O padre Abel Varzim foi um ilustre barcelense que sempre pugnou pela justiça social e a defesa dos direitos dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos em geral. Fundador da Acção Católica Portuguesa cujos estatutos redigiu, esteve também na origem da Liga Operária Católica. Foi vasto e diversificado o seu campo de intervenção. Enquanto deputado à Assembleia Nacional, na legislatura de 1938 a 1942, salientou-se através de brilhantes intervenções questionando aspectos da organização sindical corporativa e ainda a legislação que regulamentava as condições económicas do casamento dos militares em serviço. As suas intervenções e acção social valeram-lhe, aliás, a perseguição política.
Na sessão de 20 de Janeiro de 1939 da Assembleia Nacional, referente à II Legislatura, reunida sob a presidência do Dr. José Alberto dos Reis, o deputado Abel Varzim apresentou diversos requerimentos ao Instituto Nacional do Trabalho e Previdência diversos documentos comprovativos das condições laborais dos trabalhadores de diversas empresas. Um desses requerimentos referia-se às minas da Cabração e aparece publicado no Diário das Sessões, nos seguintes termos:
“Requeiro que, pelo Instituto Nacional do Trabalho e Previdência, me seja fornecida nota dos salários pagos, nas diferentes categorias de trabalhos, pelas minas de Cabração, concelho de Ponte do Lima, exploradas pela Compagnie Française des Mines, bem como dos horários de trabalho autorizados.
Assembleia Nacional. 19 de Janeiro de 1939. - O Deputado Abel Varzim.”
Quem já teve a felicidade de contactar de alguma forma com o labor do moleiro, num moinho de vento, certamente se apercebeu da extraordinária semelhança de numerosos vocábulos empregues neste ofício relativamente à linguagem das gentes do mar. Com efeito, existem muitos termos que lhes são comuns, em grande medida resultante da identidade de processos utilizados em ambas as actividades.
Com efeito, à semelhança das naus e, em geral, de todas as embarcações à vela, também os moinhos de vento aproveitam a mesma fonte de energia, recorrendo a uma técnica semelhante para assegurarem o seu próprio funcionamento. Tal como o marinheiro, também o moleiro deve saber medir a direcção e intensidade do vento e manobrar as velas para dele tirar o máximo rendimento. Para tal, utiliza o cata-vento estrategicamente colocado sobre o capelo do moinho e os búzios atados na extremidade das vergas. Na realidade, o moinho de vento é como um veleiro a navegar em terra firme que requer a sabedoria do seu marinheiro – o moleiro!
Quando os portugueses se fizeram ao mar, a tripulação das naus partiu de terra e era naturalmente constituída por gente que, nas suas lides quotidianas, se dedicava aos mais variados ofícios. Entre ela encontravam-se certamente os moleiros cuja arte foi seguramente determinante para as actividades de manobra uma vez que, à semelhança dos moinhos, as naus e as caravelas navegavam à vela, sendo necessários marinheiros experimentados na arte de marinharia que era, afinal de contas, a arte dos próprios moleiros.
Não admira, pois, que ambas as linguagens se confundam em grande medida. De resto, é bastante sintomática a expressão outrora utilizada pelos navegadores quando, ao constatarem a evolução demasiado lenta da nau, a ela se referiam dizendo que “a nau ia moendo”, numa clara alusão ao ritmo pachorrento com que o moinho procede à moagem do grão.
O estudo dos moinhos é de uma extraordinária riqueza e elevado interesse cultural, sob todas as suas variantes, desde o ponto de vista tecnológico como ainda etnográfico, histórico e linguístico. Refira-se, a título de exemplo, que os construtores de moinhos eram outrora apelidados de engenheiros por se tratarem, na realidade, de construtores de engenhos.
Desde que o Homem sentiu necessidade de recorrer a processos mais eficazes para moer os grãos que utilizava na sua alimentação, ultrapassando a forma primitiva de os esmagar à mão com o emprego de duas pedras, os moinhos acompanharam a evolução do seu conhecimento e reflectiram a sua própria organização social. Aproveitando os mais diversos recursos naturais e apresentando-se sob variadas formas, incluindo as azenhas e os moinhos de maré, eles encontram-se presentes nas novas tecnologias para captação da energia eólica ou ainda para bombagem de água como sucede na captação de água dos poços ou na manutenção dos diques da Holanda.
Atendendo ao valor cultural que o estudo dos moinhos representa, junta-se um pequeno dicionário comparado da linguagem utilizada pelos moleiros que trabalham nos moinhos de vento relativamente à empregue no meio náutico.
Andadeira –Mó de cima. Corredor.
Bolacho – Diz-se quando a vela tem três voltas em torno da vara.
Braços – Varas, Vergas.
Búzio – Alcatruz. Pequeno objecto de barro, por vezes com a forma de uma cabaça, contendo um só orifício, que se coloca na ponta das vergas das velas dos moinhos de vento e que, com o girar destas, produz uma espécie de assobio que permite ao moleiro calcular a intensidade do vento e a velocidade adquirida pelas velas.
Cabrestante – Sarilho. Dispositivo para fazer rodar o capelo do moinho. – Nos navios, refere-se ao sarilho para manobrar e levantar a âncora e outros pesos.
Cabresto – Corda comprida que segura as varas e que serve para efectuar a amarração das velas no exterior. – Cada um dos cabos que, da ponta do gurupés vem à proa do navio, junto ao couce do beque. O gurupés é o mastro oblíquo situado na proa dos navios.
Calha – Peça que leva o grão da tremonha para o olho da mó. Ligação entre o tegão e o olho da mó. Quelha.
Canoura - Vaso de madeira donde o grão vai caindo para a mó. Moega. Tremonha.
Capelo – Parte superior do moinho que roda em função da direcção do vento. Existem, contudo, moinhos que são rodados a partir da base, com a utilização de rodados. – Em linguagem náutica, diz-se da volta da amarra na abita que constitui a peça de madeira ou ferro, existente na proa dos navios, para fixar a amarra da âncora. Esta peça, apresenta-se geralmente de forma rectilínea e liga ao “pé de roda” e termina na roda de proa. Nos barcos rabões, embarcações da família dos rabelos durienses, indica a sua extremidade superior. Nos valvoeiros, refere-se à parte superior da caverna.
Carreto – Roda colocada na parte superior do eixo central do moinho e ligado à entrosa.
Corredor – Mó de cima, com raio idêntico ao poiso, mas com altura inferior a esta.
Eixo – Mastro.
Entrosa – Rosa dentada existente no mastro do moinho, com os dentes na lateral engrenando noutra roda dentada.
Frechal – Calha onde assenta a cúpula móvel sobre a torre do moinho.
Forquilha – Vara comprida e com a ferragem em ponta em forma de “V”. – No meio náutico também se designa por forqueta e é constituído por duas hastes de madeira onde os pescadores arrumam o mastro, a verga e a palamenta enquanto pescam. A forquilha de retranca é uma cruzeta de madeira ou de ferro colocada na borda do navio, à popa, a meia-nau, para descanso da retranca.
Mastro – Eixo do moinho de vento. – Numa embarcação designa cada uma das peças altas constituídas por vergônteas de madeira que sustentam as velas.
Meia-ponta – Diz-se quando a vela tem cinco voltas em torno da vara.
Meia-vela – Diz-se quando a vela do moinho tem uma volta em redor da vara.
Mó – Pedra cilíndrica em forma de anel que serve para moer o grão.
Moageiro – Aquele que produz moagem.
Moagem – Acto ou efeito de moer. Moedura
Moedura – Moagem.
Moega – Canoura. Tremonha.
Moenda – Mó. Acto ou efeito de moer. Maquia que o moleiro retribui em géneros. Moinho. Moenga.
Moenga – Moenda
Moer – acto ou efeito de transformar o grão em farinha – Em linguagem antiga de marinha, “a nau ir moendo” referia-se à evolução demasiado lenta de um navio.
Olho da mó – Parte vazia no centro da mó.
Pano – Diz-se quando a vela do moinho se encontra toda aberta. – Os marinheiros referem “navegar a todo o pano” quando se pretende que o navio obtenha a sua velocidade máxima, aludindo ao completo desfraldar das velas.
Pião – Eixo do moinho de vento. Mastro.
Picadeira – Ferramenta usada para picar a mó a fim de criar novos sulcos. Picão.
Picão – Picadeira.
Poiso – A mó que fica por debaixo, estática.
Ponta – Diz-se quando a vela tem quatro voltas em torno da vara.
Quelha – Calha.
Sarilho – Dispositivo para fazer rodar o capelo. Cabrestante. – Nos navios consiste na máquina onde se enrola o cabo ou cadeia do cabrestante.
Segurelha – Suporte metálico regulável que fixa o corredor ao eixo vertical. Peça onde entra o ferro que segura a mó inferior ou poiso para tornar uniforme o movimento da superior ou andadeira.
Taleiga – Saco pequeno para condução de farinha.
Tegão – Peça por onde o grão passa para moer.
Traquete – Diz-se quando a vela do moinho tem duas voltas em redor da vara. – Nos navios, é a maior vela do mastro da proa.
Tremonha – Canoura. Moega.
Varas – Hastes de madeira de auxílio à amarração. Vergas. – Nos navios, constituem peças longas de madeira colocadas horizontalmente sobre os mastros para nelas se prenderem as velas.
Vela – Pano forte e resistente que se prende aos braços dos moinhos para os fazer girar sob a acção do vento. – Nos navios e embarcações, é o pano que se prende aos mastros para as fazer navegar.
Vela fechada – Diz-se quando a vela tem seis voltas em torno da vara.
Vela latina – Vela de formato triangular geralmente utilizada nos moinhos e nos navios.
Velame – Conjunto das velas de um moinho ou de um navio.
Vergas – Varas de auxílio à amarração. – Na linguagem náutica, existe uma grande variedade de designações, as quais remetem para as velas que nelas envergavam. De sublinhar, aliás, a proveniência do verbo envergar.
Bibliografia:
LEITÃO, Humberto; LOPES, J. Vicente. Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual. Edições Culturais de Marinha. Lisboa. 1990.
Moinhos de Cima e do Marinheiro, em Carreço, no Concelho de Viana do Castelo.
A Direcção-Geral de Energia e Geologia, organismo do Ministério da Economia e do Emprego, acaba de publicar em Diário da República o extracto de dois contratos de concessão para exploração mineira na Freguesia de Cabração, Concelho de Ponte de Lima, celebrados com a empresa FELMICA — Minerais Industriais, S. A.
Um dos contratos diz respeito ao depósito situado em Porto Vieiro, com uma área concedida de 68 hectares, 27 ares e 71,5 centiares, para exploração de minerais de feldspato, quartzo e lítio. O outro é referente ao depósito de feldspato, quartzo, lítio e tântalo existente no Formigoso, com uma área de 15 hectares, 62 ares e 4 centiares.
A concessão da exploração é válida pelo prazo inicial de quinze anos, renovável por períodos não superiores a dez anos.
Sob o título “Evitemos a adulteração”, publicou a revista “Folclore” nº. 22, de Dezembro de 1971, um artigo não assinado, alusivo à Festa do Traje realizada em Viana do Castelo naquele ano. Tratou-se, na realidade, de um comentário que, pelo seu teor, deduzimos ter sido da autoria do seu próprio director. Pela actualidade que possui no que concerne à adulteração do traje da nossa região por parte de alguns agrupamentos ditos folclóricos, parece-nos da maior oportunidade e curiosidade a sua publicação neste espaço, dando simultaneamente a conhecer uma revista que na década de 70 do século passado se dedicou à “defesa e divulgação do folclore e etnografia de Portugal”.
“O Minho é, sem dúvida, a província portuguesa que mais características e motivos tradicionais nos dá. Aqui, a fidelidade á tradição é, em muitos pontos, palavra para respeitar. As suas gentes, mantêm ainda princípios que remontam de há muitos anos, com toda a singeleza, simplicidade e humildade.
No aspecto etnográfico, o Minho dá-nos também motivos curiosos, de uma riqueza ímpar. A sua indumentária é da mais rica e vistosa que temos. As danças, caracterizadas pelo vira, são quase sempre de marcação acertada, embora de efeito não muito variado. As canções, ricas de melodia, são, de um modo geral, de um cancioneiro rico e bem cuidado.
Daí, o facto de a sua capital – Viana do Castelo – ostentar o título de “capital do folclore”.
E cremos que tal possa ser. A par da descrição que atrás fazemos, aludindo à riqueza dos seus trajos, danças e cantares, bem poderá ser considerada a capital do folclore.
Como manifestação máxima, no campo etnográfico e folclórico de Portugal, Viana do Castelo tem o seu Cortejo Etnográfico e a Festa do Traje, festividades populares de grande beleza e encanto, integradas anualmente no programa das Festas da Senhora da Agonia.
Falar da Festa do Trajo, é assunto para muitas linhas, tal a sua grandiosidade.
Tivemos a felicidade de assistir à última edição daquela imponente manifestação, que teve lugar durante as Festas de Viana, do corrente ano, constituindo cartaz aliciante do grande certame. Aliás, do muito que temos ouvido sobre o grande acontecimento etnográfico, sabíamos que íamos assistir a algo maravilhoso e grandioso. Assim aconteceu, na realidade. Porém…
Todas as freguesias de Viana estavam representadas na última Festa do Traje. Elucidava-nos um desdobrável, que, à entrada, nos foi oferecido. O traje feminino da linda região minhota marcava presença relevante. Era um espectáculo grande, digno de ser presenciado de perto. E de perto, começámos a nossa apreciação. Admirámos, comentámos, registámos. Esta e aquela indumentária, este e aquele pormenor, eram motivo de grande interesse e curiosidade.
Entristeceu-nos, porém, alguns fatos, que se apresentaram menos bem. A Festa do Traje de Viana do Castelo, é, terá que ser, uma manifestação popular autêntica, com rigor. E, com pena, verificámos pormenores que a levam a uma adulteração, e que não podemos deixar de condenar, chamando a atenção das organizações futuras, para evitar que a Festa do Traje de Viana do Castelo perca o cunho de grande manifestação etnográfica e folclórica, em toda a sua verdade, Mas vamos aos factos.
Soubemos que as representações das várias freguesias, eram arranjadas por influência da respectiva Junta de Freguesia. Há, portanto, a preocupação de formar um grupo de mulheres e, nalguns casos, também homens, que, com certa remuneração, representem a freguesia na Festa do Traje. Tudo certo, só não está certo a falta de cuidado com que essas representações são organizadas, pois que cada um aparece vestido ao seu gosto e maneira, sem um mínimo de preocupação e respeito pela verdade do traje que vestem. E vem a adulteração. Vejamos: o traje masculino apareceu, em muitos casos, totalmente adulterado, sem um mínimo de rigor e verdade. Desde os sapatos finos, de pala e verniz, à moderna calça “levys”, e à branquinha camisa de nylon, tudo apareceu para estragar a beleza do espectáculo. E foi pena. Lamentamo-lo.
Como espectáculo ímpar, único mesmo, a Festa do traje de Viana do Castelo tem que continuar a impor-se como manifestação grande, com toda a sua verdade e pureza. A tarefa é das organizações futuras, empregando um maior cuidado na exibição das indumentárias pelos homens, muito especialmente. Recordamos, até, que os próprios agrupamentos folclóricos ali presentes, devidamente estruturados e oficializados, se apresentaram com certas anomalias, no que respeita à indumentária masculina, especialmente.
O Traje minhoto é lindo e vistoso, rico mesmo. Evitemos a adulteração".
O excessivo assoreamento da foz do rio Minho está a criar dificuldades à navegação de embarcações de pesca e de recreio, colocando em risco a sua segurança. Não raras as vezes, os barcos roçam o fundo arenoso ou ficam presos no leito do rio. No ano passado, a situação o próprio ferry-boat Santa Rita de Cássia teve de suspender a travessia entre as duas margens.
Os pescadores de Caminha debatem-se com grandes dificuldades para determinar o local exacto de passagem para entrar e sair da barra em virtude do canal de navegação ser praticamente inexistente. Em manhãs de nevoeiro, chegam a permanecer várias horas junto à Ínsua à espera que este se levante a fim de poderem enxergar o enfiamento da barra.
Para além dos aspectos relacionados com a segurança, afectando a actividade piscatória e a navegação de recreio, o assoreamento do rio Minho levanta ainda problemas económicos e ambientais, atendendo nomeadamente a que se trata de uma localidade com forte incidência de turismo.
A erosão causada pela acção do vento e da água, resultante nomeadamente da desflorestação provocada pelos incêndios, está na origem da excessiva acumulação e depósito de sedimentos no leito dos rios, sobretudo junto á foz, bem assim como a alteração das suas margens e consequentes inundações. A sua regularização e o estabelecimento de um canal navegável implicam o estudo prévio do leito de modo a conhecer a sua morfologia e hidrodinâmica, bem assim a determinar o cálculo de dragados e locais de depósito.
Sob o título “A Mulher do Minho”, o etnógrafo vianense Cláudio Basto publicou um interessante artigo, na edição nº 13/15, de Jan/Mar de 1924, da revista “Alma Nova”, o qual seguidamente se reproduz. O artigo é ilustrado com desenhos de Couto Viana.
“A denominação provincial de “Minho” não corresponde, em boa verdade,a uma região distintamente definida, diferenciada, - nem a ideia vulgar a respeito deste Minho corresponde com exactidão á realidade.
Em regra, associa-se a Minho a ideia de campos, milharais, cortados ou emmoldurados de videiras, e ao longe manchas de pinhais que alastram pela ondulação dos montes.
O Minho, porém, não oferece um aspecto uniforme. Quem o quiser conhecer, ter dele uma rigorosa noção de conjunto, dever-lhe há percorrer as margens dos rios, a beira-mar e as montanhas. Verá como a província é de aspecto vário, de vário pinturesco. Verá o contraste entre as margens harmoniosas, luminosas, de um Lima sereníssimo, e as margens ásperas de um Coura, a saltar por meio de alcantis, espécie de Corgo que vai, não rugindo espumas – é certo –, mas gargalhando, contente do verdume que lhe adorna e adoça as asperezas do vale… Verá a estrada de Viana até Caminha, a correr perto do mar, numa veiga plana, fértil até à babugem das ondas, – e a estrada corcovada que de Monção leva aos Arcos-de-Valdevez, aberta na ilharga de um vale fundo, majestoso, amparado por montanhas íngremes, mas em que os barrancos são emplumados de vegetação e em que os próprios penedos, enormes, de formas curiosas, parece havê-los Posto ali a natureza num poético jeito de arte… Verá as paisagens das serranias: lugares ermos, lugares povoados, terras de cultivo… Verá, enfim, espectáculos diferentes, bravezas e jardins, – mas por toda a parte dominará a cor verde, em tons inúmeros, desde o verde tam verde dos Linhares até ao verde-amarelo das vinhas e ao verde-negro dos pinheiros…
O verde – o riso da terra – é a característica, para assim dizer, da região minhota, – porque sempre a linda cor, em mil gradações, nos altos e nos baixos, por montes e vales, surge como promessa de alegria e fertilidade.
Olhando, porém, para fora dos limites políticos do Minho, alongando a vista por terras durienses, terras irmãs se divisam, – dando razão aos que, noutros tempos, se casavam a todas num lógico Entre-Douro-e-Minho, a região Verde de Portugal! (Sem falar, claro é, nas terras de além do Rio Minho, – por onde a nossa província afigura prolongar-se…)
A ideia vulgar a respeito do “Minho” não corresponde, pois, com rigor à verdade, – nem tal denominação corresponde, por maneira alguma, a uma região nitidamente diferenciada.
Abstraiamos, no entanto, do artifício dos limites minhotos, – pois que esta província é, no território interamnense, a porção de terra predominante e que afinal o caracteriza.
Assim, como não há um Minho de aspecto uniforme, também não há um tipo de minhoto, – um tipo de mulher minhota, no caso restrito de que neste momento se trata.
Os elementos raciais, primitivos e supervenientes misturaram-se em diversas proporções: confundiram-se aqui, além; prevaleceram uns ou outros, salientes, ali, acolá; – não há um tipo humano definido, normal, em última análise. Nuns pontos, como em Castro-Laboreiro, – freguesia insulada lá longe, entre serras, – há representantes da raça pequena dolicocefálica que forma o núcleo autóctone da gente portuguesa; noutros pontos do Alto-Minho há representantes da raça braquicefálica de Grenelle; noutros lugares, como em Afife, em Ponte-de-Lima, notam-se representantes da raça nórdica… Sítios há, como em Perre, nos quais, – por se efectuarem os casamentos quási só entre a sua população, obediência a um velho uso tradicional, – a população adquiriu e mantém caracteres especiais, locais, inconfundíveis.
A antropologia minhota, a não ser em poucas e limitadas regiões, está sem estudar. O estudo antropológico da província, completo e metódico, ratificará por certo largamente o que deixo dito, mal fincado na minha superficial observação e nos parcos elementos que Fonseca Cardoso nos ministra respeitantes ao caso.
Á luz da sciência não há, pois, um tipo de mulher minhota, – e não o há comàticamente, como o não há nas maneiras, na cultura, nem sequer no vestuário…
Desde a castreja rude, com a sua escura saia de fuloado, o seu singuidalho, a sua capela na cabeça e as suas chancas de pau atadas aos pés por correias, até à afifana, branca e bonita, esbelta e flexuosa, perfeitamente senhoril no seu vistoso traje aldeão e na sua breve chinelinha, há um sem-número de tipos femininos.
Mas se, em tais condições, não podemos conseguir um tipo, podemos criá-lo psicologicamente, à custa do interior, do íntimo das mulheres minhotas: pela sua actividade intensa e tenaz, pela sua resistência a fadigas sem conto, pela sua alegria tantas vezes ruidosa, – pelo seu trabalho contente, enfim.
Se o verde é a cor característica da terra minhota, o trabalho – o trabalho contente – é a qualidade característica da mulher do Minho.
(Vamos supondo que realmente existe um Minho…)
No perfil da minhota, ainda podereis achar típico o seu amor ao “ouro” – com que se enfeita exuberantemente e onde entesoura os seus capitais, o seu dote de noiva, as suas economias de esposa e mãe – o seu apego aos arraiais, onde namora, canta e baila por tempo esquecido; a sua predilecção por cores vivas, “berrantes”, com que, sobretudo no concelho de Viana, garridamente se veste – mas o que na Mulher minhota achareis acima de tudo, como verdadeiramente típico, é o seu amor ao trabalho, que executa satisfeita, alegre.
É vê-la em casa: cozinhando, fiando, tecendo o linho, a estopa ou a lã; compondo a roupa; preparando o cesto para ir feirar e “armar” o dinheiro preciso para os “arranjos”… É vê-la fora de casa: nos moutes, à caruma, à carqueja, às pinhas, ao mato; no desabrigado dos campos, amanhando a terra ou apascentando o gado; no mar, entre os penedos, toda molhada, apanhando o argaço para estrumar as terras; pelas estradas, guiando o carro-de-bois e às vezes fiando simultaneamente para melhor “aproveitar o tempo”; e até em serviços de carga e descarga de navios e vapores, de comboios e carros, entregue a labutas pesadas, pesadíssimas…
E sempre cantando, sempre satisfeita e alegre!
Canta durante o trabalho; canta ao ir par ao trabalho; canta à tardinha, leve e ligeira, recolhe a casa!
Não +e, todavia, apenas assim que a minhota ajuda o homem – ou, equivalente, o substitui.
Pode o homem ir para longe, para a Espanha, para a França, para o Brasil, para a Califórnia, para o inferno – que a mulher ficará em casa não só dirigindo oss serviços domésticos, tratando dos velhos e das crianças, mas ainda olhando pelos bens, cuidando das terras, atendendo solícita, de mótu-próprio, sozinha, a tudo, a tudo, sem sacrifício, com prazer, cantando – e só por vezes, ao clarão vermelho do sol morrente, nesse canto que evola do seu coração a saudade de Aqueles que longe, lá muito longe, em terras estranhas, também moirejam por ela e para ela…
in jornal “NOVO PANORAMA” nº 57, de 30 de Novembro de 2011
Desde que D. Afonso Henriques, junto à pequena ermida de Nossa Senhora do Azevedo, perante o capelão das freiras do Convento de Vitorino e dos seus próprios cavaleiros que o seguiam, demarcou couto na Cabração, não há memória de outro rei ou governante que ali tenha estado. Mesmo em relação a entidades com maior proximidade como governadores civis e até presidentes de câmara, contam-se certamente pelos dedos os que alguma vez visitaram a localidade, para além de alguns encontros furtivos com a população à saída da missa dominical, em tempo de campanha eleitoral.
Apesar da sua grande dimensão geográfica que supera alguns concelhos do país, o número de eleitores é actualmente quase insignificante: dispõe apenas de 155 habitantes numa área de 16,43 quilómetros quadrados. Em termos comparativos, o Concelho da Amadora possui 23,77 km2 repartidos por 11 freguesias. A área do Concelho de S. João da Madeira não vai além dos 8,11 km2. Em face da sua realidade demográfica, a Freguesia da Cabração deixou de eleger os membros da Assembleia de Freguesia, apenas reunindo o Plenário.
Em termos de funcionamento, os encargos financeiros da Junta de Freguesia da Cabração são irrelevantes uma vez que os seus eleitos não dispõe de funcionários, de Assembleia Municipal nem os seus eleitos permanecem a tempo inteiro ao serviço da autarquia. Porém, as suas vantagens são significativas uma vez que possibilita a resolução de problemas locais que, de outra forma, seriam esquecidos.
Durante muito tempo, a Freguesia de Santa Maria da Cabração viveu no mais profundo atraso e isolamento, inclusive em relação às demais freguesias do Concelho de Ponte de Lima. O péssimo estado da estrada e a ligação por autocarro de carreira apenas dois dias por semana impossibilitavam o emprego e forçavam os seus habitantes a partir para Lisboa ou o estrangeiro. Até a electricidade chegou tardiamente, em 1975, tendo sido das últimas localidades do país a beneficiar de electrificação.
Apesar da mudança de regime, a situação não se alterou significativamente. Em Ponte de Lima, a política continuou a ser discutida às mesas dos cafés do Largo de Camões, indiferente ao que se passava na miserável aldeia com a sua gente humilde e ignorante. E, durante as últimas décadas, foram os seus habitantes que resolveram os problemas como sabiam e podiam.
Aproveitando os recursos financeiros que a gestão dos baldios lhes proporcionou, construíram arruamentos, pavimentaram estradas, ergueram muros de protecção, pesquisaram nascentes de água e encaminharam-na para os depósitos a fim de efectuar a sua distribuição domiciliária. Em resumo, foram os seus próprios habitantes que decidiram meter mãos à obra e criar algumas condições de vida dignas nesta localidade.
Entretanto, no conforto dum gabinete ministerial em Lisboa, resolveram uns sujeitos perturbar a pacatez desta aldeia, traçando-lhe um destino que mais não é do que a entrega dos seus destinos a quem não vive no local nem sequer conhece os seus problemas. E, como um disparate nunca vem só e não querendo ficar atrás, começaram outros nas esplanadas do Largo de Camões a rabiscar um novo mapa político-administrativo para o Concelho de Ponte de Lima, inventando novas freguesias e congeminando a fusão das freguesias de Cabração, Estorãos, Moreira do Lima, Bertiandos, Fontão, Sá e S. Pedro de Arcos. Melhor seria que transformassem o Concelho de Ponte de Lima numa única freguesia…
A Freguesia de Santa Maria da Cabração é um exemplo paradigmático. Raramente, ao longo da sua existência, foi atendida nos seus anseios pelo poder central e até mesmo pelo próprio município de Ponte de Lima. Foram os seus próprios moradores que resolveram a maior parte dos problemas e promoveram os melhoramentos locais. A extinção dos seus próprios órgãos autárquicos vai transferir para um ponto distante a capacidade de decisão em relação aos assuntos que lhe dizem respeito, o mesmo é dizer que vai ficar votada ao abandono como sempre aconteceu por parte daqueles que agora pretendem traçar o seu futuro sem conhecerem minimamente a realidade, e quiçá a sua própria localização.
A actual lógica dos que nos governam – seja a partir de Lisboa ou das esplanadas do Largo de Camões – é a de acabar com tudo como se um país não fosse mais do que um mero balancete comercial. Se a natalidade diminui não se contraria essa tendência, antes se encerram as maternidades. E, nessa lógica, encerram-se as escolas, os hospitais e os centros de saúde. E, assim, um projecto de reforma administrativa que poderia apresentar resultados vantajosos se aplicado nas cidades transforma-se em arma de arremesso contra o próprio país ao ser utilizado como uma forma de promover o despovoamento do interior.
A revista “O Anunciador das Feiras Novas” é uma publicação anual de informação, turismo, cultura e artes liminas, propriedade da Associação Empresarial de Ponte de Lima e coordenada por Alberto do Vale Loureiro. Tal como o seu título indica, destina-se a divulgar as Feiras Novas de Ponte de Lima, reunindo além do programa dos festejos uma vasta e diversificada colaboração sobre temas relacionados com Ponte de Lima. Com óptima apresentação gráfica, constitui uma das mais interessantes publicações de índole cultural que se produzem no Minho, sendo todas as edições muito solicitadas ao ponto de se esgotarem pouco tempo decorrido da sua distribuição.
Naturalmente, com conteúdos diferentes em relação à sua edição em papel, “O Anunciador das Feiras Novas” também se encontra na Internet, no endereço http://anunciadordasfeirasnovas.blogspot.com/
A imagem mostra a Igreja de S. Miguel do Castelo, em Guimarães, segundo uma gravura da revista “O Ocidente” nº 79 de 1 de Março de 1881. Reza a tradição que aqui terá sido baptizado D. Afonso Henriques, o que parece pouco crível atendendo ao facto da sua construção ter ocorrido no século XIII.
Como disse o sábio grego Platão, existem no mundo três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar. Essa verdade torna-se particularmente evidente quando, na praia, as mulheres aguardam ansiosas o regresso dos pescadores, trazendo consigo o peixe que há-de ser o seu sustento. Mas, sobretudo, o retorno com vida para junto dos seus. Não raras as vezes, as horas de espera angustiosa transformam-se em luto, dor e raiva porque o mar lhes roubou o marido, deixando viúvas e órfãos à mercê dos infortúnios da vida.
Face ao perigo que enfrenta e aos receios pelos riscos que corre, o pescador não pode temer o mar e sentir-se dominado pelo medo: ele tem de regressar ao mar. Caso contrário, aguarda-o a fome, a miséria e o desprezo dos restantes membros da comunidade. A tarefa não é fácil e alguns, revelando-se incapazes, acabam por afogar uma existência miserável no álcool, refugiando-se nas tabernas, vendo ao longe o bulício do cais e as embarcações zarpar.
A pescaria pode ser abundante mas, em casa do pescador, a mesa nunca é farta. Quando está mau tempo não podem trabalhar ou perdem redes. Existem alturas que o peixe que mal chega para custear o combustível do barco. E, quando apanham bastante peixe, este passa a valer pouco dinheiro… na lota, quais predadores à espera do cardume, os intermediários disputam ávidos pelo melhor preço que lhes vai permitir obter o maior lucro na transacção até chegar ao prato do consumidor!
A pesca é uma das actividades mais remotas do Homem representando, desde tempos imemoriais, um dos seus meios de subsistência. Entre os primitivos cristãos, adquiriu um significado tão especial que o peixe constituiu um dos seus primeiros símbolos. São inúmeras as passagens bíblicas que fazem alusão à pesca e aos pescadores. De resto, encontravam-se entre os apóstolos de Jesus Cristo alguns pescadores, tendo sido porventura Simão, chamado Pedro, o que ficou mais célebre por ter sido o primeiro a chefiar a Igreja.
Aos pescadores portugueses se deve em grande parte a histórica grandeza de Portugal porque foi também com base nos seus conhecimentos e experiência que se planearam e realizaram os Descobrimentos marítimos, da barca se fez caravela e das nossas praias se partiu para os quatro cantos do mundo. Não fora o mar e as suas gentes e jamais Portugal poderia ter permanecido como uma nação livre ao longo de mais de oito séculos de existência.
No seio da comunidade que somos todos nós – os portugueses – constituem os pescadores uma sociedade com o seu próprio modo de vida, a sua característica maneira de ser, os seus usos e costumes. A sua vida é feita junto à praia perto da qual habitam, observando diariamente o mar à distância sempre que não entra nele para ir pescar. Em regra, estabelecem entre si os mais estreitos laços de parentesco, estabelecendo uma genealogia que por vezes é representada através de símbolos, dos quais se destacam as famosas siglas poveiras. De norte a sul do país, entre as diferentes comunidades piscatórias, liga-as uma origem e um passado comum, a que não são alheias as medidas empreendidas ao longo de séculos para povoar o litoral e, desse modo, garantir a vigilância costeira e a sobrevivência das populações.
Foi ainda a preocupação em assegurar o sustento de uma população que, em resultado da revolução industrial, registava um notável crescimento demográfico, o que levou Portugal a virar-se de novo para o mar a partir dos finais do século XIX, tornando-se por impulso do Rei D. Carlos um dos países pioneiros na moderna investigação oceanográfica, o que veio abrir caminho à industrialização da actividade piscatória. Mas, ao lado desta, subsiste a pesca artesanal como base da subsistência de pequenas comunidades de pescadores que fazem ainda da pesca o seu modo de vida porque foi esse o legado que lhes deixaram os seus antepassados. Os pescadores, como referiu Platão, pertencem ao género de homens que andam no mar!
Numa altura em que se preparam as comemorações dos duzentos anos do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, parece-nos de toda a oportunidade transcrever o que a revista “O Ocidente” nº. 198, de 21 de Junho de 1884, publicou a respeito das comemorações do seu primeiro centenário. Aquela publicação referiu então o seguinte:
“Nos dias 30 e 31 de Maio ultimo e 1 e 2 de Julho corrente realisaram-se com grande pompa e extraordinária concorrência de povo, em Braga, as festas do centenário do Sanctuario do Bom Jesus do Monte. Estas festas consistiram em procissões, Te Deums, sermões, exposições de gado e de rosas, illuminações, fogos d’artificio, etc.
Foi grande o concurso de povo a essas festas que mais brilhantes correriam se não viesse a chuva orvalhal-as nos últimos dias.
Para registar essas festas o Occidente dedica hoje uma das suas paginas ao Bom Jesus de Braga, essa Cintra do Minho, um dos logares mais pittorescos e formosos de Portugal cujas bellezas naturaes tem sido realçadas por tudo que a arte moderna tem inventado de mais elegante e de mais confortável. É longa a historia do Sanctuario do Bom Jesus e não a faremos aqui.
Foi nos fins do século XV em 1492, que o arcebispo de Braga D. Jorge da Costa, edificou no alto do monte do Espinho, uma pequena ermida sob a invocação de Santa Cruz.
Apesar da devoção popular ter corrido ao chamamento do arcebispo, não foi ella tão grande e tão profícua, que d’alli a 28 annos não estivesse completamente em ruínas a pequena ermida de Santa Cruz.
Valeu-lhe o deão da Sé de Braga, D. João da Guarda, que a reedificou e ampliou, em 1522.
D’alli porém a alguns annos a ermida voltou a cahir em ruína, e foi então que em 1581 se instituiu uma confraria de devotos para reedificar e ampliar o templo mudando a invocação de Santa Crus em Bom Jesus do Monte, passando assim o monte do Espinho, que já então se chamava monte de Santa Cruz a denominar-se monte do Bom Jesus.
Vendo o templo reedificado os successores de D. João da Guarda começaram a disputar-lhe a posse, intentaram uma demanda contra a confraria, que não se sentindo com forças para luctar com tão poderoso inimigo, cedeu logo.
Em 1720, porém, o desembargador, juiz dos resíduos veio em auxilio da confraria, convocou-a novamente, fez eleger uma mesa forte, meza que tomou á sua conta a demanda, e finalmente em 7 de Junho de 1722, o arcebispo D. Rodrigo de Moura declarando-se juiz da confraria, fez com que o deão desistisse da demanda há longo tempo encetada.
Foi D. Rodrigo de Moura que demoliu a antiga ermida e mandou construir um templo muito maior que ficou concluído em 1725.
D’ali a 64 annos, D. Gaspar de Bragança, filho legitimado de D. João V, mandou edificar o actual cujo plano e execução foram devidos ao architetos Carlos Luiz Ferreira da Cruz Amarante, lente de desenho da Academia de Porto, fallecido em 1815. N’estes últimos annos a montanha tão afamada e tão pittoresca do Bom Jesus de Braga tem tido grandes melhoramentos.
O engenheiro o sr. Brandão aformoseou extraordinariamente a bella matta do Bom Jesus, fazendo um bello lago artificial no alto do monte, lago onde passeiam varios barcos e atravessado por uma ponte extremamente pittoresca.
Graças ao sr. Gomes, um dos homens mais emprehendedores de Portugal, o Bom Jesus depois de possuir um magnifico hotel que está a par dos melhores de Lisboa e que não tem na província nenhum que se lhe iguale, tem um elevador, o primeiro que se fez no paiz, que acabou com todas as fadigas da ascenção ao alto monte, e que o torna o passeio favorito de toda a gente de Braga e de todos os touristes que percorrem o nosso Minho.
A nossa gravura representa uma alameda do Bom Jesus, o templo erecto no alto da montanha, o pórtico da entrada da escadaria das capellas, e o lago artificial feito ao pé da matta”.
Foi em 1871 que, pela primeira vez, realizou-se em Viana do Castelo um espectáculo tauromáquico, integrado nas festas em honra da Senhora d’Agonia. Para o efeito, foi montada uma praça improvisada, em madeira.
Situado em plena Praça da República, o Viana Taurino Clube foi fundado em 10 de Agosto de 1910, tendo comemorado recentemente o seu primeiro centenário.
Com capacidade para receber perto de cinco mil pessoas, o redondel da Argaçosa foi construído em 1949, passando Viana do Castelo a dispor de uma praça de touros com carácter definitivo… ou talvez não!
Em Janeiro de 2009, a Câmara Municipal de Viana do Castelo adquiriu a Praça de Touros, alegando-se então que não existia tradição de tauromaquia em Viana do Castelo. A observação cingia-se naturalmente à tourada enquanto espectáculo, dissociando-a portanto das suas raízes mais profundas que estão na origem das festas do Espírito Santo e da Vaca das Cordas entre outras tradições. Ainda assim, interrogamo-nos se o espectáculo tauromáquico não possui tradição em Viana do Castelo?
A comunidade minhota que vive em Newark, no Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos da América, está em festa. O Rancho Camponeses do Minho preparou a rusga e convidou todos os ranchos a organizarem a sua própria rusga e participarem na grande festa minhota que se vai realizar na noite do próximo dia 7 de Janeiro.
O Rancho Camponeses do Minho é constituído por minhotos e seus descendentes radicados naquela cidade nos Estados Unidos da América e apresenta os trajes, as danças e os cantares da nossa região, com especial destaque para Viana do Castelo. O grupo conta já com mais de duas décadas de existência e inclui um rancho infantil que há-de assegurar a continuidade das nossas tradições no seio daquela comunidade.
De acordo com nota de imprensa da Câmara Municipal, “com o mês de Dezembro à porta, o Município de Paredes de Coura apresenta um leque variado de iniciativas para celebrar a presente quadra festiva. Cantatas, oficinas, festas, teatro… rendem-se à magia do Natal, para deleite de miúdos e graúdos.
Corolário das actividades de enriquecimento curricular, nas vertentes de música e dança, as crianças da Escola Básica 1/Jardim de Infância de Paredes de Coura levam ao palco do Centro Cultural da vila, nos próximos dias 7 e 9, pelas 21 horas, as cantatas intituladas “O Desejo de Natal”.
Igualmente no Centro Cultural decorrerá a tradicional Festa do 1º Ciclo e Pré-Escolar, no dia 16, a partir das 14 horas, e reúne, uma vez mais, condições para suscitar o interesse tanto do público infantil como adulto. Desta feita, o respeitado Grupo de Teatro da EB2,3/S de Paredes de Coura interpreta a produção “O Principezinho”, adaptada da famigerada obra do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry. A encenação está a cargo de Ana Costa e Fátima Pereira.
Na Paisagem Protegida de Corno de Bico, o Centro de Educação e Interpretação Ambiental organiza, no dia 20, a oficina “Natal Reciclado”, destinada a um público-alvo com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos, que consiste na elaboração de lembranças originais, a partir da reutilização de diferentes materiais.
Entretanto, o Museu Regional convida a população a “(Re)criar o Natal”, nos dias 21 e 22, entre as 14 e as 18 horas, mediante a construção de uma árvore ecológica. Para complementar o animado evento, não faltarão ainda as típicas rabanadas de leite. Esta iniciativa conta com a colaboração dos idosos da Santa Casa da Misericórdia”.
A “Revista do Minho” foi um projecto interessante e ousado que surgiu há precisamente 25 anos. Interessante porque, ao contrário da generalidade da imprensa da nossa região, visava tratar o Minho numa perspectiva integrada, vendo-o como um todo homogéneo, sem descurar contudo as especificidades próprias de cada concelho e das próprias sub-regiões. Ousado porque a tiragem de 5 mil exemplares do seu primeiro e único número talvez fosse exagerada logo de início, atendendo sobretudo a que a publicidade decerto não cobria todos os seus custos de produção. Em todo o caso, uma iniciativa que reputamos do maior interesse e que apenas lamentamos o facto de não ter registado continuidade para além do primeiro número.
Dirigido por Mário Leitão, a “Revista do Minho” deveria ter periodicidade mensal e propunha-se “defender os interesses da região minhota e do país”, “promover as populações minhotas e defender o seu património”, criar espaços de diálogo e intercâmbio, cultural, artístico, desportivo, turístico e recreativo” e “patrocinar e promover, dentro das suas possibilidades, conferências, exposições, cursos, viagens e outras actividades”. Aquela publicação que se assumia como “uma revista mensal de informação, cultura e turismo”, manifestava-se “aberta à colaboração de todas as pessoas ou entidades que desejem participar na prossecução dos seus objectivos”, reservando-se “o direito de publicar a colaboração que lhe seja enviada”.
Aqueles princípios que constituíam o seu “Estatuto Editorial” são, no essencial, os mesmos que norteiam o BLOGUE DO MINHO.
Uma semana após a implantação da República em Portugal, mais precisamente em 12 de Outubro de 1910, instituiu o Governo Provisório os feriados do novo regime, contando-se entre eles o dia 1 de Dezembro então identificado como o dia da “Autonomia da Pátria Portuguesa”. Em 30 de Junho de 1911, a 11ª Sessão da Assembleia nacional Constituinte aprovou o Projecto de lei do governo que instituiu os novos feriados, nos seguintes termos:
“Tendo o Governo Provisório da Republica Portuguesa decretado a abolição da consagração official dos dias santificados e estabelecido como feriados, por merecerem a homenagem nacional, os dias 1 e 31 de Janeiro, 5 de Outubro e 1 e 25 de Dezembro, e tendo ainda concedido às câmaras municipaes do país o direito de, a dentro das respectivas municipalidades, estabelecerem um dia feriado á sua escolha, devendo portanto ser considerados extraordinarios todos aquelles que, alem dos já citados, venham a estabelecer-se, a Assembleia Nacional Constituinte dispõe e estatue o seguinte:
Artigo 1.° São só considerados feriados officiaes, para os effeitos do abandono de trabalho durante vinte e quatro horas pelos operarios adventicios do Estado ou dos municipios, os dias já decretados pelo Governo da Republica Portuguesa, e os que tenham sido ou venham a ser estabelecidos pelas differentes municipalidades, isto é, um por município conforme foi decretado.
Art. 2.° Quando porventura se reconheça a necessidade de estabelecer novos feriados, aos operarios a que se refere o artigo anterior ser-lhes-ha facultativo o poderem trabalhar.
§ unico. Quando por qualquer motivo extraordinario não se possa manter a concessão expressa no artigo anterior, os operarios a que se refere o artigo 1.receberão sempre os respectivos vencimentos.”
O regime republicano estabeleceu de imediato uma nova liturgia condizente com o seu próprio ideário, incluindo nela as celebrações de carácter patriótico e de evocação dos feitos republicanos, edificando a partir desse sincretismo uma nova religião cívica que contemplava outros ritos e símbolos como o busto da República, o hino, a divisa “saúde e fraternidade”, o panteão nacional e a Festa da Árvore.
As agremiações culturais e recreativas a que hoje vulgarmente designamos por colectividades de cultura e recreio constituíram um meio privilegiado de intervenção política dos republicanos, de veicularem as suas ideias e, através delas, implantarem a sua organização. Essas entidades foram, em grande medida, a face visível da organização do Partido Republicano, da Carbonária e da própria Maçonaria, não admirando aliás as semelhanças existentes nas suas próprias normas estatutárias. Desse modo, também as celebrações do dia 1 de Dezembro tiveram por base organizativa essas entidades que, um pouco por todo o país, multiplicavam as iniciativas comemorativas com a realização de concertos musicais e festividades populares.
Um pouco por toda a parte mas sobretudo naquelas regiões onde a influência do Partido republicano mais se fazia sentir, surgiram inúmeras associações e bandas filarmónicas, sociedades de instrução e recreio e centros escolares republicanos cuja denominação aludia ao dia 1 de Dezembro. Ainda actualmente é possível encontrar muitas dessas colectividades principalmente nos arredores de Lisboa e nos concelhos da margem sul do rio Tejo.
À medida que a situação política do país se agrava e o regime entra em decadência também as celebrações do 1 de Dezembro vão perdendo o seu fulgor inicial, apenas prosseguindo pela força do hábito criado em tais agremiações e como forma de manter a sua dinâmica cultural, nalguns casos, porém, providas de grande significado local como sucede em Santo Aleixo da Restauração.
Com o advento do Estado Novo na sequência da ditadura militar de 1926, também o Estado Novo criou os seus ritos comemorativos e passou a evocar os lugares de memória que procurava evocar. À altura em que o Estado Novo se estabeleceu, estavam em voga na Europa as ideias fascistas que irradiavam sobretudo de Itália e que encontravam em Portugal numerosos adeptos sobretudo no Nacional-Sindicalismo de Rolão Preto, o qual fazia então grandiosas demonstrações com os seus “camisas azuis”. Avesso a manifestações tão ostensivas e procurando um apaziguamento social a todo o custo, o Prof. Oliveira Salazar baniu o Nacional-Sindicalismo levando ao exílio dos seus principais dirigentes, ao mesmo tempo que criava a Associação Escolar Vanguarda (AEV), antecessora da Mocidade Portuguesa, para esvaziar politicamente os “camisas azuis” do Nacional-Sindicalismo.
A partir de então, foi essencialmente à Mocidade Portuguesa que foi atribuída a responsabilidade pela organização das celebrações do dia 1 de Dezembro, centradas na Praça dos Restauradores e junto ao antigo Palácio dos Condes de Almada, em Lisboa, com a realização de grandiosas paradas e desfiles. De resto, a própria Mocidade Portuguesa instalou o seu quartel no referido palácio, vulgarmente conhecido por “Palácio da Independência”, tendo-se ali mantido até à altura do 25 de Abril de 1974. De referir que, possuindo as suas estruturas uma implantação em todos os estabelecimentos de ensino nos quais os alunos eram obrigados a participar nas suas actividades, as celebrações do dia 1 de Dezembro representavam um ritual a contribuir para a formação patriótica da juventude.
Durante o governo do Prof. Marcello Caetano, curiosamente um antigo Comandante da Mocidade Portuguesa, aquelas paradas deixaram de se realizar e a actividade da organização foi decrescendo.
Entre a I República e o Estado Novo alteraram-se substancialmente os ritos comemorativos na medida das diferenças ideológicas que os distinguiam. De igual modo, enquanto a I República privilegiou a participação popular baseada nas instituições que controlava, o Estado Novo conferiu-lhe uma nova estética mais guerreira assente na Mocidade Portuguesa, na Milícia e outras organizações paramilitares que faziam parte do regime. Porém, é durante o Estado Novo que os lugares de memória relacionados com a efeméride adquirem uma maior expressão, da mesma forma que o regime se preocupa com a recuperação dos monumentos nacionais, procedendo ao restauro de castelos e igrejas um pouco por todo o país.