CENTENÁRIO DO FALECIMENTO DE CLARA PENHA ASSINALADO EM PORTUGAL, ESPANHA, FRANÇA, BÉLGICA, SUÍÇA E LUXEMBURGO – CRÓNICA DE TITO DE MORAIS
O centenário da morte de CLARA Rosa PENHA (1836-1924), será assinalado no decorrer do próximo ano, de acordo com programa em fase de conclusão, envolvendo principalmente o nosso Clube de Gastronomia de Ponte de Lima, e familiares da famosa cozinheira, que tradição local e estudo realizado há quase trinta anos pela Universidade Fernando Pessoa, a considera autora do prato no mercado, isto é, uma refeição do mundo rural transferida para a mesa de restaurantes. Aqui, a data mais remota surgida é o ano de 1860, com a abertura do comércio de vinhos e comidas de Clara Penha no alto do velho bairro do Pinheiro, hoje tudo Rua Norton de Matos, próximo do trajecto sobrante da Rua de Merim e lugar do Poço, local onde já o pai, João Lopes Penha Lima era proprietário de igual negócio.
Recordemos, que o óbito da “autora” do Arroz de Sarrabulho ou Sarrabulho à moda de Ponte de Lima, ocorreu a 2 de Setembro de 1924, mas com algumas instituições aderentes á celebração da efeméride em férias, ou até sem resposta como aconteceu com quem compete estatutariamente a preservação do prato típico local, só há duas semanas e após reunião final em Bruxelas (foto) com algumas das entidades envolvidas no projecto foi possível concluir o almejado programa.
Assim, entre palestras, degustações, jantares – convívio, provas de vinhos com delícias do Sarrabulho, as homenagens á nossa antepassada materna, são várias as actividades a decorrer em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Suíça e Luxemburgo, ora envolvendo instituições oficiais convidadas, ora com eventos da comunidade luso – portuguesa; mas, o nome do acepipe minhoto, português e europeu, ganha cada vez mais aderentes, havendo também desejos da nossa diáspora presente nos Estados Unidos da América e Brasil se associar. A equipa de cozinha do Clube de Gastronomia de Ponte de Lima estará disponível com sua mão de obra, segredos e produtos autóctones para cumprir a missão, principalmente: Paulo Santos (Casa de S. Sebastião), Goretti Bezerra (Sonho do Capitão), Fátima Amorim e Ajudante Filipe Matos (Fátima Amorim), Cassilda Quezado (Solar do Taberneiro), João Leonardo Matos (Beco das Selas), Domingos Gomes (Rio Lima, Cardielos, Viana do Castelo), Joao Carlos Pereira (Hotel Dona Aninhas, Viana do Castelo), Filipe Morgado (Tavern Feitosa) entre outros.
Viúva de Pedro Joaquim dos Santos, também ele comerciante no sector da restauração limiana, estabelecido primeiramente junto da antiga Feira dos Porcos, edifício junto da capela da Senhora da Penha e o Senhor do Bomfim (ou do Pessegueiro), Clara Penha prosseguiu como restaurante e unidade hoteleira, agora em novo edifício, construído em 1886 pelo casal, hoje Casa dos Sabores, com serviço de quartos e receituário regional: bacalhau de cebolada, arroz de Sarrabulho, rojões à minhota, etc. Mas, de sua autoria, depois continuada pela sobrinha e herdeira, pois seu único filho Adelino Augusto dos Santos, faleceu em 1895 com apenas 34 anos e sem descendência, existem mais receitas. A historiadora Maria Odette Cortes Valentes, autora de Cozinha de Portugal. Entre Douro e Minho, recolheu entre uma dúzia de ementas de Clara Penha, ou já da sobrinha Adelina, nossa bisavó falecida em 1959, e da sobrinha – neta Belozinda, falecida em 2002: ensopado de sável, bacalhau à Clara Penha, pescada em traço, lagosta ao natural, lombo de porco estufado, pudim e torta de ovos enrolada. Entre seus clientes, a fundadora da casa, recebia por vezes ao dia de feira, o poeta Guerra Junqueiro (1850-1923) , ao tempo Secretário do Governo Civil de Viana do Castelo que em Ponte de Lima comprava antiguidades, o diplomata e também homem de letras e vizinho António Feijó (1859-1917), o professor do Liceu Camões em Lisboa, confessor da Rainha D. Amélia e deputado, Padre Araújo Lima (1868-1941), benfeitor-ofertante da Residência Paroquial da vila, e também gente das artes: o engenheiro espanhol Peres de Lerma, autor de esquissos duma linha ferroviária no Vale do Lima em 1877, ou o seu compatriota pintor A. Alarcon que em 1903 retratou em óleo sobre tela (foto) a patrona da emblemática iguaria Limiana.
Faltam 2 semanas para Classificação por Bruxelas
Entretanto, aguardemos por resultado positivo desta vez, do processo de classificação do Arroz de Sarrabulho de Ponte de Lima como ETG (Especialidade Tradicional Garantida) pela Comissão Europeia. A Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural aguarda pela Ceia de Natal, pois nesse dia terminam os noventa dias de oposição ao registo ou quaisquer impedimentos da atribuição do desejado certificado de reconhecimento como uma receita típica do velho continente.
Para o coordenador técnico do processo, o veterinário Nuno Vieira Brito, docente da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, integrada no Instituto Politécnico de Viana do Castelo, foi a “ intervenção de Clara Penha, dona de uma das mais importantes pensões de Ponte de Lima, o sarrabulho, de cozinha étnica e familiar, rico de ingredientes e sabores, passou a ser servido nos mais diversos restaurantes da Ribeira Lima. E, mais salientou o antigo Secretário de Estado da Alimentação da Ministra Assunção Cristas: para um bom Sarrabulho , “é a receita e a origem dos produtos utilizados, como o porco, desde a sua origem à forma como é criado”. “Integra características organoléticas e sensoriais totalmente diferentes”, acrescentou Nuno Brito.
Ora, este é no momento alguma preocupação já em Ponte de Lima; enquanto muitos desejam o “selo” de qualidade, integrar a lista de restaurante recomendado, há por aí quem sirva o prato incompleto: há falta de miudezas integrantes do acepipe sesquicentenário no mercado, nomeadamente as belouras, sanguínea e tripa de farinha! Aguardemos então melhores dias, e melhorias no serviço e cumprimento da receita-padrão!