DELFIM GUIMARÃES: AOS SOLDADOS SEM NOME
Lira de Bernardim, ó musa de Junqueiro,
Ó estro de Camões, famoso, iluminado,
Bafejai com ternura a mente d’um troveiro;
Fazei-me conceber um poema apaixonado,
Um hino triunfal, vibrante e justiceiro!
Emprestai-me o fulgor das jóias diamantinas,
O gracioso matiz das sedas faustosas,
E o timbre de cristal das rimas peregrinas
D’aquelas produções gentis e harmoniosas,
Que logram alcançar o nome de divinas!
Acendei no meu peito um fogo refulgente,
Minh’alma transformai n’uma viva cratera,
E o meu sangue exauri, em lava incandescente!
Não me importa morrer; porém morrer quisera
Legando ao meu país uma canção veemente…
Que importava morrer, se atingisse a ventura
De um cântico entoar, filigranado e santo,
Cheio de inspiração, de graça e de frescura?!
Alma de Portugal, segreda-me esse canto,
E dá-me, n’um rincão, modesta sepultura!
(…)
Fanfarras, desferi brilhantes sinfonias,
Tangei, sinos! Tangei álacres melodias,
Repiques festivais!
Bandeiras, flutuai ao vento, esplendorosas,
Fazendo rebrilhar as Quinas gloriosas,
As Quinas imortais!...
Delfim Guimarães, 27 de Março de 1921
Exemplar com dedicatória oferecido ao jornalista Rocha Martins, aqui tratado por “ilustre camarada”, em 5 de Abril de 1921.