EVOCANDO O PRIOR S. TEOTÓNIO – O SANTO VALENCIANO QUE É PADROEIRO DA CIDADE E DA DIOCESE DE VISEU
Desde Fernando Magno, a D. Afonso Henriques, a Sé Catedral de Santa Maria de Viseu foi governada por priores, subordinados ao bispo de Coimbra, tendo sido o de maior relevância S. Teotónio, nascido em Tardinhade, freguesia de Ganfei, do concelho de Valença do Minho, sendo papa Gregório VII e rei de Leão e Castela Afonso VI.
Foram seus pais D. Oveco e D. Eugénia, "pessoas de vida, piedosas e das mais notáveis daqueles sítios.
Com 10 anos de idade (1092), partiu para Coimbra para junto de seu tio D. Crescónio, bispo daquela Diocese, que confiou a sua educação ao arcediago D. Telo "varão virtuoso e douto", que tinha a incumbência da educação dos mancebos, filhos dos nobres.
Teotónio era muito aplicado aos estudos das letras e do canto litúrgico, de tal modo que, no espaço de três anos, aprendeu Latim, Música e Retórica, com perfeição.
À medida que crescia em sabedoria crescia também em santidade.
No ano de 1098, faleceu D. Crescónio, vindo então para a Sé de Viseu o Prior Teotónio, onde se professava o instituto canónico de Santo Agostinho e onde era prior outro seu tio, D. Teodónio, a quem, por sua morte (1112), a instância do bispo de Coimbra, veio a suceder nesta dignidade.
Por muitos anos, residiu na nossa cidade, nas salas onde hoje se instala o cartório do Cabido da Sé.
Como se escreve algures a sua casa era um abrigo de peregrinos e por isso a denominaram o "Seio de Abraão".
Todos os sábados celebrava a Missa a Nossa Senhora, e às sextas-feiras a celebração era na Igreja de S. Miguel do Fetal, por todos os fiéis defuntos. Ao acto, assistia quase toda a população da cidade. No final da procissão em redor do cemitério, distribuía pelos pobres, "que sempre em multidão ali acorriam, o pão, o vinho e a cera das ofertas"
Ao impulso da sua Fé, fez duas peregrinações a Jerusalém, tendo renunciado o priorado da Sé de Viseu, antes de efectuar a primeira dessas peregrinações.
Com o seu dileto amigo e antigo mestre D. Telo, e outros companheiros, fundou, em Coimbra, o Mosteiro de Santa Cruz, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, do qual foi o primeiro Prior
O Conde D. Henrique, "querendo erigir o bispado de Viseu, ofereceu ao Prior S. Teotónio a dignidade episcopal, que ele recusou". Como testemunho dessa recusa, a imagem de S. Teotónio figura ao centro do corpo intermédio do frontispício da Catedral, sob o frontão angular, vestido com a indumentária dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, empunhando na mão direita o báculo, enquanto a mitra jaz a seus pés, em sinal de que, por humildade, não usou.
A sua morte ocorreu no dia 18 de Fevereiro de 1163, e um ano depois foi a sua canonização. Decorridos 830 anos, essa efeméride foi comemorada com várias cerimónias, realizadas no Salão Nobre da Câmara Municipal, na Catedral e após elas com o descerramento da lápide que dá o nome ao "Largo de São Teotónio", uma homenagem muito sentida que a Cidade e a Diocese prestaram a essa notável e veneranda figura da Igreja e da Pátria.
O clero e o povo de Viseu elegeram-no por padroeiro da cidade e de todo o bispado, tendo sido esta eleição aprovada pelo papa Clemente VIII
Desde o dia 18 de Fevereiro de 1603, que existe na Catedral, como relíquia, um braço de S. Teotónio, sendo então Bispo de Viseu D. João de Bragança, que tinha feito este pedido com muito empenho a D. Lourenço Prior do Mosteiro de Santa Cruz.
- Teotónio continuará a abençoar, a nossa cidade e a nossa Diocese!
R.C. 1999
Conta-se que, em certo dia que a Rainha D. Teresa ouvia Missa na Sé, mandou pedir, pelo seu pagem, ao prior S. Teotónio "que abreviasse a Missa, porque necessitava de tempo para outros negócios" e que o Santo Prior deu as seguintes respostas:
"Dizei à Rainha que no Céu há outra Rainha, muito mais excelsa, a quem eu determino oferecer esta Missa, com suma veneração e pausa e que, se Sua Alteza tem necessidade do tempo, em sua mão está ausentar-se, quando for servida".
Terminada a Missa a Rainha foi à sacristia pedir perdão, como refere o Pe. Leonardo de Sousa
- o Prior S. Teotónio, num dos nichos do frontispício da Catedral
- vendo-se a Mitra a seus pés o braço de S. Teotónio, relíquia exposta na Catedral
Autor: Ana Ernestina Figueiredo