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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

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VILA VERDE: SÍMBOLOS DA PÁSCOA CHEGAM À RECICLAGEM CRIATIVA

Designer Sílvia Abreu promove um Workshop de reciclagem criativa com o tema “Símbolos da Páscoa”. Com o apoio do município de Vila Verde, será realizado no dia 31 de Março (sábado, das 10H às 12H), na Biblioteca Municipal de Vila Verde.

Está a chegar o domingo de ramos, para muitos afilhados é tradição a oferta de um ramo ou uma prenda aos padrinhos, em especial à madrinha. Assim neste workshop os participantes vão ter oportunidade de desenvolver os seus símbolos da páscoa e as suas prendas, com material reciclável, que a torna-a única. Quando pensámos na páscoa, imaginámos logo as amêndoas, os chocolates. Porque não personalizar uma oferta com os doces típicos da páscoa!“ E, ainda estamos a oferecer à natureza uma prenda, a reciclagem dos nossos desperdícios!”, diz Sílvia Abreu.

Nestes workshops  Sílvia Abreu concebe vários objetos construídos com matérias recicláveis e relacionados com a temática em causa. Assim os participantes têm oportunidade de construir outras peças em suas casas, dando largas à sua imaginação e criatividade que são potenciadas durante estas sessões de puro divertimento criativo.

“Cada vez mais acredito que a reciclagem é um dever e obrigação da sociedade para que tenhamos direito a um futuro mais verde, como o nome do nosso concelho pretende afirmar!” diz Sílvia Abreu.

Ainda estão abertas as inscrições no workshop. Ver em http://workshopreciclagemcriativa.blogspot.com/

Próximos workshops:

5 de Maio - "Workshop Reciclagem Criativa” com o tema (Amor de Mãe);

2 de Junho - "Workshop Reciclagem Criativa” com o tema (Brinquedos de Criança)

Designer Sílvia Abreu: www.silviaabreu.com

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ESCRITOR JOÃO TORDO VEM A PONTE DE LIMA PARA FALAR DOS SEUS LIVROS E DAR AUTÓGRAFOS

O escritor João Tordo vai estar presente na Biblioteca Municipal de Ponte de Lima para falar dos seus livros, entre os quais “As três vidas” que lhe valeu a atribuição em 2009 do Prémio José Saramago. A sessão decorrerá no próximo dia 31 de março, pelas 11 horas, aguardando-se uma elevada participação do público ponte-limense.

João Tordo nasceu em Lisboa, em 1975. Formou-se em Filosofia e estudou Jornalismo e Escrita Criativa em Londres e em Nova Iorque. Trabalha como guionista, tradutor, cronista e formador em workshops de ficção.

Escreveu, em parceria, o guião para a longa-metragem Amália, a Voz do Povo (2008). Foi vencedor do prémio Jovens Criadores em 2001.

Publicou os romances, O Livro dos Homens Sem Luz (2004), Hotel Memória (2007) e As Três Vidas (2008), tendo conquistado com este último o Prémio José Saramago 2009, da Fundação Círculo de Leitores, para o melhor romance em língua portuguesa escrito por um autor com menos de 35 anos.

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Acerca do livro “As três vidas” (sinopse oficial):

Quem é António Augusto Millhouse Pascal? Que segredos rodeiam a vida deste homem de idade, que se esconde do mundo num casarão de província, acompanhado de três netos insolentes, um jardineiro soturno e uma lista de clientes tão abastados e vividos, como perigosos e loucos? São estes os mistérios que o narrador, um rapaz de uma família modesta, vai procurar desvendar não podendo adivinhar que o emprego que lhe é oferecido por Millhouse Pascal se irá transformar numa obsessão que acabará por consumir a sua própria vida.

Passando pelo Alentejo, por Lisboa e por Nova Iorque, em plenos anos oitenta - época de todas as ganâncias - desvendando o passado turbulento do seu patrão - na Guerra Civil Espanhola e na Segunda Guerra Mundial -, As Três Vidas é uma viagem de autodescoberta através do “outro”.

Cruzando a história sangrenta do século XX com a história destas personagens, este romance é também sobre a paixão do narrador por Camila, a neta mais velha de Millhouse Pascal e sobre a procura pelo destino secreto que a aguarda; que estará, tal como o do seu avô, inexoravelmente ligado ao destino de um mundo que ameaça, a qualquer momento, resvalar da estreita corda bamba sobre a qual se sustém.

Acerca do livro “O Bom Inverno” (sinopse oficial)

Quando o narrador, um escritor prematuramente frustrado e hipocondríaco, viaja até Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Coxo, portador de uma bengala, e planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer Vincenzo Gentile, um escritor italiano mais jovem, mais enérgico, e muito pouco sensato, que o convence a ir da Hungria até Itália, onde um famoso produtor de cinema tem uma casa de província no meio de um bosque, escondida de olhares curiosos, e onde passa a temporada de Verão à qual chama, enigmaticamente, de O Bom Inverno. O produtor, Don Metzger, tem duas obsessões: cinema e balões de ar quente. Entre personagens inusitadas, estranhos acontecimentos, e um corpo que o atraiçoa constantemente, o narrador apercebe-se que em casa de Metzger as coisas não são bem o que parecem. Depois de uma noite agitada, aquilo que podia parecer uma comédia transforma-se em tragédia: Metzger é encontrado morto no seu próprio lago. Porém, cada um dos doze presentes tem uma versão diferente dos acontecimentos. Andrés Bosco, um catalão enorme e ameaçador, que constrói os balões de ar quente de Metzger, toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e isola os presentes na casa do bosque. Assustadas, frágeis, e egoístas, as personagens começam a desabar, atraiçoando-se e acusando-se mutuamente, sob a influência do carismático e perigoso Bosco, que desaparece para o interior do bosque, dando início a um cerco. E, um a um, os protagonistas vão ser confrontados com os seus piores medos, num pesadelo assassino que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história.

MINHOTOS DIVULGAM CÃO DE CASTRO LABOREIRO

Na área montanhosa limitada pelos rios Minho e Lima e as agrestes penedias das serras do Soajo e da Peneda situa-se a região do Castro Laboreiro, no Concelho de Melgaço, atingindo alguns pontos quase mil e quinhentos metros de altitude. Aqui, o cão de Castro Laboreiro tem o seu solar, guardando os rebanhos comunitários na pastagem de transumância de curta distância que ainda ali se verifica.

Considerada uma das raças caninas mais antigas da Península Ibérica, o cão de Castro Laboreiro é dócil e sociável com os animais de outras raças, afetuoso com as crianças e dedicado ao dono, sendo um excelente cão de guarda e de companhia.

Quando pretender um animal de estimação, sugerimos que pense prioritariamente em escolher um exemplar de uma raça portuguesa e, porque não, um cão de Castro Laboreiro!

CACHORROS

Fotos: http://evasilva.tripod.com/

SECRETÁRIO DE ESTADO DAS FLORESTAS INAUGURA LOJA RURAL EM PAREDES DE COURA

O Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Engº Daniel Campelo, vai presidir à cerimónia de inauguração da Loja Rural de Paredes de Coura, no próximo dia 31 de março, pelas 10 horas, no Largo Visconde de Mozelos.

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Situada no coração da vila, junto ao edifício da edilidade, a infraestrutura autárquica de apoio à promoção e dinamização do mundo rural courense alberga a Loja de Turismo, um espaço expositivo para venda e prova de produtos locais, e a Casa do Conhecimento, onde atualmente está a decorrer um mestrado em tecnologia educativa.

Fruto de uma candidatura ao PRODER, que financiou as obras de readaptação do imóvel onde durante vários anos funcionou a Biblioteca, a Loja Rural visa promover o desenvolvimento sustentável do concelho, estimular a economia local, e valorizar os recursos endógenos, em setores que vão desde a agricultura, à gastronomia, passando pelo turismo.

Entre outras ações, propõe-se estudar e avaliar futuras iniciativas nas zonas rurais, no âmbito da instalação e recuperação de atividades produtivas, bem como projetos que reforcem a viabilidade socioeconómica concelhia, contribuindo, desse modo, para a criação de emprego.

A inauguração do referido equipamento inscreve-se na estratégia prosseguida pela Câmara Municipal de Paredes de Coura de preservação da beleza paisagista do município e respetiva promoção da qualidade ambiental, fatores que valorizam e enriquecem os produtos locais.

O TRAJE MASCULINO NO ALTO MINHO

Desde os primórdios da humanidade, a função primordial do vestuário consistiu em agasalhar. Porém, para além do conforto que proporcionava, o Homem sentiu ainda a necessidade de se cobrir e criar a sua intimidade, à semelhança de Adão e Eva ao tomarem a consciência da sua própria nudez. Entretanto, à medida que a sociedade foi evoluindo e o ser humano tornando-se sedentário, adaptou a sua maneira de vestir às diferentes exigências do trabalho e do clima. Para além disso, passou a também a utilizá-lo como meio de comunicação, através dele exprimindo diferentes estados da alma, mormente alegria ou tristeza, festa ou luto, paz ou revolta. E, quando era chamado a combater, engalanava-se com as suas melhores vestes para, de forma cerimonial, se entregar à morte ou a glória.

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Nesta imagem que apresenta um traje do Baixo Minho, o casaco exibe ferragens e o colete botões de metal. O rapaz apresenta o chapéu braguês.

A natureza utilitária do vestuário antecede a sua função decorativa que, aliás, não a substitui. Modernamente, o casaco constitui uma peça de vestuário concebida geralmente em tecido mais pesado e grosso com o objetivo de proteger contra o frio. Originalmente, esta peça aparecia sempre associada ao colete e às calças, constituindo um terno. Aliás, pela forma que o caracteriza, o uso do colete não parece fazer sentido sem o casaco. Mas, para além da sua utilização como meio de agasalho, representa em virtude do seu aspeto, da sua funcionalidade e do seu relativo custo um elemento cerimonial e identificador de estatuto social. Aliás, à semelhança do que sucede com a capa de honras utilizada em Miranda do Douro.

Pelas mais variadas razões, o fato masculino no traje do Alto Minho, exibido por alguns grupos folclóricos, tem com alguma frequência sido apresentado com um corte arredondado e botões de grandes dimensões que lhe retiram a sua funcionalidade enquanto peça de vestuário para se transformar num adereço de fantasia. Os próprios botões, geralmente em plástico e de cor branca, estendem-se em grande número ao longo das mangas ou mesmo em seu redor, conferindo a quem o veste um aspeto algo apalhaçado.

Concebido a partir de resíduos do petróleo, o plástico tal como o conhecemos constitui um produto inventado no século XX e que se difundiu sobretudo após a segunda guerra mundial, tendo a partir de então dado origem a novos conceitos de moda identificados com a denominada “linha POP” ou PopLine, de onde deriva o termo popelina. Apenas a baquelite foi inventada em 1909 e esta mais usada no fabrico de equipamentos elétricos. Por conseguinte, o emprego do material plástico em peças de vestuário que são apresentadas como reproduções das que eram usadas nos finais do século XIX não parece fazer o menor sentido.

Os materiais utilizados no fabrico dos botões eram em geral de metal, podendo estes variar consoante a função do vestuário e o estatuto social de quem o usava. Assim, de acordo com a peça de vestuário em causa ou seja, tratando-se do colete ou do casaco, em traje domingueiro ou de trabalho, podiam apresentar-se sob a forma de botões ou de ferragens, de metal mais ou menos nobre, ou ainda de osso feito das pontas dos chifres das cabras, apresentando os coletes aberturas de casas para os botões enquanto os casacos utilizam frequentemente presilhas. A utilização de madrepérolas surgia geralmente no vestuário feminino das pessoas mais abastadas.

Pela sua exuberância e colorido, o traje à vianesa e demais trajes minhotos em geral, foram desde sempre os preferidos de crianças e adultos nas suas brincadeiras de Carnaval como se de um fato carnavalesco se tratasse. Não admira, pois, que de igual forma o mesmo se tenha prestado à fantasia e imaginação de quem o utiliza e, com o decorrer do tempo, lhe tenham sido introduzidas alterações com o propósito de o tornar ainda mais vistoso, acabando por levar para o palco do folclore uma imagem de traje que não corresponde inteiramente à sua realidade mas que, pela repetição constante do erro acabou de certa forma por adquirir foros de autenticidade que não possui

Carlos Gomes in http://www.folclore-online.com/

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Para além do colete não ter a utilidade devido ao seu corte arredondado e ao tamanho exagerado dos botões, estes apenas cumprem uma função decorativa. A registar também a ausência de casaco, os sapatos de pala, camisa de corte recente e chapéu incaracterístico.

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A fantasia vai ao ponto de apresentar botões em redor das mangas do casaco.

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Haverá ainda espaço disponível para acrescentar mais botões decorativos ao casaco?

O MINHO NA INTERNET: BARCELOS E O VALE DO CÁVADO

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“Barcelos” é o título de um blogue que integra uma rede de blogues da região do vale do Cávado, concretamente os concelhos de Amares, Póvoa de Lanhoso, Braga, Esposende, Póvoa de Lanhoso e Vila Verde.

Com excelente apresentação gráfica e um informação diversificada de interesse regional, não hesitamos em recomendar o acesso ao “Barcelos” em http://blogdebarcelos.blogspot.com/

A ideia de construir uma rede de blogues que se dedicam à divulgação das potencialidades da nossa região é a todos os títulos louvável pois existem as maiores vantagens no trabalho em rede.

VIANENSES E LIMIANOS: PIONEIROS DA COLONIZAÇÃO DO BRASIL

Como é sabido, apesar da descoberta do Brasil se ter verificado no ano de 1500 e a primeira expedição exploradora ter ocorrido no ano seguinte, apenas a partir de 1534 foram criadas as capitanias hereditárias, altura em que o rei D. João III estabeleceu a capitania da Baía, concedendo-a a D. Francisco Pereira Coutinho. Até então, quase todas as atenções se encontravam viradas para as explorações a oriente. Contudo, por volta de 1510, o naufrágio de uma das naus portuguesas que seguia para a Índia segundo uns, de uma nau francesa que rumava ao novo mundo com o objectivo de explorar o negócio da madeira e sobretudo do pau brasil segundo outros, ocorrido junto à costa da Baía de Todos-os-Santos, levara a que um punhado de marinheiros na ânsia de sobreviver, lograsse atingir a nado terra firme. Entre eles encontrava-se o vianense Diogo Álvares Correia que, após ter sobrevivido ao naufrágio, acabara por ter sido o único que escapou ao massacre praticado pelos índios tupinambás os quais, preservando ainda hábitos canibais, mataram e devoraram os seus companheiros. Valeu-lhe o facto de ter disparado um mosquete e ter abatido uma ave, o que seguramente causou enorme impressão nos indígenas.

Caramuru

Retrato de Diogo Álvares Correia, o “Caramuru”

De acordo com a narrativa fantasiosa tornada lenda, passaram os índios a tratá-lo por Caramuru, designação que significaria “homem de fogo” ou “filho do trovão”, sendo certo que se trata da denominação de um peixe existente naquela zona, de uma espécie próxima da moreia com mais de um metro de comprimento, tudo levando a crer ser esta a verdadeira razão do nome que lhe impuseram em associação ao seu aspecto físico ou então devido ao facto de ter surgido do mar, entre as pedras, como sucede com as moreias. Em todo o caso, Diogo Álvares passou a viver entre os indígenas, conseguindo entre estes enorme prestígio e acabando por prestar valioso auxílio não apenas às expedições portuguesas que ali aportavam como ainda aos donatários entretanto estabelecidos e aos missionários jesuítas que ali iniciaram a sua actividade de evangelização.

            Narra-nos Frei José de Santa Rita Durão, professor de Teologia na Universidade de Coimbra, no seu poema “Caramuru”, publicado em 1781, o seguinte:

Diogo então, que à gente miseranda,

por ser de nobre sangue precedia,

vendo que nada entende a turba infanda,

nem do férreo mosquete usar sabia;

da rota nau, que se descobre à banda,

pólvora, e bala em cópia recolhia;

e como enfermo, que no passo tarda,

serviu-se por bastão de uma espingarda.

Diogo Álvares veio a casar com Paraguassu – ou Paraguaçu, - filha do chefe indígena Taparica que habitava a região do Recôncavo e era um dos maiorais dos índios tupinambás, tendo passado a viver numa aldeia junto à entrada da Barra da Ponta do Padrão, local de onde se podia avistar as frotas e acudir, eventualmente, em caso de naufrágio. A sua vida ficou envolta em lendas, algumas das quais imortalizadas num poema épico escrito por frei José de Santa Rita Durão em meados do século dezassete. Salienta-se, entre elas, a que se refere à realização do seu casamento em França para onde supostamente navegaram em 1526, tendo sido apadrinhados segundo uns por Henrique II e de Catarina de Médicis ou, ainda de acordo com outra versão, por Katherine des Granches, esposa do navegador Jacques Cartier, e por Guyon Jamyn, cunhado de Tomasia Cartier, tia de Jacques Cartier, tendo Paraguassu a partir de então passado a usar o nome de “Catarina do Brasil”. Contudo, apesar de vários historiados terem durante muito tempo considerado esta uma história sem fundamento válido, a mesma parece encontrar-se actualmente suficientemente documentada, nomeadamente através de um termo do baptismo então realizado em Saint Malô e cuja cópia se encontra na Arquidiocese de São Salvador, a qual reza o seguinte: “Le pénultime jour du moys surdit fut baptizée la Katherine du Brézil, et fut compère… premier noble homme Guyon Jamyn, sieur de Saint Jagu, et commères Katherine dês Granges et Françoise Le Gonien, fille de l’aloué de Saint malo et fut baptizée para maitre Lancelot Ruffier, vicaire du dit jour que dessus. (a) P, Trublet”. O mesmo não sucede com a pretensão de alguns em atribuir origens galegas a Diogo Álvares, dando-o por natural da Corunha com o nome de Diego Álvarez Correa, tese que se revelou sem fundamento para a generalidade dos historiadores. Naturalmente, tais reivindicações mais não reflectem do que a disputa desde sempre existente acerca das origens do povoamento do Brasil com vista a uma eventual reclamação de direitos.

Do seu casamento com Catarina Paraguassu – nome que significa “grande rio caudaloso” – teve Diogo Álvares quatro filhas das quais procedeu numerosa e influente descendência, considerada das mais nobres da Baía. Entre elas, destaco Genebra Álvares que veio a casar com Vicente Dias, natural de Beja e moço fidalgo da Casa Real. Estes tiveram como filhos Diogo Dias que viria a casar-se com Isabel de Ávila, filha do senhor do Castelo da Casa da Torre e ainda, Maria Dias que casou com Francisco de Araújo, natural de Ponte de Lima e filho de Gaspar Barbosa de Araújo e Maria de Araújo, da “nobilíssima família dos Araújo da Província de Entre Douro e Minho”. Foi sesmeiro em Sergipe e faleceu em Salvador da Baía em 27 de Agosto de 1602. Deste casamento houve três filhos sem geração e uma filha chamada Catarina Álvares que viria a casar com o seu tio paterno Baltazar Barbosa de Araújo, também ele natural de Ponte de Lima e filho de Gaspar Barbosa de Araújo. Das duas filhas nascidas deste casamento, Francisca de Araújo e Joana Barbosa, esta veio a casar com António de Souza Drumond cuja genealogia nos levaria a uma autêntica incursão pela história da Europa e o povoamento da Ilha da Madeira. Para além das filhas que teve de Paraguassu, Diogo Álvares teve porém, muitos outros filhos e filhas das relações que manteve com numerosas índias, como aliás veremos adiante.

Diogo Álvares prestou enormes serviços a Portugal e serviu de intermediário nos negócios entre navegadores europeus e nativos, ajudando no abastecimento e recuperação das embarcações da rota das especiarias que passavam pelo litoral do Brasil rumo ao Oriente ou as que seguiam para o Rio da Prata, socorrendo não raras as vez as tripulações em perigo de naufrágio. Recebeu Martim Afonso de Sousa que foi Governador da Índia e Tomé de Sousa que viria a ser o primeiro governador-geral do Brasil, a quem aliás de imediato à chegada lhe ofereceu os seus serviços, experimentado que estava dos insucessos do anterior donatário da Baía, Francisco Pereira Coutinho, cuja permanência resultou em tragédia. Aliás, a sua colaboração foi também fundamental para os Jesuítas que ali se estabeleceram em 1550, altura em que iniciaram a catequização dos índios. Em reconhecimento dos seus serviços, o próprio governador-geral, Tomé de Sousa, armou cavaleiros três dos seus filhos – Gaspar, Gabriel e Jorge Álvares – e um dos seus genros, João de Figueiredo, tendo o rei D. João III confirmado no ano seguinte através de carta régia a concessão atribuída.

            A título de curiosidade, a jurisdição de São Salvador da Baía viria dois séculos mais tarde, por decisão do marquês de Pombal, a ser entregue ao 6º conde dos Arcos, D. Marcos José de Noronha e Brito, o qual acumulou com o cargo de Vice-Rei do Brasil. O mesmo sucedeu com o 8º conde dos Arcos, D. Marcos de Noronha e Brito, nomeado Vice-Rei em 1806 e mantido o cargo até à chegada do Príncipe Regente D. João VI, na sequência das invasões francesas. Por conseguinte, duas personalidades alto-minhotas que vêm estreitar ainda mais os laços da nossa região com o Brasil em geral e o Estado da Baía em particular.

Diogo Álvares Correia veio a falecer em 5 de Outubro de 1557, com setenta anos de idade, tendo sido sepultado na igreja de Jesus, pertencente aos Jesuítas. Por seu turno, Catarina Paraguassu contava oitenta e oito anos quando em 26 de Janeiro de 1583 morreu em Salvador da Baía, tendo ficado sepultada na Igreja de Nossa Senhora da Graça, local onde constam os seguintes dizeres: “Sepultura de Catarina Alz senhora desta Capitania da Bahia a, qual, ela e seu marido Diogo Alz corrêa, natural de Viana derão, aos, senhores Reys de Portugal e fés e deu esta Igreja ao, Patriarca S., Bento, Era de 1582”. Esta lápide vem, aliás, confirmar a adopção do apelido Álvares por parte de Catarina Paraguassu, o que de algum modo contraria a tese por alguns defendida de que teria passado a chamar-se “Catarina do Brasil” pelo baptismo supostamente realizado em França. Tal como, aliás, sucede com o nome próprio Catarina, o qual pode de igual forma ser associado ao da esposa do rei D. João III.

Após o falecimento de Diogo Álvares, o Caramuru, Catarina Álvares – a índia Paraguassu – alargou ainda mais os seus domínios, tendo do próprio governador Mem de Sá recebido propriedades tão vastas que compreendiam os actuais bairros da Graça e da Vitória, em Salvador da Baía. Considerada a “primeira matriarca da Bahia”, a memória de Catarina Paraguassu passou a ser venerada pelos brasileiros como “símbolo da miscigenação na América Portuguesa”. Como se afirma no jornal “Correio da Bahia” de 6 de Fevereiro de 2005, “considerada um dos principais símbolos femininos da história do país, por ter exercido um papel fundamental na integração das raças que formaram o povo brasileiro, a tupinambá Catarina Paraguaçu é sempre lembrada como a mãe das mães brasileiras, o esteio e a origem da família no país”.

Tal como Catarina Paraguassu se tornou no símbolo da integração nacional da nação brasileira, também o vianense Diogo Álvares é considerado o pioneiro da colonização do Brasil, tendo construído a primeira colónia de povoadores que veio a incluir os limianos Francisco de Araújo e Baltazar Barbosa de Araújo.

Representação escultórica de Caramuru no monumento a Floriano Peixoto, no Rio de Janeiro

CARAMURU NA LITERATURA E NAS ARTES

A vida aventurosa de Diogo Álvares e a sua relação amorosa com a índia Paraguassu tem servido de argumento para a construção de vários romances de ficção e representações teatrais, entre outras manifestações culturais. Foi tema de uma série televisiva e serviu de argumento ao filme “Caramuru – a Invenção do Brasil”, ambos da autoria de Guel Arraes. Também o escritor Tasso Franco escreveu o livro “Catarina Paraguaçu – A Mãe do Brasil”, o qual descreve de forma romanceada o encontro da índia com Diogo Álvares e o início da construção de São Salvador. Não obstante, é o poema Caramuru de Frei José de Santa Rita Durão aquele que, pela sua antiguidade e exaltação que faz, é considerado como referência nos relatos que são feitos dos acontecimentos e lendas que as envolvem.

Com o título “Caramuru – Poema Épico do Descobrimento da Baía”, o poema de Frei José de Santa Rita Durão afigura-se como uma nova versão de “Os Lusíadas” através do qual, em dez cantos, o poeta evoca o descobrimento do Brasil e os feitos dos seus povoadores. Aliás, conforme o próprio autor afirma nas “Reflexões Prévias”, “os sucessos do Brasil não mereciam menos um poema que os da Índia”.

Este poema constitui, como afirma Óscar Lopes, uma das “primeiras manifestações apreciáveis de influência temática brasileira no domínio da poesia heróica” o qual, ainda segundo o mesmo autor, “de recorte versificatório camoniano, tem como assunto a acção civilizadora do nobre náufrago Diogo Álvares Correia, que no século XVI se viu obrigado a viver e a casar aventurosamente, numa tribo ameríndia”.

Considerado um dos poetas da Nova Arcádia, António José Saraiva retrata o poema “Caramuru” e o seu autor, no contexto da literatura brasileira ou, para sermos mais precisos, da literatura portuguesa do Brasil: “Os poetas mineiros assim chamados mostram-se animados do espírito arcádico, quer militem, quer não, em acordo com a Arcádia Lusitana. (…) Caracterizam-se , em geral, pela adesão ao espírito das luzes, o que teve dois efeitos contraditórios: um, o servirem a política do marquês de Pombal; outro, o de combaterem a política centralista e colonialista da corte portuguesa. Tanto o Uruguai, de José Basílio da Gama (1769), como o Caramuru, de Santa-Rita Durão (1781), poemas heróicos na linha d’Os Lusíadas, revelam, ao mesmo tempo que uma repulsa da política indiana dos jesuítas, reprimida pelo marquês, uma vontade de enraizamento e de criação de uma pátria americana”.

Ao naufragar nos recifes da costa da Baía, jamais o vianense Diogo Álvares poderia imaginar que, volvidos quase três séculos, haveria de tornar-se o herói principal do poema épico que retrata o nascimento do Brasil, tendo por título a alcunha que lhe fora atribuída pelos índios tupinambás e pela qual haveria de ser sempre reconhecido. E, desde logo celebrado na primeira estrofe do Canto I:

De um varão em mil casos agitado,

que as praias discorrendo do Ocidente,

descobriu o Recôncavo afamado

da capital brasílica potente:

do Filho do Trovão denominado,

que o peito domar soube à fera gente;

o valor cantarei na adversa sorte,

pois só conheço herói quem nela é forte.

Carlos Gomes in O Anunciador das Feiras Novas, nº XXVI,Ponte de Lima, 2009

ELEVADOR DO BOM JESUS DO MONTE JÁ TEM 129 ANOS!

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O elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, encontra-se em funcionamento desde 25 de Março de 1883, sendo actualmente o funicular mais antigo do mundo em funcionamento utilizando contrapesos de água. O depósito da cabine que se encontra na parte superior do percurso é atestado de água para, através da diferença de peso, fazer a outra cabine subir a encosta, sendo a água esvaziada quando chega ao sopé.

A imagem que se reproduz foi publicada n’O Ocidente, nº. 121, de 1 de Maio de 1882, dois anos após o início das obras de construção e um ano antes da data da sua inauguração.

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Esta gravura apresenta o funicular de perfil e foi publicada na mesma edição daquela revista.

A ETNOGRAFIA NO CINEMA EM PORTUGAL

Quem nunca se comoveu com as histórias ou se deliciou com o pitoresco do mundo rural e os quadros hilariantes criados pela cinematografia portuguesa dos anos trinta e quarenta do século passado é porque jamais teve a oportunidade de assistir à exibição da “Aldeia da Roupa Branca” de Chianca de Garcia ou “Ala Arriba!” de Leitão de Barros. Apesar da idade e ainda das características da imagem e som produzidos, muitas das fitas do velho cinema português continuam a manter o sucesso entre o público que gosta sempre de recordar antigos êxitos e conserva a memória as deixas engraçadas e os graciosos temas musicais que constituíram a sua banda sonora.

No domínio cinematográfico, os anos trinta e sobretudo a década seguinte ficaram assinalados por uma certa preferência pelos temas relacionados com aspectos da vida rural e piscatória, do folclore e das tradições populares. São ainda desta época, para além dos já mencionados, os filmes “Gado Bravo” de António Lopes Ribeiro, “As Pupilas do Senhor Reitor” de Heinrich Gärtner, “Maria Papoila” de Leitão de Barros e “A Canção da Terra” de Jorge Brum do Canto. No entanto, o recurso a argumentos de alguma forma relacionados com o folclore remonta ao cinema mudo com “Rosa do Adro”, “Mulheres da Beira”, “Tempestades da Vida” e “Campinos” que foi a última longa-metragem do cinema mudo português. Também a registar as curtas-metragens desta época, constituídas por reportagens e documentários, como “Santo da Serra”, “Reconstituição de Aspectos da Vida Madeirense” e “Revelação de Costumes Populares” produzidas pela Empresa Cinegráfica Atlântida e “A Serra da Estrela” de Raul de Caldevilla.

Em 1929, Leitão de Barros produz o comentário “Nazaré, Praia de Pescadores”, produção que marca o começo entre nós da antropologia visual, seguindo-se, neste domínio, “Douro, Faina Fluvial” de Manoel de Oliveira. Porém, é no ano seguinte que faz rodar o drama “Maria do Mar”, filme este que constitui a primeira etnoficção produzida em Portugal e a segunda a nível mundial, pelo que podemos afirmar sem ambiguidade que este filme marca o início da produção do cinema etnográfico em Portugal.

O cinema etnográfico constitui um conceito que, no domínio cinematográfico, abrange o documentário e a ficção, entendido de forma separada ou associada, neste caso também designado por etnoficção. O documentário etnográfico é sobretudo realizado por cineastas e etnólogos com o propósito de investigar e preservar o testemunho do elemento étnico, naquilo que no meio científico se designa por Etnografia de salvaguarda. Esta possui como principal preocupação a salvaguarda dos registos de uma cultura antes do seu desaparecimento, nomeadamente a mitologia, a religião, a língua, a organização social, as relações de parentesco e o folclore, daí também ser classificada como Antropologia visual.

Obedecendo às leis da dialética, a utilização do cinema etnográfico como instrumento da investigação etnológica encontra-se diretamente relacionada com o aparecimento do filme de dezasseis milímetros com câmara de fácil transporte e gravadores portáteis de som síncrono. Não admira, pois, que seja sobretudo a partir dos anos sessenta do século passado que este género regista maior crescimento, facto a que não é alheio o movimento cineclubista então emergente.

É então que, no domínio da etnoficção, o realizador Manoel de Oliveira produz em 1962, “Acto da Primavera” e, nos anos setenta, são rodados “Gente da Praia da Vieira” de António Campos, “Mau Tempo, Marés e Mudança” de Ricardo Costa, “Trás-os-Montes” de António Reis e Margarida Cordeiro e “O Pão e o Vinho” de Ricardo Costa.

Procurando captar a realidade através da imagem e, desse modo, permitir o estudo das sociedades tradicionais, o filme etnográfico constitui um meio de salvaguarda do património cultural com vista à sua recolha, inventariação, estudo e divulgação, à semelhança do que sucede com etnomusicologia e o estudo do artesanato. É nessa perspetiva que, inspirado na tese de Jorge Dias e antes que as águas da albufeira da barragem do Alto Lindoso mergulhem para sempre as casas e os terrenos de cultivo e, com eles, os hábitos comunitários das suas gentes, o cineasta António Campos parte em 1971 para o Gerês e aí roda o filme “Vilarinho das Furnas”.

Estamos em pleno período do chamado “cinema novo”, ainda influenciado pela pobreza estética do neo-realismo, o qual vai prolongar-se até ao derrube do Estado Novo. Na senda do filme acerca de Vilarinho das Furnas, o realizador produz em 1974 “Falamos de Rio de Onor” e Ricardo Costa, em 1976, o filme “Avieiros”, procurando captar para a câmara uma realidade que ameaça extinguir-se a todo o instante.

O aparecimento das tecnologias digitais constituirá certamente um estímulo a uma nova abordagem estética no domínio cinematográfico, incluindo a etnoficção. Por outro lado, disponibiliza novas ferramentas no domínio da Etnografia de salvaguarda, aspeto que deve ser considerado nomeadamente no domínio da museologia. E, tal como sucedeu no passado com o aparecimento do filme sonoro e, algum tempo depois, o filme de dezasseis milímetros, também a técnica digital pode abrir novos caminhos à cinematografia e, nomeadamente ao cinema etnográfico e à antropologia visual.

Carlos Gomes, in http://www.folclore-online.com/

Bibliografia:

PINA, Luís de. História do Cinema Português. Publicações Europa-América. Mem Martins, 1987;

FERREIRA, Carolin