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BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

INÉDITOS DO ESCRITOR LIMIANO JOÃO MARCOS AGUARDAM PUBLICAÇÃO

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O escritor ponte-limense João Marcos deixou um apreciável conjunto de inéditos que continua a aguardar publicação. À altura do seu falecimento, ocorrido em 6 de Maio de 2005, o escritor João Marcos tinha em preparação um romance que abordava aspectos sociais que se levantam relacionados com as mais recentes aquisições da ciência. Pressentindo, porém, que os seus dias se esgotavam, decidiu legá-los e deixou por escrito algumas determinações para que os mesmos fossem publicados. O autor deste blogue veio a ter conhecimento da sua vontade manifesta quando, alguns meses após o seu falecimento, recebeu com atraso uma carta sua, sem data, endereçando-lhe a derradeira despedida: “O último adeus do João Marcos”.

Parte da sua obra literária remete para aspectos sociais e históricos relacionados com Ponte de Lima e as suas gentes. De entre a sua vasta obra, salientamos, em poesia, “Um Novo Mundo Perfeito”, “Colonizados”, “Ode Terrestre – Separata do “Cardeal Saraiva”, “Manhãs de Abril”, “O Ser e o Nada”, “Meu Verde Minho”, “Epopeia do Homem Cósmico”, “Balaio de Camarinhas”, “Versos do Fim do Dia” e “Epopeia do Homem Lusíada”. Na ficção, “Entre o Amor e a Loucura”. “Uma Terra que se chamou Geridel”, “Nas Ourelas do Fogo” e “Estrasburgo 1964”. Na investigação histórica, “O Conde da Barca na política europeia do pré-liberalismo” e “O Cardeal Saraiva – Evocação de Frei Francisco de S. Luís”.

Não sabemos se a entidade a quem João Marcos legou os seus inéditos está realmente interessada em publicá-los. Contudo, dar a conhecer a sua obra literária seria a melhor homenagem que Ponte de Lima poderia prestar a um dos seus filhos mais notáveis!

TRAJE À VIANESA É OBRA-PRIMA DA MULHER MINHOTA

O traje à vianesa teve honras de destaque na capa da revista “Ilustração Portugueza” de 27 de Dezembro de 1909. Trata-se, com efeito, de uma obra de arte que reflecte bem o espírito e o talento artístico da mulher minhota, o seu sentido estético e a sua alegria natural. Nele está ainda retratada a vida social e económica de uma região, o linho que produzia, as técnicas que empregava na sua transformação e como o tecia e bordava, o estatuto social e o estado civil em que se encontrava.

Através do traje podemos contar toda a História e vida da nossa região e das suas gentes. Tal como a partir de um singelo botão poderemos descrever toda a história da humanidade, desde o emprego da pedra e do osso nos seus primórdios aos modernos botões de plástico onde são aplicadas as mais avançadas técnicas de grafismo. Uma ligeira modificação no traje e, de imediato, nos apercebemos da adulteração porque extemporânea e anacrónica, como não raras as vezes sucede com tentativas de representação por parte de alguns grupos folclóricos.

O traje de lavradeira, vulgo traje à vianesa, constitui uma autêntica obra-prima da nossa cultura tradicional, concretamente do traje popular, pelo qual merece um respeito tão elevado quanto qualquer obras famosa de um artista consagrado exposta numa das mais conceituadas galerias ou museus de arte.

Legenda da capa: Costumes Portuguezes. Mulher dos arredores de Vianna do Castello. (Cliché Emílio Biel & Cª)

PARA CONTRARIAR A VONTADE LIVRE DO ELEITORADO… FOI TUDO PARA À CADEIA!

- Senador da Primeira República questiona liberdade de voto em Arcos de Valdevez

Doze anos após a implantação do regime republicano em Portugal, um caso ocorrido em Arcos de Valdevez relacionado com irregularidades na eleição de uma junta de freguesia, envolvendo a autoridade local, levou o senador Oriol Pena a reclamar das “prepotências de tal autoridade”. O caso deu-se na Sessão do Senado realizada em 31 de Maio de 1922, sob a presidência de José Pereira Osório. Transcrevemos do Diário do Senado a passagem respeitante à referida intervenção, efectuada antes da Ordem de Trabalhos, mantendo a grafia original.

Senador Joaquim Xavier de Figueiredo Oriol Pena

 “Sr. Presidente: o Ministério continua a brilhar pela sua ausência, e contra isso protesto eu. Desejaria que estivesse presente qualquer membro do Govêrno para que transmitisse ao Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior uma reclamação. Como, porém, tal não sucede, e o assunto urge, pedia a V. Exa., Sr. Presidente, se desempenhasse de tal missão. 

A minha reclamação diz respeito a actos, praticados pela autoridade de Arcos de Valdevez, por ocasião da eleição duma junta de freguesia. Para contrariar a vontade livre do eleitorado, resolveu-se essa autoridade a meter tudo na cadeia. 

A respectiva notícia veio ontem publicada nos jornais, pedindo-se que se chamasse a atenção do Govêrno para o facto. É necessário que o Govêrno ponha cobro às prepotências de tal autoridade, e por isso peço a V. Exa., na ausência dos membros do Govêrno, que transmita ao Sr. Ministro do Interior esta minha reclamação.”

CHULA DE S. MARTINHO DE DUME, EM BRAGA, RECOLHIDA EM FINAIS DO SÉCULO XIX

Uma “Cana Verde constitui uma das preciosidades recolhidas em finais do século XIX em S. Martinho de Dume, no Concelho de Braga. Esta música aparece publicada no “Cancioneiro de Músicas Populares” que constitui uma obra publicada em 1893 e que pode ser consultada na Biblioteca Nacional de Portugal.

Na sua capa pode ler-se o seguinte: “Cancioneiro de musicas populares contendo letra e musica de canções, serenatas, chulas, danças, descantes, cantigas dos campos e das ruas, fados, romances, hymnos nacionaes, cantos patrioticos, canticos religiosos de origem popular, canticos liturgicos popularisados, canções políticas, cantilenas, cantos maritimos, etc. e cançonetas estrangeiras vulgarizadas em Portugal / collecção recolhida e escrupulosamente trasladada para canto e piano por Cesar A. das Neves ; coord. a parte poetica por Gualdino de Campos ; pref. pelo Exmo Sr. Dr. Teophilo Braga” .

PINTORA RICARDINA SILVA EXPÕE EM MELGAÇO

A pintora Ricardina Silva realiza a partir do próximo dia 8 de Janeiro, uma exposição de pintura na Galeria do Hotel Castrum Villae, em Castro Laboreiro, no Concelho de Melgaço. A exposição tem o título “Creation” e estará patente ao público até 17 de Fevereiro, permanentemente aberta durante as 24 horas, com entrada livre.

O certame é composto por obras a óleo, a acrílico e técnica mista, reflectindo na sua maioria o estilo Surrealista abordando diversas temáticas. Nesta Exposição de Pintura poderá encontrar a IMAGINAÇÂO e a CRIATIVIDADE de uma artista plástica que está em fase de transformação....é como o virar da página".

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Ricardina Silva nasceu em Caminha onde vive actualmente. Como ela própria refere, “desde tenra idade que adorava desenhar apenas com um lápis e uma folha branca, guardava todos os desenhos num dossier”. Aos dezassete anos experimentou a pintura sobre tela em acrílico.

Em 2006 realizou a primeira exposição e, a partir de então nunca mais parou. Sucederam-se os concursos e as bienais, passou a experimentar outras técnicas como a pintura a óleo, mista, pastel, aguarela e os desenhos começaram a ser realizados a carvão e grafite.

Para a artista, “cada obra é como um poema harmonioso, de cores luminosas que transparecem num clima rimático e transmitem a paz interior que desejo. Quando realizo um desenho ou uma pintura entrego o meu coração… a minha alma. É como se viajasse para um sítio maravilhoso e mágico, onde não existe o sofrimento, mas sim alegria e cor. Normalmente, para a realização das minhas obras utilizo diversas técnicas como o óleo, o acrílico e a mista. Apesar do diversificado leque de temáticas que já executei, nas minhas obras a que predomina é a do mar, remontando às minhas origens”.

AS CÉDULAS FIDUCIÁRIAS NO MINHO DURANTE A CRISE FINANCEIRA DO INÍCIO DO SÉCULO XX

As cédulas fiduciárias constituem, desde há muito tempo, um dos objectos de interesse de coleccionadores e estudiosos, nomeadamente por todos quantos se interessam pela numismática e notafilia, a nossa histórica económica ou simplesmente os aspectos da vida regional.

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Regra geral, o aparecimento de tais cédulas verificou-se em momentos particularmente difíceis, de grave crise económica ou convulsão social, mormente durante a primeira guerra mundial, em resultado do encarecimento dos metais e consequente escassez de moeda corrente de baixo valor indispensável a pequenas transacções. Esta situação era particularmente sentida fora dos grandes centros urbanos, situação que levou ao aparecimento do chamado "dinheiro de emergência" constituído por cédulas, cuja emissão fora a princípio apenas autorizada à Casa da Moeda mas que acabou por generalizar-se a inúmeras instituições oficiais e particulares, como câmaras municipais, misericórdias e até estabelecimentos comerciais.

Na cunhagem de moedas de reduzido valor facial, como sucede com as divisionárias geralmente utilizadas na realização de trocos, são empregues metais menos valiosos como o cobre, o alumínio, o níquel ou ligas constituídas por aqueles a fim de que mantenham um valor nominal superior ao seu valor intrínseco ou seja, em relação aos metais empregues na sua feitura. Sucede, porém, que quando ocorre uma subia do custo daqueles metais, recorre-se à emissão de cédulas fiduciárias a fim de evitar os elevados custos que a cunhagem das moedas implica em relação ao seu baixo valor nominal. Foi precisamente o que sucedeu nos finais do século XIX por ocasião da crise financeira resultante sobretudo da baixa do câmbio brasileiro, facto que gerou uma situação de pânico traduzida em falências, suspensão de pagamentos, corridas aos bancos e o quase desaparecimento de circulação das moedas em ouro e também em consequência da desvalorização da prata que levou quase à falência do banco londrino Baring Brothers que tinha acabado de conceder um empréstimo de oitocentas mil libras ao Estado português, facto que determinou a depreciação da moeda.

Também, durante a Primeira República, o crescimento da dívida externa com a Inglaterra resultante da participação na guerra e a inflação daí resultante associada à especulação com as divisas constituíram factores que determinaram a depreciação da moeda, mau grado as diversas tentativas feitas no sentido do seu controlo que levou nomeadamente à criação da Junta Reguladora da Situação Cambial que acabaria por ter existência efémera.

O historiador Oliveira Marques deu-nos o panorama da crise financeira verificada com a implantação do regime republicano no nosso país. Descreveu-nos ele o seguinte: "Em 1911, o Governo Provisório introduziu o escudo, equivalente a 1000 réis e dividido em 100 centavos. Começaram logo os problemas com a estabilidade da nova moeda. O valor oficial de origem - 1 libra de ouro = 4$50 - nunca pôde ser mantido. Na verdade, já nos últimos anos da monarquias se iniciara a desvalorização da moeda nacional, com o 1$000 réis aproximando-se mais da quinta parte da libra do que do valor estabelecido. As desvalorizações atingiam 17 % quando começou a guerra. Daí em diante o escudo foi descendo gradualmente: 6$35 (1915), 11$57 (1919). Escasseavam as moedas, particularmente as de trocos, que se substituíam por cédulas de papel e cartão, dos mais variados tipos e feitios, emitidas pelas câmaras municipais, pelas misericórdias e outras instituições, e até por entidades particulares para seu uso privativo".

Com efeito, a partir de 1914, o governo autorizou a Casa da Moeda a emitir cédulas que se destinavam a substituir as moedas de cinco, dez e vinte centavos. Contudo, verificando-se que esta medida não era suficiente para suprir a escassez de moeda então verificada, acabaram por ser autorizadas as câmaras municipais a proceder à sua emissão com curso legal dentro da área dos respectivos concelhos. Esta prática viria contudo a generalizar-se com a emissão das referidas cédulas por parte de outras entidades. Citando ainda Oliveira Marques, "durante 1917, a escassez de moeda era já tanta que começaram a aparecer cédulas improvisadas, emitidas aqui e ali por todo o país, que a tentavam substituir. Frente ao abuso, o Ministério das Finanças decidiu ir ao encontro das realidades, determinando que a Casa da Moeda emitisse cédulas de 2 e 10 centavos e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de 5 centavos. Simultaneamente, ordenava a retirada de circulação e a recolha de toda a moeda de prata do tempo da Monarquia, com a qual passou a dispor de reserva. Apareceram, pouco depois, as primeiras cédulas. A partir de 1918, o privilégio concedido à Santa Casa da Misericórdia cessou, cabendo também à Casa da Moeda a emissão de cédulas de 5 centavos. Mais tarde (1922) surgiram ainda cédulas de 20 centavos".

De aspecto bastante rudimentar, produzidas a princípio em simples pedaços de papel ou de cartão com as mais variadas dimensões, manuscritas ou impressas, com ou sem preocupação estética, as cédulas foram progressivamente melhorando a sua apresentação gráfica, acabando por revelar-se meios de propaganda turística e regional e, nos casos em que eram emitidos por estabelecimentos particulares, meios expeditos de publicidade comercial. Acerca da sua importância e aspecto, retemos a descrição feita pelo Professor Marcello Caetano: "...as emissões privadas continuaram, inundando o país de pequenos farrapos de papel, de formas e dimensões variadas, impressos ou litografados, com ou sem vinhetas, simples pedaços de cartão com o carimbo ou com a assinatura do comerciante e às vezes até, discos de lata com figuras e dizeres estampados a cores. Eram de um, dois, cinco, dez e mesmo vinte centavos, e até 1922 circulavam num meio mais ou menos restrito, conforme a importância do emissor, no concelho se era uma câmara, na clientela do estabelecimento se se tratava de um negociante: verdadeira Notgeld cuja importância total se desconhece e é, já agora, impossível apurar".

Apenas a partir de 1924 foi possível travar a depreciação do valor da moeda e, desse modo, ir progressivamente reduzindo a utilização das cédulas. De acordo com Oliveira Marques, "Em 1924, Álvaro de Castro que juntara a Presidência das Finanças, conseguiu finalmente deter a marcha do escudo. (...) A legislação de 1924 reformou também a moeda metálica, aumentando o teor da liga e reduzindo o valor real das moedas. A pouco e pouco, foi sendo possível acabar com as cédulas de papel de ínfimo valor".

Também no Minho não se fugiu à regra e por aqui circularam cédulas de diferentes importâncias emitidas pelas câmaras municipais, hospitais, comerciantes e outras entidades particulares. É o caso dos exemplares que junto reproduzimos, de espécimes da Câmara Municipal de Braga, da Associação Comercial de Ponte de Lima e do Hospital de S. José, em Arcos de Valdevez.

Carlos Gomes. Cédulas Fiduciárias de Ponte de Lima (Adaptado). Anunciador das Feiras Novas.

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Do Natal até aos Reis, vamos cantar as Janeiras!

As Janeiras são cantadas

Do Natal até aos Reis;

Olhai lá por vossas casas

Se há coisa que vós nos deis

 

Boas noites, meus senhores,

Vinde-nos dar as Janeiras,

Boas noites vimos dar,

Se no-las houverdes de dar,

 

Vimos pedir as Janeiras,

Somos romeiros de longe,

Se no-las quiserem dar.

Não podemos cá voltar.

 

Ano Novo, Ano Novo,

Aqui vimos, aqui vimos

Ano Novo, melhor ano,

Aqui vimos bem sabeis.

 

Vamos cantar as Janeiras,

Vimos dar as boas festas

Como é de lei cada ano

E também cantar os Reis

MINHOTOS CANTAM AS JANEIRAS

Um raminho, dois raminhos,

Cada ramo seu enfeite;

Viva o dono desta casa,

Que esta vai a seu respeito.

 

Um raminho, dois raminhos,

Três raminhos em flor.

Vivam também os seus filhos,

Que esta vai em seu favor.

 

A silva que nasce à porta

Vai beber à cantareira;

Levante-se daí, senhora,

Venha-nos dar a janeira.

 

Levante-se daí, senhora,

Do seu tão rico banquinho;

Venha-nos dar a janeira

Em louvor do Deus Menino.

 

Vinde-nos dar a janeira,

Se no-la houverem de dar;

Nós somos de muito longe,

Não podemos cá voltar

FAFE REALIZA XXVII ENCONTRO DE CANTADORES DE REIS

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A Câmara Municipal de Fafe vai levar a efeito, no próximo dia 8 de Janeiro, a 27ª edição do tradicional Encontro de Cantadores de Reis. A iniciativa tem lugar no Pavilhão Multiusos, a partir das 14h30 e os grupos participantes serão apreciados por um júri constituído por três personalidades idóneas a indigitar pela autarquia, as quais vão avaliar os trajes, as letras e as interpretações.

O MINHO NA INTERNET: VILA PRAIA DE ÂNCORA

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“Vila Praia de Âncora” é um interessante blogue que publica artigos de opinião, contos, casos humorísticos e, em geral, temas relacionados com o ambiente, a História, o património e, como não podia deixar de suceder em terra de pescadores, assuntos relacionados com a pesca.

O blogue “Vila Praia de Âncora” encontra-se no endereço http://vilapraiadeancora.blogs.sapo.pt/ e constitui um espaço cultural na Internet dedicado àquela localidade do Concelho de Caminha e da qual toma o nome.

Vamos cantar as Janeiras!

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Chegou o Janeiro e com ele as janeiras. Pelos caminhos das aldeias seguem os reiseiros com as suas violas e bandolins, harmónios e cavaquinhos, indo de porta em porta cantar os reis e pedir alvíssaras. No Minho cantam os Reis Velhos e os Reis Galegos. As portas abrem-se para os receber e o anfitrião é presenteado com descantes como o menino o foi pelos reis magos com oiro, incenso e mirra no dia do seu nascimento. Após escutar com atenção os versos que lhe foram dedicados, o dono da casa convida-os a entrar e recebe-os com algumas iguarias que retira do fumeiro. Se quem recebe é generoso pode festa durar até às tantas. Contudo, se a espórtula é fraca e o acolhimento pouco amistoso, os reiseiros lançam-lhe à despedida algumas quadras satíricas em lugar dos habituais agradecimentos.

Nalgumas localidades como sucedia nas terras da Maia, o povo erguia no adro da igreja um palanque onde era representado um auto que, regra geral, se dividia em três actos ao longo dos quais se narrava a história do nascimento do messias, desde a perseguição movida por Herodes até à adoração do menino pelos pastores e pelos reis magos. As gentes maiatas por exemplo, iniciavam os ensaios das reisadas ou embrechados como também eram designadas, logo após as colheitas e a representação das diferentes personagens era quase sempre feita pelos mesmos que haviam representado no ano anterior ou então era o seu desempenho passado para outra pessoa da mesma família, sucedendo não raras as vezes que os membros de uma determinada família passavam a ser conhecidos pelo  nome das personagens que invariavelmente representavam.

Como é evidente, o costume de cantar os “reis” ou as janeiras prende-se com a tradição cristã do nascimento do menino Jesus e das oferendas feitas pelos reis magos quando estes se dirigiram à gruta de Belém. Não obstante e à semelhança do que sucede com as demais festividades de índole cristã, também esta possui raízes bem mais profundas que remontam ao paganismo primitivo e que se relacionam com as festividades solsticiais que ocorriam precisamente na mesma altura a que foi atribuído o nascimento de Jesus, embora sem provas que fundamentem tal acontecimento. É, com efeito, o começo do ano solar ou seja, os primeiros dias que se seguem ao "nascimento do sol" e os raios solares crescem de novo, passando o seu tempo de duração a aumentar de dia para dia, reiniciando-se o percurso que leva invariavelmente ao renascimento da natureza e dos vegetais com o entrudus da Primavera. A nossa civilização cristã mais não faz do que assimilar tais costumes antiquíssimos conferindo-lhes uma nova interpretação mais consentânea com os seus ensinamentos bíblicos.

Entre os romanos, Jano era celebrado como o deus dos portões e dos começos, do céu luminoso e das origens e, por conseguinte, o princípio de toda a existência, razão pela qual o seu nome era iniciamente invocado mesmo antes do próprio nome de Júpiter. Em virtude disso, foi o seu nome atribuído ao mês que passou a designar-se por Janeiro e que se segue ao solstício do inverno após ter passado a primeiro mês do calendário romano com a reforma introduzida por Numa Pompílio. Ora, a designação de janeiras ou janeiradas pela qual passaram a ficar conhecidas as reisadas apenas se deve ao facto das mesmas ocorrerem no primeiro dia do ano, não obstante o costume as prolongar até ao dia de reis ou "Adoração dos Reis Magos" que em Portugal se celebra no dia 7 de Janeiro.

Mas, sob uma forma mais ou menos cristianizada, o costume permanece e chega até nós graças à tradição, atravessando gerações e sofrendo as influências de cada época. E, o que se afigura mais notável, numa altura em que a toda a actividade humana é retirada a sacralidade que caracterizava as sociedades antigas, a espiritualidade cede o lugar aos bens materiais e outras ilusões terrenas, eis que o Homem faz renascer de novo as suas velhas tradições e estas regressam cada vez com maior brilho e fulgor. É que, sob pena de um retorno à condição animal, o ser humano jamais pode abdicar da sua essência da qual faz parte integrante a sua própria dimensão espiritual.

Uma fez terminadas as reisadas, é tempo de semear o centeio e o tomate, a cenoura e o feijão, preparar as terras para as culturas do inverno e covais para novas plantações, proceder à transfega dos vinhos e adubar as terras.

Em breve chegará o entrudus e com ele o folguedo que se destina a preparar a “serração da velha” e a entrada da Primavera. Até lá, cantemos os reis e revivamos as nossas tradições para que estas continuem a ser o que sempre foram!

GOMES, Carlos. http://www.folclore-online.com/

JANEIRAS E REISADAS

Chegou o Janeiro e com ele as janeiras. Pelos caminhos das aldeias seguem os reiseiros com as suas violas e bandolins, harmónios e cavaquinhos, indo de porta em porta cantar os reis e pedir alvíssaras. No Minho cantam os Reis Velhos e os Reis Galegos. As portas abrem-se para os receber e o anfitrião é presenteado com descantes como o menino o foi pelos reis magos com oiro, incenso e mirra no dia do seu nascimento. Após escutar com atenção os versos que lhe foram dedicados, o dono da casa convida-os a entrar e recebe-os com algumas iguarias que retira do fumeiro. Se quem recebe é generoso pode festa durar até às tantas. Contudo, se a espórtula é fraca e o acolhimento pouco amistoso, os reiseiros lançam-lhe à despedida algumas quadras satíricas em lugar dos habituais agradecimentos.

Nalgumas localidades como sucedia nas terras da Maia, o povo erguia no adro da igreja um palanque onde era representado um auto que, regra geral, se dividia em três actos ao longo dos quais se narrava a história do nascimento do messias, desde a perseguição movida por Herodes até à adoração do menino pelos pastores e pelos reis magos. As gentes maiatas por exemplo, iniciavam os ensaios das reisadas ou embrechados como também eram designadas, logo após as colheitas e a representação das diferentes personagens era quase sempre feita pelos mesmos que haviam representado no ano anterior ou então era o seu desempenho passado para outra pessoa da mesma família, sucedendo não raras as vezes que os membros de uma determinada família passavam a ser conhecidos pelo  nome das personagens que invariavelmente representavam.

Como é evidente, o costume de cantar os “reis” ou as “janeiras” prende-se com a tradição cristã do nascimento do menino Jesus e das oferendas feitas pelos reis magos quando estes se dirigiram à gruta de Belém. Não obstante e à semelhança do que sucede com as demais festividades de índole cristã, também esta possui raízes bem mais profundas que remontam ao paganismo primitivo e que se relacionam com as festividades solsticiais que ocorriam precisamente na mesma altura a que foi atribuído o nascimento de Jesus, embora sem provas que fundamentem tal acontecimento. É, com efeito, o começo do ano solar ou seja, os primeiros dias que se seguem ao "nascimento do sol" e os raios solares crescem de novo, passando o seu tempo de duração a aumentar de dia para dia, reiniciando-se o percurso que leva invariavelmente ao renascimento da natureza e dos vegetais com o entrudus da Primavera. A nossa civilização cristã mais não faz do que assimilar tais costumes antiquíssimos conferindo-lhes uma nova interpretação mais consentânea com os seus ensinamentos bíblicos.

Entre os romanos, Jano era celebrado como o deus dos portões e dos começos, do céu luminoso e das origens e, por conseguinte, o princípio de toda a existência, razão pela qual o seu nome era inicialmente invocado mesmo antes do próprio nome de Júpiter. Em virtude disso, foi o seu nome atribuído ao mês que passou a designar-se por Janeiro e que se segue ao solstício do inverno após ter passado a primeiro mês do calendário romano com a reforma introduzida por Numa Pompílio. Ora, a designação de janeiras ou janeiradas pela qual passaram a ficar conhecidas as reisadas apenas se deve ao facto das mesmas ocorrerem no primeiro dia do ano, não obstante o costume as prolongar até ao dia de reis ou "Adoração dos Reis Magos" que em Portugal se celebra no dia 7 de Janeiro.

Mas, sob uma forma mais ou menos cristianizada, o costume permanece e chega até nós graças à tradição, atravessando gerações e sofrendo as influências de cada época. E, o que se afigura mais notável, numa altura em que a toda a actividade humana é retirada a sacralidade que caracterizava as sociedades antigas, a espiritualidade cede o lugar aos bens materiais e outras ilusões terrenas, eis que o Homem faz renascer de novo as suas velhas tradições e estas regressam cada vez com maior brilho e fulgor. É que, sob pena de um retorno à condição animal, o ser humano jamais pode abdicar da sua essência da qual faz parte integrante a sua própria dimensão espiritual.

Uma fez terminadas as reisadas, é tempo de semear o centeio e o tomate, a cenoura e o feijão, preparar as terras para as culturas do inverno e covais para novas plantações, proceder à transfega dos vinhos e adubar as terras.

Em breve chegará o entrudus e com ele o folguedo que se destina a preparar a serração da velha e a entrada da Primavera. Até lá, cantemos os reis e revivamos as nossas tradições para que estas continuem a ser o que sempre foram!

Carlos Gomes, in http://www.folclore-online.com/

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