CAMINHA: ROMARIA AO S. JOÃO D'ARGA É UMA DAS MAIS CASTIÇAS E PITORESCAS FESTAS DO MINHO
Quem nunca foi à romaria de S. João d’Arga, no concelho de Caminha, incorre na mesma pena do muçulmano que, pelo menos uma vez na vida, não peregrinou a Meca. Esta é porventura uma das mais genuínas romarias que se realizam no Minho.
A mais de oitocentos metros de altitude, em pleno santuário da natureza, situa-se a capelinha do S. João d’Arga, rodeada de quarteis onde se alojam os peregrinos. E, em redor, num sublime hino ao Criador, a vida selvagem revela-se em todo o seu esplendor. Os garranos apascentam livremente nos planaltos agrestes da serrania e a vegetação respira o ar livre das impurezas da civilização humana.
A quebrar a tranquilidade e pacatez das gentes serranas, o S. João d’Arga chama os peregrinos que, de terras distantes, ali acorrem em devoção ou por simples atração pela folia. E, com eles, misturados nos ranchos de romeiros, lá vêm os tocadores de concertina que, durante a noite inteira, vão animar a festa com os seus cantares brejeiros a lembrar as cantigas medievais de escárnio e maldizer.
Aqueles que por fé sincera ali vão no cumprimento de uma promessa dão três voltas em redor da capela, findas as quais se dirigem ao seu interior para depositar uma esmola ao santo… e outra ao diabo! Assim convém para que este, ao longo do ano, não faça tantas diabruras…
Em regra, as promessas a S. João d’Arga têm a ver com pedidos de cura de verrugas, quistos, doenças de pele e infertilidade ou ainda ajuda para arranjarem casamento. De resto, como veremos, a devoção a S. João d’Arga revela cultos ancestrais ligados a ritos de fertilidade.
Pelo caminho, os romeiros passam junto ao “penedo do casamento” onde têm o costume de lançar uma pedra para que esta ali fique, no cimo dele, dependendo das tentativas feitas para o conseguir com êxito o tempo de espera para a concretização do desejo.
Não estão fáceis os tempos que correm. Apesar disso, o penedo “arranja testo para qualquer panela”. E, imbuídos de fé, os solteiros não desistem:
Ó meu Senhor S. João
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que bem sabeis
Fotos: José Carlos R. Vieira / https://www.facebook.com/jose.c.vieira.9?fref=ts