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Qual cronista da pátria limiana, tal como a seu tempo o foi Fernão Lopes em relação ao Reino de Portugal, José Ernesto Costa relata-nos por palavras e imagens quadros simples da terra e da vida das gentes limianas, retendo-nos na memória de tempos idos que urge fixar no registo histórico para não mais se perderem na voragem dos tempos ou na correria do quotidiano. São imagens e palavras que surgem compiladas em livro que é, na realidade, um excelente álbum que dá pelo título “Crónicas de um outro tempo”.
Para além de vasta colaboração poética, jornalística, fotográfica e de crítica literária dispersa em vários jornais e revistas, José Ernesto Costa publicou em livro “Poemas da Terra e do Lima” e ainda “Cheia do Rio Lima” que constitui um excelente registo fotográfico e histórico de um dos fenómenos naturais que mais tem marcado a região limiana e a vida das suas gentes ao longo dos séculos.
José Ernesto Costa nasceu e vive em Ponte de Lima. Publicou três volumes de ““Crónicas de um outro tempo”. Resta-nos a esperança de que as sua crónicas não se fiquem por aqui, apesar dos tempos serem outros.
O Arquivo Municipal de Paredes de Coura promove, no próximo dia 28 de Outubro, pelas 18 horas e 30, as conferências “Tibães no Arquivo Secreto do Vaticano”, da autoria de Micaela Ramon, professora auxiliar do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, e “Na Rota dos Mosteiros Beneditinos: Luz e Trevas sobre Ganfei”, da mestre em Teoria da Literatura, pela Universidade do Minho, Ana Paula Ferreira. A primeira oradora procurará desvendar alguns aspetos indicadores da importância do mosteiro beneditino de Tibães no contexto das relações de Portugal com o mundo, nomeadamente durante o período da expansão portuguesa, a partir das referências que o vastíssimo Arquivo Secreto do Vaticano faz a documentos produzidos por religiosos daquele mosteiro.
Por seu turno, ainda dentro da mesma atmosfera temática, a docente e investigadora Ana Paula Ferreira propõe-se reavivar a “fervilhante” actividade cultural e espiritual do mosteiro beneditino de Ganfei, com base no estudo aprofundado das Memórias escritas pelo monge tibanense Frei António da Assunção Meireles. A reconstituição da história dessa casa religiosa levar-nos-á às ligações a Paredes de Coura, numa viagem ao passado que se prende com a própria História de Portugal.
Micaela Ramon é Professora Auxiliar do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, onde lecciona Literatura Portuguesa dos períodos Renascentista, Maneirista e Barroco e Português como Língua Estrangeira em cursos de graduação, pós-graduação e extensão. É licenciada em ensino de Português–Francês, mestre em ensino da Língua e da Literatura Portuguesas e doutorada em Literatura Portuguesa por aquela Universidade. Tem publicada a obra Os Sonetos Amorosos de Camões. Estudo Tipológico, sendo igualmente autora de cinco verbetes do Dicionário Camoniano, elaborado sob a coordenação do Prof. Doutor Vítor de Aguiar e Silva.
Licenciada em Português – Francês, pela Universidade de Évora, em 1995, Ana Paula Ferreira é professora do Ensino Básico e Secundário, desde 1990, tendo desempenhado ao longo da carreira vários cargos, entre os quais o de Presidente do Órgão de Gestão da Escola Secundária de Paredes de Coura. Concluiu o Mestrado em Teoria da Literatura, área de especialização em Literaturas Lusófonas, na Universidade do Minho, tendo desenvolvido a sua dissertação sobre o manuscrito Memórias para a História particular do Mosteiro de Ganfei, de Frei António da Assunção Meireles.
Recorde-se que as conferências temáticas se integram na estratégia de dinamização cultural prosseguida pelo Arquivo Municipal de Paredes de Coura, aberto ao público em 5 de Maio de 2008, a par da organização de exposições, lançamento de livros, coordenação de projectos pedagógicos, visitas guiadas, entre outras iniciativas de interacção com a comunidade.
O Município de Vila Nova de Famalicão vai organizar no dia 5 de Novembro o Seminário: “Património Periférico – Cultura e Território”, que irá decorrer na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. Este seminário está enquadrado na exposição itinerante: “Património à Prova de Água: Apontamento para a salvaguarda das Azenhas e Açudes nas margens do Rio Ave - Vila Nova de Famalicão / Trofa”, patente na Biblioteca Municipal de 3 a 26 de Novembro, a qual tem por base a investigação realizada pelo Arquitecto Rogério Bruno Guimarães Matos sobre a história da actividade e tecnologias associadas de 15 Azenhas e 9 Açudes localizadas na área de “fronteira administrativa” dos concelhos vizinhos: Vila Nova de Famalicão e Trofa. Neste seminário serão apresentados diferentes casos práticos de trabalho já realizado nesta área, procurando assim, suscitar a discussão sobre os diferentes caminhos já percorridos, e quais os novos desafios que são colocados.
Mais informações e inscrições (gratuitas) on-line em: http://www.vilanovadefamalicao.org/_exposicao_e_seminario
A imagem mostra o Campo da Feira, em Guimarães, no início do século passado.
Da antiga Igreja de Nossa Senhora de Rio de Couros apenas resta a torre que se vê na imagem. A sua demolição representou uma perda irreparável do património, exemplo que não deve ser seguido.
“Porque, antigamente, abundavam, abundavam ali os curtumes, a terra passou a denominar-se Rio de Couros. Ao que se afirma, lá deve ter existido uma cidade ou grande povoação cujo nome se ignora, sendo também, de anotar que houve, nessa terra, uma capela consagrada a Nossa Senhora de Rio de Couros, ou Radecouros, como noutros tempos se dizia, e que, por fim, mudou para o título de Nossa Senhora da Piedade. Em escavações várias, feitas nas próximidades da igreja, foram encontrados não somente ossos de homens de grande estatura, crânios ainda com dentes, cipós, ou seja colunas próprias para a afixação de instruções de interesse público ou decisões do Senado romano, alicerces, pedaços de telha, tudo denotando grande antiguidade.
A fama do santuário da bonita e pitoresca localidade chegava longe, muita gente admirando o fervor religioso da população, de velhos e novos.
Em Rio de Couros passou a viver um dia, um homem, natural de Arcos de Valdevez, chamado Gaspar Moreira, que foi moço de câmara do rei D. Sebastião. Estava na corte de Lisboa quando o “Desejado” se encaminhou para África e travou com os mouros a célebre batalha de Alcácer Quibir, infausto combate ocorrido em 4 de Agosto de 1578, e no qual, entre outros portugueses e bons cristãos, intervieram, não só aquele monarca, como Gaspar Moreira, que ali ficou prisioneiro. A sua presença irritava constantemente os agarenos, que alimentavam o desejo de lhe dar morte violenta. Poucos cativos, como é da história, foram resgatados, e outros ali morreram em consequência de ferimentos que tiveram no duro combate, e, depois, cheios de fome ou maltratados. Os carcereiros mouros revelavam com as atitudes tomadas contra eles o seu rancor à Pátria lusitana.
Gaspar Moreira era tratado de maneira diferente pois estava preso à parte e às ordens de um oficial da moirama. Beneficiava de certo conforto na masmorra e de boa alimentação.
Numa noite luarenta, quando meditava sobre a sua vida, viu o tal oficial andar passeando perto dos muros da prisão. Na mão direita levava uma espada, e, com a esquerda, segurava uma forte corrente de ferro, a que prendia um grande e domado leão.
O lusitano, continuando junto das grades, ouviu, estupefacto e atemorizado, ele falar com a fera, dizendo que não tardaria muito que não lhe proporcionasse um farto banquete, pois o cristão estava engordando e ía atirar com ele para a sua boca para que o devorasse. Queria vingar-se dos portugueses, que tendo expulso os mouros das Espanhas, ali em Marrocos, os tinham, depois, atacado, mas sido vencidos por graça de Alá. Ante tal facto, atemorizado pela ideia de que o leão o mataria, recordou-se das suas romagens ao Santuário de Nossa Senhora de Rio de Couros, lembrando-se também da Batalha de Alcácer Quibir, dos seus companheiros de armas e de D. Sebastião, que ali tinha perdido a vida. No dia seguinte, viu entrar na prisão o oficial mouro que levava um pensamento: verificar se, com efeito, ele estava em condições de satisfazer o seu inclemente intento. Então, o agareno perguntou-lhe se desejava ficar liberto, ao que logo respondeu, afirmativamente. Nova atitude do oficial o deixou perturbadíssimo, pelo que fez uma prece a Nossa Senhora da Natividade para que, milagrosamente, o livrasse do cativeiro e o conduzisse para Portugal.
De repente, uma luz raiou na prisão, aparecendo-lhe a Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços, fazendo-lhe sinal para que a seguisse. Então, as portas do cárcere abriram-se e ele acompanhou a sua libertadora, que, momentos após, desapareceu. De joelhos, tendo reconquistado a liberdade, agradeceu-a ao Céu e à Senhora da Natividade. Logrou, depois, regressar a Portugal, nessa altura já sob dominação castelhana, logo se dirigindo à ermida de Nossa Senhora de Rio de Couros para se lhe mostrar grato pelo seu milagre. Mais algum tempo passou e, quando sentiu a morte aproximar-se, rogou que o seu corpo – e assim se fez – fosse metido num caixão de pedra e sepultado junto da capela. Isso fortificou, justificadamente, a fé que já se tinha na miraculosa Senhora”
In Jornal “O Século”, secção “Lendas de Portugal”, de 25 de Dezembro de 1970
Fonte: http://auren.blogs.sapo.pt/
A ponte de Barcelos não escapou à fúria destruidora do património que levou à substituição das guardas originais por grades de ferro.
Fonte: http://monumentosdesaparecidos.blogspot.com/
O jornal “A Capital” na sua edição de 22 de Julho de 1910 dispensou rasgados elogios ao grafismo do cartaz que anunciavam as Festas Gualterianas desse ano, na cidade de Guimarães. Para além de tais referências, descreve os aspectos relacionados com a organização e o programa dos festejos, mormente a “batalha de flores” com as ornamentações, o desfile de meia centena de carruagens, a instalação do coreto para actuação das bandas de música e os pavilhões destinados à exposição agrícola e ao mercado industrial de Guimarães. E conclui: “Todos estes attractivos, que hão de chamar enorme concorrência a Guimarães, se devem aos patrióticos esforços da direcção da Associação Commercial”.
Painel de azulejos existente junto ao escadório da Igreja de Rio de Couros, em Ourém
“No dia 4 de Agosto de 1578, ficou prisioneiro dos mouros, Gaspar Moreira, Moço de Câmara de El-Rei Dom Sebastião, Filho de Pedro Alves Bandeira, 4º Neto do Grande Gonçalo Pires Bandeira, era natural de Arcos de Valdevez, Nossa Senhora da Natividade, que se venera nesta Igreja, livrou-o da prisão e cativeiro”.
- Legenda que consta do painel de azulejos existente na escadaria de acesso à Igreja de Rio de Couros e que reproduz uma antiga gravura outrora existente na sacristia da capela entretanto demolida.
Fonte: http://auren.blogs.sapo.pt/
A construção do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, foi concluída há duzentos anos. Para assinalar a efeméride, a Confraria de Bom Jesus do Monte vai realizar nos próximos dias 20 a 22 de Outubro um Congresso sobre o Barroco no qual vão participar historiadores e outros especialistas portugueses e brasileiros especialistas na matéria.
Para além do carácter científico deste evento no qual vão participar mais de 70 congressistas, o Congresso Luso-Brasileiro do Barroco deverá constituir o ponto de partida para a apresentação da candidatura deste monumento a Património Mundial da UNESCO. A candidatura deverá contemplar o conjunto arquitectónico do Santuário e a estância envolvente.
Projectado por Carlos Amarante, considerado um dos mestres do barroco português, a construção do Santuário do Bom Jesus do Monte foi iniciada em 1784, tendo ficado concluída em Setembro de 1811 com a construção do escadório com as suas capelas e Passos da Paixão.
A Confraria de Bom Jesus do Monte (Braga) vai assinalar durante o próximo mês de Outubro (dias 20-22) a data da conclusão arquitectónica do Templo com a realização de um evento de carácter científico, a saber: um Congresso sobre o Barroco, o primeiro especialmente consagrado às realizações do barroco em Portugal e no Brasil, e reunindo estudiosos do fenómeno do barroco, brasileiros e portugueses.
Na verdade, o actual Templo que remata o monumental escadório, com as Capelas e Passos da Paixão, ficou concluído em Setembro em1811, substituindo um antigo Templo Barroco que vinha do tempo de D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) e que ocupava o patamar inferior ao que ocupa o actual (onde se encontra hoje um fontanário artístico). Continuariam depois as obras com o preenchimento dos interiores (das talhas e pinturas), e depois continuando também várias obras nos jardins exteriores que se prolongariam, por todo o Século XIX que, praticamente, lhe deram a feição geral com que hoje o conhecemos.
Podemos dizer que o conjunto arquitectónico passou por 4 ou 5 momentos principais: Uma primitiva capela ou ermida dedicada a Santa Cruz, que vem, do Século XIV e que com certeza deve a sua fundação ao Arcebispo D. Gonçalo Pereira (1326-1348) (sob invocação de Santa Cruz do Monte).
Este Arcebispo esteve na Batalha o Salado (1340) - uma das decisivas batalhas peninsulares - travadas contra a presença e domínio árabes e contra o Islão. O Arcebispo esteve aí, com Afonso IV, com as suas hostes e as de seu filho - D. Álvaro Gonçalves Pereira. O Primaz atribuiu essa notável e decisiva vitória à intervenção de S. Cruz de quem era devoto e que seu filho, Prior do Crato, levava em estandarte, conduzindo as hostes: Neste sinal da Vera Cruz… vencereis seus inimigos (Ruy de Pina, Chronica d´El-Rei Dom Affonso IV. Ed. Biblion Lisboa. 1936.168). O resultado foi a ereção de uma ermida comemorando o feito e assinalando essa devoção. A Ermida, desde aí, foi reunindo devoções e atraindo devotos, nesta primeira fase, essencialmente da Cidade de Braga.
Essa vetusta ermida seria substituída por uma outra de traça "moderna" - gótico final, ou manuelina ou renascentista - que como era já a moda do tempo - atendendo até à importância e ao enorme património económico da personalidade a quem se atribuem essas obras (pelos anos de 1493-98) - D. Jorge da Costa. Mais que restauro, ter-se a tratado de uma nova fundação em torno do mesmo devocionário - a Santa Cruz. Durante muito tempo, essa data, foi tomada como a data da fundação do Bom Jesus do Monte. Por cerca de 1525 essa construção já oferecia ruína. O Deão D. João da Guarda, ao tempo em que D. Diogo de Sousa "refundacionava" a cidade de Braga com vários edifícios ao estilo Manuelino ou da Renascença, reconstruiu ou, mais verosimilmente, edificou nova capela que alguns definem como "construção em grande". Com peripécias varias, seria essa construção, a que alimentou as devoções e os interesses de alguns particulares até 1629 em que se criou a Irmandade ou Confraria de Bom Jesus do Monte, que desde aí, também com peripécias e acidentes vários, tem regido até à atualidade, os destinos devocionais e artísticos do Complexo do Bom Jesus do Monte. Surgia a partir daqui uma nova feição monumental a cujos traços gerais obedeceu a posterior intervenção de D. Rodrigo de Moura Teles, documentando os primeiros passos do maneirismo e do barroco nortenhos.
O complexo monumental, de feição barroca setecentista, com as capelas dos passos da Paixão que rematava esses complexo e que ocupava, como dissemos, o imediato patamar abaixo do actual templo, são obra de outro grande Arcebispo - D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) a quem Braga, nesses aspectos, muito deve. Intervenções essas que aqui se materializam a partir de 1722.
Os tempos posteriores são de prosperidade devocional e monumental.
O Bom Jesus do Monte transforma-se no grande santuário de romagem não só de Entre Douro e Minho como do conjunto do Reino. Aí acorrem devotos de todas Províncias desde o Minho à linha do Tejo. E as famosas romarias são agora (não o foram antes?) um misto de devoção religiosa e de folguedo laico profano a que os tempos da festa (como foram essencialmente os do Século XVIII) a que a beleza do lugar, tanto convidavam paralelos a um profanismo e laicismo que foi acompanhando o bem-estar geral que se sentiu por quase todo este Século XVIII, (tenham dito ou continuem dizendo, outros, o contrário) e que tiveram nas grandes Romarias e centros de romagem a expressão mais completa e por vezes mais heterodoxa, em termos de religião.
As acomodações tornaram-se exíguas e, por sua vez, a Capela ou Santuário que rematava o escadório começou a ameaçar ruína.
Eram chegados os tempos das últimas grandes intervenções artísticas e arquitectónicas que deram ao Santuário a feição que hoje conhecemos. Correu paralelas com outra época de esplendor arquitectónico que a cidade de Braga conheceu, com o último Arcebispo régio - D. Gaspar e Bragança (1758-1789). Coincidia também com o apogeu económico do próprio Santuário ou Confraria. Vários artistas de renome trabalharam então para este Santuário: engenheiros, arquitectos como carpinteiros e imaginários e pintores, como Mestres pedreiros.
Ameaçando ruína a capela Setecentista do tempo de D. Rodrigo, exíguos os espaços de culto e acomodações, encomendou-se um novo Templo. Seria construído no patamar superior ao que ocupava o anterior do tempo de Moura Teles. Foi o Arquitecto Carlos Amarante, que já na cidade exercia importantes cargos em obras e por incumbência do Arcebispo e da edilidade e que na mesma deixaria outras obras notáveis. Começaram as obras em 1784 tendo-se concluído em Setembro de 1811.
É este acontecimento que serve de pretexto para a realização do referido Congresso mas também de efeméride comemorativa dos 200 anos da conclusão arquitectónica do actual Templo.
Embora vários exemplares da obra deste arquiteto estejam muito ligados ainda ao barroco terminal, podemos dizer que, com o Novo Templo do Bom Jesus do Monte, na traça arquitectónica, como na decoração dos interiores (que quase na totalidade se lhe devem também), se remata em Braga, e em geral, Ciclo do Barroco abrindo-se decisivamente o caminho ao Neo-clacissismo, estabelecendo, em simultâneo, um corte e um remate da formulária barroca que continuou (e continua) presente no Escadório nas Fontes e nas Capelas dos Passos e outras que, entretanto, compuseram todo o conjunto.
Aurélio de Oliveira, Faculdade de Letras do Porto, presidente da Comissão Científica do Congresso
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/
“VIANA DO CASTELO – Roteiros Republicanos” é um livro da autoria de Alberto A. Abreu cuja edição foi promovida pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República.
É um excelente trabalho historiográfico que nos convida a percorrer o período da Primeira República no Distrito de Viana do Castelo, remetendo para a crise vivida desde 1891 que criou as condições para o derrube do regime republicano e acompanhando os principais acontecimentos vividos pelo novo regime, desde os conflitos com a Igreja à participação na Grande Guerra e ao Sidonismo.
Nele abordam-se ainda aspectos relacionados com a actividade económica, o artesanato, as artes e as letras.
Com excelente aspecto gráfico e magnificamente ilustrado, esta constitui uma obra cuja leitura é indispensável para quem queira conhecer um período importante da nossa História vivido na nossa região.
Em 1912, a Câmara de Deputados debatia o traçado da linha férrea do Vale do Lima e as condições para a criação de uma estância turística em Santa Luzia, servida por elevador. Registamos aqui uma passagem do Projecto de Lei então apresentado à Câmara dos Deputados em 23 de Janeiro daquele ano e publicada em Diário da Câmara dos Deputados.
A quem pretender conhecer mais pormenorizadamente a questão jamais resolvida da construção da linha férrea do Vale do Lima, sugerimos a leitura do artigo “A Linha-Férrea do Vale do Lima” publicado na edição de 2007 da revista “O Anunciador das Feiras Novas”.
"PROJECTO DE LEI
Artigo 1.° Os contractos de 27 de Setembro de 1904 e 4 de Março de 1907 para a construção e exploração dos Caminhos de ferro de Braga a Guimarães, Braga a Monção e Viana a Ponte da Barca serão modificados em harmonia com as prescrições das bases anexas à presente lei, que dela ficam fazendo parte integrante.
Art. 2.° É revogada a legislação em contrário.
Base 1.ª
1.° O caminho de ferro do Vale do Lima seguirá a margem direita do Rio Lima em toda a sua extensão, desde Viana até o entroncamento na linha de Braga a Monção.
2.° A Empresa concessionária fica obrigada a construir uma ponte sôbre o Rio Lima em Lanheses para ligação da estrada das duas margens, logo que o rendimento líquido das linhas concedidas com garantia de juro atinja 7 por cento do capital garantido, assistindo â mesma o direito de cobrar as portagens previstas no contracto.
3.° Em nenhum dos troços das linhas a construir poderá ser excedido o limite do 25 milímetros nas inclinações.
4.° Os projectos dos troços de Lanheses a Ponte da Barca e dos Arcos a Monção serão apresentados no prazo dum ano a contar da data do novo contracto feito nos termos da presente lei.
5.° O prazo de sete anos previsto no contracto para a construção do troço dos Arcos a Monção é reduzido a cinco anos, contados da data da aprovação dos respectivos projectos;
Todos os outros troços serão construídos no prazo de três anos, contados da data do novo contracto celebrado nos termos da presente lei, para aquele cujos projectos estejam já aprovados, e da data da aprovação dos projectos para os restantes.
6.° A mesma empresa fica obrigada a estudar e promover desde já, quanto em si caiba, a criação duma estância em Santa Luzia, junto de Viana do Castelo, servida por ascensor e dotada com os atractivos e comodidades precisas para chamarem ali concorrência de excursionistas, devendo submeter à aprovação do Govêrno, no prazo dum ano a contar da data do novo contracto feito nos termos da presente lei, o respectivo projecto elaborado em harmonia com as indicações das estações oficiais competentes.
Base 2.ª
A fusão das companhias do Pôrto à Póvoa e Famalicão e do caminho de ferro de Guimarães com a empresa concessionária das linhas de Braga a Guimarães, Braga a Monção e Viana a Ponte da Barca, aceite em princípio por despacho ministerial de 22 de Julho de 1909, deverá ser sujeita ás seguintes condições"
Seca do bacalhau em Viana do Castelo, indicador claro da existência de marinhas de sal.
Desde os tempos mais remotos, o sal é explorado nos estuários dos principais rios portugueses. Os romanos utilizavam-nos na produção do garum que era armazenado nos tanques de salga existentes na região de Setúbal e com ele pagavam aos seus soldados, o que explica a origem semântica do termo salário. Existem ainda outras formas de exploração como a extracção do sal-gema nas minas de Loulé ou nas marinhas de Rio Maior, constituindo este um caso notável de aproveitamento turístico desta actividade de que há registo escrito desde o século XII.
Para além daqueles exemplos, a extracção do sal subsiste ainda na Figueira da Foz, Alcochete, Alcácer do Sal e Olhão, não existindo praticamente memória da sua produção a norte do rio Mondego. Porém, a mesma verificava-se em tempos idos na foz do rio Lima, junto a Viana do Castelo, sendo disso testemunha a toponímia local. Uma vez abandonada esta actividade, ficaram os sapais que, apesar das regras de protecção ambiental, parecem desafiar os urbanistas na sua ânsia de levar o betão e o alcatrão até ao limite da sua ambição.
A recuperação das marinhas de sal de Viana do Castelo e a sua transformação em núcleo museológico, com funções didácticas, poderia constituir uma mais-valia cultural e turística para a região uma vez que seria um caso singular no norte do país. Aliás, à semelhança do que se verifica com o moinho de maré existente no rio Lima, conhecido por “Azenha de D. Prior”. A procura turística está cada vez mais virada para a vertente cultural e não se contenta mais com a visita a um monumento bastante conhecido, por mais valioso e apreciado que seja. Também os mais jovens se interessam em conhecer os processos naturais de produção, incluindo o ciclo do sal, conscientes de que este não nasce misteriosamente nas prateleiras dos supermercados.
Por outro lado, a recuperação das marinhas de sal representa o enriquecimento do nosso património cultural uma vez que traz-nos ao conhecimento, uma das formas de vida que outrora também ocupava os vianenses. É que, se noutras épocas existiram marinhas de sal na foz do rio Lima também existiram salineiros que fizeram desse o seu modo de vida. E, por conseguinte, possuíam os seus instrumentos de trabalho, o seu vestuário apropriado, os seus ritmos e modos de ser. E, quem sabe, ainda existirão peças de interesse junto dos descendentes dos antigos marnotos. Aliás, este deve constituir um tema de reflexão relacionado com o folclore vianense.
A presença do sal na economia e na dieta alimentar dos portugueses assumiu particular relevo na época dos descobrimentos quando era utilizado na conservação dos alimentos, medida considerada necessária para a sua preservação durante viagens tão prolongadas. Não admira, pois, a forma como consumimos o bacalhau e também a secagem de outros peixes, como ainda se pode observar na Nazaré, aliás à semelhança das práticas dos povos da península indiana em virtude do enorme afastamento de muitas cidades em relação ao mar. De resto, o seu tempero marca de forma algo indelével o paladar dos portugueses ao longo de sucessivas gerações e distingue a sua culinária em relação às dos demais povos europeus. O sal constitui, pois, um dos factores de desenvolvimento económico e os diferentes aspectos da vida que lhe está relacionada uma das marcas da nossa identidade.
Algures na Polónia, um luxuoso hotel foi construído no interior de uma mina de sal-gema idêntico à que existe em Loulé. Entre nós, as marinhas de sal de Rio Maior organizaram-se como cooperativa de sal e turismo, continuam a exportar muitas toneladas especialmente para a Holanda e recebem diariamente muitas centenas de visitantes. Da mina de Loulé é extraído o sal que é espalhado nas estradas francesas para desobstruí-las da neve. Alcochete criou um pólo museológico com ligação aos estabelecimentos de ensino da localidade. A cidade de Viana do Castelo bem poderá recuperar as suas marinhas de sal e transformá-las num grandioso pólo de animação cultural e turístico.
Numa época de escassez de petróleo devido às limitações do comércio marítimo no contexto da Segunda Guerra Mundial, alguns países socorreram-se do chamado gasogénio para assegurar nomeadamente o funcionamento de transportes públicos. Tal foi o caso dos autocarros de carreira entre Viana do Castelo, Ponte de Lima e Arcos de Valdevez como a foto documenta.
O gasogénio foi inventado na década de vinte do século passado pelo engenheiro químico francês Georges Imbert e consistia numa mistura combustível de gases produzida por um método de combustão incompleta com recurso a madeira e carvão entre outros combustíveis ricos em carbono em combinação com oxigénio e até vapor de água, razão pela qual também é denominado por “gás de síntese”. Na imagem, vemos o equipamento instalado nas traseiras do autocarro.
A Câmara Municipal de Viana do Castelo editou há algum tempo o livro “Um Traje da Nação. Traje à Vianesa”, da autoria de António Medeiros, Benjamim Pereira e João Alpuim Botelho. A cerimónia pública de lançamento teve lugar nas instalações recentemente renovadas do Museu do Traje, a assinalar o Dia dos Museus e integrado nas comemorações dos 750 anos da atribuição do Foral a Viana do Castelo por D. Afonso III.
Pela sua extraordinária beleza e graciosidade dos seus bordados, por tudo que ele representa em termos de criatividade artística e o trabalho que lhe está subjacente, não apenas na sua confecção como ainda nos processos de cultivo, o “traje à vianesa” constitui uma das maiores preciosidades da nossa cultura tradicional e, seguramente, o traje mais emblemático de todos quantos nos identificam como povo.
Considerado o mais belo traje tradicional do nosso país, o “traje à vianesa” transmite a alegria e a vivacidade das nossas gentes, a habilidade artística da mulher minhota, o seu apego à família e às lides domésticas. Através do traje podemos traçar o seu perfil psicológico, estudar os usos e costumes, analisar o contexto social, económico e histórico em que se originou, compreender os comportamentos sociais, os processos agrícolas, enfim, reconstituir a vida social de um povo em todas as suas vertentes.
As moças cuidam da confecção do seu traje como o mesmo desvelo e talento que o ourives emprega na criação da filigrana ou o poeta no encadeamento dos seus versos. Vários foram os escritores que lhe prestaram a maior atenção e dedicaram o seu estudo, como sucedeu com Cláudio Basto cujo livro, “Traje à Vianesa”, ainda constitui uma obra de referência no domínio da etnografia. E, quando o envergam, a mulher minhota revela uma atitude elegante e digna que faz realçar ainda mais a sua beleza natural, salientando discretamente as suas formas graciosas e deslumbrando pelo brilho e o esplendor dos seus adornos a sua figura esbelta.
Disputam os folcloristas a origem do “traje à vianesa”, procuram saber onde o mesmo era utilizado e as formas como se apresentava, vasculham em velhas arcas carcomidas alguma peça de vestuário esquecida para questionarem a sua antiguidade, questionam se o mesmo levava mais linho ou estopa, qual o comprimento original da saia e como deveria aparecer a algibeira sob o avental. São preocupações naturalmente compreensíveis e até justificáveis do ponto de vista etnográfico, não obstante por vezes se confundirem com uma espécie de bairrismo estéril. Porém, apraz-nos registar o enorme interesse que rodeia o “traje à vianesa”, não nos admirando, pois, a disputa que o mesmo suscita: Afinal de contas, quando se trata de defendermos aquilo que é realmente nosso e nos identifica, somos todos minhotos – somos todos vianenses!
Como é evidente, à semelhança do que sucede com todas as coisas, também o “traje à vianesa” se submete às influências das épocas e respectivas modas, registando também os efeitos perversos do uso que lhe é dado, para além da sua primitiva finalidade que consistia simplesmente num vestuário para ser utilizado em dia de festa. Numa determinada época, as exigências do turismo encolheram as saias e provocaram outros estragos que ainda são visíveis no nosso folclore. Enfim, a passagem do tempo e as mudanças sociais causam inevitavelmente o seu desgaste nos objectos e nas mentalidades.
Na realidade, tal como disse Cláudio Basto, “na província do Minho não há, para as mulheres, como para ninguém, um só vestuário regional típico – e nem sequer o há em Viana do Castelo”. O traje à lavradeira possui tantas variantes quantas as aldeias e a criatividade das suas gentes na confecção do seu próprio vestuário e, sobretudo, neste traje que apenas era usado em dias de festa. Sucede que, a sua origem remonta a um tempo em que a indústria então emergente ainda não conseguira impor a padronização das formas, a uniformização dos gostos e a produção da roupa “pronto-a-vestir”. Nem os modestos recursos das nossas gentes permitiam adquirir peças de fábrica, pelo que tinham de semear o linho e tecê-lo nos teares caseiros, agora arrumados ao canto da casa, em muitas aldeias da nossa região. Aliás, conforme se comprova através dos assentos paroquiais de baptismo, eram elevado o número de tecedeiras então existentes, profissão que acabaria por praticamente desaparecer.
Mas o “traje à vianesa” não se deteve na nossa região. Desde há muito tempo que ultrapassou os seus limites naturais, galgou fronteiras e atravessou mares. Ele surge nas mais variadas formas de publicidade, desde sempre foi o traje preferido das crianças no período carnavalesco e em épocas festivas, desfila nas ruas de Nova Jersey por ocasião das celebrações do Dia de Portugal realizadas pela comunidade portuguesa e é envergado por goeses e malaios que, através de ranchos folclóricos, insistem em preservar as suas raízes portuguesas. Em Lisboa, quando as marchas populares desceram pela primeira vez a avenida da Liberdade, o “traje à vianesa” foi o escolhido pela marcha do bairro de Campo de Ourique, sintomaticamente aquele que viria a vencer o concurso. E, ainda há cerca de uma dúzia de anos, aquele bairro lisboeta viria a repetir a escolha do traje, numa evocação da migração minhota que teve aquela cidade como local de destino. Também, no Museu do Homem, em Paris, é o “traje à vianesa” que figura em destaque no expositor dedicado a Portugal, qual ex-líbris a identificar o nosso país.
Não discuto se o “traje à vianesa” é de Viana ou Ponte de Lima, de Valença ou de Caminha, das Argas ou da Ribeira Lima. Ou ainda, se é mais gracioso em Carreço ou na Meadela, Afife ou Areosa, em Perre ou Santa Marta de Portuzelo. O traje de lavradeira, vulgo “traje à vianesa”, é património nacional e ex-líbris de Portugal!
No princípio era o Caos… entretanto, na ânsia de encontrar uma explicação para os fenómenos da natureza que o rodeiam, o Homem concebeu inúmeras divindades que além de representar os atributos de tais fenómenos passaram ainda a revelar emoções e sentimentos próprios dos humanos uma vez que eram construídos à sua imagem e semelhança.
Entre tais divindades, Nábia foi uma das divindades mais veneradas na faixa ocidental da Península Ibérica ou seja, a área que actualmente corresponde a Portugal e à Galiza, durante o período que antecedeu à ocupação romana. Na mitologia céltica, Nábia, era a deusa dos rios e da água, tendo em sua honra o seu nome sido atribuído a diversos rios como o Navia, na Galiza e o Neiva e o Nabão em Portugal. Inscrições epigráficas como as da Fonte do Ídolo, em Braga e a de Marecos, em Penafiel, atestam-nos a antiga devoção dos nossos ancestrais à deusa Nábia.
Quando ocuparam a Península Ibérica à qual deram o nome de Hispânia, os romanos que à época não se haviam convertido ainda ao Cristianismo, adoptaram as divindades indígenas e ampliaram o seu panteão, apenas convertendo o nome de Nábia para Nabanus, tal como antes haviam feito com os deuses da antiga Grécia.
Qual reminiscência do período visigótico, a crença pagã em Nábia – ou Nabanus – viria a dar origem na famosa lenda de Santa Iria – ou Santa Irene – cujo corpo, após o seu martírio, ficou depositado nas areias do rio Tejo junto às quais se ergueram vários locais de culto, tendo inclusive dado origem a alguns topónimos como a Póvoa de Santa Iria e, com a introdução do Cristianismo, a atribuição do seu nome à antiga Scallabis, a actual cidade de Santarém.
Bem vistas as coisas, são em grande parte do rio Nabão e das suas nascentes as águas que o rio Tejo leva ao Oceano Atlântico, junto a Lisboa, depois daquele as entregar ao rio Zêzere. E, é nas águas cristalinas do rio Nabão que habita a deusa Nábia e nas suas margens que Santa Iria encontrou o eterno repouso