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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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PONTE DE LIMA EXPÕE PATRIMÓNIO RELIGIOSO NO MUSEU DOS TERCEIROS

Património Religioso de Ponte de Lima. Navió e Vitorino dos Piães. Exposição no Museu dos Terceiros

O Museu dos Terceiros de Ponte de Lima inaugura na próxima sexta-feira, 22 de agosto, às 18 horas uma exposição sobre o Património Religioso de Ponte de Lima, com espólio das igrejas e capelas da freguesia de Navió e de Vitorino dos Piães.

A mostra que vai estar patente até novembro, resulta da ação continuada do Museu dos Terceiros, no sentido de divulgar e valorizar o património sacro concelhio.

Esta exposição reúne espólio proveniente das igrejas e capelas situadas nas paróquias do Divino Salvador de Navió e de Santo André de Vitorino dos Piães, situadas a sul do rio Lima, repletas de história e tradição singulares bem diferenciadas, cujo território foi unido após a recente reorganização administrativa.

Visite a exposição Património Religioso de Ponte de Lima: Navió e Vitorino dos Piães, no Museu dos Terceiros, de terça a domingo, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. Para mais informações consulte www.museuspontedelima.com.

IMACULADA CONCEIÇÃO NO MUSEU DOS TERCEIROS EM PONTE DE LIMA

Imaculada Conceição

Pedro Oliveira (escultor), Domingos Álvares (dourador e estofador). 1750-51. Madeira estofada e policromada.

Museu dos Terceiros de Ponte de Lima

Este notável exemplar da Virgem Imaculada, encomendado poucos anos após a erecção da igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Ponte de Lima, decora o coro-alto do mencionado templo. Em 1751, os mesários da Ordem deliberaram que a imagem de Nossa Senhora da Conceição, que a mesa antecessora tinha mandado executar a Pedro de Oliveira, fosse transportada para as instalações da Ordem a fim de que pudesse ser dourada e estofada por outro mestre, o que se verifica alguns meses mais tarde, pelo mestre pintor Domingos Álvares.

Fiel à concepção barroca, consegue combinar a marca contemplativa, reveladora, através da face, de uma paz interior imperturbável, com a forte agitação traduzida nos fartos panejamentos de carácter revolto. A Virgem surge em posição frontal, em atitude orante, manifesta no alinhamento das mãos. Assenta sobre o globo, contornado pela serpe maligna. Uma legião de figuras angélicas, composta por anjos de vulto que se juntam às habituais cabeças de serafins, aparece adossada à esfera terrestre, um deles pisando a cabeça da serpente.

José Velho Dantas

Foto Museu dos Terceiros de Ponte de Lima

Fonte: https://bensculturais.com/

PONTE DE LIMA: ALTAR DAS ALMAS EM S. JULIÃO DE FREIXO

A história do nascimento e evolução da ideia do Purgatório é uma das mais apaixonantes da história da civilização e mentalidade no Ocidente. De conceito metafórico foi passando a um lugar físico. Mas não um lugar qualquer. Emerge como um espaço intermédio, situado, na geografia do Além, entre o terrível Inferno e o doce Paraíso. Entre a morte individual e o Julgamento Universal há um lugar para as Almas poderem ser resgatadas mediante uma regeneração pelo fogo purificador, enquanto os vivos, solidários, através das suas preces, contribuem para abreviar a dor dos que assim penam depois da morte. Esse lugar do fogo é o Purgatório. A crença firme nele, que vem desde a Idade Média e que foi posteriormente cimentada também por questões doutrinárias, sobretudo depois da Reforma Católica, motivou a sua afirmação enquanto tema artístico.

Altar das Almas. Século XVIII/XIX. Igreja Paroquial de São Julião do Freixo, Ponte de Lima

O reflexo disto encontra-se, no nosso território, ao longo dos caminhos e também, como é natural, no interior dos recintos sagrados. A Igreja Paroquial de São Julião de Freixo é apenas mais um exemplo. Este templo, que se distingue também pelos já raros tectos setecentistas em tábuas pintadas que cobrem toda a nave, exibe ao crente, com grandes ensinamentos, o Altar das Almas aqui documentado. As Memórias Paroquiais de 1758 fazem eco de uma Capela das Almas e de uma Irmandade da mesma invocação já erecta. O retábulo actual parece já de fábrica posterior, de linhas neoclássicas, ainda que a escultura do Arcanjo assuma traços nitidamente barrocos.

A pintura retabular, em forma de arco, é preenchida no nível inferior, como habitual, pelas Almas envoltas em chamas, personagens de diferentes condições, uma delas já com a proverbial coroa real, pois de pecados veniais, já para não falar dos capitais, ninguém está imune. As figuras agitam e levantam os braços, implorando, em direcção aos anjos intercessores, que surgem já no nível intermédio da representação, fazendo a ligação à Santíssima Trindade, no remate da composição, “protegida” por uma densa barreira de nuvens, que demarca a atmosfera celestial. Dominando o retábulo, surge, ao centro, sobre um pedestal, a imagem esculpida de São Miguel.

O culto a São Miguel Arcanjo, com origem no Oriente cristão, difundiu-se depois por todo o Ocidente. Mais tarde, já no século XVII, sob influência da Contra-Reforma, a sua devoção ensaia um novo ímpeto: Miguel, que triunfa sobre Lúcifer e sobre o Dragão, simboliza, para os doutrinários Jesuítas, o triunfo da Igreja Católica sobre o dragão da heresia protestante.

São Miguel é aqui apresentado de duas maneiras distintas, que remetem para facetas diferentes da sua acção. Por um lado, é o guerreiro, o Príncipe das Milícias Celestes, cujo reflexo perdura ainda nos dias de hoje, ao ser adoptado como santo patrono da Polícia de Segurança Pública, que invoca o Arcanjo na sua oração. Ele dirigiu o combate contra os anjos rebeldes, lançando-os no abismo, e salvou a Mulher do Apocalipse, identificada com a Imaculada Conceição, combatendo o dragão de sete cabeças. Por outro lado, surge como o Santo Psicopompo, uma vez que, à semelhança do deus Hermes/Mercúrio da Antiguidade, conduz os mortos cuja alma pesa no dia do Juízo Final. É a versão de São Miguel como o Senhor das Almas, detentor de um poder que lhe valeu a veneração tão alargada junto dos crentes católicos.

A sua iconografia reflecte o carácter militar e intercessor do santo. O Arcanjo está esculpido de pé, de feições serenas, com o braço direito erguido a segurar uma lança na diagonal cuja ponta está cravada no peito de um pequeno diabo chifrudo retorcido sob os seus pés. A indumentária e os adereços seguem o equipamento de um soldado romano. Enverga clâmide (capa) e uma túnica curta, em forma de sino, com corpo superior a sugerir couraça. Exibe penacho sobre a cabeça e calça sandálias militares, que apoiam sobre a figura demoníaca. Na mão esquerda segura a balança cujo fiel vai poder separar os justos dos injustos.

José Velho Dantas

Fonte: https://www.facebook.com/BensCulturais?hc_location=stream

BRAGA: 200 ANOS DO SANTUÁRIO DO BOM JESUS DO MONTE

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A Confraria de Bom Jesus do Monte (Braga) vai assinalar durante o próximo mês de Outubro (dias 20-22) a data da conclusão arquitectónica do Templo com a realização de um evento de carácter científico, a saber: um Congresso sobre o Barroco, o primeiro especialmente consagrado às realizações do barroco em Portugal e no Brasil, e reunindo estudiosos do fenómeno do barroco, brasileiros e portugueses.

Na verdade, o actual Templo que remata o monumental escadório, com as Capelas e Passos da Paixão, ficou concluído em Setembro em1811, substituindo um antigo Templo Barroco que vinha do tempo de D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) e que ocupava o patamar inferior ao que ocupa o actual (onde se encontra hoje um fontanário artístico). Continuariam depois as obras com o preenchimento dos interiores (das talhas e pinturas), e depois continuando também várias obras nos jardins exteriores que se prolongariam, por todo o Século XIX que, praticamente, lhe deram a feição geral com que hoje o conhecemos.

Podemos dizer que o conjunto arquitectónico passou por 4 ou 5 momentos principais: Uma primitiva capela ou ermida dedicada a Santa Cruz, que vem, do Século XIV e que com certeza deve a sua fundação ao Arcebispo D. Gonçalo Pereira (1326-1348) (sob invocação de Santa Cruz do Monte).

Este Arcebispo esteve na Batalha o Salado (1340) - uma das decisivas batalhas peninsulares - travadas contra a presença e domínio árabes e contra o Islão. O Arcebispo esteve aí, com Afonso IV, com as suas hostes e as de seu filho - D. Álvaro Gonçalves Pereira. O Primaz atribuiu essa notável e decisiva vitória à intervenção de S. Cruz de quem era devoto e que seu filho, Prior do Crato, levava em estandarte, conduzindo as hostes: Neste sinal da Vera Cruz… vencereis seus inimigos (Ruy de Pina, Chronica d´El-Rei Dom Affonso IV. Ed. Biblion Lisboa. 1936.168). O resultado foi a ereção de uma ermida comemorando o feito e assinalando essa devoção. A Ermida, desde aí, foi reunindo devoções e atraindo devotos, nesta primeira fase, essencialmente da Cidade de Braga.

Essa vetusta ermida seria substituída por uma outra de traça "moderna" - gótico final, ou manuelina ou renascentista - que como era já a moda do tempo - atendendo até à importância e ao enorme património económico da personalidade a quem se atribuem essas obras (pelos anos de 1493-98) - D. Jorge da Costa. Mais que restauro, ter-se a tratado de uma nova fundação em torno do mesmo devocionário - a Santa Cruz. Durante muito tempo, essa data, foi tomada como a data da fundação do Bom Jesus do Monte. Por cerca de 1525 essa construção já oferecia ruína. O Deão D. João da Guarda, ao tempo em que D. Diogo de Sousa "refundacionava" a cidade de Braga com vários edifícios ao estilo Manuelino ou da Renascença, reconstruiu ou, mais verosimilmente, edificou nova capela que alguns definem como "construção em grande". Com peripécias varias, seria essa construção, a que alimentou as devoções e os interesses de alguns particulares até 1629 em que se criou a Irmandade ou Confraria de Bom Jesus do Monte, que desde aí, também com peripécias e acidentes vários, tem regido até à atualidade, os destinos devocionais e artísticos do Complexo do Bom Jesus do Monte. Surgia a partir daqui uma nova feição monumental a cujos traços gerais obedeceu a posterior intervenção de D. Rodrigo de Moura Teles, documentando os primeiros passos do maneirismo e do barroco nortenhos.

O complexo monumental, de feição barroca setecentista, com as capelas dos passos da Paixão que rematava esses complexo e que ocupava, como dissemos, o imediato patamar abaixo do actual templo, são obra de outro grande Arcebispo - D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) a quem Braga, nesses aspectos, muito deve. Intervenções essas que aqui se materializam a partir de 1722.

Os tempos posteriores são de prosperidade devocional e monumental.

O Bom Jesus do Monte transforma-se no grande santuário de romagem não só de Entre Douro e Minho como do conjunto do Reino. Aí acorrem devotos de todas Províncias desde o Minho à linha do Tejo. E as famosas romarias são agora (não o foram antes?) um misto de devoção religiosa e de folguedo laico profano a que os tempos da festa (como foram essencialmente os do Século XVIII) a que a beleza do lugar, tanto convidavam paralelos a um profanismo e laicismo que foi acompanhando o bem-estar geral que se sentiu por quase todo este Século XVIII, (tenham dito ou continuem dizendo, outros, o contrário) e que tiveram nas grandes Romarias e centros de romagem a expressão mais completa e por vezes mais heterodoxa, em termos de religião.

As acomodações tornaram-se exíguas e, por sua vez, a Capela ou Santuário que rematava o escadório começou a ameaçar ruína.

Eram chegados os tempos das últimas grandes intervenções artísticas e arquitectónicas que deram ao Santuário a feição que hoje conhecemos. Correu paralelas com outra época de esplendor arquitectónico que a cidade de Braga conheceu, com o último Arcebispo régio - D. Gaspar e Bragança (1758-1789). Coincidia também com o apogeu económico do próprio Santuário ou Confraria. Vários artistas de renome trabalharam então para este Santuário: engenheiros, arquitectos como carpinteiros e imaginários e pintores, como Mestres pedreiros.

Ameaçando ruína a capela Setecentista do tempo de D. Rodrigo, exíguos os espaços de culto e acomodações, encomendou-se um novo Templo. Seria construído no patamar superior ao que ocupava o anterior do tempo de Moura Teles. Foi o Arquitecto Carlos Amarante, que já na cidade exercia importantes cargos em obras e por incumbência do Arcebispo e da edilidade e que na mesma deixaria outras obras notáveis. Começaram as obras em 1784 tendo-se concluído em Setembro de 1811.

É este acontecimento que serve de pretexto para a realização do referido Congresso mas também de efeméride comemorativa dos 200 anos da conclusão arquitectónica do actual Templo.

Embora vários exemplares da obra deste arquiteto estejam muito ligados ainda ao barroco terminal, podemos dizer que, com o Novo Templo do Bom Jesus do Monte, na traça arquitectónica, como na decoração dos interiores (que quase na totalidade se lhe devem também), se remata em Braga, e em geral, Ciclo do Barroco abrindo-se decisivamente o caminho ao Neo-clacissismo, estabelecendo, em simultâneo, um corte e um remate da formulária barroca que continuou (e continua) presente no Escadório nas Fontes e nas Capelas dos Passos e outras que, entretanto, compuseram todo o conjunto.

Aurélio de Oliveira, Faculdade de Letras do Porto, presidente da Comissão Científica do Congresso

Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/