GALIZA COMEMORA O DIA 25 DE JULHO – DIA DO APÓSTOLO SANTIAGO MAIOR – O DIA DA PÁTRIA GALEGA!
Santiago Maior numa obra de Rembrandt
Remonta a 1919 a escolha do dia 25 de julho para celebrar o Dia da Pátria Galega, decisão que foi aprovada em Assembleia das Irmandades da Fala, reunidas em Santiago de Compostela. Refira-se que se trata do dia da festa litúrgica de Santiago Maior, Patrono da Galiza.
GALIZA E PORTUGAL: UM SÓ POVO E UMA SÓ NAÇÃO!
Por um compreensível desconhecimento que tem sobretudo a ver com a conveniência de se manterem boas relações entre Estados, grande parte dos portugueses ignora as verdadeiras afinidades que existem entre a Galiza e Portugal e, no âmbito deste, particularmente em relação ao Minho. Essa falta de conhecimento estende-se a vários domínios, mormente às raízes étnicas comuns de minhotos e galegos e até ao entendimento errado do idioma galego frequentemente confundido com o castelhano e impropriamente designado por “espanhol”. Mesmo entre pessoas que deveriam ser entendidas no domínio do folclore minhoto é recorrente ouvi-las referir-se a uma dança tradicional galega designando-a como “vira espanhol”.
Rosalía de Castro, figura cimeira das Letras Galegas
Na realidade e para além dos portugueses, a Península Ibérica é habitada por gentes de culturas e idiomas tão distintos como os vascos, os catalães, os asturianos e finalmente, os galegos e portugueses que possuem uma língua e uma identidade cultural comum, apenas separados em consequência das vicissitudes da História. A Espanha, afinal de contas, não representa mais do que uma realidade supranacional, cada vez mais ameaçada pelas aspirações independentistas dos povos que a integram.
Com as suas quatro províncias - Corunha, Lugo, Ourense e Pontevedra - e ainda alguns concelhos integrados na vizinha Astúrias, a Galiza constitui com Portugal a mesma unidade geográfica, cultural e linguística, o que as tornam numa única nação, embora ainda por concretizar a sua unidade política. Entre ambas existe uma homogeneidade que vai desde a cultura megalítica e da tradição céltica à vetusta Gallaécia e ao conventus bracarensis, passando pelo reino suevo, a lírica galaico-portuguesa, o condado portucalense e as sucessivas alianças com os reis portugueses, as raízes étnicas e, sobretudo, o idioma que nos é comum - a língua portuguesa. Ramon Otero Pedrayo, considerado um dos maiores escritores do reintegracionismo galego, afirmou um dia na sua qualidade de deputado do parlamento espanhol que "a Galiza, tanto etnográfica como geograficamente e desde o aspeto linguístico, é um prolongamento de Portugal; ou Portugal um prolongamento da Galiza, tanto faz". Teixeira de Pascoaes foi ainda mais longe quando disse que "...a Galiza é um bocado de Portugal sob as patas do leão de Castela". Não nos esqueçamos que foi precisamente na altura em que as naus portuguesas partiam à descoberta do mundo que a Galiza viveu a sua maior repressão, tendo-lhe inclusivamente sido negada o uso da língua galaico-portuguesa em toda a sua vida social, incluindo na liturgia, naturalmente pelo receio de Castela em perder o seu domínio e poder assistir à sua aproximação a Portugal.
No que respeita à sua caracterização geográfica e parafraseando o historiador Oliveira Martins, "A Galiza d'Aquém e d'além Minho" possui a mesma morfologia, o que naturalmente determinou uma espiritualidade e modos de vida social diferenciados em relação ao resto da Península, bem assim como uma diferenciação linguística evidente. Desse modo, a faixa atlântica e a meseta ibérica deram lugar a duas civilizações diferentes, dando a primeira origem ao galaico-português de onde derivou o português moderno e a segunda ao leonês de onde proveio o castelhano, atualmente designado por "espanhol" por ter sido imposta como língua oficial de Espanha, mas consignado na constituição espanhola como "castelhano". Não foi naturalmente por acaso que Luís Vaz de Camões, justamente considerado o nosso maior poeta possuía as suas raízes na Galiza. Também não é sem sentido que também o poeta Fernando Pessoa que defendeu abertamente a "anexação da Galiza", afirmou que "A minha Pátria é a Língua Portuguesa".
De igual modo, também do ponto de vista étnico as raízes são comuns a todo o território que compreende a Galiza e o nosso país, com as naturais variantes regionais que criam os seus particularismos, obviamente mais próximas do Minho, do Douro Litoral e em parte de Trás-os-Montes do que em relação ao Alentejo e ao Algarve, mas infinitamente mais distanciados relativamente a Castela e outras regiões de Espanha.
No seu livro "A Galiza, o galego e Portugal", Manuel Rodrigues Lapa afirma que "Portugal não pára nas margens do Minho: estende-se naturalmente, nos domínios da língua e da cultura, até às costas do Cantábrico. O mesmo se pode dizer da Galiza: que não acaba no Minho, mas se prolonga, suavemente, até às margens do Mondego". Torna-se, pois, incompreensível que continuemos a tratar o folclore e a etnografia galega como se de "espanhola" se tratasse, conferindo-lhe estatuto de representação estrangeira em festivais de folclore que se pretendem de âmbito internacional, quando na realidade deveria constituir uma participação assídua nos denominados festivais nacionais. Mais ainda, vai sendo tempo das estruturas representativas do folclore português e galego se entenderem, contribuindo para um melhor conhecimento mútuo e uma maior aproximação entre as gentes irmãs da Galiza e de Portugal. O mesmo princípio aliás, deve ser seguido pelos nossos compatriotas radicados no estrangeiro, nomeadamente nos países da América do Sul onde as comunidades portuguesas e galegas possuem uma considerável representatividade numérica. Uma aproximação e um entendimento que passa inclusivamente pelo cyberespaço e para a qual a comunidade folclórica na internet pode e deve prestar um inestimável contributo.
Afirmou o escritor galego Vilar Ponte na revista literária "A Nossa Terra" que "os galegos que não amarem Portugal tão pouco amarão a Galiza". Amemos, pois, também nós, portugueses, como um pedaço do nosso sagrado solo pátrio, essa ridente terra que se exprime na Língua de Camões – a Galiza!
O MINHO E A GALIZA – JOÃO VERDE E AMADOR SAAVEDRA
“Vendo-os assim tão pertinho,
A Galiza mail'o o Minho
São como dois namorados
Que o rio traz separados
Quasi desde o nascimento.
Deixalos, pois, namorar
Já que os pais para casar
Lhes não dão consentimento.”
Na outra margem do rio Minho – da vizinha e irmã Galiza – replicou o poeta galego Amador Saavedra que respondeu nos seguintes termos:
“Se Dios os fixo de cote
Um p’ra outro e teñem dote
Em terras emparexadas,
Pol'a mesma auga regadas
Com ou sem consentimento
D'os pais o tempo a chegar
Em que teñam que pensar
Em facer o casamento.”
João Verde, pseudónimo de José Rodrigues Vale, poeta maior das letras monçanenses, nasceu em 1866, no Largo da Palma, e faleceu em 1934, na “Casa do Arco”, Rua Conselheiro Adriano Machado, conhecida localmente como Rua Direita.