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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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TRAJE À VIANESA: AFIFE

Dos trajes “à lavradeira” característicos do concelho de Viana-do-Castelo, começarei por especificar o mais simples – o de Afife, aldeia a doze quilómetros para Noroeste da cidade, à beira-mar.

(…) A saia, que é tecida com lã, sendo de algodão a urdidura, não tem “basta”. As côres – estou-me referindo à saia da “moda” – dispõem-se às listas verticais, pela seguinte forma: largos listões vermelhos, que têm um fio preto longitudinal ao meio, alternam com listões pretos muito menos largos e que têm, a correr também pelo meio, uma estreita lista branca. No cós – “emenda”, na linguagem do povo – a saia é franzida em pregas muito juntas, nelas surdindo, às riscas agora, as côres referidas. O “fôrro” – recorde-se que o “fôrro” é a barra que guarnece em baixo e exteriormente a saia – o “fôrro” é azul-marinho. Períodos há em que, por moda, é preto. É, na verdade, uma saia de belíssimo efeito, onde se afirma um raro bom-gôsto aldeão!

O colete tem uma “cinta” ou “barra”, alta, preta, e é de côr vermelha para cima – enfeitado sobriamente a lãs de côres, missanga, vidrilhos, lentejoulas, consoante a vontade e critério de cada qual.

Também é predominantemente vermelho o avental com listas pretas, sem “emenda” – muitíssimo simples.

Os aventais sem sempre têm, em Afife, esta simplicidade – que é a mais própria do traje local. Assim, por exemplo, às vezes as listas verticais, aí pelo meio do avental, são cortadas por outras transversais, que vão de ordinário até baixo, estas listas atravessadas ficam, no entanto, indistintas, mascaradas por “topes” de lãs, de modo que a parte inferior do avental oferece a aparência de um curioso tapête – aparência vária, ao gosto da tecedeira, mas sempre de composição lindamente singela e harmónica.

As algibeiras não têm o luxo ornamental das do traje “à vianesa” nas ladeias interiores do concelho. Uns bordados simples, as lãs coloridas; uma fita de côr, encanudada, na orla – e pronto! Em regra, é isto apenas.

No geral, o lenço-da-cabeça é “cor-de-canário”, e op lenço-do-peito é cor-de-laranja, tanto um como o outro com franjas da respetiva côr, e com a barra de ramagens floridas. Nestas ramagens, domina o encarnado e, secundariamente, o verde.

Contra o usual nos mais vestuários do concelho – em Afife, as meias são lisas, sem abertos; as chinelas nunca têm bordados; e a camisa também não ostenta bordados nos punhos e nos ombros. As raparigas arregaçam as mangas um quási nada e com negligência graciosa. Em tudo a simplicidade.

Falta dizer que, entre as variações impostas pela “moda” de quando em quando, figura a adaptação, ao decote da camisa, de uma leve gola arrendada.

Cláudio Basto em “Traje à Vianesa”. Edições Apolonio. Gaia. 1930