DOUTOR AUGUSTO JOAQUIM ALVES DOS SANTOS (1866 – 1924)
- Este é o título de um texto da autoria de José Carlos de Oliveira Casulo, publicado em “Figuras Limianas”, obra coordenada por João Gomes de Abreu e editada pela Câmara Municipal de Ponte de Lima.
Augusto Joaquim Alves dos Santos nasceu numa casa então ainda do lugar da Igreja, na Cabração, concelho de Ponte de Lima, a 14 de Outubro de 1866, filho de Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos, daquela mesma freguesia e de sua mulher Ana Maria Alves Soares, da Ribeira.
Sobrinho e afilhado do Padre Manuel Joaquim Soares, seguiu as pisadas do tio e padrinho. Assim, entrou no Seminário de S. Pedro e S. Paulo, em Braga, cujo curso de estudos frequentou e concluiu, tendo recebido a ordenação sacerdotal em 26 de Julho de 1891.
Em 1899 terminou, em Coimbra, a Licenciatura em Teologia e, no ano seguinte, alcançou o grau de Doutor na mesma área de conhecimento. Passou, então, a leccionar na Faculdade de Teologia, funções com as quais acumulou as de inspector do ensino, entre 1901 e 1906 e em 1908. Alves dos Santos distinguiu-se, também, naquela primeira década do século XX e enquanto sacerdote, pelos seus dotes oratórios, de que deu prova não só nos púlpitos de igrejas de Lisboa, Coimbra e Porto, como também em elogios fúnebres, como os das exéquias comemorativas da morte do Papa Leão XII, ou as do antigo Presidente do Conselho Hintze Ribeiro. Foi também ele quem fez o elogio de D. Carlos e de D. Luís Filipe, na comemoração do regicídio mandada celebrar pela Universidade de Coimbra.
A instauração da República, porém, revelou outra faceta do nosso biografado. Em 1911, Alves dos Santos proferiu, em Coimbra, o discurso de boas-vindas ao Presidente da República. Militou no Partido Republicano Evolucionista e no Partido Republicano Nacionalista. Fruto desta sua militância, veio a desempenhar vários cargos públicos - Vogal do Conselho Superior de Instrução Pública, Deputado, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra e Ministro do Trabalho. Abandonou, entretanto, o estado clerical e casou com D. Maria Adélia de Oliveira.
Enquanto Professor universitário, Alves dos Santos, após a extinção da Faculdade de Teologia, transitou para a novel Faculdade de Letras, na qual, já em 1916, viria a receber o grau de Doutor. Em 1912 viajou em missão pedagógica até França e Suíça, tendo chegado a encontrar-se com Édouard Claparède. Fundou, depois, e chegou a dirigir, o Laboratório de Psicologia Experimental anexo à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi, ainda, Director da Biblioteca Geral da mesma Universidade.
Para além do âmbito estritamente universitário, Alves dos Santos esteve ligado à criação das Escolas Normais Superiores de Lisboa e de Coimbra, tendo trabalhado nesta última desde a data da sua fundação (1915) até à morte. Pertenceu, ainda, à Academia das Ciências de Lisboa.
A docência de Alves dos Santos desenvolveu-se no âmbito da Filosofia, da Psicologia e da Pedagogia. Esta constatação pode ajudar-nos a perceber a intenção que subjazia, como linha de rumo, ao seu pensamento: contribuir para a construção de um edifício de conhecimento científico-experimental sobre a criança, para uma pedologia, então, mais do que para uma teoria pedagógica fundamental. Para alcançar este objectivo empenhou-se arduamente, não só no trabalho que desenvolveu no Laboratório de Psicologia Experimental, mas procurando, também, estabelecer uma base epistemológica justificadora da sua postura científica. É neste sentido que se pode compreender o seu elogio da Filosofia Positiva de Augusto Comte, que o tornou num dos derradeiros positivistas nacionais.
De entre as suas obras, menção para - A Nossa Escola Primária (o que tem sido, o que deve ser), (Porto, s.d.); O Ensino Primário em Portugal (nas suas relações com a História geral da Nação) (Porto, 1913); Elementos de Filosofia Scientífica (Coimbra, 1915); Educação Nova. As Bases. I. O corpo da criança ( Lisboa, 1919); e ainda para os seguintes artigos - Psicologia e Pedologia: uma missão de estudo no estrangeiro (1913)(1); Para a história do ensino público em Portugal (1916)(2); e Projecto de Lei sobre a reorganização do ensino público (1921) (3).
Faleceu na sua residência em Coimbra, à Rua Alexandre Herculano, nº 14, em 17 de Janeiro de 1924, tendo ido a sepultar no cemitério da Conchada.
(1) Revista da Universidade de Coimbra, vol. II, 1913, pp. 41-46
(2) Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, vol. III, 1916, pp. 83-113
(3) Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, vol. VI, 1921, pp. 18-42.
Bibliografia
Casulo, José Carlos de Oliveira - Filosofia e Ciência no compêndio escolar de Filosofia de Alves dos Santos (posições defendidas e sua fundamentação positivista), Braga, Universidade do Minho, 1987
Fernandes, José Marques, Pedagogia Científica e Educação Nova no contexto da I República: Costa Ferreira, Alves dos Santos, Faria de Vasconcelos [dissertação de mestrado apresentada à Universidade do Minho], Universidade do Minho, Braga, 1993
Fernandes, José Marques, “Santos, Augusto Joaquim Alves dos”, em Nóvoa, António (dir.), Dicionário de Educadores Portugueses, Ed. Asa, Porto, 2003, pp. 1250-1261
Gomes, Carlos, “Dr. Alves dos Santos: um limiano ilustre e desconhecido”, em O Anunciador das Feiras Novas, X, 1993
José Carlos de Oliveira Casulo
Fonte: http://hdl.handle.net/1822/9962