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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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A MULHER DE BARCELLOS

Já Camillo affirmava que as moças de Barcellos levavam de vencida as lindas mulheres das redondezas no rosado da face, na robusta elegância do corpo e na viçosa alegria.

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Typo de mulher de Barcellos

Anteolha-se á nossa rotina uma interminável collecção de desenvoltas moçoilas que põem a cabeça humana á razão de juros.

Morenas, de andarem ao sol e loiras gentis, ligeiras, em passo rhytmado saracoteiam-se pelo campo.

As saias balouçam-lhe ao deleve nas curvas das pernas tentadoras.

Momosos palmos de cara, virgens do maquillage, emergem d’entre boleios esparsos d’essa camisa de alvo linho.

Clarões luminosos brincam doidamente em rosto oval.

Vendedeiras de cereais

A cada canto deparam-se-nos: olhos microscópicos, contas de rezar; grandes, amendoados, que tentam saltar das orbitas.

Há-os negros scintilantes, mysmetriosos, verdes como os da Joaninha de Garrett; e azues duvidosos, incertos como as aguas do mar.

A vista embriaga-se na orgia da coloração quente que os vestuários da camponeza exhibem.

O lenço de cores garridas encoifa-a até à nuca e as pontas caem-lhe como duas azas de andorinha nas orelhas.

Atravessado em cruz afagando os peitos tremidos de desejo, o chale de flocos contorna-lhe o corpo até às ancas opulentas de carnação luxuriosa.

Vendedeiras de rocas

O ouro – a eterna tentação dos conversados que procuram noiva rica – n’uma plethora de grossos cordões, cruzes com Christos crucificados em seios ardentes de volupia, e corações luminosos faíscam sob um pescoço de cysne.

É o chic, o luxo da aldeã.

Isenta de artifícios não tem as poses estudadas ao espelho da burguesinha petulante.

Liberta-se da moda que leva a citadina ao uso da toillete provocadora, exageradamente entravée.

Como lhe fica bem, mesmo a matar, a saia de baeta crepe, sobre as anaguas a espreitarem gaiatamente.

Jámais empregaram, louvado Deus, o cinto esthetico – anti-obeso, ou ingerirem a innovação medicinal das pílulas Orientaes para o desenvolvimento dos seios – uberes bemditos, que alimentam um rebanho de beccos.

O corpo anda livre, á vontade. É a natureza exuberante de viver entoando um hynno á liberdade. Almas simples em arcaboiços palpitantes de seiva.

Surprehendida na toillete

Quando muito, pelo S. Miguel – ultimada a quadra das colheitas – dirigem-se de preferência á praia d’Apúlia – brinco de encantos.

A estação baldear é ephemera quinze dias o máximo. Arredadas os trabalhos agrícolas tratam então o corpo. A consciência, essa, descarrega-a o sr. abbade.

São estas mulheres que procuram rapazes calossos de força, que a mais das vezes, acossados pela miséria aportam ás plagas d’alem mar.

Mercando a loiça

E os braços musculosos que escasseiam no fabrico das terras, teem por continuadores da tarefa quotidiana – a aldeã.

Eil-a, desde o romper do sol á bocca da noite, a revolver, a golpes de enxada, o ventre fecundo das leiras férteis.

Chegada a época das romarias, por um sol abrazador, ao som da viola bragueza, baila e canta estradas fora, de sorriso radiante de alegria na curva dos lábios amorangados.

Barcellos, novembro, 1910

Domingos Ferreira

Fonte: Ilustração Portugueza, 266 de 27 de março de 2011

O descanso da lavradeira