A Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural (ASPA) tem vindo a destacar-se na defesa do património da nossa região, mormente no que respeita à cidade romana de Bracara Augusta, a reintegração do Mosteiro de Tibães no património nacional e a classificação e salvaguarda do Complexo das Setes Fontes, em Braga.
Pela sua própria natureza, os ranchos folclóricos desempenham uma importante missão de salvaguarda dos mais variados registos que dizem respeito à nossa cultura tradicional. Não se inserindo já no domínio da etnografia de salvaguarda, eles cumprem a função de um museu vivo através do qual se procura preservar a memória e a identidade cultural do povo. Neste domínio, os grupos etnográficos, vulgo ranchos folclóricos, não devem limitar-se a serem meros grupos de danças e cantares envergando uma farpela colorida e atraente.
Atuando no domínio da etnografia, a ação dos grupos folclóricos não se confunde porém com a ação do etnólogo nem tão pouco do antropólogo. De resto, há muito tempo que o trabalho de recolha deixou de ser feito diretamente no terreno junto das pessoas mais idosas porque estas já não viveram a época que constitui o nosso objeto de estudo. As fontes de pesquisa passaram a centrar-se noutras fontes documentais, mormente nas peças de vestuário, na fotografia e na literatura, constituindo os arquivos e os museus da especialidade autênticos lugares de memória.
O estudo, porém, deve ser criterioso e não limitar-se a uma mera cópia do trabalho feito por grupos mais antigos por mais prestigiados que eles sejam. A análise dos costumes deve observar a evolução histórica dos costumes e das mentalidades, dos materiais e da própria sociedade. A exibição de botões e outros assessórios em plástico constitui um anacronismo quando se pretende representar um traje dos finais do século XIX uma vez que se trata de um material que apenas surgiu em meados do século XX. Da mesma forma que não fará o menor sentido uma peça de vestuário cujo corte não permitia cumprir a função para a qual foi criada porque entretanto alguém resolveu introduzir-lhe um efeito decorativo.
Os ranchos folclóricos destinam-se também a proporcionar um espetáculo a quem assiste à sua atuação, constituindo esta uma das suas principais vertentes. Mas, sem pretender desvalorizar esta função diminuindo a qualidade da sua representação, esta jamais deve sacrificar a verdade e o rigor etnográfico sob pena de se descaraterizar enquanto rancho folclórico e prestar um mau serviço à cultura tradicional. A preocupação em agradar ao público não deve levar à invenção de novas coreografias, à alteração dos ritmos das danças e à modificação dos trajes.
Mais recentemente, a fim de despertarem o interesse do público, alguns ranchos folclóricos passaram a incluir nas suas atuações a representação de rábulas, vulgo quadros etnográficos, intercalando com a exibição das danças e cantares. Trata-se de representações teatrais que ajudam o espetador a melhor compreender a razão de ser de algumas danças tradicionais. De resto, constitui uma feliz combinação de teatro, dança e canto. Sucede, porém, que muitas das vezes tais representações pecam pela sua evidente falta de qualidade e até pela ligeireza dos temas escolhidos. Na ânsia de dar nas vistas, alguns grupos não se inibem em representar as cenas mais grotescas, dando uma péssima imagem de si mesmos. Porém, o mais grave é que tal mania tem vindo a propagar-se de uma forma tão avassaladora e imaginativa que ameaça ridicularizar toda e qualquer representação de folclore!
“A Flora do Alto Minho – Suas Aplicações na Medicina e Gastronomia Locais” é o título de um interessante livro da autoria do Dr. João Gonçalves da Costa, editado em 1995 pela Casa do Concelho de Ponte de Lima.
Trata-se da publicação do teor de um conferência então realizada naquela associação na qual o autor explanou acerca das virtualidades das mais diversas espécies vegetais, referindo as suas propriedades farmacológicas e as suas virtudes na cozinha tradicional.
A preservação do conhecimento relacionado com as espécies botânicas constitui uma das componentes da defesa da nossa etnografia e das vertentes da culinária e da medicina tradicional, constituindo um património de valor incalculável de necessita de ser preservado.