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Postal editado pelo Secretariado Nacional da Informação (SNI), inserido na Colecção “Panorama” e impresso na Bertrand (Irmãos), Ldª. No verso apresenta o preço de 1$50 e a referência "M/R18".
O SNI foi um organismo do Estado Novo que existiu com esta denominação entre 1945 e 1968, destinado a fazer nomeadamente a divulgação política, cultural, turística do país e do regime, tendo desenvolvido uma importante actividade no âmbito da promoção do folclore, cinema, teatro e artes plásticas.
Ponte Feia, no Gerês, segundo uma gravura da edição de 5 de maio de 1918 da “Revista de Turismo”. Trata-se de um local magnífico que era em tempos recuados muito apreciados pelos turistas que visitavam o Gerês, entretanto caído no esquecimento.
Carlos Gomes
in jornal "NOVO PANORAMA", nº. 75, de 23 de agosto de 2012
A polémica em torno da realização de uma corrida de touros em Viana do Castelo por ocasião das Festas de Nossa Senhora d’Agonia em nada beneficiou a cidade nem os seus munícipes, decerto mais preocupados com outros problemas a resolver na área do concelho, nomeadamente de índole social num momento de crise económica particularmente gravosa.
Colocando de lado a questão a saber da validade dos argumentos daqueles que se declaram aficionados do espetáculo tauromáquico e dos que a ele se opõem, importa antes saber qual é a função de uma autarquia no âmbito da organização do Estado e a natureza do mandato que cumpre aos eleitos pelos respetivos munícipes.
De acordo com o princípio da repartição de poderes – legislativo, executivo e judicial – cabe à Assembleia da República produzir as leis que deverão ser uniformemente aplicadas em todo o país e, aos Tribunais, a administração da Justiça em nome do povo e no estrito cumprimento da Lei, incumbindo a estes “assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados”, conforme o artigo 202º, nº 2 da Constituição da República Portuguesa. Por seu turno e de acordo com o nº. 2 do artigo 235º, “As autarquias locais são pessoas coletivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações respetivas”. Ainda, de acordo com o artigo 241º, “As autarquias locais dispõem de poder regulamentar próprio nos limites da Constituição, das leis e dos regulamentos emanados das autarquias de grau superior ou das autoridades com poder tutelar”.
Por conseguinte, do que acima se infere, não cumpre aos municípios legislar, devendo os mesmos atuar em função dos interesses dos respetivos munícipes. Quer isto dizer que, no caso vertente, ao “decretar” a proibição do espetáculo taurino, o Município de Viana do Castelo procurou substituir-se à Assembleia da República na competência que a esta cabe de legislar. Acresce a isto o fato de, ao invocar os milhares de mensagens recebidas provenientes nomeadamente do estrangeiro, a Autarquia subtrai-se à função que lhe é conferida pelo nº 2 do artigo 235º da Constituição da República Portuguesa. Por outras palavras, os autarcas vianenses não foram eleitos pelos seus munícipes para fazerem leis e, muito menos, para administrarem a Autarquia em função dos e-mails recebidos do estrangeiro. Pela mesma ordem de ideias, a proposta de referendo à população também não se coloca porquanto isso equivaleria a referendar a própria Lei.
Pior ainda, face à deliberação do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, a forma como a sua decisão foi recebida não foi a mais correta porquanto, sem prejuízo dos instrumentos legais que o Município tem à sua disposição para recorrer da decisão, a legitimidade das instituições não deve ser colocada em causa e as suas decisões devem ser acatadas. As autarquias locais, à semelhança das demais instituições e órgãos da administração central, regional e local, não podem ser utilizados como “correias de transmissão” de movimentos políticos sejam de que natureza for, colocando-se em confronto com os demais órgãos de soberania.
Trata-se, naturalmente, de uma situação incómoda herdada da anterior vereação e que parece mais motivada por razões de natureza ideológica pois, caso contrário, a autarquia vianense deveria proibir de forma idêntica a utilização da carne na gastronomia, a atividade cinegética, piscatória e mesmo os carros de tração animal que os nossos agricultores utilizam nos trabalhos agrícolas. Mas, pelos vistos, em vez da observância da Lei, optou-se pelo confronto, transformando-se Viana do Castelo numa autêntica arena na qual foi dado aos vianenses assistir a um espetáculo deplorável, àquilo a que depreciativamente se pode designar uma verdadeira tourada!
Relativamente à eventual proibição do espetáculo taurino, deixemos que a Assembleia da República, entidade a quem efetivamente compete legislar, decida o que fazer da petição recentemente apresentada por um grupo de cidadãos que solicitou àquele órgão no sentido de acabar com as corridas de touros em Portugal.
- Dura Lex, Sed Lex!
PS: A Assembleia da República debateu a referida petição. A mesma não foi submetido a qualquer votação nem foi até ao momento produzida qualquer legislação como pretendido.
Rua Agostinho José Taveira * 4990-072 Ponte de Lima * http://novopanorama.pontedelima.com
A revista Ilustração Portugueza, de 24 de agosto de 1908, dedicou algumas das suas páginas às Festas de S. Gualter, em Guimarães, e também ao Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento. Cento e quatro anos decorridos dos referidos festejos, transcrevemos a reportagem na parte respeitante às Gualterianas.
Janelas ornamentadas: a tourada
S. Gualter tem, como se sabe, o seu solar festivo em Guimarães, que, n’uma das quatorze capellas da sua egreja de S. Francisco, lhe conserva os ossos venerandos.
Cada anno as festas gualterianas, afamadas desde longe, attrahem, à velha cidade gloriosa, chusma de forasteiros, que enchem de ruído e movimento desusados as suas ruas engalanadas, e todos os anos as festas tradicionais vimaranenses se transformam, transigindo com as ideias inovadoras do tempo, modificando constantemente o seu antigo feitio, mas não arrefece o enthusiasmo da sua celebração. Emquanto Guimarães existir, ufanando-se de ter sido o berço da monarchia, não deixará de comemorar o santo seu predilecto, que constitue também um timbre do seu brazão.
Janelas ornamentadas: o moleiro
Os chronistas seráficos da provincia de Portugal relatam que tendo vindo S. Francisco de Assis a este reino na companhia do seu discípulo S. Gualter, e partindo ambos d’aqui em romaria a S. Thiago de Compostella – que quem não realisou em vida, terá de fazer na morte, – na sua passagem por Villa Verde, junto de Guimarães, o patriarca franciscano fundou n’esse sítio uma casa de oração, na qual deixou o seu companheiro, a quem depois se aggregaram outros religiosos, constituindo-se em comunidade. O facto ter-se-hia passado, no dizer dos auctorisados narradores, pelos anos de 1216, no reinado de D. Affonso II. Oitenta anos volvidos, aquelle destacamento mendicante não cabia no estreito quartel, que o seu general construira, e foi então resolvido edificar um novo convento, mais amplo, mudando-o, porém, n’essa ocasião, para dentro dos muros de Guimarães. Collocaram-no effectivamente junto da cerca de muralhas da villa, e d’esta circumstancia resultou o ser mandado demolir pelo rei D. Diniz após o cerco que o filho rebelde, mais tarde D. Affonso VI, pôz a Guimarães.
Cortejo dos excursionistas
Os frades trataram logo de arranjar nova casa e construíram o seu terceiro convento, que se concluiu no primeiro quartel do seculo XIV, e que é o que ainda existe e conserva algumas das suas feições primitivas, apesar das varias reparações e reconstrucções posteriores. Tal é a história d’este S. Gualter, que Guimarães festeja com tanta devoção e enthusiasmo popular.
A chegada dos excursionistas ao largo do Município
O Agiologio do padre Cardoso fala de um S. Gualter, que era portuguez e foi leigo do convento de S. Francisco do Monte, em Vianna, onde morreu no ultimo quartel do seculo XVI. Está de ver, porém, que não pode ser este o mesmo santo tão estimado em Guimarães e que devia ter dado entrada já desde há muito tempo na côrte celestial quando este seu homonymo foi nado em terras portuguezas. Assim, foi por engano que lhe attribuimos, o anno passado, quando então nos occupámos também das festas gualterianas de Guimarães, a honra de ser o seu heroe. Aqui fica feita a rectificação, porque nem aos santos se deve tirar o que a cada um pertence. As tradicionais festas vimaranenses celebraram-se este anno com esplendor em nada inferior ao dos antecedentes, e pelas photographias, que reproduzimos d’ellas, farão os nossos leitores uma idéia do que ellas foram. A concorrência de forasteiros foi verdadeiramente excepcional e raros foram os que não aproveitaram o ensejo da excursão para visitar o museu archeologico da Sociedade Martins Sarmento, ao qual se referem também algumas das photographias que inserimos.
Um grupo de excursionistas (caixeiros portuenses)
Não é tão conhecida, como tinha direito a sel-o, entre o grande publico, esta bella sociedade provinciana, que tão relevantes serviços tem prestado á instrucção e ao estudo do paiz, que possue uma excelente biblioteca, um museu local interessantíssimo, e publica uma Revista que tem sido collaborada por alguns dos nossos mais distinctos homens de sciencia e tem inserido trabalhos de alta erudição. Deve-se a iniciativa da sua fundação a um dos homens mais beneméritos, dos que na obscuridade do seu trabalho indefesso e valiosíssimo passaram sempre indiferentes á popularidade, que nobremente desdenharam, mas que foram, apezar d’isso, dos mais altos servidores da sciencia e de Portugal – Francisco Martins Sarmento, cujo nome é a gloriosa égide do ilustre grémio.
O côro de raparigas
A ornamentação no Toural
Janellas ornamentadas: o namoro
Janellas ornamentadas: o almirante e o Zé Povinho – “Onde irá isto parar?”
Vista geral do Museu de Archeologia
Parte lateral do edifício da Sociedade Martins Sarmento
Um aspecto do Museu de Archeologia da Sociedade
Vista geral do Museu de Archeologia
Uma galeria do Museu
Cortejo dos excursionistas do Porto
(Clichés do sterkoscopio portuguez de Aurelio da Paz dos Reis)
Na sessão de 30 de abril da X Legislatura da Assembleia Nacional, o deputado Gonçalves de Proença fez um balanço da atividade daquele órgão durante a sessão legislativa e referiu-se a vários aspetos da economia do Alto Minho. A sessão foi presidida por Carlos Amaral Netto e secretariada por João Silva Pereira e João Bosco Mota Amaral.
João José Gonçalves de Proença de seu nome completo era natural da Guarda e foi por duas vezes eleito deputado pelo círculo de Castelo Branco. Filiado no Centro Académico de Democracia Cristã (CADC), exerceu entre outros os cargos de Secretário da 1.ª Secção no III Congresso da União Nacional, em Coimbra (1951); Diretor do Centro Universitário da Mocidade Portuguesa em Coimbra; Diretor do Instituto de Formação Social e Corporativa (1959); membro da Comissão da Reforma Fiscal e do Gabinete de Estudos e Documentação da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos; Diretor do Centro de Estudos Sociais e Corporativos; Vogal do Centro de Estudos Fiscais do Conselho Superior de Previdência e de Habitação Económica do Ministério as Corporações e Previdência Social e Ministro das Corporações e Previdência Social (1961).
Pelo interesse que apresenta, transcreve-se o conteúdo da sua intervenção, respeitando-se a grafia da época.
O Sr. Gonçalves de Proença: - Sr. Presidente: Estejam os meus ilustres pares tranquilos.
Não repetirei hoje o abuso de há dias, prendendo a atenção da Assembleia por muito tempo. Não usaria mesmo da palavra se não fora a circunstância de nos encontrarmos em ablativo de encerramento de sessão, o que joga com a oportunidade do que me proponho dizer.
Antes de mais, uma nota de congratulação e de esperança, que para alguns terá o acento tónico na primeira, para outros valerá sobretudo pela segunda.
Congratulação pela intensa actividade desenvolvida pela Assembleia nesta primeira sessão da X Legislatura. Trabalhou-se muito, embora em alguns de nós aqui dentro, e quiçá em muitos mais lá fora, tenha ficado a sensação de que nem todo o trabalho feito teve a mesma utilidade.
Não surpreende que assim tivesse acontecido, dado o condicionalismo especial que ú vida parlamentar sempre imprime o facto de se tratar de um começo de legislatura, com uma Câmara quase inteiramente renovada.
Mas aqui um aceno de justiça se impõe fazer, dirigido por um lado do Governo e por outro à própria Câmara.
Foi notória a preocupação que o Governo teve de alimentar a actividade parlamentar com iniciativas legais, o que só não produziu inteiramente os seus frutos pela natural complexidade dessa actividade, levando à menor selectividade de algumas iniciativas no período inicial e à sua concentração excessiva na ponta final da sessão.
Digna de referência foi também a colaboração prestada à Assembleia por alguns dos nossos colegas, oferecendo-lhe matéria válida de ponderação e apreciação, que muito valorizaram os trabalhos parlamentares, quer pelos projectos de textos legais apresentados, quer pêlos assuntos suscitados em intervenções ou avisos prévios. E a este respeito ninguém me levará a mal que sublinhe de modo particular a actividade desenvolvida pêlos Deputados engenheiros Araújo Correia, e Camilo de Mendonça e pelo Prof. Miller Guerra, reportando-me, como é lógico, apenas ao período da sessão que me foi dado acompanhar com direito de assento nesta Casa.
A. nota de congratulação segue-se, justificando-a, a nota de esperança.
Esperança numa progressiva valorização dos trabalhou da Cumaru na próxima sessão, para o que certamente muito poderá contribuir o tempo de preparação e estudo que o intervalo parlamentar a todos vai conferir: o Governo e Deputados. O Governo já nos deu parte das suas intenções.
Com o tempo disponível e u experiência adquirida, natural é que todo esse esforço se traduza em resultado útil e oportuno, permitindo uma válida programação da actividade parlamentar sem improvisações, sobressaltos e estrangulamentos legislativos e ainda com a disponibilidade saudável confiada ao imprevisto da própria sequência normal dos acontecimentos nacionais.
Este último aspecto o digo porque sou dos que entendem que o trabalho da Assembleia não deve espartilhar-se na lufa-lufa rígida de um programa preestabelecido, que não nos permita levantar os olhos para o dia a dia, e trazê-lo aqui com os seus problemas e aspirações - que a vida de um povo não tem apenas espelho nos grandes e sonoros acontecimentos ou reformas, mas é também o somatório dramático ou feliz dos pequenos acontecimentos de cada hora: o preço dos produtos ou dos serviços, o salário, o horário do trabalhador ou dos alunos, a competência dos que trabalham, dirigem ou ensinam, o trânsito, a água, a luz, a escola, o caminho, a Universidade ... que sei eu!
Toda a questão está em que a visão da floresta não oculte as árvores, nem o encantamento de cada uma destas faça esquecer o conjunto.
Mas isso já é uma questão de bom senso.
Não sou felizmente dos que partilham a sensação melodramática de que graves coisas se passaram nas sessões pretéritas, nem tão-pouco daqueles, sobretudo exteriores a Assembleia, que ingénua ou interessadamente exigem maior vivacidade e agressividade no trabalho parlamentar.
A minha modesta opinião posso-a resumir neste simples voto: o que é indispensável é que os homens se entendam e reciprocamente se respeitem, ainda que, por vezes, não ajoelhem ú mesma mesa da integral comunhão ideológica
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Numa palavra: como dizia um meu velho professor, que foi grande ornamento desta Casa e a quem aproveito n oportunidade para prestar sentida homenagem de gratidão e saudade - o Prof. Mário de Figueiredo: "Se não puderem entender-se em tudo, zanguem-se as ideias, mas não se zanguem os homens."
Tanto mais que foi a comunidade nas ideias fundamentais que a todos aqui nos congregou, pelo que nunca poderá ser grande o contraste que, por via delas, nos desentenda.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Deste modo passarei à outra palavra que por razões de oportunidade não desejo deixar atardar.
Dirige-se ela no meu circula do Alto Minho, na sequência de um diálogo que vem a manter-se desde o convívio intenso da campanha eleitoral, para acentuar, como merece, o júbilo que :i todos tem proporcionado o interesse crescente e manifesto pelas coisas, anseios e aspirações da nossa região.
Por experiência própria, não ignoro que tal, por si só, não basta para desde já nos considerarmos satisfeitos e tranquilos quanto ao futuro, tantas e tão grandes são as nossas esperanças e as nossas necessidades, lá em cima no Alto Minho.
Mas temos também a consciência de que é tão gritante a justiça que em muitos casos nos assiste e tão evidentes as nossas potencialidades que o seu simples conhecimento facilmente poderá conduzir a solução daqueles e ao melhor aproveitamento destas.
Haja em vista, por exemplo, o caso do turismo, que há dias foi objecto de utilíssimo colóquio regional, com a presença interessada e útil do mais alto responsável sector.
Durante a campanha eleitoral afirmaram os candidatos que o povo trouxe à Assembleia ser sua intenção pugnar pela defesa e valorização do turismo minhoto, chamando para ele a atenção de nacionais e estrangeiros em ordem à abertura no Alto Minho de uma segunda frente do turismo nacional.
Alguns foram os que sorriam perante essa pretensão, que outros, simplesmente, consideraram utópica.
Perante uns e outros importa esclarecer que ao falar de tal jeito não tínhamos em mente nenhum espírito de competição com qualquer região, desejando apenas traduzir a convicção de que pelo seu valor, o turismo minhoto pudera ser um importante factor de valorização do turismo nacional, enriquecendo-o com as virtualidades da sua natureza impar e todo o potencial histórico e sociológico do seu passado e da sua gente, com características que talvez em nenhuma outra parte do território nacional se possam encontrar e que de tão certo agrado são para nacionais e estrangeiros que nos visitam.
Revertendo ao colóquio acima referido, grande foi satisfação que a todos causou o esforço que a própria região está a fazer no sentido da sua autovalorização, expressa em iniciativas particulares do maior interesse, quer no domínio da prospecção dos valores; turísticos locais, no da inventariação das suas belezas e potencialidades, no da valorização do seu património histórico, no do aproveitamento rio seu manancial folclórico, no da comercialização e aperfeiçoamento do seu artesanato, ou no da instalação das necessárias infra-estruturas hoteleiras.
Tudo está em que tal esforço e entusiasmo se não percam, estiolando à míngua de apoio e compreensão, que muitos vezes nem sequer exigem para seu alimento capitais avultados ou concessões excessivas, moa apenas boa vontade e isenção de julgamento.
E como num filme de policromia a moda do Minho, pelo nosso espírito perpassam algumas das iniciativas expostas, que, pelo seu significado nacional, não fica mal trazer também ao conhecimento desta Casa:
1) O aproveitamento para estalagens e pousadas de alguns dos palácios e casas solarengas em que o Minho é tão rico, criando assim uma rede hoteleira da maior beleza o valor cultural, ao mesmo tempo que assegurada fica a conservação de tão valioso património artístico, de outro modo condenado no abandono.
E quem, por este simples apontamento, não fica desde logo a sonhar com o circuito turístico da Ribeira-Lima, do vale do Vez ou da corda costeira de Viana a Melgaço passando por Caminha, Cerveira, Valença e Monção?!
Não basta, porém, sonhar. É necessário que o sonho se converta em realidade, para o que afinal bem pouco é preciso: algum apoio financeiro, algum incentivo fiscal. imaginação e um pouco de arrojo, o que tudo talvez se pudesse reunir na iniciativa de constituição de uma sociedade de economia mista a quem fosse confiada tão aliciante tarefa de aproveitamento turístico regional, onde a iniciativa individual não pudesse chegar.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - No que, de resto, mais não faríamos do que seguir frutuosos exemplos de iniciativas estrangeiras de intenção paralela, como na Sabóia Francesa e na serra Nevada, em Espanha.
2) A valorização do artesanato, tanto no seu aspecto comercial (apresentação, amostragem, garantia de qualidade) como no aspecto industrial (aperfeiçoamento, difusão, etc.), foi outra das aspirações defendidas, com fundamento justificado de uma riqueza ímpar na qualidade e variedade: a cerâmica, os bordados, a tecelagem, os trabalhos de madeira e metal e tantos outros produtos que a inventiva da gente do Alinho sabe criar em competição com as belezas naturais que lhe servem de berço. ambiente e sudário.
Aqui o sonho é já hoje uma realidade que importa, no entanto, aumentar ainda mais, convertendo-a em riqueza capaz de preencher na economia regional o lugar de outras riquezas que o tempo e n técnica foram deteriorando e dispersando. E quem sabe se no artesanato estará também um dos mais fortes esteios para reter na terra a gente válida que além-fronteiras procura melhores condições de trabalho e de vida.
Grande e significativa esperança, por isso, nas ficou na promessa que o ilustre Secretário de Estado da Informação e Turismo fez da próxima criação em Viana de um centro regional de artesanato, a que não faltará o apoio financeiro e técnico daquela Secretaria.
3) A regulamentação e melhor exploração das possibilidades piscatórias e cinegéticas de águas naturais da costa interior, bem como dos montados e florestas, é outra perspectiva que ao turismo regional e nacional se abre com francos horizontes e largas possibilidades ainda não inteiramente conhecidas e aproveitadas, na sequência também de uma tradição de abundância e variedade que vem de longe. Quem não conhece o salmão e a lampreia do Minho, o sável do Lima, as trutas do C ou rã e do Âncora, ou os cabritos da serra de Arga e as perdizes do Suajo.
E também grandes esperanças se depositam na técnica moderna de exploração coutada, tão do agrado dos turistas de estação ou de especialidade.
4) A valorização desportiva dos recursos naturais de rio e mar e da natural propensão e vigor físico da juventude é outra obrigação que o melhor aproveitamento das possibilidades locais a todos impõe, não apenas para fins turísticos, mas também, e sobretudo, com os olhos postos 110 fortalecimento e vigor da raça. Assim o esperamos todos, recordados ainda de grandezas e belezas passadas, quando o grandioso estuário do Lima era cenário das maiores competições desportivas nacionais de vela, remo e notação e no Minho se treinava a gloriosa equipa do Caminhense. Eu próprio, na minha juventude, nadei, reinei e velejei nas águas do Lima e a mim próprio pergunto por que se despovoaram essas águas e a quem cabe a responsabilidade desse abandono, já que a juventude continua a ser a mesma, na virilidade e na dignidade com que aceita o esforço físico. Que o digam os nossos soldados, que em Angola se batem pela integridade da Nação e no resto do ultramar defendem a integridade da Pátria.
5) Ventilada foi também, na reunião a que nos estamos a reportar, a necessidade de abrir novas vias de acesso ao conhecimento das riquezas locais, quer melhorando a rede rodoviária interior, quer dotando a região com um novo aeroporto (que pelo ar chega o melhor turismo), quer valorizando os portos e as vias fluviais, quer, finalmente, abrindo novas portas à penetração fronteiriça de divisas e estrangeiros.
Sabemos que também aqui, não obstante o muito que ainda importa fazer, muito já se fez e está actualmente em curso.
E a valorização do porto de Viana, em que cão empenhado se encontra o Ministério dos Obras Públicas, como ressalta da recente viagem ao Minho feita pelo seu ilustre titular; é a regularização do leito do rio Lima. cujo estudo se encontra em adiantado estado de preparação: é a melhoria constante da rede de estradas, designadamente nos perímetros florestais; é a construção do aeroporto de Viana, em que se encontra empenhada a Direcção-Geral da Aeronáutica Civil.
O Sr. Júlio Evangelista: - V. Ex.ª dá-me licença?
O Orador: - Com todo o gosto!
O Sr. Júlio Evangelista: - Não queria perder esta oportunidade na sequência das considerações de V. Ex.ª de deixar expresso no Diário das Sessões um particular sublinhado. Trata-se de uma palavra da mais sentida homenagem e do maior respeito para S. Ex.ª o Ministro das Obras Públicas e das Comunicações, engenheiro Rui Sanches, que eu sei. e V. Ex.ª sabe, como todos os Deputados pelo círculo sabem, que neste momento vive com o mais intenso interesse, com o mais particular desejo de resolver, os graves problemas do nosso distrito que afectam os dois Ministérios que lhe estão confiados, designadamente as Comunicações e as Obras Públicas.
O Sr Baptista da Silva: - Muito bem!
O Sr Júlio Evangelista: - E nesse aspecto, e nesse interesse de S. Ex.ª o Ministro das Obras Públicas, quero salientar aquele que respeita, como V. Ex.ª disse, ao porto de Viana do Castelo, que é um problema vital e fundamental de todo o Alto Minho.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Júlio Evangelista: - Aquele que respeita às rodovias do nosso distrito, designadamente de Valença para Melgaço, que precisam necessitadamente de uma revisão e de um arranjo; e ainda ao Hospital de Viana do Castelo e u ampliação do pavilhão cirúrgico.
O Sr. António de Lacerda: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Júlio Evangelista: - Não queria que no Diário das Sessões deixasse de ficar esta palavra que V. Ex.ª já disse, mas que em nome de todos os Srs. Deputados pelo círculo merece o engenheiro Bui Sanches.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Júlio Evangelista: - Não só pelo que fez e faz pelo distrito, pela altíssima categoria com que se tem revelado nos Ministérios que lhe têm sido confiados e que dele nos dão a imagem de um verdadeiro, de um real, de um grande estadista.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado. Associo-me inteiramente às suas palavras, que uma vez mais vieram enriquecer a minha intervenção.
Importa, no entanto, prosseguir, por vezes com pequenos obras ou iniciativas que localmente têm, no entanto, o maior interesse, como a reconstrução do pontão sobre o rio Âncora, de que depende em grande porte o futuro da praia (cujo projecto sabemos estar muito adiantado), a eventual construção de uma nova ponte sobre o Minho a montante de Valença e, principalmente, a abertura de novos postos fronteiriços que possam dar escoamento natural ao turismo e comércio de vizinhança, como é designadamente, o caso do Lindoso, grande aspiração dos concelhos de .Ponte da Barca e de Arcos de Valdevez, bem como das regiões limítrofes de Espanha.
6) E que dizer do hábil aproveitamento da riqueza folclórica da região, com suas romarias e cantores, seus trajes e costumes, talvez únicos no Mundo pela sua alacridade e beleza?
Com que encantamento não acorrerão todos quantos dessa riqueza tenham conhecimento através de uma bem organizada propaganda, uma conveniente programação de festivais e ciclos festivos baseados nas romarias em que tão animado é o Minho durante quase todo o ano!...
Que o diga o êxito com que sempre se repete a festa do traje na romaria maior de Viana, o festival da Meadela ou as feiras novas de Ponte de Lima. E que o diga também a propaganda de Portugal que a toda a parte tem levado o Rancho de Santa Marta de Portuzelo.
7) Seja-me consentida, por último, uma alusão, embora rápida, ao valor turístico da magnífica e variada gastronomia do Alto Minho, com as suas especialidades e os seus aliciantes vinhos, desde o verde tinto encorpado de Feire até ao leve, pálido e aristocrático Alvarinho de Monção.
Nas cozinhas sofisticadas e snobs da época actual, a suculenta e requintada culinária minhota não deixará de constituir justificado motivo de atracção para nacionais e estrangeiros, que, assim, recompostos dos incómodos da viagem, melhor poderão ainda apreciar tis belezas naturais e as subtilezas do espírito da boa gente nortenha.
Mas também, para isso, cuidado processo de actuação se impõe, evitando improvisações, abusos e falsos comercializações.
Outro aspecto este, onde a larga experiência da Secretaria de Estado da Informação e Turismo poderá desempenhar papel de grande relevo, que todos aceitaremos auspiciosamente, como, de resto, nos foi prometido através da deslocação ao Alto Minho de um grupo especializado de técnicos que connosco estudem o melhor aproveitamento dias possibilidades turísticas locais.
Ficamos à espera, Sr. Secretário de Estado da Informação e Turismo.
Mas o Alto Minho não bem apenas turismo para oferecer. As suas potencialidades económico-sociais são mais vastas, embora algumas delas menos conhecidas ou aproveitadas.
Assim, entendemos que um melhor futuro se pode dor a região em todos os demais sectores da actividade económica, quer se trate da agricultura, da indústria ou dos serviços.
Sem levar muito longe esta apreciação que reservaremos para melhor oportunidade, somas, por exemplo, dos que protestam contra o conceito de crise em que a cultura minhota se deixou cair. Aceitamos que muitas culturas actuais não serão as mais indicadas, nem métodos usados os mais apropriados, mas nada nos pugna reconhecer que essa crise possa ser e deva ser de lada com uma válida reorganização e uma mais ampla difusão de novas técnicas.
Daí o apelo que fazemos aos departamentos agrar, para que atentem na situação e procurem ensinar o lavrador minhoto quanto ao modo como poderá vencer crise em que se debate, como aproveitar os terrenos q a falta de mão-de-obra leva a abandonar, como cultivar que ainda ficam ao seu alcance e a que produtos e qua findes deve recorrer, nos cereais, na vinha, na pecuária e nas frutas.
Vale a pena esse esforço, pois não conhecemos trabalhador mais sacrificado, nem mais capaz de aprender pagar com juros os ensinamentos recebidos. E que tua isso se faça rapidamente, antes que seja tarde de mais. ...
Também na indústria há que prosseguir no esforço j encetado, procurando levar para a região novas unidade que nela encontrem ambiente satisfatório.
Que aos estaleiros de Viana, às cerâmicas, às serrações e à celulose outras indústrias venham em breve juntar-se para o que importa lhes sejam concedidas as necessárias facilidades que melhor assegurem a sua rentabilidade. Tenha-se em vista, além do mais, a óptima qualidade de versatilidade do trabalhador minhoto, de que afinal outros países têm aproveitado mais do que nós, conhecida, como é. A tendência desse trabalhador para emigrar.
Sei que não basta desejar para realizar, mas não ignoro também a capacidade que a moderna técnica da programação regional possui em ordem ao desenvolvimento harmónico e equilibrado de todo o território nacional, ainda que para tanto haja que recorrer a incentivos fiscais, à constituição de sociedades de economia mista, à protecção regional de actividades, à melhoria das comunicações e transportes, às facilidades de comercialização, etc.
O Alto Minho espera e confia, predispondo-se mesmo, nalguns casos, a correr todos os riscos, desde que para as suas iniciativas encontre compreensão e apoio.
Meus Senhores: Apenas das actividades económicas falei, porque continuo fiel ao principio de que no progresso da economia está a base do bem-estar social dos povos.
Oportunamente falarei de política social, de política cultural, da habitação e dos mais aspectos que importam à vida colectiva da população minhota. Mas perante VV. Ex.ªs deixarei o quadro álacre da nossa perspectiva. Convidamo-los u visitarem-nos; porque, se o vosso interesse se juntar ao nosso, teremos conseguido o resultado que desejaremos.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
Sob o título “Uma tourada de amadores em Vianna do Castelo”, a revista Ilustração Portugueza, de 19 de outubro de 1908 publicou um conjunto de três fotografias que a seguir de reproduzem com as respetivas legendas.
As cortezias
Um aspecto da praça
O cavalleiro Aleixo Feijó offerecendo uma sorte
Perto de quatro centenas de raparigas vianenses desfilaram em Viana do Castelo por ocasião da Romaria da Senhora d’Agonia. Vieram de quase todas as freguesias do Concelho e trouxeram consigo as joias de família, fazendo do cortejo uma verdadeira mostra da rica ourivesaria minhota. A cidade engalanou-se para ver passar as suas moças, jovens e belas, no seu trajar garrido de lavradeira. É o Minho em todo o seu esplendor!
Fotos: António de Almeida Duarte, em http://www.facebook.com/PhoenixOcean
Havemos de ir a Viana
Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta.
Pedro Homem de Mello
Eu sou de Viana cidade.
Eu sou de Viana que é vila.
Sou de Viana e sou da aldeia
Sou do monte e sou do mar.
A minha terra é Viana!
Quem diz Viana, diz Cerveira,
— Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar!
Dancei a Gota em Carreço,
O Verde Gaio em Afife
(Dancei-o devagarinho
Como a lai manda bailar!)
Dancei em Vile a Tirana
E dancei em todo o Minho
E quem diz Minho, diz Viana
Pedro Homem de Mello
Situada perto de Caldas do Gerês, na freguesia de Vilar da Veiga, em Terras de Bouro, a Cascata de Leonte é uma queda de água que se forma a partir de uma alta penedia, sendo as suas águas provenientes do rio Homem. Uma vez despenhadas as águas, a cascata forma uma lagoa que constitui um dos locais aprazíveis mais procurados na região do Gerês, com acesso assinalado pela Portela do Homem.
Fonte: http://www.trivago.pt/
Cascata de Leonte, nas Caldas do Gerês, na freguesia de Vilar da Veiga, no Concelho de Terras de Bouro, segundo uma gravura publicada na edição de 5 de julho de 1917 da “Revista de Turismo”
D. Anacleto Oliveira destaca importância da religiosidade popular na fé e na cultura
O bispo de Viana do Castelo enalteceu o esforço dedicado à preparação das festas de Nossa Senhora da Agonia, iniciadas esta sexta-feira e que hoje terminam na cidade minhota.
“Cresce a admiração que tenho não só pela romaria em si como pelo empenho com que as pessoas se entregam à realização destas festas, nomeadamente as mais ligadas à Confraria da Senhora da Agonia”, afirmou D. Anacleto Oliveira ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), em declarações publicadas este domingo.
O prelado considera que “a religiosidade popular, que tem nas romarias uma manifestação privilegiada, é qualquer coisa de muito profundo e que impressiona, motivada por razões de ordem humanas e culturais – no fundo, existenciais”.
“Vem gente de todo o mundo. É impressionante a multidão de pessoas que encontramos aqui, mesmo nestes tempos de crise”, disse, a respeito das festas da Senhora da Agonia, frisando que “a relação profunda com Deus faz parte da identidade desta gente, mesmo que não tenha formação cristã muito forte”.
D. Anacleto Oliveira, presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, defende que “não há oposição” entre as celebrações oficiais católicas e a piedade popular: “Pelo contrário, é nestas que encontramos um terreno fértil para que as propostas da Igreja sejam acolhidas e vividas”.
Após a missa que se inicia hoje às 14h30, o bispo de Viana do Castelo vai presidir também à procissão marítima protagonizada pelos pescadores, numa cidade onde o feminino impõe a sua força: “Notamos com mais intensidade a presença das senhoras nas festas, embora os homens tenham todo o gosto de transportar a imagem de Nossa Senhora da Agonia ou outras”.
O responsável salienta que é nas “expressões culturais que reside a busca da vida”: “É do mais humano que encontramos, e é nesta raiz humana que se deve lançar o Evangelho”.
"Há um ano publiquei a minha primeira Carta Pastoral, que incide sobre as expressões humanas e culturais. Tentaremos no futuro, nomeadamente no próximo Ano da Fé [outubro de 2012 a novembro de 2013] construir um conjunto de atividades que se enquadre nessa perspetiva", adiantou.
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/