A MINHA VIDA COMEZINHA – POR MANUEL TINOCO “ARMADO EM BOM”
As pequenas coisas. Tão pequenas mas essenciais ao equilíbrio do raio da vida que passa o tempo a querer entalar-nos entre a espada e a parede.
São as pequenas coisas que nos safam, que fazem questão de nos manter à tona, de sorriso franco, intelecto ileso, pele arrepiada e fremente de emoções que têm o segredo de fazer cócegas na espinha.
Ontem à noite, na 2, um filme do Fassbinder fez-me cócegas na espinha. À tarde, uma pequena lembrança, quase sem valor, que dei a uma amiga levantou-me os pelitos dos antebraços enquanto disfarcei o embaraço com uma graçola de meia tijela.
Hoje, estar aqui, debruçado sobre o teclado amanhando, mal-amanhando, algumas linhas de uma intimidade banal e despicienda, a minha intimidade, a minha pequena vida, comezinha e rotineira, faz-me subir um sorriso à face barbuda e enrugada, um sorriso sem reservas nem expectativas de qualquer retorno.
E pronto, era só isto, poucochinho mas sentido. (in ARMADO EM BOM, DE MANUEL TINOCO)