O Partido Socialista apresentou hoje na Assembleia da República o Projeto de Resolução 334/XVI/1 através do qual recomenda ao Governo que, sem prejuízo das necessárias dragagens, seja garantida a reconfiguração do Porto de Mar de Vila Praia de Âncora.
A postura da Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos de Vila Praia de Âncora ao longo de quase década e meia.
A associação pescadores VP Âncora desempenha um papel essencial de intermediação e representação na comunidade piscatória de Vila Praia de Âncora.
Não está na comunidade para investigar ou determinar quem errou politicamente ou erro nas políticas implementadas. O nosso objectivo é representar e defender os interesses dos nossos membros e comunidade, agir como interlocutores entre a comunidade e o Estado, e servir como uma ponte de comunicação com órgãos públicos, como administrações publicas, Câmara Municipal de Caminha, Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora e outras instituições. Somos muitas vezes o elo que mantém o diálogo entre a sociedade civil e o poder público.
Por outro lado, os políticos, especialmente aqueles eleitos, como deputados (principalmente eleitos pelo círculo de Viana do Castelo), presidente de Câmara Municipal de Caminha, presidente da Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora e membros da Assembleia Municipal de Caminha, têm o papel direto de responsabilizar-se pelas políticas públicas. Cabe a eles o dever de fiscalizar e corrigir qualquer erro ou desvio que possa ocorrer em políticas que afetem negativamente a nossa comunidade. São eles que têm a responsabilidade de garantir que as políticas públicas sejam justas, transparentes e eficazes.
Associação Pescadores Profissionais Desportivos de Vila Praia de Âncora são os melhores interlocutores entre a comunidade e os órgãos públicos no que respeita atividade piscatória profissional e desportiva, cabe aos políticos o dever de descobrir, avaliar e corrigir eventuais falhas ou erros nas políticas implementadas. Esta colaboração entre Associação Pescadores Âncora e políticos é essencial para que as demandas da sociedade sejam atendidas e para que os erros sejam corrigidos de forma adequada.
Na última década e meia, a Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora manteve sempre uma atitude otimista e de grande respeito pela instituição do Estado.
Elaboramos dezenas de cadernos reivindicativos com centenas de fotografias para explicar os pontos mais sensíveis do porto de mar de Vila Praia de Âncora.
Atuamos como fiscalizadores, embora sem competências formais, de uma estrutura portuária sem regulamento.
Enviamos centenas de e-mails oficiais para organismos públicos e para o Estado, muitos dos quais ficaram sem resposta.
Participamos de várias reuniões com o Ministro do Mar e o Secretário de Estado das Pescas, mas fomos sempre iludidos.
Desde 2012, recebemos todos os candidatos autárquicos, legislativos, europeus e presidenciais, que fizeram promessas nunca cumpridas.
Recebemos políticos na nossa sede que prometeram ajudar, mas poucos realmente o fizeram.
Realizamos dezenas de reuniões no porto de mar de Vila Praia de Âncora com os presidentes dos conselhos de administração dos organismos públicos que tutelam os portos de mar e suas infraestruturas, mas pouco ou nada foi feito.
Tivemos várias reuniões com a Câmara de Caminha e a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, mas suas competências são muito limitadas no que se refere ao mar e ao porto de mar, e pouco podem ajudar.
Enviamos artigos para jornais locais e nacionais sobre a nossa problemática, mas não foram publicados.
𝐀𝐬𝐬𝐨𝐜𝐢𝐚çã𝐨 𝐏𝐞𝐬𝐜𝐚𝐝𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐏𝐫𝐨𝐟𝐢𝐬𝐬𝐢𝐨𝐧𝐚𝐢𝐬 𝐞 𝐃𝐞𝐬𝐩𝐨𝐫𝐭𝐢𝐯𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐕𝐢𝐥𝐚 𝐏𝐫𝐚𝐢𝐚 𝐝𝐞 Â𝐧𝐜𝐨𝐫𝐚, pediu a isenção do pagamento dos armazéns de apresto das embarcações que fazem porto em Vila Praia de Âncora, bem como a isenção do pagamento das bancas do mercado de segunda venda.
Esta 𝐢𝐬𝐞𝐧çã𝐨 𝐯𝐢𝐬𝐚 𝐦𝐢𝐭𝐢𝐠𝐚𝐫 𝐨𝐬 𝐞𝐟𝐞𝐢𝐭𝐨𝐬 𝐧𝐞𝐟𝐚𝐬𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐧ã𝐨 𝐝𝐞𝐬𝐚𝐬𝐬𝐨𝐫𝐞𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨, do porto de mar de Vila Praia de Âncora em 2024, que põe em questão a safra de pesca para 2025.
O porto de mar de Vila Praia de Âncora é um dos portos do país com mais dias de barra fechada, o que limita significativamente as atividades dos nossos pescadores.
Temos aqui dois grandes problemas: primeiro, a SEGURANÇA da barra (a morte espreita na barra de Vila Praia de Âncora) e, segundo, a OPERACIONALIDADE.
Numa freguesia e concelho com graves problemas de empregabilidade e fixação da população, este não desassoreamento em 2024 coloca em risco a sobrevivência dos nossos armadores e suas tripulações.
Os armadores não conseguem fixar suas tripulações quando a segurança da barra e o número reduzido de idas ao mar estão em causa.
Este não desassoreamento vai empobrecer ainda mais a comunidade piscatória, já por si fragilizada.
A criação de um anteporto é a soluções propostas para melhorar a segurança e a eficiência das operações portuárias.
A reconfiguração visa minimizar o assoreamento, reduzir as operações de dragagem e melhorar as condições de segurança para as embarcações. Isso permitirá que os pescadores trabalhem em melhores condições e que o porto se torne um ponto importante para a transação de pescado, dinamizando a economia local.
Um BLOQUEIO ao desenvolvimento da pesca artesanal (sustentável) e ao turismo náutico na freguesia de Vila Praia de Âncora, no concelho de Caminha.
O Porto de Mar de Vila Praia de Âncora, ao longo de 18 anos, é abordado pela associação pescadores profissionais e desportivos de VP Âncora, comunidade piscatória e sociedade politica sobre falta de apoio e investimento por parte do Estado português. Desde sua conclusão em 2003, o porto enfrenta problemas contínuos relacionados à infraestrutura e à manutenção.
O Porto de Mar de Vila Praia de Âncora é frequentemente apontado como um exemplo de infraestrutura negligenciada, com a percepção de "abandono" ou "maldição" sustentada por três fatores principais:
Configuração original de porto de mar errada, Infraestrutura inadequadas e falta de manutenção:
Desde sua conclusão em 2003, o porto tem enfrentado problemas persistentes, como o acúmulo de areia que dificulta a navegação, especialmente em condições climáticas adversas. Além disso, a falta de dragagem regular e de investimentos adicionais prejudicou a funcionalidade do porto. Edifícios destinados à náutica de recreio, construídos em 2013, permanecem fechados, bloqueando o desenvolvimento de projetos de turismo náutico e subutilizando a infraestrutura existente.
Descontentamento da comunidade local:
A comunidade local, particularmente os pescadores quer profissionais e desportivos, tem demonstrado frustração contínua com as condições precárias do porto. Eles relatam dificuldades em operar e denunciam promessas não cumpridas de melhorias por parte do Estado, o que reforça a percepção de abandono. O sentimento de descontentamento é exacerbado pela falta de respostas eficazes às suas demandas.
Promessas de reconfiguração:
Embora tenha havido anúncios recentes sobre estudos para reconfiguração do porto, incluindo a criação de um anteporto, a sensação de abandono persiste. Em 2021, o governo português prometeu melhorias para aumentar a segurança e operabilidade do porto, mas a comunidade continua a sentir que essas promessas estão sendo cumpridas de forma lenta e insuficiente, contribuindo para a percepção de que o porto continua "amaldiçoado" ou negligenciado.
Além disso, houve uma candidatura para obras quando deveria ter sido para apoio técnico, o que levou ao seu chumbo, deixando a situação estagnada.
Essa situação reflete como obras importantes podem sofrer devido à falta de continuidade nas políticas públicas e de apoio constante, impactando negativamente a economia e a vida das comunidades dependentes dessas infraestruturas.
A revitalização do porto é essencial para desbloquear o potencial desses setores, proporcionando melhores condições para os pescadores e incentivando o turismo náutico, que pode trazer benefícios.
Aguardamos a realização das dragagens de manutenção em seis portos de pesca e de náutica de recreio na região Norte, (Vila Praia de Âncora, em Caminha, Castelo de Neiva, em Viana do Castelo, Esposende, no distrito de Braga, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Zona Piscatória de Angeiras, no distrito do Porto), o Plano plurianual de dragagem para 2024 / 2027 está a cargo da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) e é uma medida importante para garantir o bom funcionamento dessas infraestruturas e o desenvolvimento econômico local.
Dragagens de manutenção são necessárias para remover sedimentos que se acumulam nos portos ao longo do tempo, mantendo a profundidade ideal para a navegação segura e eficiente.
Os portos de pesca e de náutica de recreio na região Norte desempenham um papel crucial tanto para a economia da pesca artesanal e turismo náutico.
A manutenção regular dessas áreas permite:
Segurança e navegabilidade:
Com dragagens adequadas, os portos mantêm condições de acesso seguros para embarcações.
Desenvolvimento econômico:
A pesca é uma atividade essencial na região Norte. A manutenção dos portos garante a continuidade das atividades pesqueiras, facilitando o escoamento da produção.
Apoio ao turismo:
A náutica de recreio é um setor em crescimento, e a melhoria das condições dos portos pode atrair mais visitantes e gerar riqueza para as comunidades locais.
Preservação ambiental:
A dragagem bem planeadas e realizada de forma sustentável pode mitigar impactos negativos ao meio ambiente, preservando os ecossistemas aquáticos.
Essas intervenções são estratégicas e deverão fazer parte do Plano Plurianual 2024-2027, como parte de uma agenda de infraestrutura e desenvolvimento para a região.
Um investimento de 6,035.576,81 de euros, mais IVA.
Repartido da seguinte forma:
2024, o valor ronda os 935.666.92 euros, mais IVA.
Em plena festa em honra da Nossa Senhora da Bonança, além de sermos visitados por milhares de turistas somos também visitados por turistas de pesca desportiva embarcada que se deliciam com o nosso mar.
O porto de mar de Vila Praia de Âncora é um roteiro quase obrigatório para embarcações semi-regidas de pesca desportivas.
Turistas que muitos deles vêm de distritos vizinhos e que percorrem centenas de kilometros para pesca submarina, pesca de spinning, pesca de corrico, pesca ao fundo e mesmo lazer.
Agora imaginem este mesmo porto de mar requalificado e com regulamento específico para estas situações, triplicavamos certamente este turistas e criamos mais riqueza para nossa freguesia e concelho de Caminha.
Temos que ter turismo náutico recreio e de pesca desportiva embarcada o ano todo, mas para isso a requalificação do nosso porto de mar tem que ser uma realidade e não um sonho.
O plano plurianual de dragagens para os portos do norte 2024-2026, onde está incluído o porto de mar de Vila Praia de Âncora, ainda não avançou para concurso público.
A dragagem que estava garantida para 2024, no nosso porto de mar, não aconteceu e dificilmente será possível acontecer até finais dezembro de 2024.
Porto mar de VP Âncora é um dos portos de mar do país com mais dias de barra fechada o que leva os nossos pescadores fazerem poucas mares de faina.
Temos aqui dois grande problemas, primeiro a SEGURANÇA da barra ( a morte espreita na barra de Vila Praia de Âncora) e a segunda OPERACIONALIDADE.
Numa freguesia e concelho com graves problemas de empregabilidade e fixação das gentes no nosso concelho, este NÃO desassoreamento em 2024 vai por em questão a sobrevivência dos nossos armadores e suas tripulações.
Os armadores não conseguem fixar as suas tripulações quando está em causa a segurança da barra e o número reduzido de idas ao mar.
Este NÃO desassoreamento vai empobrecer mais ainda a comunidade piscatória já por si fragilizada.
Este NÃO desassoreamento mais uma vez põem também em causa TURISMO náutico recreio e desportivo embarcado. A média de um lúdico/turista embarcada no porto de mar de VP Âncora é entre 10 a 20 marés nos 365 dias.
Os pontões da náutica de recreio e desportivas estão em terra desde 2021 por não existir uma estratégia desassoreamento correta daquele local, na zona mais a sul ( área da rampa ISN) criou-se uma duna que está mais alta do que estrada da avenida, areia que deveria sair por terra e ser colocada na praia para garantirmos a vinda do Instituto Socorros Náufragos (ISN).
A minha pergunta é a seguinte, como não vai ser feito o desassoreamento em 2024, em 2025 vão retirar os inertes correspondentes a 2024 e 2025? Ou vai ser um plano de 2025 a 2027??? Se for assim já ficaram dentro porto de mar mais 50 mil metros cúbicos referentes a 2024.
A missão de um porto de abrigo é ter mais de 250 dias os barcos no espelho de água e conseguirem sair e entrar na barra mais de 200 mares para ser uma indústria sustentável e não de desespero e desenrasque.
Vila Praia de Âncora os barcos dos profissionais passam mais de 60% em terra os da desportiva embarcada passam 90% nas mesmas condições.
É isto que queremos para porto de mar do concelho de Caminha????
Somos uma vila com forte tradição pesqueira, e a pesca desempenha um papel importante na economia local.
Temos cerca de uma dezena e meia de embarcações de pesca sustentável que empregam, direta e indiretamente, mais de 200 pessoas.
Vila Praia de Âncora também conta com um mercado de segunda venda de peixe, que gera emprego para dezenas de pessoas, tanto de famílias de pescadores quanto da comunidade piscatória.
Os nossos pescadores levam o peixe capturado do nosso mar à lota de Vila Praia de Âncora e, posteriormente, compram o seu próprio peixe para ser vendido no mercado de segunda venda de peixe. As bancas de peixe têm o nome dos barcos para facilitar ao consumidor saber qual o mestre que capturou pescado, economia local sustentável.
A pesca artesanal sustentável em VP Âncora é uma pesca realizada em pequena escala, com o objetivo de respeitar o equilíbrio ambiental e garantir que os recursos pesqueiros sejam preservados para as gerações futuras. Esta prática é fundamental para a preservação dos recursos naturais, a manutenção da biodiversidade marinha e promover o bem-estar da comunidade piscatória que depende da pesca para sua subsistência.
As principais características da pesca sustentável em Vila Praia de Âncora são:
As técnicas de captura são escolhidas para minimizar o impacto sobre o ecossistema marinho, evitando a captura acidental de espécies não-alvo.
A pesca artesanal utiliza normalmente barcos menores e tecnologias menos agressivas, o que reduz a emissão de poluentes e os danos físicos ao ambiente marinho.
Para garantir a sustentabilidade, as comunidades que praticam a pesca artesanal respeitam os períodos de defeso, que são momentos do ano em que a pesca é proibida para permitir a reprodução das espécies.
O peixe capturado de forma sustentável tende a ser de melhor qualidade, pois é frequentemente mais fresco.
A pesca artesanal está vinculada ao consumo local ou regional, o que reduz as emissões de carbono relacionadas ao transporte e incentiva a economia local.
A sustentabilidade na pesca artesanal é frequentemente promovida por uma forte relação entre as comunidades e os ecossistemas marinhos, resultando em práticas de manejo mais conscientes e responsáveis.
Pesca sustentável e o apoio à economia local são fundamentais para garantir o bem-estar social, econômico e ambiental da região.
É de origem remota o costume das comunidades piscatórias pintarem ou gravarem siglas ou marcas nas suas embarcações e outros apetrechos de pesca. Alguns estudiosos identificam-nas com as runas germânicas e de outros povos nórdicos, indo ao encontro das origens visigóticas das gentes do Minho.
São famosas as siglas dos pescadores poveiros – refira-se Póvoa de Varzim – que para além do seu valor patrimonial passou a constituir um elemento de promoção turística. Porém, tal tradição é comum a outras comunidades piscatórias do Minho como sucede no concelho de Esposende.
Nas horas de ócio quando as havia, o pescador entretinha-se com a sua navalha a sulcar as cortiças das redes e outros aprestos para identificar a sua pertença, não podendo confundir-se com as utilizadas por outros membros da comunidade. Nas embarcações e nos antigos palheiros – barracos ou cabanas – eram naturalmente pintadas. Regra geral, o significado das siglas era desconhecido fora da comunidade.
As siglas dos pescadores fazem parte do nosso património cultural e constituem uma componente da etnografia do litoral minhoto.
“No S. João, a sardinha pinga no pão” – diz o povo imbuído na sua sabedoria empírica. Com efeito, é por esta altura que a sardinha é mais gorda, devendo-se tal facto a circunstâncias de ordem climática e geofísica únicas na costa portuguesa que fazem desta espécie um exemplar único em toda a Península Ibérica.
Tradição de origens remotas, a sardinha era tradicionalmente pescada por meio da arte xávega, método que consistia numa forma de pesca por cerco. Deixando uma extremidade em terra, as redes são levadas a bordo de uma embarcação que as vai largando e, uma vez terminada esta tarefa, a outra extremidade é trazida para terra. Então, o saco é puxado a partir da praia, outrora recorrendo ao auxílio de juntas de bois, atualmente por meio de tração do guincho ou de tratores. Entretanto, as modernas embarcações de arrasto vieram a ditar a morte da arte xávega e, simultaneamente, a ameaçar a sobrevivência das próprias espécies piscícolas, colocando em causa o rendimento familiar dos próprios pescadores.
A sardinha constitui um das suas principais fontes de rendimento, representando quase metade do peixe, calculado em peso, que passa nas lotas portuguesas. Matosinhos, Sesimbra e Peniche são os principais portos pesqueiros de sardinha em todo o país.
Quando, no início da Primavera, o vento sopra insistentemente de norte durante vários dias, os pescadores adivinham um verão farto na pesca da sardinha, do carapau, da cavala e outras espécies que são pescadas na costa portuguesa. A razão é simples e explica-se de forma científica: esta época do ano é caracterizada por um sistema de altas pressões sobre o oceano Atlântico, vulgo anticiclone dos Açores, o qual se reflete na observância de elevadas temperaturas atmosféricas, humidade reduzida e céu limpo. Verifica-se então uma acentuada descida das massas de ar que resultam no aumento da pressão atmosférica junto à superfície e a origem de ventos anticiclónicos que circulam no sentido dos ponteiros do relógio em torno do centro de alta pressão, afastando os sistemas depressionários. Em virtude da situação geográfica de Portugal continental relativamente ao anticiclone, estes ventos adquirem uma orientação a partir de norte ou noroeste, habitualmente designado por “nortada”.
Sucede que, por ação do vento norte sobre a superfície do mar e ainda do efeito de rotação da Terra, as massas de água superficiais afastam-se para o largo, levando a que simultaneamente se registe um afloramento de águas de camadas mais profundas, mais frias e ricas em nutrientes que, graças à penetração dos raios solares, permite a realização da fotossíntese pelo fito plâncton que constitui a base da cadeia alimentar no meio marinho. Em resultado deste fenómeno, aumentam os cardumes de sardinha e outras espécies levando a um maior número de capturas. E, claro está, o peixe torna-se mais robusto e apetecível.
O mês de Junho, altura em que outrora se celebrava o solstício de Verão e agora se festejam os chamados "Santos Populares" – Santo António, São João e São Pedro – é, por assim dizer, a altura em que a sardinha é mais apreciada e faz as delícias do povo nas animações de rua. Estendida sobre um naco de pão, a sardinha adquire um paladar mais característico, genuinamente à maneira portuguesa.
Por esta altura, muitos são os estrangeiros que nos visitam e, entre eles, os ingleses que possuem a particularidade de a fazerem acompanhar com batata frita, causando frequente estranheza entre nós. Sucede que, o “fish and chips” ou seja, peixe frito com batatas fritas, atualmente bastante popular na Grã-Bretanha, teve a sua origem na culinária portuguesa, tendo sido levado para a Inglaterra e a Holanda pelos judeus portugueses, dando mais tarde origem à tempura que constitui uma das especialidades gastronómicas mais afamadas do Japão.
Ontem, dia 24 de julho, a Comissão Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda, reuniu com a Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos de Vila Praia de Âncora.
Esta reunião teve como ponto principal a remodelação do portinho de Vila Praia de Âncora, reivindicação, com aproximadamente uma década, dos pescadores de Vila Praia de Âncora, e que recentemente, foi posta em causa.
O assoreamento do porto de pesca de Vila Praia de Âncora é um problema que se arrasta há anos, sem que os sucessivos governos atuem de forma célere para que sejam realizadas as necessárias intervenções para garantir as condições para a navegação em segurança. As más condições de navegabilidade no porto de pesca têm impedido os pescadores de sair para o mar em muitos dias nos quais as condições climatéricas são propícias para a sua atividade. Esta situação resulta na redução dos rendimentos dos pescadores e das suas famílias e impede a chegada de pescado fresco à lota local com maior frequência.
A 7 junho de 2024, a dois dias das eleições Europeias, numa reunião com a Secretária de Estado das Pescas, em que esteve presente Liliana Silva, da coligação O Concelho em Primeiro (PSD, CDS, Aliança e PPM), foi garantido aos pescadores e comunicado pela própria coligação de que no Governo “tudo estão a fazer para resolver esta questão, deixando-nos o compromisso que conseguirão submetê-la corretamente, de forma a ser aprovada e não permitirem mais atrasos.”. Ora, é inexplicável como pouco mais de um mês depois, se dê o dito por não dito, e o projeto volte, uma vez mais, à estaca zero.
Este projeto que, para o Bloco de Esquerda, deveria ser prioritário para o desenvolvimento da região, já passou por várias fases, de estudos a apresentações de maquetes. Todo este processo é demonstrativo do esquecimento, falta de interesse e pouco conhecimento das características do Alto Minho, que os sucessivos governos e executivos têm tido em relação à nossa região.
Retrato de Raul Brandão (1928), por Columbano Bordalo Pinheiro (pormenor); col. MNAC
Passam precisamente 101 anos sobre a data da publicação pela primeira vez da obra “Os Pescadores” de Raúl Brandão”. Uma obra de grande interesse etnográfico que relata a vida árdua dos pescadores do nosso país.
O escritor Raul Brandão, na sua obra “Os Pescadores” publicada em 1923, descrevia a comunidade piscatória de Vila Praia de Âncora da seguinte forma: “À direita, encostado ao forte de Lippe, que forma o outro lado da bacia, com o portinho e o varadouro, ficam as casas dos pescadores.
(…) A parte dos pescadores no areal difere completamente nos tipos, nos costumes e nas casas, naturalmente noutros tempos barracas de madeira construídas sobre estacas. Há quatrocentos pescadores pouco mais ou menos, e cento e trinta e dois barcos varados na praia, todos pintados de vermelho. São maceiras, de fundo chato, tripuladas por dois homens, volanteiras ou lanchas de pescada por doze homens, e barcos de sardinha, que levam cinco ou seis peças de sessenta braças cada uma, e quatro homens. As redes têm nomes: peças as da sardinha, volantes as da pescada. Chama-se galricho a uma espécie de massa com que se apanha a faneca; rastão ao camaroeiro; patelo à rede que colhe o caranguejo ou mexoalho; e rasco à da lagosta. As redes da sardinha são do mestre, e as da pescada dos pescadores. Os quinhões dividem-se conforme o peixe.”
E, mais adiante, acrescenta: "No Agosto começa a faina do patelo, assim se chama ao mexoalho ou pilado, que se deita vivo à terra para estrume. Junta-se no mar uma esquadra de barcos, que vêm da Póvoa, de Viana e de Caminha; junta-se na praia uma fiada de carros de todas as aldeias, próximas ou longínquas, que o transportam para o interior das terras. O areal está alastrado de patelo que remexe. Vende-se a lanço ou a cesto, que leva cada um dois alqueires, e custa três tostões. E por toda a costa neste tempo vai a mesma agitação na apanha do sargaço…”
"Os Pescadores", de Raúl Brandão
Sob o título “Venda de peixe na praia de Âncora”, a revista “Ilustração Portugueza”, na sua edição de 14 de Outubro de 1922, dedicou uma página a Vila Praia de Âncora com breves referências ao seu património histórico e ao ambiente pitoresco que anima o portinho junto ao Forte da Lagarteira.
Como disse o sábio grego Platão, existem no mundo três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar. Esta é uma realidade que as gentes de Vila Praia de Âncora conhecem por experiência própria. Ainda o sol não se ergueu no firmamento e já a os pescadores estão a mudar as redes ao largo da costa, preparando-se para regressar ao portinho com aquilo que o mar lhes deu. Junto à lota, aguardam-nos as mulheres para fazer a venda e, uma pequena multidão de turistas curiosos juntam-se para ver regressar os barcos.
A pescaria pode ser abundante mas a mesa nunca é farta. Quando o mar não está de feição nem sequer podem sair para o mar. Outras vezes, o que pescam mal chega para custear o gasóleo consumido. Se a pescaria é abundante, baixa o valor com que na lota é arrematado. Mas, apesar do seu baixo custo, o peixe continua a chegar ao prato de quem o consome a preços não raras as vezes exorbitantes.
Vila Praia de Âncora, importante polo turístico do Alto Minho onde todos os anos afluem milhares de forasteiros das mais diversas proveniências que ali vão veranear, tem na indústria hoteleira uma das suas principais atividades económicas. Ela constitui seguramente a principal fonte de escoamento do peixe capturado em toda a região.
Com a construção do novo porto de pesca a norte do forte da Lagarteira e a transferência das embarcações, o velho portinho encontra-se atualmente mais vocacionado para receber as embarcações de recreio. Porém, o local mantém o seu ambiente pitoresco e continua a ser uma das atrações de quem visita aquela vila piscatória e turística.