O Município de Braga realiza o Fórum Património: “Património, Democracia e Cidadania”, que terá lugar amanhã, Sábado, 26 de outubro, às 09h00, no Museu D. Diogo de Sousa.
A sessão de abertura irá contar com as intervenções do presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, do presidente da ASPA, Manuel Sarmento, do vice-presidente da CCDR Norte para a Cultura, Património, Cooperação e Comunicação, Jorge Sobrado, Esmeralda Paupério (Museus e Monumentos de Portugal E.P.E.), João Solheiro (Presidente do Património Cultural I.P.) e Orlando Sousa (ICOMOS),
O Município de Braga inaugura amanhã o Convento de São Francisco em cerimónia que terá lugar amanhã, pelas 17h00, na freguesia de Real, em Braga.
A iniciativa contará com a presença de Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, e do reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro.
Com um investimento de cerca de 2,5 milhões de euros (850 mil euros ao abrigo do FEDER, ao qual se junta um investimento municipal superior a 1,5 milhões de euros), o projecto agrega várias entidades como a Autarquia e a Universidade do Minho (UMinho), ao qual se juntou a então Direcção Regional de Cultura Norte (DRCN) e a Paróquia de Real, permitindo a integração do edifício num circuito de visita integrada que contempla também o Mausoléu de S. Frutuoso e a Igreja de S. Jerónimo de Real.
O presidente da Câmara de Ponte de Lima revelou hoje ter sido decretado na passada semana, por “pressão” do Governo, o embargo total ao projeto hoteleiro do grupo Vila Galé no concelho, o que considera não ter sustentação.
“Nós fizemos um embargo total, na semana passada, única e simplesmente por indicação, e por pressão até, inclusive, da secretaria de Estado da Cultura, porque nós não temos informação técnica que sustente o embargo”, afirmou à agência Lusa, Vasco Ferraz.
Em causa está o paço ou castelo Curutêlo, localizado na freguesia de Ardegão, Freixo e Mato, Ponte de Lima. O imóvel está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1977, tendo, nos termos legais, uma Zona Geral de Proteção (ZGP) de 50 metros.
Em 2022, foi adquirido pelo grupo Vila Galé, através da empresa Xvinus – Companhia Enoturística, Lda.
Em janeiro, o grupo anunciou um investimento de 20 milhões de euros para criar um projeto de enoturismo e produção de vinhos verdes, com abertura em 2025, criando 42 empregos.
A 10 de outubro, a câmara decretou o embargo parcial à intervenção no castelo de Curutêlo, na sequência de uma vistoria conjunta com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) ao projeto. No dia anterior, o Instituto do Património Cultural tinha anunciado “uma profunda revisão das zonas de proteção” dos monumentos classificados, na sequência do “impacto irreversível” causado pela construção de um hotel no Paço de Curutêlo.
Hoje, o autarca do CDS-PP disse que “tinha informações técnicas” que sustentavam a decisão do embargo parcial.
“A única diferença que encontrávamos na obra [relativamente ao que previa o projeto inicial] foi uma intervenção no Paço e nas peças constituintes, um espigueiro e a capela, que não estão classificados, mas estão dentro da zona geral de proteção”, argumentou.
Quanto ao embargo total à construção do empreendimento, decretado na semana passada, “a pedido da Secretaria de Estado da Cultura e do Património Cultural”, não há sustentação por considerar que as “novas construções”, estão de “acordo com o projeto”.
“Das visitas que fizemos ao local, e já fizemos pelo menos três, não encontrámos nada que sustente o embargo total. As instituições, muito possivelmente, terão percebido que cometeram um erro, estão empenhadas em retroceder”.
Segundo Vasco Ferraz, foi solicitado à autarquia que levasse “um topógrafo à obra, para verificar as cotas das lajes, as cotas das coberturas, as implantações”, operação que concluiu estar “tudo direitinho de acordo com o projeto”.
“Mas pronto, a senhora secretária de Estado da Cultura, nomeadamente o Património Cultural, fez-me esse pedido, que foi uma espécie de condição. ‘Meus senhores, há este despacho, é isto que vocês têm de fazer’. E nós fizemos”, apontou.
Vasco Ferraz acrescentou que, posteriormente, após uma visita ao local, toda a gente percebeu que o embargo parcial foi bem feito.
“Agora está tudo parado. Só quando a secretaria de Estado da Cultura e o Património Cultural decidirem que será levantado [embargo total]. Ou então o tribunal, porque o embargo não está bem feito”, frisou.
Vasco Ferraz referiu ser o “importante” a preservação do imóvel classificado e “determinante para o concelho de Ponte de Lima, e para o distrito de Viana do Castelo”, o investimento de 20 milhões de euros que o grupo Vila Galé está a realizar e que vai criar 42 postos de trabalho.
“Todos nós temos capacidade de fiscalização, todos nós estávamos mais ou menos atentos, nunca nos chocou aquilo que é a construção que existe no local, desde que se recupere efetivamente o património que estava a ficar num estado degradação considerável. As novas construções estão lá hoje, daqui a 50 anos não estão, mas o património, pelo menos, fica recuperado e daqui a 50 anos está lá recuperado e está intacto”, afirmou.
Garantiu que a Câmara de Ponte de Lima “fez tudo o que devia”, desde “a declaração de interesse público, às questões urbanísticas”.
A Lusa contactou a secretaria de Estado da Cultura e o grupo Vila Galé, mas ainda não obteve resposta.
O concelho de Ponte da Barca celebra hoje o Dia do Município assinalando os 511 anos da atribuição do Foral Novo às Terras da Nóbrega.
Para marcar este dia, o Arquivo Distrital de Viana do Castelo partilha uma fotografia da Igreja e antigo hospital da Misericórdia de Ponte da Barca integrante do processo de obras, iniciado em 1966, de “Reparação do edifício do antigo Hospital Velho na Santa Casa da Misericórdia de Ponte da Barca”
As esculturas de "Santo Adrião" e do "Monsenhor Cónego Joaquim Fernandes", ambas situadas junto ao Centro Pastoral e Paroquial de Vila Nova de Famalicão, estão a ser restauradas e conservadas. O trabalho de restauro arrancou no passado dia 10 de outubro e termina no final do mês.
Os conjuntos escultóricos constituídos por bronze e granito estão a ser intervencionados pelos Gabinete de Património Cultural e Arqueologia da autarquia famalicense. A intervenção consiste na imunização, limpeza e proteção destas esculturas.
Refira-se que estas intervenções, em concreto, resultam de uma colaboração entre a autarquia famalicense e o Arciprestado de Vila Nova de Famalicão, e fazem parte de um conjunto mais amplo de ações que serão realizadas no património escultórico do concelho famalicense, com o objetivo de preservar e valorizar a identidade e história do território. O plano de intervenção previsto reflete o compromisso do Município de Vila Nova de Famalicão em garantir a conservação e salvaguarda do património cultural para as gerações futuras, numa ação que se prolongará ao longo dos próximos anos.
Situada a escassos quinze quilómetros de Guimarães, a citânia de Briteiros ergue-se altaneira em pleno alto do monte de São Romão, na freguesia de Salvador de Briteiros. Trata-se de um povoado castrejo cuja ocupação inicial deverá ter ocorrido nos primórdios do primeiro milénio antes de Cristo, tendo permanecido habitada até ao século III da Era Cristã, mantendo-se portanto ocupada durante o período da ocupação romana da Península Ibérica. As suas ruínas foram descobertas em 1875 pelo arqueólogo Francisco Martins Sarmento quando este iniciou a primeira campanha de estudos arqueológicos no local.
Circundado por três linhas de muralhas defensivas, o povoado apresenta um conjunto urbanístico bastante diversificado formado por artérias e pequenas unidades habitacionais que denotam já uma conceção de cidade estruturada que alguns historiadores apontam para uma influência romana, pese embora a sua matriz ser bem mais antiga no noroeste da Península Ibérica. A sua imponência e pujante atividade económica levam a considera-la como uma das principais sedes de um dos vários povos que então formavam a Callaecia.
Junto à Estrada Nacional que pelo Bom Jesus liga Braga a S. Salvador de Briteiros, encontra-se o balneário que constitui uma das construções do género mais bem conservada existente no noroeste peninsular e Galiza. É formado por uma pequena câmara ligada a um recinto quadrangular através de uma estela pentagonal, servindo uma para os banhos de vapor e a outra para se tomarem banhos de água fria.
A Citânia de Briteiros encontra-se classificada como Monumento Nacional desde 1910 e constitui um dos locais dignos de visita na nossa região.
Nem a chuva intensa que caiu no sábado dissuadiu os cerca de 60 participantes do I BTT Transibérico Cerveira-Tomiño. A experiência de descoberta em duas rodas das potencialidades turísticas e dos recursos endógenos de ambos os concelhos vizinhos foi muito bem acolhida, garantindo a realização de uma segunda edição para 2025.
Pedalar entre fronteiras pela paisagem, património e produtos locais da Eurocidade Cerveira e Tomiño. Estas foram as três áreas exploradas por ciclistas portugueses e espanhóis, ao longo de 60kms (percurso longo) ou 35km (percurso curto), variando entre os 4m e 484m de altitude.
Um novo desafio transfronteiriço convertido numa jornada desportiva não competitiva e numa experiência de conhecimento por diversos pontos de interesse de Cerveira e de Tomiño, como o Alto de S. Paio (ponto mais alto do percurso), a Serra da Gávea, o Forte de Lovelhe, os vários moinhos de Tomiño (Forcadela, Porto Vilamean, Monte em Cristelos, da Regueiro), a Ponte Romano Hospital, a Capela da Milagrosa, a Igreja de Vilamean, o Castelo de Tebra, o Santuário de San Campio, os Cítricos Rías Baixas ou a plantação de kiwis.
A complementar esta viagem em BTT, um dos elementos diferenciadores foi a degustação de alguns produtos locais, entrando em contacto com alguns comerciantes e empreendedores, como seja a doçaria de Cerveira ou os vinhedos do Alto de Torona, em Tomiño.
A participação e o feedback corroboram a aposta neste novo projeto estritamente ligado à sustentabilidade ambiental e ao desporto, dois dos conceitos âncora destacados para o desenvolvimento de projetos comuns entre Cerveira e Tomiño, pelo que se prevê a realização de uma segunda edição, em 2025, do BTT Transibérico, atraindo mais aficionados do ciclismo associado ao turismo.
Promovida pelos concelhos que formam a Eurocidade Cerveira-Tomiño, em colaboração com as entidades cerveirense Pedal’Arte e a tomiñesa Colibrí ACDR, o BTT Transibérico 2024 enquadra-se na operação 0177_Eurocidade_CT_ADAPT_1_P, cofinanciada em 75% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através da convocatória INTERREG VA POCTEP.
Capela S. Sebastião, demolida em 1884 (hoje Largo António de Magalhães, frente busto de Norton de Matos)
No âmbito das palestras amanhã Sábado a partir das 15,00 h na Matriz – As capela desaparecidas de Ponte de Lima – apresentamos uma das mais antigas fotografias dum dos templos demolidos. Trata-se da capela de S. Sebastião, extra-muros da sede do concelho, que o Padre Carvalho da Costa, na sua Corografia do Reino de Portugal, começada a publicar em 1706, informa também ter sido Sinagoga. Como local e oração de judeus em Ponte de Lima falta pesquisar mais, pois provado, documentado, testemunhado sim, na Rua Nova que liga o arco da cadeia velha, junto da capela da Senhora da Penha, viverem acentuadamente na segunda metade dos século XVI até meados do XVIII famílias judaicas.
A sua mercancia era o açúcar e panos, principalmente, e decerto a feira de Ponte de Lima como local privilegiado de vendas, para além dos portos de Caminha e Viana do Castelo, com a Madeira como recolha desse produto tão cobiçado ao tempo para a alimentação.
Voltando á foto, ela dever ter sido efectuada pouco antes da demolição da capela, a qual ocorreu entre 1882-84, para abertura da rua-estrada para Barcelos, um pedido ao rei D. Luis I dez anos antes (30 de Junho de 18729, na visita a Ponte de Lima. Curiosamente, ontem, 140 anos depois, assistimos ao avanço de obras de alargamento dessa via, agora Rua Agostinho José Taveira, curva do Teatro Diogo Bernardes, construído entre 1893-1896.
Na imagem admiremos o chafariz que em 1929-1930 foi mudado para o Largo de Camões, os arcos dos ferradores, o prédio seguinte demolido cerca de 1885 para no seu local edificar-se o da Pharmacia Brito, e do lado oposto da rua, a chamada Casa do Chafariz, que foi ampliada após compra pelo juiz Brito Cício, falecido em 1918, e a legou em testamento a Maria Rita Magalhães Abreu Coutinho, hoje a necessitar de grande recuperação.
No alto, a extinta casa da Roda dos Expostos, que após troca acordada entre a Câmara e a Misericórdia em 1923, esta a recebeu em troca de expropriação da parte central do seu hospital, para ligar a Rua Cardeal Saraiva ao então passeio Cândido dos Reis, hoje 25 de Abril. Ao prédio foi acrescentado cerca de 1928 um segundo piso, e como tal, apeado o brasão de armas de D. Pedro V, ladeado pelo par de cartelas elípticas ANNO – 1853 – e comunicava com o extinto Calvário e Escadório mandado construir pela Ordem Terceira de S. Francisco de Ponte de Lima entre 1807-1820. Por detrás, a então ermida, depois reconstruída e aumentada em 1891 a capela de Nª Sª da Lapa pelo benemérito João Francisco Rodrigues de Moraes, e um pouco abaixo, hoje Beco do calvário e antes Rua da Cruz, o chamado Moínho de vento, que foi hospício para pobres.
Ponte de Lima In Illo Tempore --------------- Recordado 140 anos depois (2024)
A Câmara Municipal de Valença colocou um novo sistema de monitorização dos panos da muralha, da Fortaleza, num investimento de cerca de 40 mil euros.
28 sensores e dispositivos foram colocados em diferentes pontos da Fortaleza e vão analisar, em contínuo, 24 horas por dia, sete parâmetros diferentes, permitindo uma gestão atenta e cuidada dos riscos do monumento.
O novo sistema de monitorização, de dispositivos sem fios, com sensores, permitirá registar a temperatura, a humidade, a iluminação, a vibração, a inclinação, a distância e a radiação solar. A informação é recolhida e enviada para uma central onde os dados são analisados e permitem a detecção imediata de valores que coloquem em risco a conservação do imóvel.
Os equipamentos foram instalados em vários pontos estratégicos, previamente identificados como sendo de risco, como o Baluarte do Socorro e do Carmo, as cortinas entre o Baluarte do Carmo e de São João e entre o Baluarte de Santana e São José, bem como a Porta do Açougue, a Poterna da Fonte da Vila e a Porta da Coroada.
O Presidente da Câmara, José Manuel Carpinteira, acompanhou a equipa que realizou a instalação dos equipamentos e destacou que “o Município está focado em criar as melhores condições para uma gestão mais cuidada e atenta da Fortaleza, principal ex-libris da cidade que temos a obrigação de preservar e salvaguardar”.
Esta nova rede de sensores reforçará os sistemas tradicionais inicialmente colocados para análise de fissuras existentes, nos panos de muralha, pela Unidade de Cultura da CCDRN e Património Cultural, I.P. após a queda da muralha, por solicitação da Câmara Municipal.
Esta intervenção é financiada pelo POCTEP, co-financiado pelo INTERREG España-Portugal 2021-2027.
Prestes a assinalar 900 anos da atribuição do foral por D. Teresa à então Vila de Ponte, consagrando-a como uma das vilas mais antigas de Portugal, eis que as suas gentes são confrontadas com uma situação que coloca em causa a preservação do seu património e, consequentemente, não dignifica uma terra que se orgulha da sua História e dos seus pergaminhos. Referimo-nos, como é evidente, à intervenção que tem vindo a ser efetuada em torno do Paço de Curutêlo e o negócio de um imóvel classificado como de interesse público.
Nestas circunstâncias, que sentido fará celebrar uma tão importante efeméride para Ponte de Lima e o seu concelho? O que justificará tais comemorações neste contexto cujas repercusões já são de âmbito nacional? Que credibilidade terão perante um caso que começa a envergonhar todos os limianos?
Queremos acreditar que ainda seja possível corrigir os erros cometidos e não dar a situação como facto consumado e irreversível. Mas, a bem de Ponte de Lima, urge ser corrigido quanto antes, a tempo de comemorarmos condignamente a efeméride histórica prevista para o próximo ano!
A Câmara de Ponte de Lima embargou, esta quinta-feira de manhã, a obra de instalação de um hotel no Paço de Curutêlo, por alegado “incumprimento” do projeto que foi licenciado para aquele imóvel classificado como de interesse público.
O “Repensando a Idade Média” tem denunciado diversas lesões infligidas ao longo dos anos sobre os marcos materiais que nos restaram do período medieval em Portugal, e infelizmente teremos de o voltar a fazer a propósito do Paço de Curutelo, uma casa-torre medieval expandida com um novo paço em inícios do século XVI, situada no concelho de Ponte de Lima.
Estando em curso obras de conversão num hotel de 4 estrelas com o objectivo de atrair o turismo vinícola, tem-se observado uma total destruição da envolvente paisagística e de boa parte dos anexos do paço, ao completo arrepio de todo e qualquer princípio de preservação do Património, mas com aprovação das autoridades supostamente responsáveis pelo seu cuidado. Mais uma vez, em nome da preservação do Património e da sua rentabilização – e note-se a ironia de o novo hotel prever um museu -, acelera-se a sua destruição. É precisamente todo este processo que os nossos autores convidados abordam no texto de hoje, e a eles damos a palavra...
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Falam por si estas imagens recentes da obra em curso no Paço de Curutelo (Freixo, Ponte de Lima) no seguimento da aquisição da propriedade pelo grupo hoteleiro Vila Galé.
Espécime emblemático de morada senhorial medieva e quinhentista do Entre-Douro-e-Minho, o solar foi desde o século XII sede da linhagem dos Curutelo, cuja acção sobre o território circunvizinho se documenta largamente nas Inquirições afonsinas e cuja gesta familiar se plasma expressivamente nos livros de linhagens trecentistas. O edificado tem por peça central uma casa forte de origens românicas, a que subsistem testemunhos raros duma cinta muralhada de configuração arredondada. Num momento de revitalização da família por ocasião da sua aliança aos Regos, linhagem ascendente entre os reinados de D. Fernando e D. João I, a torre foi reconfigurada segundo a feição que ainda hoje, grosso modo, preserva. Com a alienação da velha honra de Curutelo aos duques de Bragança, a habitação senhorial veio a ser engrandecida por uma residência paçã de feição horizontal, parcialmente assente sobre a velha cerca defensiva. Esta obra, de que é coeva toda a presente crenelação do conjunto, data-se seguramente por epígrafes e documentos como pertencendo à primeira metade do século XVI; o investimento na propriedade pelos duques de Bragança explica-se plausivelmente pela sua localização conveniente entre a sede do seu condado de Barcelos e o Couto da Correlhã, que tutelavam junto a Ponte de Lima.
A preservação do cerne da antiga honra medieva por via dum duradouro aforamento à descendência de João Rodrigues do Lago, aqui radicada desde 1532, contribuiu seguramente para conservar o precioso documento de toda uma territorialidade alargada, que confere ao domínio de Curutelo o estatuto de verdadeiro caso de estudo no domínio da cultura senhorial medieva e proto-moderna da região — uma paisagem cultural de pleno direito.
A despeito do regime de protecção vigente desde 1977 (Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977) e não obstante o imenso e amplamente reconhecido valor patrimonial que este conjunto reveste — quer como monumento histórico-arquitectónico, quer como raro testemunho paisagístico dum ecossistema agrário de raízes medievas — o que se verifica hoje é uma total descaracterização do edificado, da sua envolvência e da sua relação com o meio. Além da inexplicável aposição de construção dissonante e em grande escala ao núcleo monumental, verificam-se obliterações substanciais ao nível da malha anciliar do paço, nomeadamente da sua infraestrutura agrícola configurada entre os séculos XVI e XVIII, e transformações violentas da secular modulação da paisagem imediatamente envolvente. O espírito da intervenção que agora se perfila é dum completo desrespeito por qualquer noção integral do património representado pelo Paço de Curutelo, entendido na sua dignidade, na sua autonomia e na organicidade da sua implantação no território.
É de importância capital aclarar e escrutinar os trâmites que levaram à sua aprovação.
Dada a celeridade dos trabalhos, o seu inusitado volume e a manifesta desconsideração tida para com o valor histórico do imóvel, impõem-se também questões prementes acerca do acompanhamento arqueológico prestado à obra, visto que esta terá seguramente transtornado testemunhos da ocupação medieval do sítio e da sua há muito suposta pré-ocupação castreja.
Nada do que concerne ao imenso valor patrimonial do Paço de Curutelo podia ser desconhecido dos promotores da obra, dado que o mesmo grupo encomendou a historiadores um dossier detalhado acerca da história familiar, evolução arquitectónica e significado contextual do conjunto. São estes, os dois primeiros subscritores do presente texto, os primeiros a denunciar o que entendem como uma grave violação do compromisso expresso pelo Grupo Vila Galé para com a devida valorização do monumento.
Além da necessária aprovação pelas entidades competentes, o processo de transformação de que estas fotografias testemunham foi acolhido e aprovado pela autarquia local — a Câmara Municipal de Ponte de Lima — que emitiu dois votos de interesse público municipal a favor do empreendimento. O pronunciamento acerca dos factos pelas referidas entidades é também merecido pelo público, e deve ser por ele exigido.
Se todo o sucedido em Curutelo é lamentável, e até irreversível, cumpre fazer todos os possíveis para converter o infortúnio num momento pedagógico, de reflexão alargada e de exercício de cidadania.
Subscritores:
Miguel Ayres de Campos Tovar, historiador
Gonçalo Vidal Palmeira, historiador
António Matos Reis, historiador
José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, historiador
Teresa Andresen, arquitecta paisagista
João Gomes de Abreu e Lima, arquitecto
Álvaro Campelo, antropólogo
BIBLIOGRAFIA
GUERRA, Luís Figueiredo da — “Tôrres solarengas do Alto Minho”, in O Instituto, 4.ª série, vol. 1, 1925, pp. 415-465.
MATTOSO, José — Ricos-homens, infanções e cavaleiros. A nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII, 2ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1985.
PALMEIRA, Gonçalo; TOVAR, Miguel Ayres de Campos — “Gerações medievais do paço de Curutelo: dos Curutelos aos Viegas (séculos XII a XIV), in Actas do 6.º Congresso Internacional Casa Nobre: Um Património para o Futuro, 2024, pp. 307-325.
REIS, António Matos — “Itinerários de Ponte de Lima”, Ponte de Lima, s.n., 1973.
Idem — “Ponte de lima no tempo e no espaço”, Ponte de Lima, Município de Ponte de Lima, 2000.
SILVA, António Lambert Pereira da – Nobres casas de Portugal, Porto, Livraria Tavares Martins
Executivo Municipal vota abertura da discussão pública da unidade de execução n.º 3
Será analisada esta Quinta-feira, 10 de outubro, em sede de Reunião do Executivo Municipal, a abertura da discussão pública da proposta de delimitação da Unidade de Execução n.º 3 do Plano de Urbanização das Sete Fontes.
Trata-se de mais um passo para a concretização do parque urbano das Sete Fontes, “um projeto absolutamente estratégico para Braga e totalmente irreversível”, como explica o vereador do Urbanismo, João Rodrigues. “Ao longo dos últimos anos, fomos cumprindo diversas etapas necessárias para concretizar o Parque e este processo, complexo, de delimitação das Unidades de Execução é absolutamente essencial para a concretização do Parque”.
O vereador recorda que uma das ações judiciais resolvidas durante o atual mandato incidia precisamente sobre uma considerável parcela de terreno que integra a unidade de execução n.º 3. “Com esta delimitação, não só se resolveu a questão judicial que ameaçava o desenvolvimento de todo este processo, como já se consegue iniciar o processo de delimitação da Unidade de Execução para que possa haver a cedência dos terrenos”, esclarece.
Apesar da existência de obstáculos que necessitam ser ultrapassados, João Rodrigues destaca o “trabalho contínuo de articulação entre o Município e os proprietários neste processo que se sabia, desde o início, ser um processo moroso e complexo”. “Das ações judiciais que foram caindo, à obtenção de outro tipo de consensos, parece-me que a delimitação desta Unidade de Execução é mais um momento de conquista e de sucesso em todo este processo”, sustenta João Rodrigues.
De referir que a Unidade de Execução n.º 3 do Plano de Urbanização das Sete Fontes possui uma área total de 23.773 m2, e prevê solo urbano com aptidão edificatória (5.668 m2), solo rústico com relevância para a valorização do solo urbano (17.608 m2) e área para ajuste viário no topo poente de 497 m2.
Trinta hectares de parque verde público, 30 hectares de área florestal privada e 30 hectares de área urbana com criação de praças, pequenas edificações de apoio, miradouros, percursos pedestres e cicláveis. Assim será o Parque das Sete Fontes, cujo elemento central é o ancestral sistema de abastecimento de águias à Cidade de Braga, uma obra hidráulica do século XVIII classificada como Monumento Nacional desde 2011.
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda acaba de tomar a iniciativa de questionar o Ministério da Cultura acerca das obras que se estão a efectuar no Paço de Curutelo que ameaçam descaracterizar este monumento classificado como Imóvel de Interesse Público.
Entretanto, são já vários os órgãos de comunicação social de grande circulação nacional que estão a fazer notícia desta preocupação das gentes limianas em relação ao património do seu concelho.
Refira-se que o Paço de Curutelo – ou Castelo de Curutelo como também é conhecido – está a ser estrangulado pelo betão em consequência das obras que ali estão a ser realizadas. E os limianos estão a perder a paciência!
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda deu entrada a um conjunto de perguntas ao Governo sobre as obras no Paço de Curutelo, em Ponte de Lima.
O Paço de Curutelo, também conhecido como Castelo de Curutelo, considerado um imóvel de interesse público (IPP), através do Decreto nº 129/77, DR, I série, nº 226m de 20 de setembro de 1977.
Este imóvel de interesse público é um paço em forma acastelada, com uma torre ou casa-forte com origens românicas, situado na freguesia de Ardegão, Freixo e Mato, no concelho de Ponte de Lima.
Em 2022, foi adquirido pelo Grupo Vila Galé, através da empresa Xvinus - Companhia Enoturística, Lda e tem sido alvo de várias obras para a sua conversão num hotel de 4 estrelas. Obras estas que estão a destruir e a descaracterizar o edificado e a sua envolvência. Além de nova construção de grandes dimensões e completamente dissonante com a envolvência e com o monumento, a malha anciliar do paço foi sujeita a grandes alterações, bem como a paisagem em redor foi transformada drasticamente. Esta situação tem criado muita indignação na população do Alto Minho.
A Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural (ASPA), considera a obra que está em curso uma realidade chocante e que está em curso uma descaraterização profunda do Paço do Curutelo.
Especialistas, como historiadores, arquitetos e antropólogos, escreveram um texto público, onde demonstram o seu desagrado sobre a obra e consideram que “o espírito da intervenção que agora se perfila é dum completo desrespeito por qualquer noção integral do património representado pelo Paço de Curutelo, entendido na sua dignidade, na sua autonomia e na organicidade da sua implantação no território”. E afirmam que “nada do que concerne ao imenso valor patrimonial do Paço de Curutelo podia ser desconhecido dos promotores da obra, dado que o mesmo grupo encomendou a historiadores um dossier detalhado acerca da história familiar, evolução arquitectónica e significado contextual do conjunto. São estes, os dois primeiros subscritores do presente texto, os primeiros a denunciar o que entendem como uma grave violação do compromisso expresso pelo Grupo Vila Galé para com a devida valorização do monumento”.
O Bloco de Esquerda entende que os interesses imobiliários não podem sobrepor-se ao interesse público maior representado pelos valores patrimoniais do local. Nesse sentido, urge esclarecer o que motivou os pareceres favoráveis de construção que ameaça o imóvel classificado, tal como eventuais danos irreversíveis.
Na pergunta endereçada ao Ministério da Cultura, o Bloco quer ainda saber se esta obra tem tido acompanhamento arqueológico, atendendo à ocupação medieval do local.