Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
A imagem mostra um grupo de zés-pereiras preparando-se para a festa, em Viana do Castelo.
Fonte: OLIVEIRA, Ernesto Veiga de. Instrumentos Musicais Populares Portugueses. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. 1966
Carlos Gomes
in jornal "NOVO PANORAMA", nº. 74, de 26 de julho de 2012
O Ministério da Educação vai mandar encerrar 239 escolas do primeiro ciclo do ensino básico. Nos distritos de Braga e Viana do Castelo são 35 as que fecham as suas portas, 5 das quais em Ponte de Lima. De acordo com o comunicado emitido pelo Ministério da Educação, “em todos os casos, estes encerramentos decorrem em articulação com as respetivas autarquias, atendendo à melhoria da qualidade do ensino”. Um argumento que, surpreendentemente, em nada difere da que o anterior governo utilizou para o mesmo efeito.
Por detrás da cortina de palavras com que pretender iludir as pessoas encontra-se na realidade um novo modelo social que está paulatinamente a ser instalado e que, desprezando os valores da solidariedade que permite a coesão nacional, impõe o perigoso princípio do “utilizador-pagador”. Trata-se precisamente da mesma norma que levou ao estabelecimento de portagens na A28 e em muitas estradas nas regiões do interior do país.
Sucede que, convertendo o ensino numa mercadoria apenas sujeita às leis do mercado, tal como se pretende com a saúde e outras áreas até agora tidas como serviço público, apenas as classes mais favorecidas passarão a ter acesso ao ensino, regressando os tempos da ignorância e do analfabetismo que ao tempo da I República ultrapassava os noventa por cento da população. Muitas das escolas que agora são encerradas foram construídas pelo Estado Novo por ocasião das comemorações dos centenários, algumas das quais ficam posteriormente votadas ao abandono sem qualquer tipo de utilização. Parafraseando uma antiga ministra das finanças, quem quer ensino paga-o!
Em vez de contrariar a tendência para o despovoamento das regiões do interior, implementam-se políticas que visam acelerar ainda mais o abandono do país e sobretudo das zonas rurais. Encerram-se escolas, hospitais, centros de saúde, fábricas e também as juntas de freguesia. O governo escorraça os portugueses do seu próprio país mandando-os emigrar. Também o Concelho de Ponte de Lima não escapa a essa sanha destruidora que está a transformar o nosso país num verdadeiro deserto. Mas a Autarquia Local – eleita e mandatada pelos próprios munícipes – não toma a defesa dos interesses do Concelho de Ponte de Lima porque no atual regime político a obediência partidária sobrepõe-se aos interesses nacionais. O queijo limiano ainda não fez esquecer o que acontece a quem não se submete aos ditames da partidocracia!
DREN | Ponte de Lima | EB1 de Rio Velho, Ponte de Lima |
DREN | Ponte de Lima | EB1 de Cárcua, Ponte de Lima |
DREN | Ponte de Lima | EB1 de Outeiro, Ponte de Lima |
DREN | Ponte de Lima | EB1 de Igreja Nova, Santa Comba, Ponte de Lima |
DREN | Ponte de Lima | EB1 de São Pedro, Ponte de Lima |
Rua Agostinho José Taveira * 4990-072 Ponte de Lima * http://novopanorama.pontedelima.com
Um pouco por todo o país e ainda além-fronteiras, persistem nas tradições populares representações teatrais cujas origens remontam à Idade Média e versam a história lendária do imperador Carlos Magno e a temática das guerras entre cristãos e sarracenos, estes geralmente identificados como turcos em virtude da sua dominação se ter estendido a zona oriental do mar Mediterrâneo.
É célebre a representação do “Auto de Floripes” que ocorre no mês de Agosto, em Mujães, no concelho de Viana do Castelo. A acção decorre entre o adro da igreja paroquial de onde sai o cortejo até à Capela da Senhora das Neves, na confluência com as freguesias de Barroselas e Vila de Punhe. Ainda, no concelho de Viana do Castelo, na localidade de Portela Suzã esta representação toma a designação de “Auto de Santo António”.
Em S. João da Ribeira, no concelho de Ponte de Lima, a peça toma a designação de “Auto da Turquia” e tem lugar de Crasto, por ocasião da Festa do Senhor da Cruz da Pedra que se realiza no segundo domingo de Agosto. Aqui defrontam-se dois exércitos, ostentando as bandeiras onde se inscrevem as respectivas insígnias – a cruz da Cristandade e a Lua Minguante com a Estrela que identifica os muçulmanos – e integrando doze personagens cada, incluindo o rei, o porta-bandeira, o capitão e um espião. Os cristãos saem sempre vitoriosos e o auto termina com a rendição inevitável dos turcos e a sua conversão ao Cristianismo.
Com ligeiras alterações e diferentes designações, encontramos ainda a representação do “Auto da Floripes” em Palme, no concelho de Barcelos e “Baile dos Turcos”, em Penafiel. Em Argozelo, no concelho de Vimioso, é designado por “Auto da Floripes”ou ainda “Comédia dos doze pares de França”. Em Parada, no concelho de Bragança, chamam-lhe “Auto dos Sete Infantes de Lara”. Em Sobrado, no concelho de Valongo, designa-se por “Dança dos Bugios e Mourisqueiros” enquanto em Vale Formoso, na Covilhã, toma o nome “Descoberta da Moura”. Também é representada no concelho de A Canhiza, na Galiza, com o nome “Auto do Mouro e do Cristão”.
Em Pechão, no concelho de Olhão, o auto “Combate de Mouros e Portugueses” serviu de argumento a uma longa-metragem do realizador Miguel Mendes que, num misto de ficção e documentário, procura retratar o sofrimento da comunidade piscatória daquela vila algarvia.
À semelhança do que sucede com outros elementos da nossa cultura, também o “Auto das Floripes” foi pelos portugueses levado para paragens distantes onde sofreu naturalmente algumas mutações e é actualmente representado com o consequente carácter híbrido resultante do encontro de culturas. É o que sucede em São Tomé e Príncipe, com a representação de “A Tragédia do Marquês de Mântua e do Príncipe D. Carlos Magno”, também designado por “São Lourenço” por ocorrer no dia dedicado a este santo. Este auto toma no dialecto são-tomense a designação de “Tchiloli”.
A autoria da peça, na forma como é interpretada, é atribuída ao poeta Balthasar Dias, originário da Ilha da Madeira, devendo ter sido introduzida em São Tomé e Príncipe nos finais do século XVI pelos portugueses que aí foram plantar a cana-de-açúcar. Os colonos, constituídos na sua maioria por madeirenses, começaram por integrar nas suas representações os escravos negros provenientes do Congo, Gabão e Camarões, os quais foram gradualmente introduzindo elementos da sua cultura original.
O “Tchiloli” tornou-se já numa das mais importantes atracções turísticas da Ilha do Príncipe com larga projecção internacional. Serviu de argumento ao filme “Floripes” de Afonso Alves e Teresa Perdigão e tema do livro “Floripes Negra, de Augusto Baptista, no qual o autor procura demonstrar as suas origens portuguesas.
A alusão ao imperador Carlos Magno relaciona-se naturalmente com o facto daquele imperador ter procedido à conversão forçada ao cristianismo dos povos que conquistou, objectivo que, curiosamente, jamais logrou alcançar na Península Ibérica. Outra particularidade consiste na escolha do dia dedicado a São Lourenço de Huesca para a sua representação, cuja festa litúrgica ocorre a 10 de Agosto.
Em várias localidades, a representação destes autos têm-se verificado de forma cada vez menos regular e, nalguns casos, correm inclusive o risco de passar ao esquecimento. As peças são quase sempre preservadas apenas pela tradição oral. E, apesar de poderem constituir um meio de atrair visitantes e promover as potencialidades culturais das regiões, a maioria dos municípios e entidades culturais não procede à sua divulgação. Trata-se de uma situação que pode e deve ser invertida mediante a intervenção dos grupos de teatro e outras associações que procuram preservar a cultura tradicional.
GOMES, Carlos. In http://www.folclore-online.com/index.html
Representação do Auto de Floripes em São Tomé e Príncipe.