VILA PRAIA DE ÂNCORA: A APANHA DO PATÊLO
Desde os finais do século XIX, as gentes do litoral minhoto acostumaram-se a recolher na praia as algas que depois as transportavam para os terrenos de cultivo. Um pouco por toda a costa, era ver ranchos de sargaceiros e sargaceiras com as suas branquetas mar-a-dentro, estendendo as algas na areia da praia para secarem ou fazendo palheiros.
A principal finalidade da apanha do sargaço consistia na fertilização dos campos de masseiras. Porém, algumas espécies de algas como a botelha serviam para a produção de tintura de iodo, a guia para outras aplicações medicinais e a beleza para o fabrico de sabonetes e outros cosméticos, reservando-se a taborra e o maio para a adubagem dos campos.
Com o decorrer do tempo, a faina do sargaceiro foi caindo em desuso, apenas persistindo a sua memória na representação do nosso folclore. Não obstante, as suas ricas propriedades medicinais e alimentares, para além de constituírem um fertilizante natural, prenunciam o regresso dos sargaceiros, naturalmente sem o aspeto pitoresco de outros tempos.
Apanha do sargaço. Foto: Jornal de Notícias
"No Agosto começa a faina do patelo, assim se chama ao mexoalho ou pilado, que se deita vivo à terra para estrume. Junta-se no mar uma esquadra de barcos, que vêm da Póvoa, de Viana e de Caminha; junta-se na praia uma fiada de carros de todas as aldeias, próximas ou longínquas, que o transportam para o interior das terras. O areal está alastrado de patelo que remexe. Vende-se a lanço ou a cesto, que leva cada um dois alqueires, e custa três tostões. E por toda a costa neste tempo vai a mesma agitação na apanha do sargaço…”
Raul Brandão, de Caminha à Póvoa