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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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GASPAR MOREIRA: UM ARCUENSE EM OURÉM (V)

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A LENDA DE RIO DE COUROS

 

A fama de Rio de Couros

Já vem de há muitos anos;

Talvez do tempo dos Mouros

Ou do tempo dos Romanos.

 

Seria vila ou cidade

Antes da era dos Mouros?

Qual o nome de verdade:

Rio de Couros ou Radecouros?

 

Porque abundava o curtume

De peles nessa região

Daí proveio o costume

Do nome que hoje lhe dão

 

Numa bonita capela

Acima doutros tesouros

Havia a imagem bela

Da Senhora de Rio de Couros.

 

E este povo humilde e crente

Pelo seu fervor diário

Atraía muita gente

Ao bonito Santuário!

 

Entre a gente forasteira

Que a sua vida ali fez

Conta-se Gaspar Moreira

De Arcos de Valdevez.

 

Viveu nesta região

Até que teve de partir

Com o rei Dom Sebastião

Para Alcácer Quibir.

 

Na batalha contra os Mouros

Morreu Dom Sebastião

E o homem de Rio de Couros

Foi metido na prisão.

 

Embora que bem tratado

Dentro da dita prisão

Estava a ser engordado

Para alimento de um leão.

 

Certa noite à luz da lua

Olhando as grades em frente

Viu um oficial na rua

Com o leão preso à corrente

 

Falando então para a fera

Disse em voz de “mandarete”:

Só mais uns dias de espera

E terás um bom banquete.

 

Ao meditar que seria

Vítima de instintos mouros

Rezou à Virgem Maria

Senhora de Rio de Couros.

 

À Senhora da Natividade

Fez uma prece afinal:

Que lhe desse a liberdade

E o trouxesse a Portugal.

 

Nisto um milagre se deu:

No meio dum mar de luz

A Virgem lhe apareceu

Trazendo ao colo Jesus.

 

Então a porta se abriu

E com a sua libertadora

Para a saída seguiu

Desaparecendo a Senhora.

 

Voltando ao local de origem

Livre do jugo dos mouros

Prostrado agradece à Virgem

Da ermida de Rio de Couros.

 

O resto da sua vida

Foi de pura santidade

Orando no altar da ermida

À Senhora da Natividade.

 

E quando velho e cansado

Já prestes ao fim da vida

Pediu para ser sepultado

Junto da bonita ermida.

 

E assim desta maneira

Se ordenou e se fez:

Ali jaz Gaspar Moreira

De Arcos de Valdevez.

 

Daí cresceu mais a Fé

Nesse povo e nos vindouros

Vindo muita gente a pé

De romagem a Rio de Couros.

 

Muita Fé o povo tem

À Senhora da Natividade

Que outrora era também

Nossa Senhora da Piedade.

 

Há lindas recordações

Que valem grandes tesouros

Achados em escavações

No adro de Rio de Couros.

 

A graça desta região

É obra da natureza

Em que a nova geração

Não reparou com certeza.

 

Esta história se comenta

No “Século” de Dia de Natal

De mil novecentos e setenta

Em Lendas de Portugal!...

 

in INÁCIO, Manuel. Brincando com coisas sérias. 1995

 

Fonte: http://auren.blogs.sapo.pt/