e 1925 foi utilizado numa missão oceanográfica na costa de Moçambique.

O Navio Hidrográfico “Açor” era um vapor construído em 1874, em Inglaterra, que serviu como canhoneira em ações de fiscalização nos mares do Algarve e nos Açores. Foi este navio que recolheu os náufragos do caça-minas “Augusto de Castilho” quando o mesmo foi torpedeado pelo submarino alemão U-139, durante a Primeira Grande Guerra. O “Açor” passou a navio hidrográfico em 1923, e participou em trabalhos no rio Tejo e na Costa de Portugal Continental.

O Navio Hidrográfico “Albacora” foi construído na Noruega, em 1924, propositadamente destinado à investigação oceanográfica, concretamente nas áreas da oceanografia física e biologia marinha, dando continuidade aos trabalhos iniciados a bordo dos iates “Amélia” ao tempo do Rei D. Carlos. A sua construção foi diretamente acompanhada pelo biólogo Dr. Magalhães Ramalho que também tratou do seu apetrechamento científico e nele navegou no âmbito das missões que realizou na costa portuguesa, nos arquipélagos da Madeira e Canárias e ainda em Gibraltar e Casablanca.

O Navio Hidrográfico “Bérrio” foi construído em França, no ano de 1897. Em 1930, foi atribuído à Missão Hidrográfica de Moçambique que tinha sido constituída no ano anterior.

O Navio Hidrográfico “Beira” foi construído no Arsenal da Marinha e aumentado ao efetivo em 1910. Deu nome á classe a que também pertenceu o Navio Hidrográfico “Mandovi”. Era inicialmente uma canhoneira, tendo apenas em 1936 sido convertido em navio hidrográfico. Foi destinado à Missão Hidrográfica de Angola.

O Navio Hidrográfico “Carvalho Araújo” foi construído em Glasgow, em 1915, para a Marinha Britânica. Participou na Primeira Grande Guerra e, em 1920, foi adquirido pelo governo português. A partir de 1937, passou a prestar apoio à Missão Hidrográfica das Ilhas Adjacentes. Este navio teve como um dos seus comandantes o então Capitão-tenente Luciano Bastos, considerado um dos mais distintos engenheiros hidrógrafos, a quem se deve nomeadamente a elaboração da proposta de criação do Instituto Hidrográfico.

O Navio Hidrográfico “Ibo” era uma canhoneira construída no Arsenal da Marinha e lançada à água em 1910. Em 1931, participou na chamada “Revolta da Madeira”, em apoio a ações de desembarque. Entre 1943 e 1949, esteve ao serviço da Brigada Hidrográfica Independente, participando em trabalhos na costa portuguesa.

O Navio Hidrográfico “D. João de Castro” foi o primeiro navio construído no Arsenal do Alfeite, propositadamente para ser utilizado na hidrografia. A sua construção foi simbolicamente iniciada em 3 de maio de 1939, o dia da inauguração do estaleiro. Foi aumentado ao efetivo dos navios da Armada em 1941 e colocado ao serviço da Missão Hidrográfica das Ilhas Adjacentes. Foi com o seu apoio que, no arquipélago dos Açores, veio a localizar-se uma plataforma rochosa à qual significativamente se atribuiu o nome Banco D. João de Castro.

O Navio Hidrográfico “Mandovi” era uma canhoneira, construída no Arsenal da Marinha e lançada à água em 1918. Pertencia à classe Beira. Em 1946, foi classificada como navio hidrográfico e atribuída à Missão Geo-hidrográfica da Guiné. O Vice-almirante Manuel Pereira Crespo foi um dos seus comandantes, tendo as atividades da Missão, sob a sua chefia, alcançado tal amplitude e importância que levaram o governo francês a condecorá-lo com o grau de Oficial da Ordem da Legião de Honra.

O Navio Hidrográfico “Almirante Lacerda” era um navio lança-minas construído no Canadá e lançado á água em 1941. Foi adquirido pelo governo português em 1946 e atribuído à Missão Hidrográfica de Moçambique. Entre 1964 e 1966, participou na Expedição Internacional ao Oceano Índico. Foi o primeiro navio da Armada Portuguesa equipado com radar. O Almirante Sousa Leitão a quem o Instituto Hidrográfico prestou recentemente homenagem foi um dos seus mais notáveis comandantes. Este navio foi transferido para a Marinha da República Popular de Moçambique aquando da sua independência, em 1975.

À semelhança do “Almirante Lacerda”, também o Navio Hidrográfico “Comandante Almeida Carvalho” foi construído no Canadá como navio lança-minas, destinado à Marinha daquele país. Pertenciam ambos à mesma classe Bangor. Em 1950, foi adquirido pelo governo português e atribuído à Missão Hidrográfica das Ilhas Adjacentes, em substituição do Navio Hidrográfico “D. João de Castro”.

O Navio Hidrográfico Salvador Correia foi construído na Escócia em 1942 para a Marinha do Reino Unido e atribuído o nome “HMS Saltarelo”. O governo português adquiriu este navio em 1948 e rebatizou-o como “Salvador Correia”. Entre 1954 e 1955, esteve ao serviço da Missão Hidrográfica de Angola e São Tomé e, entre 1955 e 1961, na Brigada Hidrográfica Independente do Continente. Em 1956, foi reclassificado como caça-minas e, em 1959, voltou a ser navio hidrográfico, tendo em 1961 sido rebatizado “como “Baldaque da Silva”.

Na mesma altura ou seja, em 1942, os mesmos estaleiros construíram o navio “HMS Ruskholm”, para a Marinha do Reino Unido. O governo português também o adquiriu e rebatizou como “Baldaque da Silva”. Este foi adaptado a navio oceanográfico e destinado ao estudo das pescas. Apresentava as mesmas caraterísticas em relação ao Navio Hidrográfico Salvador Correia, pelo que veio a receber a caldeira deste navio, sendo por sua vez rebatizado como “Salvador Correia”.

O Navio Hidrográfico “Pedro Nunes” foi construído no Arsenal da Marinha e lançado á água em 1934. Foi classificado como navio hidrográfico em 1956 e atribuído à Missão Geo-hidrográfica da Guiné onde se manteve até à data do reconhecimento da independência da República da Guiné-Bissau.

O Navio Hidrográfico “Carvalho Araújo” foi construído em 1942, na Irlanda do Norte, tendo servido a Marinha Britânica durante a Segunda Guerra Mundial. O governo português adquiriu-o em 1958. Foi adaptado a navio hidrográfico e prestou apoio à Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé e Príncipe. Em Novembro de 1975, este navio foi transferido para a República Popular de Angola aquando da sua proclamação de independência.

Lançado á água em 1936, o Navio Hidrográfico “João de Lisboa” foi o último navio construído no Arsenal da Marinha, em Lisboa. Em 1961, foi classificado como navio hidrográfico e passou a servir a Brigada Hidrográfica do Continente e a Missão Hidrográfica do Continente e ilhas Adjacentes que lhe sucedeu.

O Navio Hidrográfico “Afonso de Albuquerque” foi em 1966 adquirido ao Reino Unido, por subscrição pública, a fim de substituir o aviso com o mesmo nome, capturado pelas forças da União Indiana aquando da invasão do Estado Português da Índia, em 1961. Adaptado a navio hidrográfico, passou ao serviço da Missão Hidrográfica do Continente e Ilhas Adjacentes e participou em trabalhos na Guiné e Cabo Verde.

O Draga-minas “S. Jorge” era um navio oceânico construído nos Estados Unidos da América e entregue a Portugal em 1955, ao abrigo do Acordo de Defesa e Assistência Mútuas estabelecido entre ambos os países. A partir de 1967, ficou na dependência do Instituto Hidrográfico. Após serem instalados a bordo dois laboratórios de investigação, participou em diversas comissões nos Açores e, em 1970, nas Campanhas Oceanográficas de Apoio às Pescas do Continente.

A Lancha Hidrográfica “Mira” foi, em 1961, adquirida por Portugal e, em 1968, aumentada ao efetivo dos navios da Armada e adaptada a lancha hidrográfica. Prestou apoio à Missão Hidrográfica do Continente e Ilhas Adjacentes, incluindo os estudos preliminares para a edificação de uma estação nuclear em Peniche.

O NRP “Almeida Carvalho” foi construído nos Estados Unidos da América e entregue a Portugal em 1972, ao abrigo do Acordo referente à utilização da Base Aérea das Lages. Este navio foi o detentor do maior número de cruzeiros científicos realizados ao serviço da Marinha Portuguesa. O projeto EURÁFRICA e os cruzeiros MALAC foram apenas alguns dos inúmeros trabalhos a que deu apoio.

A Lancha Hidrográfica D. Jeremias foi construída em Portugal, nos Estaleiros Navais de S. Jacinto. Durante uma dúzia de anos, participou em diversos trabalhos hidrográficos e oceanográficos.

A Lancha Hidrográfica Cruzeiro do Sul era um antigo iate construído em Inglaterra. Foi apresado pelas autoridades portuguesas numa operação de contrabando. Convertido em lancha hidrográfica, deu apoio ao cruzeiro MALAC em 1971 e participou no primeiro estudo da poluição do estuário do rio Tejo.

As lanchas hidrográficas Andrómeda e Auriga foram construídas no Arsenal do Alfeite e utilizadas para apoio aos trabalhos hidrográficos e oceanográficos costeiros e portuários.

O Navio Hidrográfico “D. Carlos I” foi construído nos Estados Unidos da América e transferido para a Marinha Portuguesa em 1996. No Arsenal do Alfeite, foi adaptado às funções de navio hidrográfico e oceanográfico. Efetua missões sobretudo na costa de Portugal Continental e nos arquipélagos dos Açores e Madeira.

O Navio Hidrográfico “Almirante Gago Coutinho” é irmão gémeo do Navio Hidrográfico “D. Carlos I”. Também foi construído nos Estados Unidos da América como navio de vigilância e deteção submarina utilizado nas rotas dos submarinos da extinta União Soviética.

Encontra-se dotado dos mais modernos meios hidro-oceanográficos. Da sua atividade salienta-se o apoio prestado às campanhas realizadas no âmbito da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental.

Os navios hidrográficos “D. Carlos I” e “Almirante Gago Coutinho” estão dotados de elevadas capacidades que os colocam ao nível das mais bem apetrechadas unidades militares de outros países ao serviço da investigação do mar.

Os navios hidrográficos e oceanográficos constituem meios necessários e imprescindíveis à realização das atividades de investigação e, por essa razão, prestam um inestimável serviço ao país e ao conhecimento humano.

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