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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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A CONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO DOS NOVOS PAÇOS DO CONCELHO EM PONTE DE LIMA “É UM PROJECTO MAL PENSADO, MAL APRESENTADO, COMPLETAMENTE DESNECESSÁRIO”

- Afirmou ao BLOGUE DO MINHO Nuno de Matos, actual presidente da Comissão Política da Secção de Ponte de Lima do PSD, em entrevista que a seguir publicamos na íntegra.

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BLOGUE DO MINHO - Como Presidente da Comissão Política da Secção de Ponte de Lima do PSD para cujo cargo foi recentemente eleito e aproveitamos para desejar-lhe os maiores sucessos, o que pensa que deveria mudar em Ponte de Lima, nomeadamente aquilo que deveria ser feito?

NUNO DE MATOS - Em primeiro lugar deixar uma palavra de agradecimento ao blogue pelo interesse demonstrado em conhecer melhor o nosso projecto, é uma demonstração de abertura democrática que por vezes não vemos nos órgãos de comunicação social ditos clássicos. Respondendo directamente á vossa pergunta, a primeira mudança que se deve produzir no concelho é a forma de como os eleitos encaram o mandato que os seus concidadãos lhes deram para gerir o concelho, ou seja urge mudar a forma de estar e fazer política. É necessário que os eleitos governem o concelho para a comunidade, para as pessoas. Essa mudança faz a diferença em tudo o resto.

Felizmente Ponte de Lima é, no país, um dos concelhos com maior disponibilidade financeira. Mas a boa saúde do município deve ser procurada para a por ao serviço dos munícipes. Para que depois se possa implementar políticas que vão ao encontro das necessidades dos nossos concidadão. E há tantas no nosso concelho, desde as sociais, às económicas, às culturais.

Infelizmente a actual maioria pensa que a realização de feiras e feirinhas são a solução dos problemas do concelho, mas se verificarmos o real impacto das mesmas, tirando duas ou três, esboroa-se no domingo em que termina o evento. Em Ponte de Lima, a actual maioria, não traçou objectivos concretos daquilo que quer do concelho daqui a 10, 15, 20 anos. Infelizmente, pelo que se vai vendo pelas freguesias, o objectivo único é o de tentar manter-se no poder apenas pelo poder e não pelas populações, não por saber e querer servir as populações.  

BM - Qual a sua opinião a propósito da atual gestão autárquica? Suponho que discorda do projeto de construção de um novo edifício para os Paços do Concelho…

NM - Não vejo nenhum mérito especial na manutenção da disponibilidade financeira. Sei que esta se tornou quase num tabu, mas a verdade é que a disponibilidade financeira não pode ser “O” objectivo, mas um meio que nos permite fazer algo pela população, como aumentar as bolsas de estudo no ensino superior, apoiar os idosos nos medicamentos ou no acesso a serviços de saúde… Estes são alguns exemplos de várias propostas que o PSD foi fazendo, quer na Câmara Municipal pela voz do seu vereador Manuel Barros, quer na Assembleia Municipal e que infelizmente todas elas, apesar de estudadas, com valores concretos, com regulamentos, foram sempre e sistematicamente chumbadas por esta apática e instalada maioria. Alguém consegue entender que a maioria CDS diga que as nossas propostas são demagógicas e despesistas quando essa maioria prefere gastar o valor proposto para a ajuda à aquisição de medicamentos ou o acesso dos mais idosos a cuidados de saúde oral num qualquer evento musical?

Quanto à polémica dos Paços do Concelho o PSD foi desde logo contra, quer pelos valores envolvidos, quer pela forma como esse projecto foi apresentado. É um projecto mal pensado, mal apresentado, completamente desnecessário. As prioridades devem ser outras.

BM - Como encara a actual aposta no turismo local, incluindo os seus impactos a nível do emprego e do incremento da actividade comercial mas também da preservação do património local?

NM - Que aposta? A realidade tem que ser vista para além do marketing diário da maioria CDS que rege o concelho. A verdade é que desde 2009 a taxa de ocupação de estabelecimentos hoteleiros desceu 5%  (ver INE) o que coloca o concelho de Ponte de Lima abaixo da média do distrito de Viana do Castelo. Algo não corre bem quando os resultados são estes…

Como podemos explicar a quem queira investir no nosso concelho, por exemplo no turismo rural, que a Câmara Municipal de Ponte de Lima é um player no mercado?

Sim, o Turismo é um sector chave mas a verdade é que não há nenhum concelho que consiga viver apenas do turismo. É necessário apostar verdadeiramente na fixação de empresas, no incentivo ao empreendedorismo, à investigação. Ponte de Lima tem uma localização privilegiada, tem mão-de-obra qualificada, não pode continuar a ser um género de dormitório dos concelhos vizinhos para onde os limianos se deslocam para trabalhar.  

BM - Na década de 80 do século passado, Ponte de Lima notabilizou-se pela tentativa de preservação dos elementos característicos da arquitetura tradicional, incluindo os materiais empregues na sua construção. Porém, nas últimas décadas, temos vindo a assistir ao aparecimento de novas construções no centro histórico da vila com elementos arquitetónicos que lhe são estranhos. O que pensa acerca disto?

NM - Essa é outra temática onde não podemos cair no exagero. Não podemos criar tabus, é uma temática onde deve imperar o bom senso. Alguém pensa que quando visita Roma vai encontrar a Roma dos romanos clássicos? Ou que a vila de Ponte de Lima é a mesma de quando os nossos avós nasceram? As cidades, as vilas, se as queremos com vida, têm que “respirar”, têm que viver, preservando mas evoluindo.

É óbvio que se deve preservar, é óbvio que se deve impor regras mas não podemos cair no exagero de pensar que o centro histórico deve ser estanque, não pode ter qualquer tipo de alteração. Os centros históricos devem ser espaços para as pessoas lá viverem, não podem ser uma espécie de museu antigo ao ar livre porque se assim for pura e simplesmente estamos a condenar o centro histórico ou à degradação ou a apenas ter os rés-do-chãos ocupados por cafés, bares ou lojas de recordações. Eu, até porque vivo no centro histórico, quero-o com vizinhos, com pessoas a lá viverem, com crianças e para isso temos que lhes dar condições.

A preservação dos elementos arquitectónicos deve encontrar um equilíbrio com o que a comodidade actual exige e existem tantos exemplos de como se pode encontrar esse equilíbrio, não é preciso inventar nada, basta estar atento e “importar” esses bons exemplos.

Agora, não podemos é por um lado ter uma Câmara que exige aos seus munícipes e depois dá exemplos como o de criar um parque de estacionamento para motociclos dentro do largo de Camões, a sala de visita da vila de Ponte de Lima. Os sinais devem ser claros, os exemplos, como diz a sabedoria popular, “vêm de cima”.

BM - Depois da batalha perdida da posse da marca do queijo limiano, o que deveria Ponte de Lima fazer para promover as suas especialidades regionais?

NM - O problema é como chegamos lá, o que falhou, o que se poderia ter feito para evitar o que veio a acontecer? Com tudo o que aconteceu depois, toda a promoção política, esqueceu-se de fazer essa reflexão. É preciso perceber que a busca de condições é um processo contínuo. Acho, por exemplo, muito estranha a actual relação entre a Câmara Municipal e a Adega Cooperativa de Ponte de Lima, a crispação e o isolamento a que parece que a Câmara Municipal votou a Adega não terá grandes frutos…

Não podemos andar sempre “atrás do prejuízo”, é necessária pro-actividade, infelizmente esta maioria prefere o caminho da reactividade.

BM - Como encara a possibilidade de virem a ser restabelecidas algumas das antigas freguesias do concelho de Ponte de Lima na sequência de uma revisão da lei da Reforma Administrativa Territorial Autárquica?

NM - Esse processo, em Ponte de Lima, foi de certa forma pacífico. Aqui deve também imperar o bom senso e a vontade popular. Mas sinceramente não me parece que seja algo que se irá colocar no curto prazo.

BM - O Grupo parlamentar do PS está a preparar uma nova Lei dos Baldios. Qual a sua opinião a respeito da gestão dos baldios por parte de comunidades local?

NM - Os Baldios não podem ser um joguete nas guerras de interesses políticos. Não podem ser encarados como um contra ponto ao poder electivo. É por isso que deve ser promovido o envolvimento das populações e das Juntas e Assembleias de Freguesia na sua gestão. Estes agentes deveriam ser parceiros. O mais importante é que, no final, os Baldios estejam ao serviço da comunidade.

BM - Existiu em tempos um projeto com vista a transformar a Cabração em Aldeia de Turismo Rural, o qual parece ter ficado esquecido. Existe alguma intenção em revitalizar esse projeto?

NM - Ainda há pouco a entidade Turismo do Porto e Norte de Portugal referenciava, numa sua publicação, a aldeia de Cabração. É um projecto interessante e que pelos exemplos de outras aldeias, noutros concelhos, promove quer o património edificado quer o cultural, para além de criar emprego. É óbvio que esse é um projecto onde a Câmara Municipal poderá e deverá ser parceiro, no entanto, cabe à comunidade local ter o papel primordial.

BM - Ponte de Lima assinala este ano 150 anos do nascimento do Dr Alves dos Santos. Que iniciativas deveriam ser levadas a efeito com vista à sua celebração?

NM - Ponte de Lima é pródiga em filhos ilustres. O Dr. Alves dos Santos, nascido na Cabração, foi um ilustre académico ligado às humanidades, mas foi também um político do seu tempo tendo sido em 1911 Chefe do Gabinete do Governo Provisório, Presidente da Câmara dos Deputados, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, entre 1918-1921, Deputado do Parlamento entre 1919-1921 e Ministro do Trabalho entre 1921-1922. Foi, ainda, de 1916 a 1924, Director da Biblioteca da Universidade de Coimbra.

Um limiano que, embora tenha vivido fora da sua terra natal, marcou o seu tempo. Parece-me que o pelouro da cultura tem a responsabilidade de resgatar do esquecimento este nosso conterrâneo. Porque não, tendo em conta que os 150 anos passam praticamente no início do ano lectivo, em Outubro, preparar algum tipo de actividade/exposição onde os nossos mais novos concidadãos tivessem contacto com a vida e obra desta figura limiana?

BM - O aparecimento em Ponte de Lima do primeiro agrupamento folclórico de que existe registo escrito também constitui para Ponte de Lima um autêntico pergaminho. Como pensa deveria o mesmo ser assinalado?

NM - Eis um bom argumento para projectar Ponte de Lima num “mercado” que envolve tanta e tanta gente. Tendo em conta essas evidências documentais porque não cooptar a Ponte de Lima o Dia Nacional do Folclore? Seria uma boa forma de promover o folclore, a região e a cultura limiana ao mesmo tempo que se elevava o nosso concelho a referência nacional do folclore.

BM - Admitindo, como hipótese, que venha a recair sobre si a escolha do próximo candidato à Câmara Municipal de Ponte de Lima, que propostas apresentaria ao eleitorado limiano?

NM - Como podemos ler na Bíblia, “tudo tem o seu tempo” e este ainda não é o tempo de responder a essa pergunta. A equipa que lidero está ciente das suas responsabilidades, tem um projecto para Ponte de Lima e neste momento já estamos, nas freguesias, a caminhar para levar o mais longe possível esse projecto. Sabemos das dificuldades mas estamos, também, convictos que é possível.