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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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MINHOTOS QUE VIVEM EM LOURES TÊM DOIS AMORES: O MINHO E LOURES!

As gentes minhotas que vivem no concelho de Loures têm dois amores. O Minho, sua terra natal e dos seus ancestrais e, em relação à qual dedicam todo o seu afecto, quais extremosos filhos que nunca esquecem as suas raízes. Mas, para além da sua dedicação filial à terra que os viu nascer, trazem ainda no coração aquela que no seu seio os acolheu como se aí tivessem nascido – o concelho de Loures!

Se ao Minho devotam todo o seu amor filial, por Loures nutrem um profundo sentimento de gratidão pela forma hospitaleira como os acolheu. Foi aqui que, à falta de melhores condições na sua terra natal, estabeleceram o seu lar, construíram a sua vida profissional e o seu sucesso e é ainda no concelho de Loures que dão largas à sua maneira de ser, alegre e festeira, transmitindo a outras gentes as grandezas da sua terra de origem e da sua personalidade. E, se os minhotos jamais esquecem as suas origens, não é menos verdade que os que vivem no concelho de Loures se tornaram lourenses de alma e coração!

Quando, na sequência da reforma administrativa implementada por Mouzinho da Silveira foi extinto o concelho de Santa Maria dos Olivais, da extensa planície de férteis solos agrícolas, outrora apenas habitada por humildes agricultores, emergiu em 1886 o progressivo Concelho de Loures.

Integrado na chamada região saloia em virtude da origem mourisca das suas populações originais ao tempo da reconquista cristã, o Concelho de Loures viu a sua população alterar-se ao longo dos tempos em virtude da industrialização e dos fluxos migratórios que se foram registando na sua área geográfica, fenómeno a que também não é alheio a sua relativa proximidade a Lisboa e a melhoria dos transportes e vias de comunicação.

Com efeito, os movimentos migratórios que se verificaram no país, principalmente a partir do começo do século XX, jamais poderiam deixar de ter os seus reflexos no crescimento urbanístico e na distribuição demográfica do Concelho de Loures. O próprio facto histórico da proclamação antecipada do regime republicano na cidade de Loures, para além das razões de ordem estratégica que estiveram na sua origem, reflecte já as alterações sociais que se vinham operando com a formação de uma burguesia e um operariado local, a par de uma ainda imensa população rural.

Mas, foi sobretudo a partir dos anos sessenta do século vinte que o Concelho de Loures registou uma grande explosão social traduzida no crescimento populacional e urbanístico a par da instalação de numerosas empresas industriais. A par de uma extensa área rural que se estende mais para norte, abrangendo as freguesias de Lousa, Fanhões, Bucelas, Santo Antão do Tojal e São Julião, surgiu outra onde as indústrias se fixaram, situada mais na zonal oriental, nas freguesias de Sacavém, Bobadela, São João da Talha, Santa Iria da Azóia, Moscavide, Camarate, Portela, Prior Velho, Apelação e Unhos.

Por sua vez, foi nas freguesias de Loures, Frielas e Santo António dos Cavaleiros que se registou um maior crescimento urbanístico, para além das povoações de Odivelas, Olival de Basto e Póvoa de Santo Adrião que entretanto deixaram de pertencer ao município de Loures.

O início da expansão urbanística destas localidades está relacionado não apenas com a deslocação de populações das zonas rurais do interior do país para a cidade de Lisboa mas também com o crescente predomínio do comércio e serviços na capital, fenómeno que implica uma deslocação de pessoas para a periferia à procura de habitação a custos menos elevados. Por conseguinte, até meados da década de setenta do século passado, os novos habitantes do concelho de Loures eram predominantemente famílias jovens oriundas de várias regiões do país, mormente do Minho, de Trás-os-Montes e das Beiras, as quais aqui se fixaram para iniciar uma vida nova. Foi sobretudo durante este período que se verificou a expansão da “cidade nova” de Santo António de Cavaleiros.

Os minhotos vieram para a região de Lisboa sobretudo a partir dos começos do século vinte. Eram eles os taberneiros e carvoeiros que emparceiravam com os seus vizinhos galegos – da Galiza d’Além Minho. Do Concelho de Caminha vieram os pedreiros e estucadores, de Arcos de Valdevez os padeiros do Soajo e ainda os ervanários de Melgaço, os taberneiros de Vila Nova de Cerveira e os hoteleiros de Monção e Terras de Bouro.

Entretanto, a partir de meados da década de setenta, em consequência do processo de descolonização dos antigos territórios ultramarinos, esta região passou a receber um elevado número de cidadãos oriundos dos países africanos de expressão portuguesa, incluindo de origem goesa, a que se juntaram mais recentemente os imigrantes brasileiros e das mais diversas proveniências. O Concelho de Loures possui actualmente cerca de duzentos mil habitantes, distribuídos por uma área de perto de cento e setenta quilómetros quadrados. Esta realidade transformou a área urbana do Concelho de Loures num espaço multicultural que convive pacificamente com a região saloia que caracteriza a sua área rural. Trata-se de um autêntico mosaico de culturas que, longe de apagar a identidade de um concelho que procura preservar as suas tradições mais genuínas, apenas vem enriquecer o seu panorama cultural e social, da mesma forma que, ao longo dos séculos, o encontro de culturas sempre se traduziu na grandeza da civilização portuguesa.

Pela parte que lhes diz respeito, os minhotos que vivem no Concelho de Loures constituem uma comunidade plenamente integrada na sociedade local. Muitos dos seus membros dedicam-se ao comércio e à hotelaria, possuindo alguns dos restaurantes mais afamados da região. Participam no movimento associativo e cívico e partilham como os demais munícipes dos problemas que dizem respeito à comunidade. São gente laboriosa e ordeira, dinâmica e empreendedora. São inconfundíveis na sua alegre maneira de ser a tal ponto que, aos primeiros acordes de uma concertina, de imediato se aprontam a dançar o vira ou a cantar ao desafio. Não admira, pois, que também aqui tenham criado o seu próprio agrupamento folclórico – o Grupo Folclórico Danças e Cantares Verde Minho. O seu Presidente é membro do Rotary Clube de Loures.

Ao escolheram a designação “Verde Minho” para identificarem as suas origens, foi com toda a propriedade que o fizeram. Afinal de contas, o Minho é a região mais profusamente verdejante de Portugal. E, são eles próprios que citam o escritor transmontano Miguel Torga quando este disse “…no Minho tudo é verde, o caldo é verde, o vinho é verde…”. Com efeito, não podiam, pois, os minhotos que vivem no Concelho de Loures deixar de tomar para si a identificação cromática que caracteriza a sua terra de origem e que, curiosamente, aqui vêm encontrar, ainda que de uma forma menos exuberante.

O "Grupo Folclórico e Etnográfico Danças e Cantares Verde Minho" foi constituído em 11 de Setembro de 1994 por um grupo de minhotos radicados no Concelho de Loures que chamaram a si a missão de preservar, salvaguardar e divulgar as suas próprias raízes culturais.

Através da sua actuação, visa ainda a promoção cultural, sobretudo junto dos mais jovens e a sua identificação com as tradições culturais da região de origem dos seus pais, a valorização dos seus conhecimentos musicais e da etnografia Portuguesa.

As danças e cantares que exibem são alegres como as mais exuberantes romarias do Minho. Trajam de linho e sorrobeco e vestem trajes de trabalho e domingueiros, de mordoma e de lavradeira, de noivos, de ir ao monte e à feira. Calçam tamancos e ostentam o barrete e o chapéu braguês. As moças, belas e graciosas nos seus trajes garridos, mostram os bordados que constituem obras primorosas das suas delicadas mãos, denunciando o seu tanto artístico. Exibem com garbo os seus colares de contas e a reluzentes arrecadas de filigrana que constituem obra-prima da ourivesaria minhota, de ancestral tradição.

Cantam ao som da concertina e da viola braguesa, do bombo e do reque-reque, dos ferrinhos e do cavaquinho, dançam a chula e o vira, a rusga e a cana-verde, com a graciosidade e a desenvoltura que caracteriza as gentes do Minho. O seu reportório foi recolhido em meados do século passado, junto das pessoas mais antigas cujo conhecimento lhes foi transmitido ao longo de gerações, nas aldeias mais remotas das serranias da Peneda e das Argas, nas margens do Minho e do Lima, desde Melgaço a Ponte da Barca, do Soajo a Viana do Castelo. Levam consigo a merenda e os instrumentos de trabalho que servem na lavoura como a foicinha e o malho, os cestos de vime e os varapaus, as cabaças e os cabazes do farnel.

O Minho foi a nossa primeira pátria – o berço da nacionalidade. Qual hino a louvar o Criador, terra luminosa e verde que a todos nos seduz pelo seu natural e infinito encanto, salpicado de capelinhas aonde o seu povo acorre em sincera devoção, o Minho é representado em Loures por cerca de meia centena de jovens, uns mais do que outros, que presenteiam a quem lhes assiste com o que de mais genuíno têm para oferecer – o seu Folclore!

Teotónio Gonçalves

Fotos do Verde Minho 028