Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

BLOGUE DO MINHO

Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza

VILA PRAIA DE ÂNCORA: CONTRA-ALMIRANTE JORGE MAIA RAMOS PEREIRA – UM RETRATO

100VPA_16-03-24-47.jpg

Na homenagem da população de Vila Praia de Âncora ao Contra-Almirante Jorge Maia Ramos Pereira, coube ao professor Celestino Ribeiro a intervenção de fundo, que constitui um retrato bastante completo do homenageado e que reproduzimos:

“Permitam-me partilhar com todos a honra pessoal sentida por tomar parte neste ato e nele usar da palavra. Em ano de centenário da elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora é toda uma comunidade que se ergue em uníssono, lembrando os seus ilustres, dedicados aos engrandecimentos dos lugares e das suas gentes. A família Ramos Pereira, nas três gerações de nomes, José Bento Ramos Pereira, Luís Inocêncio Ramos Pereira e Jorge Maia Ramos Pereira, estão de forma indelével associados a Vila Praia de Âncora e ao Vale do Âncora. Hoje, neste ato, cabe-nos lembrar Jorge Maia Ramos Pereira, o Contra-Almirante.

E porquê lembrar em aniversário de falecimento a figura, a obra, a pessoa que foi Jorge Maia Ramos Pereira?

Tomando as palavras escritas na Revista da Armada em Maio de 2001, num artigo síntese assinado pelo Contra-Almirante Joaquim Félix António sobre as comemorações o 1º centenário do nascimento do Vice-Almirante, Jorge Maia “Ramos Pereira não deixou descendentes directos, é certo. Mas deixou obra, designadamente no campo da radioelectricidade e das radiocomunicações, e no âmbito do Instituto Superior Naval de Guerra, e uma vida pessoal, familiar, social, profissional, militar e política, que o creditam como Homem de eleição a apontar como exemplo a seguir pelas gerações actuais e vindouras, e digno de figurar na Galeria de Honra dos Grandes Portugueses!”.

Ora, é nesse propósito, de uma partida que deixa legado, de uma ausência que não esconde a existência, que hoje cumprimos, com este ato, um exercício de cidadania que centra em Vila Praia de Âncora e no seu centenário, os valores da liberdade, do progresso, da singularidade que faz a diferença na construção social, e que afirma que o Contra-Almirante têm aqui os seus descentes, o povo que não o esquece.

Jorge Maia Ramos Pereira será sempre um Ancorense de referência, um Homem que fez do seu, e no seu, tempo um exemplo que nos honra e que nos dá sentido de pertença à comunidade.

Jorge Maia Ramos Pereira nasce a 6 de Abril de 1901 na freguesia de Gontinhães, hoje Vila Praia de Âncora. A influência paterna será seguramente um marco de elevada referência na sua formação. Filho do Dr. Luís Inocêncio Ramos Pereira e de Dona Cecília Maria Ramos Pereira, será pelo pai a sua ligação a Vila Praia de Âncora e será, como o próprio refere, no cumprimento do sonho do pai que um dia acabará por adquirir uma casa (Casa do Monte) em Vila Praia de Âncora. Republicano assumido e convicto, o dr. Luís Ramos Pereira assume o cargo de Deputado à Assembleia Constituinte de 1911 (1ª República) pelo círculo de Viana do Castelo, sendo sucessivamente eleito senador até 1926. É ele o responsável pela elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora, a 8 de Julho de 1924. A sua ligação ao Alto Minho deriva, ainda assim, do seu avô paterno. Natural da Freguesia de Riba de Âncora, no Vale do Âncora, José Bento Ramos Pereira emigra para o Brasil aos 14 anos. De regresso, torna-se benemérito, uma característica que deixará de legado, assumindo-se, mais tarde, uma nota de identidade da família Ramos Pereira.

É neste enquadramento familiar que se estrutura a formação de carácter daquele que ficaria conhecido em Vila Praia de Âncora como o Sr. Almirante.

A sua formação académica começa com o ensino doméstico. Posteriormente passa a aluno do colégio militar, terminando o curso em 1918. Nesse mesmo ano incorpora o exército. Frequenta o primeiro ano do Instituto Superior Técnico (Lisboa), mas muda a sua opção nessa altura. Faz então as preparatórias para a Escola Naval da Escola Politécnica em 1919/1920. Aos 19 anos, em 1920, o então 1º Sargento Cadete Jorge Maia Ramos Pereira é transferido para o serviço da Armada como Aspirante. A 30 de Junho de 1923 é o primeiro classificado do Curso da Escola Naval. Passa a Guarda Marinha em 1924, sendo depois promovido a 2º Tenente em 1924. É com esta patente que se evidenciam os seus valores ao nível das radiocomunicações, e a par da sua capacidade técnica e conhecimento científico, revela-se também um pedagogo. Em 1927/1928 faz o Curso de Especialização em Radiotelegrafia e Motores de Combustão Interna, montando um posto emissor-recetor de ondas curtas em sua casa. Em 1932 assume a função de professor dos cursos de telegrafia e comunicações. É ainda na altura membro da Comissão de Tradução para Português do Código Internacional de Sinais Visuais e Radiotelegráficos, e, em 1936, é incumbido de restaurar e modernizar os cursos de TSF na Escola de Mecânicos. Assume o posto de 2º Comandante da Escola de Mecânicos em 1938, mantendo-se como instrutor dos cursos de radiotelegrafia.

No ano de 1939, mais concretamente a 11 de Maio, surge uma mudança na sua vida pessoal, casando com Maria da Graça Lopes Mendonça, neta de Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931), autor da letra “A Portuguesa”, que junta à música composta por Alfredo Keil é hoje Hino Nacional de Portugal, e sobrinha-neta de Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro.

O seu círculo familiar cresce em referências republicanas. Há ainda necessariamente um quadro de referências interventivas que moldam e estruturam necessariamente o carácter de Jorge Maia Ramos Pereira.

As suas qualidades humanistas, aliadas à sua capacidade intelectual e manifestação de interesses culturais e aprofundamento científico levam-no à procura incessante de novas oportunidades. Em 1958 frequenta o Naval Command Course for Senior Foreign Officers no Naval

War College, em Newport, Estados Unidos da América, primando pela capacidade de em contextos aparentemente difíceis, fruto da sua origem (Portugal) e das relações internacionais EUA-URSS, optar por livremente dissertar sobre “A educação e a ciência na competição comunista”.

É assim de forma natural que a sua carreira militar prossegue chegando a Almirante, depois de passar por Capitão de Fragata em 1953.

Jorge Maia Ramos Pereira revelou uma enorme curiosidade e capacidade para persistir na experimentação ao nível da telegrafia sem fios.

Em 1928 construiu e montou um posto emissor-recetor de ondas curtas.

A 28 de Abril desse mesmo ano iniciou, a título experimental e de estudo, comunicações com amadores de todo o Mundo e com alguns navios. Transmitiu e recebeu diversas ordens de serviço a pedido de entidades oficiais. Posteriormente transferiu o seu equipamento para o “Vasco da Gama” quando nele embarcou e assim continuou os seus trabalhos em onda curta. Efetuou alterações (adaptações) no transmissor MC3 e com este equipamento assegurou comunicações com Lisboa durante a comissão a Angola. Até Dezembro de 1929 colaborou com a Marinha, para que fossem possíveis as comunicações radiotelegráficas entre os navios e o Ministério da Marinha.

Posteriormente, por necessidade e obrigação passa a desenvolver e a pôr em prática o seu conhecimento na Armada Portuguesa, passando por momentos em que o seu papel é mais relevante na qualidade de supervisor e responsável pela construção de estações e rádio faróis, e por outros em que se assume pedagogo, quer de forma direta na direção dos cursos, quer indireta, no trabalho desenvolvido no Museu e na colaboração da Anais do Clube Militar Naval.

Em 1937 iniciaram os cursos de TSF na Escola de Mecânicos. O então Tenente Ramos Pereira foi o seu primeiro Diretor. Mas a sua ação enquanto pedagogo não se restringiu apenas à esfera da formação ativa desta escola. A sua tenacidade na disseminação do saber e na disponibilidade do acesso ao ensino, se não toda, a uma grande parte da população portuguesa, numa altura em que Portugal estava submetido às agruras de uma ditadura que se mostrava relutante à promoção do ensino, levaram-no a várias práticas filantrópicas sendo a mais emblemática para Vila Praia de Âncora, e que retomaremos adiante, a criação da Fundação de Vila Praia de Âncora, estatutariamente “Grupo de Promoção Escolar do Vale do Âncora”.

Jorge Maia Ramos Pereira foi um escritor de lições.

Exemplo disso são as suas publicações, quase sempre associadas a momentos de aprendizagem. De entre as suas obras destacam-se “A propagação das ondas electromagnéticas na superfície da Terra” (1934), “O transmissor de onda média e longa, de 2 kW, tipo M 11 – Standard” (1935), “Radioelectricidade Elementar” (1952), ou “Gago Coutinho geógrafo” (1973).

À data da publicação de “A propagação das ondas electromagnéticas na superfície da Terra” (1934) não existia disseminado nos diversos circuitos editoriais um extenso e pedagógico manual. Jorge Maia, tomando a dianteira, prepara-se assim para se assumir um “construtor” de manuais de aprendizagem. Preparado científica e pedagogicamente, ao que não será alheio o seu exercício na formação de quadros e na gestão pedagógica dos cursos de TSF, em 1952 Jorge Maia Ramos Pereira faz publicar um verdadeiro manual, que se assume como tal, sobre bioeletricidade -

“Radioelectricidade Elementar” (1952).

Mas o seu percurso paralelo de vida, alimentado por valores progressistas e de responsabilidade nas relações sociais, serão o que de maior relevo ficará na memória dos que com ele conviveram.

Nunca deixará, contudo, de afirmar ao longo da sua vida a figura de saber, de capacidade técnica e de democrata, num país governado em ditadura.

Sempre presente na nossa comunidade, concebe e implementa um projeto, de enorme complexidade, face à necessária configuração jurídica que enquadra o movimento associativo em Portugal, e também fruto do difícil acesso aos recursos financeiros que permitem levar a cabo tão nobre intuito – a criação do Grupo de Promoção Escolar do Vale do Âncora.

Inicialmente, desde 1960, como Fundação de Vila Praia de Âncora, foram necessários praticamente 10 anos para que os estatutos pudessem ser aprovados e publicados, o que veio a acontecer em 1972, e com o nome de Grupo de Promoção Escolar de Vila Praia de Âncora.

Esta foi uma obra de beneficência, mas sobretudo de devoção ao patrocínio do saber e do enriquecimento cultural e científico num Portugal que mutilava as aspirações de progressão escolar aos seus cidadãos. Jorge Maia Ramos Pereira usa toda a sua influência, toda a sua capacidade para organizar eventos dos que recolhia dividendos para a associação, que se somariam aos contributos individuais e coletivos e quotizações para, depois, tornar possível a frequência da escola a diversos alunos oriundos de famílias com maiores dificuldades. A análise aos relatórios do exercício anual do Grupo de Promoção Escolar de Vila Praia de Âncora revela o escrupuloso rigor com que Jorge Maia Ramos Pereira acompanhava a evolução escolar dos alunos. É certo que ele mesmo os orientava nas escolhas das suas formações e no seu crescimento enquanto cidadãos, sendo lembrado por muitos que beneficiaram deste apoio e por muitas outras pessoas como alguém que não se compadecia com o erro de incúria, de pouca dedicação, mas que alentava e confortava todos os que devotavam o seu esforço à arte da aprendizagem.

A vida de Jorge Maia Ramos Pereira não pode alhear-se do contexto difícil que caracterizou Portugal durante 48 anos. Dos ideais republicanos democráticos, que com certeza se constroem primeiro no seio familiar e posteriormente em todos os campos de intervenção cívica, ficou-lhe a bravura, por vezes punitiva, de, dentro de certos limites, contrariar o regime, assumindo a verticalidade de carácter que hoje se lhe reconhece.

Assim foi, não se furtando à submissão de escrutínio e à disponibilidade para alimentar a mudança política, na candidatura, em 1969, pela oposição, no círculo eleitoral de Viana do Castelo, vendo-se bem o reconhecimento dado à sua Terra e pela sua Terra, com um resultado de 45,2% no concelho de Caminha, quando o país e o o distrito mantiveram a situação política.

Essa tónica de verticalidade esteve também presente aquando da sua demissão de Diretor do Instituto Superior Naval de Guerra.

Pesado, por isso, para si, terá sido a perseguição de um projeto democrático para Portugal, que o infortúnio da doença impediu de viver, tendo falecido a 16 de Março de 1974, praticamente um mês antes do 25 de Abril que viria a ditar o fim da ditadura em Portugal.

Jorge Maia Ramos Pereira foi reconhecido por diversas vezes, e ainda hoje assim acontece. Ficam sempre claros três aspetos fundamentais da sua figura: Carácter, Saber e Altruísmo.

São notórias as expressões de coragem e verticalidade que fizeram dele um homem observado pelo regime ditatorial vigente em Portugal.

A devoção ao saber, e especificamente no que toca à radioeletricidade e à sua aplicação à TSF foi ao longo da sua carreira reconhecido pelos seus.

Graças à sua persistência e intuição, a Armada Portuguesa foi prestigiada pelos seus serviços técnicos e disso é feita nota de reconhecimento logo após o 25 de Abril em Portugal.

Em tudo pôs dedicação, sem esperar compensação. Recebeu a Medalha Militar de Ouro da Classe de Comportamento Exemplar, o Grau de Oficial da Ordem Militar de Avis, o Grau de Comendador da Ordem Militar de Avis, o Grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Avis, a Medalha de Ouro de Filantropia e Caridade do Instituto de Socorros a Náufragos, a Medalha Militar de Prata de Serviços Distintos, a Medalha de Mérito Militar de 1ª Classe, a Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português no Estado da Índia “1954-59”, a Medalha Naval Comemorativa do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique (Ouro), o Grau de Oficial da Ordem do Império Britânico, Comendador da Ordem de Mérito Naval do Brasil, entre outras condecorações e reconhecimentos, mas seguramente que o que hoje estamos a fazer será a forma mais sublime de o a agraciar, com a gratidão pelo exemplo recebido, com a certeza de que esta é a sua comunidade, a Terra que desejou, o povo que ajudou a construir.

Vila Praia de Âncora jamais esquece os seus e por isso persistiremos na sua lembrança!”

432713136_838955504942231_584423856151724965_n.jpg

COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DE VILA PRAIA DE ÂNCORA ARRANCARAM COM HOMENAGEM AO CONTRA-ALMIRANTE RAMOS PEREIRA

100VPA_16-03-24-20.jpg

Comissão independente conduzirá o programa, que se estende ao longo deste ano

O descerramento de uma placa junto ao busto do Contra-Almirante Jorge Maia Ramos Pereira e a inauguração de uma exposição sobre a sua vida e obra, na Praça da República, em Vila Praia de Âncora, marcaram este sábado a abertura das comemorações do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora. Seguiu-se uma romagem ao cemitério onde está sepultado, e onde decorreu uma cerimónia evocativa. No final da tarde, no Auditório que tem o nome do Contra-Almirante, realizou-se mais uma sessão formal, que terminou com um espetáculo de música pelos alunos da Academia de Música Fernandes Fão.    

Dezasseis de março, o dia em que se completou meio século sobre a morte do Contra-Almirante Ramos Pereira, foi a data escolhida para dar início a um programa, que se vai estender ao longo do ano, e que vai assinalar o centenário de Vila Praia de Âncora. Esse programa é da responsabilidade da Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora, o modo escolhido para organizar a efeméride que, conforme explicou o Presidente da Câmara, Rui Lages, é também uma oportunidade de reflexão para, recordando o passado, idealizar projetos e sonhos, que não podem ser de um homem só, nem de uma instituição só, mas que encontrou a fórmula ideal numa Comissão independente.

A exposição, que fica patente no coração da Vila, aborda várias facetas da vida e obra do Contra-Almirante Ramos Pereira, como “A Família e a educação permanente”, “A carreia militar, representações oficiais e distinções”, “O pedagogo e o educador” e o “O benemérito”. Muitas vidas numa vida que influenciou a sua geração e a comunidade, em prol da qual trabalhou o homem que foi o grande responsável pelo processo que conduziu à valorização de Gontinhães, conduzindo-a com sucesso até à condição de Vila.

Junto ao seu túmulo, coube ao Professor Celestino Ribeiro evocar a vida e obra do Contra-Almirante, detalhando a evolução da sua carreira, mas sobretudo as facetas do homem que se empenhou até ao final da vida em apoiar as pessoas, de várias formas, assim como a sua Terra adorada - Vila Praia de Âncora. 

Já no Auditório Ramos Pereira, e antes do concerto, houve três intervenções, a primeira do Presidente da Câmara. Rui Lages falou do homenageado, mas abordou também alguns desafios que se colocam à Vila, mas não só. Desde logo as alterações climáticas, lembrando a situação geográfica da Vila e a forma como foi afetada há poucos anos ainda, por um temporal que até destruiu a Duna dos Caldeirões, entretanto recuperada. Revelou que está a ser ultimado o Plano Municipal de Ação Climática e deu conta da entrada ao serviço do concelho e da comunidade de dois autocarros elétricos – boas notícias para o Ambiente; defendendo também o investimento em edifícios eficientes, e dando como exemplo a escola, cujo auditório acolhia a sessão.   

Focando-se mais na Vila, Rui Lages lembrou a intervenção que está a ser realizada no Forte da Lagarteira, onde a Câmara Municipal está a desenvolver um projeto de recuperação e valorização para instalação do Espaço da Memória do Mar de Vila Praia de Âncora, intervenção financiada pelos programas Norte 2020 e Mar 2020.

O Presidente disse ainda que, em breve, será apresentada uma proposta para requalificação da Avenida 8 de Julho e defendeu também a melhoria da Praça da República, espaço de excelência, referindo que tem de ser repensada em conjunto.

O Presidente da Câmara referiu-se também à reconfiguração do Portinho de Vila Praia de Âncora, lembrando que há um compromisso do Governo para que a obra se inicie em 2026: “o Governo da República só tem uma palavra”, seja qual for a cor política de quem o lidere, disse, convidando a população a conhecer a maqueta, que se encontra exposta no GAM - Gabinete de Apoio ao Munícipe, nesta Vila.  

Estas comemoração são – sublinhou – uma oportunidade também para refletir e trabalhar com todos em prol de Vila Praia de Âncora.

Interveio de seguida o Presidente da Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, Carlos Castro, que falou sobretudo na vida e obra do Contra-Almirante Ramos Pereira, do seu legado e da sua importância para Vila Praia de Âncora.

No final, um sobrinho do homenageado teve ainda a oportunidade de intervir, para agradecer a evocação do tio nestas Comemorações.

100VPA_16-03-24-7.jpg

100VPA_16-03-24-40.jpg

100VPA_16-03-24-47.jpg

431954469_838955748275540_6140532475163591502_n.jpg

432023250_838956174942164_2201616387189308524_n.jpg

432697009_838956294942152_2202441303640495339_n.jpg

432713136_838955504942231_584423856151724965_n.jpg

432743872_838956164942165_700215117509304911_n.jpg

HOMENAGEM AO ALMIRANTE JORGE M. RAMOS PEREIRA ABRE COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA ELEVAÇÃO DE GONTINHÃES A VILA PRAIA DE ÂNCORA

1940 - capitão tenente[1].jpg

Capitão-tenente Ramos Pereira

Comemorações têm início sábado e prolongam-se até dezembro

Este é um ano importante para Vila Praia de Âncora. Comemoram-se os 100 anos da Elevação a Vila. A Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora está a organizar as comemorações com um vasto programa que têm início já no sábado, com uma homenagem da população de Vila Praia de Âncora ao Almirante Jorge M. Ramos Pereira e se prolongam até dezembro.

É de referir que Vila Praia comemora os 100 anos no dia 8 de julho. Mas, a abertura das Comemorações do Centenário de Vila Praia de Âncora é no sábado, dia 16 de março, dia em que se assinala o 50º aniversário da morte do Almirante Jorge M. Ramos Pereira.

O Almirante Jorge M. Ramos Pereira foi um benemérito para a população ancorense. Tem o seu busto na Praça da República, o coração de Vila Praia de Âncora, e também deu o nome ao mais recente auditório daquela Vila.

Enquanto benemérito, o Almirante Jorge Ramos Pereira já em agosto de 1960 havia criado a Fundação de Vila Praia de Âncora, de cariz benemérito e assistencial. Em 22 de setembro de 1972, esta passa a usufruir de um carácter formal, regendo-se por Estatutos Associativos e alterando a denominação para Grupo de Promoção Escolar de Vila Praia de Âncora. Em ambos os casos, as suas linhas orientadoras tinham como finalidade principal: prestar a estudantes necessitados de Vila Praia de Âncora e das freguesias do Vale do Âncora o auxílio indispensável à sua educação escolar na: frequência de cursos liceais, técnico-profissionais, do ciclo preparatório ou da telescola, auxiliando nas matrículas, propinas, material escolar, transportes e outras despesas, conforme as carências dos assistidos e disponibilidades financeiras da associação. Outra das facetas mais conhecidas do Almirante Ramos Pereira, era a colocação de jovens pescadores na Pesca do Bacalhau, principalmente na década de 60, após o estalar da guerra colonial, isentando-os, assim, de cumprir o serviço militar. Providenciava, igualmente, estudos a adultos que, por razões de ordem profissional, necessitavam de obter o diploma da 4ª classe.

Como referimos, as comemorações começam sábado, pelas 15H00, com o descerrar da placa de Homenagem da População de Vila Praia de Âncora ao Almirante Jorge M. Ramos Pereira no 50º Aniversário do seu falecimento 16-03-1974 * 16-03-2024, na Praça da República, seguido de Romagem ao Cemitério. 

Pelas 16H00, no Cemitério de Vila Praia de Âncora terá lugar uma homenagem, com depósito de coroa de flores, ao Almirante Ramos Pereira, com a intervenção de Adelino Morais Cabral.

A abertura das comemorações termina com a Cerimónia de Abertura das Comemorações do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora com um concerto protagonizado pela Academia de Música Fernandes Fão. Este momento decorrerá no Auditório Ramos Pereira, pelas 17H00.

O programa das comemorações via prolongar-se até dezembro com várias iniciativas que serão oportunamente divulgadas.

PESCADORES DE VILA PRAIA DE ÂNCORA E CÂMARA DE CAMINHA QUEREM QUE A RECONFIGURAÇÃO DO PORTINHO AVANCE PARA A FASE DE OBRA EM 2026 CUMPRINDO OS PLANOS

CMCaminha-0108.jpg

Maqueta está patente no Gabinete de Apoio ao Munícipe, em Vila Praia de Âncora

A obra de reconfiguração do Portinho de Vila Praia de Âncora tem condições para arrancar dentro e cerca de dois anos “e ninguém entenderia que assim não fosse, sobretudo os pescadores, que têm visto a intervenção sucessivamente adiada, comprometidas as suas condições de trabalho e a própria vida. Eles acreditaram que desta vez seria possível, têm trabalhado com os especialistas do IST - Instituto Superior Técnico, com a Câmara Municipal de Caminha e com os organismos oficiais ligados às Pescas e aos Portos. Seria mesmo muito mau que os planos fossem interrompidos e não acredito que essa injustiça possa vir a acontecer” – a convicção é do Presidente da Câmara, Rui Lages, e surge a propósito da sessão de apresentação da maqueta do projeto de reconfiguração do Portinho de Vila Praia de Âncora, agora patente no GAM – Gabinete de Apoio ao Munícipe, naquela Vila.

Um misto de alegria e esperança, mas também de algum receio e angústia, marcou a sessão em que foi divulgada a maqueta, no final da semana passada, passo que encerra um conjunto de etapas que têm sido cumpridas com rigor. Carlos Sampaio, em nome da Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora, em declarações aos jornalistas no final, admitiu isso mesmo, lembrando a falta de segurança e os valores gastos em dragagens nos últimos anos. “Este é um projeto da nossa comunidade e não pode recuar uma vírgula, não pode recuar uma palavra. Estamos há dez anos a lutar por isto, já passamos por quatro governos e já tivemos o projeto e a construção nas nossas mãos, e quando íamos começar, tivermos de recomeçar da estaca zero”, afirmou.

O responsável considerou mesmo que foram “10 anos de luta, um passo de cada vez (…) o Porto de Mar de Vila Praia de Âncora nunca foi concluído e esteve sempre inoperacional”.

“Agora, falta só mais uma etapa, só mais uma, mas é uma etapa decisiva. Diria que a parte mais difícil está cumprida. Foi feito um trabalho muito sério, muito rigoroso, muito profundo, em diálogo com todas as partes. Agora é preciso fazer a candidatura e obter o financiamento. O dinheiro é importante, mas atrevo-me a dizer que é a parte mais fácil. Os pescadores, todo o concelho tem direito a esta obra”, sublinha Rui Lages, considerando ainda que todos ganham – “não são apenas os pescadores, é a economia do concelho, é toda a nossa comunidade. O Portinho não é funcional e é perigoso, exige dragagens frequentes e com isso nada se resolve em definitivo. Temos de encontrar financiamento para a execução da obra. Sabemos que o Governo já estava a trabalhar nesse sentido - em 2026 a obra tem de estar no terreno, é isso que se exige e nada menos”, conclui Rui Lages.

A subdiretora-geral da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Isabel Ventura mostrou-se otimista sobre a possibilidade de, na prática, se cumprirem os planos definidos. O início da execução da obra está aprazado para 2026, lembrou, recordando também que, nos últimos dois anos (2022 e 2023) foi gasto cerca de meio milhão de euros em operações de dragagem para garantir que o Portinho pudesse estar funcional.

Na opinião de Isabel Ventura, com a execução da obra, o Portinho de Vila Praia de Âncora poderá ter um papel tão importante como outros portos do Norte de Portugal, constituindo mesmo uma alternativa, inclusive ao Porto da Galiza.  

A responsável salientou ainda o empenho que todas as partes colocaram no processo que conduziu até esta maqueta – “a DGRM pôs muito empenho, juntamente com a Câmara e com os pescadores. Só assim conseguimos cumprir a promessa” feita aos pescadores.

Recorde-se que, em maio de 2021, o então Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, em visita a Vila Praia de Âncora, prometeu a execução do estudo da reconfiguração do Porto de Mar de Vila Praia de Âncora, com um novo layout. A partir daí iniciou-se um processo longo e profundo, sempre em diálogo com os pescadores, Câmara Municipal, entidades ligadas às pescas e aos portos e especialistas do Instituto Superior Técnico; sempre acompanhado pela Secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho.

O Estudo de Reconfiguração do Portinho de Vila Praia de Âncora foi apresentado no Cineteatro de Vila Praia de Âncora no passado dia 6 de julho, com a participação do Diretor Geral da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos - DRGM, José Simão, e com a Secretária de Estado das Pescas.

A responsável voltou a estar presente no Congresso da Pequena Pesca, no início de novembro, altura em que foi feito novo ponto de situação do estudo.

Já em dezembro último, ainda no espaço do Cineteatro, concluiu-se mais uma etapa fundamental: o Estudo de Reconfiguração do Layout do Portinho de Vila Praia de Âncora estava finalizado e pronto para avançar para as fases seguintes. O projeto passa pela criação de um anteporto (solução A), conforme preconizam os especialistas do Instituto Superior Técnico. Foi na altura assumido o compromisso de que, de imediato, seria concluída a construção da maqueta (e entregue em Vila Praia de Âncora), para poder ser realizada a candidatura a financiamento para EIA (MAR 2020).

A previsão avançada foi de que até ao fim de 2024 possa estar concluído todo o processo burocrático e na passagem do dossiê ao novo Governo o projeto terá a indicação de prioridade.

CMCaminha-0201.jpg

CMCaminha-0255.jpg

CMCaminha-0294.jpg

VILA PRAIA DE ÂNCORA: REQUERIMENTO DE ANTÓNIO DE ARAÚJO E BRITO, ABADE DE SANTA MARINHA DE GONTINHÃES SOBRE OS PREJUÍZOS PROVOCADOS POR EMBARGOS A BULAS, FEITOS PELO REITOR DO COLÉGIO DA MADRE DE DEUS DE ÉVORA, FRANCISCO FERREIRA DE PINA EM 1634

PT-TT-VNC-D-6048_m0001.jpg

PT-TT-VNC-D-6048_m0002.jpg

Requerimento de António de Araújo e Brito, Abade de Santa Marinha de Gontinhães do Arcebispado de Braga, como procurador de D. Francisco de Lima, Deão de évora, sobre os prejuízos provocados por embargos a bulas, feitos pelo reitor do Colégio da Madre de Deus de Évora, Francisco Ferreira de Pina, em 1634.

Fonte: ANTT

QUEM FOI O BISPO CARLOS FRANCISCO MARTINS PINHEIRO – NATURAL DE VILA PRAIA DE ÂNCORA?

53271177_131134287708.jpg

Carlos Francisco Martins Pinheiro, filho de José Maria Pinheiro e de Carlota Joaquina Martins Pereira, nasceu a 30 de Maio de 1925, em Vila Praia de Âncora.

Após ter concluído a Instrução Primária, frequentou a Escola Comercial e Industrial de Viana do Castelo, durante um ano. Em 1939 ingressou no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, onde estudou humanidades. A partir de 1947 curso Filosofia e Teologia, no Seminário Conciliar, Braga. Em 1950 Director do “Cenáculo” – revista dos Seminários – Braga.

Foi ordenado sacerdote a 8 de Julho de 1951, em Braga, e logo a seguir, nomeado Prefeito, Professor e Ecónomo do Seminário de Filosofia, Braga.

Em 1953 foi nomeado para Coadjutor do Senhor Cón. Correia, pároco da vila de Ponte de Lima, capelão do Hospital da Santa Casa da Misericórdia e do Colégio D. Maria Pia. No ano seguinte ocupou, o lugar de Prior de Ponte de Lima e pároco de Feitosa e Arca, e em 1958, Arcipreste do Julgado Eclesiástico de Ponte de Lima.

Durante a sua permanência em Ponte de Lima, 19 anos como pároco, exerceu diversos cargos: Vice-Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Director do Externato Liceal Cardeal Saraiva, Presidente da Direcção da Oficina S. José, Professor no Externato e Colégio, lançou a Caritas Paroquial, fundou o Museu dos Terceiros e o Instituto Limiano. Para a instalação destas instituições restaurou as Igrejas de Santo António dos Frades e da Ordem Terceira e seus anexos, em estado de ruína. Organizou várias exposições culturais em colaboração com o Museu Soares dos Reis do Porto, com a ajuda da câmara Municipal e da Fundação Calouste Gulbenkian, restaurou a Igreja Matriz degradada e em ruína eminente.

Licenciado em Direito Canónico pela Universidade Pontifícia de Salamanca, Espanha, exerceu no último ano de paroquialidade de Ponte de Lima, o cargo de Vice-Reitor do Seminário de Filosofia, durante o ano 1968, sendo nomeado no mesmo ano Pró-Vigário Geral da Arquidiocese de Braga.

Em 1958 foi investido como Cónego da Sé Primaz de Braga.

No ano de 1978, o Senhor Arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, numa linha de inalterável linha de colaboração com o Exmo. e Revmo. Senhor D. Júlio Tavares Rebimbas, Bispo do Porto, na altura Bispo de Viana do Castelo, acedeu a que o Cónego Carlos F. M. Pinheiro então Vigário Geral de Braga, colocasse os seus préstimos ao serviço da nova Diocese de Viana do Castelo, onde exerceu os cargos de Vigário Geral, Juiz do Tribunal Eclesiástico e Presidente da Comissão de Arte e Cultura.

Em 22 de Fevereiro de 1982, o Papa João Paulo II nomeou-o Capelão, com o título de Monsenhor.

Em 22 de Fevereiro de 1985 foi eleito pelo Papa, Bispo Titular de Dume e Auxiliar de Braga.

A ordenação Episcopal teve lugar em 28 de Abril do mesmo ano, na Cripta do Sameiro, Braga, com a presença de quase todos os Bispos Portugueses e alguns da Galiza e muito clero e cristãos das dioceses de Braga e Viana do Castelo e, particularmente, uma larga representação dos Pontelimenses.

Além do múnus episcopal e do cargo de Vigário Geral, foi presidente da Comissão Diocesana de Arte Sacra e Obras e foi-lhe confiada de modo especial, a região pastoral dos arciprestados de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, Esposende, Barcelos e Vila Verde.

A nível nacional, foi membro da Comissão Episcopal Mista Bispos/Religiosos.

Em 10 de Novembro de 2000 passou a Bispo Emérito, residindo, a partir dessa data, em Ponte de Lima, sempre com ligações a Braga.

Publicou em 1949, “A Ínsua de Caminha”;

Em 1974, “Museu de Arte Sacra de Ponte de Lima” – subsídios para a sua história;

Em 1963, “O Novo Altar-Mor da Igreja Matriz”;

Em 1971, O Colégio D. Maria Pia e a sua influência na comunidade paroquial de Ponte de Lima.

Em 1962-1982, Instituto Limiano – Museu dos Terceiros – Documentos;

Em 1983, Guia do Visitante do Museu dos Terceiros (bilingue)

S/data Instituto Limiano – Museu dos Terceiros, c/ ilustrações.

Fonte: Arquidiocese de Braga

QUEM FOI A ESCRITORA MARIA DA GRAÇA LOPES DE MENDONÇA – ESPOSA DO ALMIRANTE RAMOS PEREIRA?

[Maria da Graça Lopes de Mendonça Barros Pereira] [F] [1938] 01.jpg

Filha de Vasco Lopes de Mendonça [1883-1963], engenheiro, sobrinha de Alda Lopes de Mendonça e de Virgínia Lopes de Mendonça [1881-1969], escritora, e neta de Henrique Lopes de Mendonça [1856-1931], autor de "A Portuguesa", e de Maria Amélia Bordalo Pinheiro, nasceu em Lisboa em 2 de Março de 1919 e faleceu na mesma cidade, no Hospital da Marinha, em 14 de Maio de 1979.

Casou, a 11 de Maio de 1939, com Jorge Maia Ramos Pereira [06.04.1901-16.04.1974] que fez, a partir de 1920, carreira na Armada e foi, em 1969, candidato da Oposição às eleições pelo distrito de Viana do Castelo, tendo esta lista obtido no concelho de Caminha, de onde era natural, 45,2% dos votos [Glória Marreiros].

Por proposta de Maria do Carmo Vieira, aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas em 1941.

Fonte: [in Glória Marreiros || Almirante Jorge Ramos Pereira - Uma vida - Um exemplo || Livros Horizonte || 2001] / via: Silêncios e Memórias

O ALMIRANTE RAMOS PEREIRA EM VIAGEM OFICIAL PARA TRANSPORTAR O PRESIDENTE DA REPÚBLICA GENERAL CRAVEIRO LOPES

PT_BCM-AH_APAMMSR_2.14_018_dissemination.jpg

Na fotografia data de 1955 e nela visualiza-se o Capitão de Mar e Guerra, Sarmento Rodrigues, ao centro, Jorge Maia Ramos Pereira, o primeiro à esquerda

PT_BCM-AH_APAMMSR_2.14_019_dissemination.jpg

O Capitão de Mar e Guerra, Sarmento Rodrigues, segundo a contar da esquerda, Capitão de Mar e Guerra Jorge Maia Ramos Pereira, à sua direita.

Fonte: BCM/Arquivo Histórico da Marinha

FOTOGRAFIA MOSTRA OS ALMIRANTES HENRIQUE TENREIRO E JORGE RAMOS PEREIRA A BORDO DE UM NAVIO NO COMEÇO DAS SUAS CARREIRAS MILITARES

A imagem mostra o Almirante Henrique Tenreiro e o Almirante Jorge Ramos Pereira, em data indeterminada mas que se presume remontar ao início do século XX, no começo das suas carreiras militares, a bordo de um navio, em pose de sã camaradagem.

A foto faz parte do espólio deixado pelo Almirante Henrique Tenreiro e foi gentilmente cedida ao Blogue do Minho pelo seu sobrinho-neto, Dr. Henrique Marçal.

JORGE RAMOS PEREIRA (1901 – 1974)

16387003_1105292906246754_8604779446647875389_n.jpg

Cidadão da Resistência antifascista e distinto Oficial da Armada Portuguesa, homem de grande estatura intelectual e firmeza de carácter, era admirado e respeitado na sociedade portuguesa. Apesar de permanentemente vigiado pela polícia política (desde 1933 atá ao seu enterro), aceitou ser candidato da CDE, em Viana do Castelo, nas eleições de 1969.
1. Jorge Maia Ramos Pereira (Contra-almirante), filho do médico Luís Ramos Pereira, nasceu em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha, a 6 de Abril de 1901.
Faleceu em Lisboa a 16 de Março de 1974. Era casado com a escritora Maria da Graça Lopes de Mendonça, neta do poeta Henrique Lopes de Mendonça, autor do Hino Nacional, também ela com actividades antifascistas (1).
Fez os seus estudos no Colégio Militar e em 1918 assentou praça no Exército (Artilharia). Em 1919 alistou-se no Batalhão Académico, que seguiu para o Porto, a fim de combater a Monarquia do Norte, e foi voluntário na escalada da serra de Monsanto, contra as forças monárquicas que ali se haviam instalado. Em 1920, pediu a transferência para a Armada e entrou para a Escola Naval, onde concluiu o curso da Marinha em 1924, como primeiro classificado.
Promovido a segundo-tenente em 1925, especializou-se em radio electricidade e ascendeu a primeiro-tenente em 1930, já embarcado no cruzador Adamastor, em que viria a cumprir uma relevante comissão de serviço no Extremo Oriente até Abril de 1932. Nessa comissão começou a revelar grande interesse pelas radiocomunicações, tendo sido louvado pela sua acção técnica na direcção da instalação eléctrica e dos equipamentos rádio do navio. Especializando-se em radiotelegrafia e motores de combustão interna, entre 1932 e 1935 foi professor dos cursos de radiotelegrafistas.
Foi colocado na Direcção do Serviço de Electricidade e Comunicações (DSEC) em Outubro de 1932, onde passou a desempenhar funções e iria deixar indelével marca. Entretanto, embarca em diversos navios da Marinha de Guerra Portuguesa e, concluído o curso Elementar Naval de Guerra, é promovido por escolha a capitão-tenente, em 1940, sendo nomeado no ano seguinte subdiretor da DSEC e director em 1944, funções que exerceu de forma notabilíssima durante cerca de dez anos com grande competência técnica e invulgar inteligência e dedicação. Apenas as interrompeu em duas comissões de embarque como imediato dos contratorpedeiros "Lima" e "Douro", entre 1935 e 1936. Durante a guerra civil de Espanha, sendo oficial imediato do contratorpedeiro Douro, tomou parte em diversas missões desempenhadas por este navio em portos sob o o governo republicano. Depois de frequentar o Curso Naval de Guerra, em 1940, ascendeu a oficial superior, desempenhou várias missões na Europa e no Oriente. Durante esse longo período, teve um significativo trabalho no desenvolvimento das comunicações rádio, dirigindo a construção e experimentação de novos equipamentos e organizando cursos para oficiais, sargentos artífices e praças.
Em 1941 foi nomeado subdirector e em 1944 director do Serviço de Electricidade e Comunicações da Marinha. Deixou a Direcção do Serviço de Electricidade e Comunicações em Fevereiro de 1954, e foi enviado (como Capitão-de-Fragata para exercer o comando do aviso de 2ª classe "João de Lisboa"), em difícil missão de soberania ao largo de Goa, Damão e Diu até Fevereiro de 1956, numa altura em que a Índia já reclamara a Portugal a entrega daqueles territórios. Regressado a Lisboa, seria de seguida nomeado chefe da Divisão de Informações e posteriormente subchefe do Estado-Maior Naval interino, sendo promovido por escolha a Capitão-de-mar-e -guerra. Em meados de 1957 foi indicado para o Naval Command Course, nos EUA (sendo o primeiro português a frequentá-lo), destinado a oficiais de marinhas de guerra estrangeiras, curso que concluiu em primeiro lugar entre 28 oficiais de outras tantas nacionalidades. No regresso, em Junho de 1958, foi nomeado Subdirector do Instituto Superior Naval de Guerra, ascendendo a Director, já no posto de Comodoro, no início de 1960. Empreende, então, profundas alterações na organização e nos curricula daquele Instituto, tendo sido responsável pela sua mudança para as instalações definitivas, na Rua da Junqueira. (Por essa altura, em 1960, criou a Fundação Vila Praia de Âncora, que se dedicou principalmente a apoiar os estudos de jovens carenciados).
Promovido a Contra-Almirante em Julho de 1960, viria a pedir a sua demissão na sequência de um discurso do Ministro da Marinha, Quintanilha de Mendonça Dias, aquando da abertura solene do ano lectivo 1961-62, que considerou atentatório do seu brio profissional e ofensivo da dignidade da sua direcção.
Passa à Reserva em Abril de 1966, mas já com novo ministro (Pereira Crespo), ainda, exerceu as funções de Director do Museu da Marinha, entre 1968 e 1971.
2. A primeira informação da polícia política data de 25 de Julho de 1933, referindo-se que "o 1.º tenente Ramos Pereira tem assistido a reuniões conspiratórias". Foi vigiado durante quatro décadas, com a PIDE a estar presente no seu funeral.
Em 1969 foi candidato da CDE, por Viana do Castelo, à Assembleia Nacional Nacional. Em 1973 fez parte da comissão nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro.
Por ocasião da Revolução, chegou a estar-lhe destinado um papel de grande importância no Movimento dos Capitães, e ainda teve conhecimento disso quando hospitalizado, mas morreu 40 dias antes do dia 25 de Abril.
3. Nos últimos anos da sua vida desenvolveu uma intensa actividade intelectual, quer na vertente técnico-científica quer, principalmente, na vertente cultural. Foi um dos dez fundadores do Centro de Estudos de História Marítima, mais tarde designado por Centro de Estudos de Marinha, que daria, em 1978, origem à Academia de Marinha. Foi colaborador do diário Primeiro de Janeiro, do Porto, e dos Anais do Club Militar Naval. Publicou vários opúsculos e manuais para uso do pessoal especializado da Armada e o livro Radioelectricidade.
Os vários trabalhos que publicou (2) são maioritariamente de cariz técnico, avultando, no campo da História, um estudo sobre a vida de Gago Coutinho, que publica em 1973. Também se debruçou sobre a figura de Fontoura da Costa, sendo ainda de mencionar o seu interesse pelo património arquitectónico da Marinha. Entre as várias publicações técnicas que elaborou, destaca-se um compêndio de radioelectricidade editado em 1952, que serviu de base de apoio a vários cursos. Foi também responsável pela reorganização e modernização, em equipamento e instalações, da rede de estações radionavais da Marinha.
Faleceu em Lisboa, no Hospital da Marinha, no dia 16 de Março de 1974.
Em 1982 foi, a título póstumo, agraciado pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem da Liberdade.
A sua memória foi homenageada no Minho com a atribuição do seu nome à estação radionaval da Apúlia (na sua terra natal), hoje desactivada. Em 1982, foram inaugurados dois bustos seus, um na referida estação e outro numa praça de Vila Praia de Âncora.
Notas:
(1) Casou em 11 de Maio de 1939, com Maria da Graça Lopes de Mendonça (1919 – 1979), não tendo o casal deixado descendência. Esta antifascista aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas em 1941.
(2) Publicações
• A Propagação das Ondas Electromagnéticas em Torno da Superfície da Terra, sep. Anais do Clube Militar Naval, Lisboa, Imprensa Nacional, 1934 Radioelectricidade Elementar, Lisboa, Livraria Luso-Espanhola, 1952
• Radioelectricidade, Lisboa, Livraria Luso-Espanhola, 1955
• A Educação e a Ciência na Competição Comunista, Lisboa : Tip. da L. C. G. G., 1959
• A Preparação dos Oficiais Superiores da Nossa Armada, sep. Anais do Clube Militar Naval, Lisboa, Tip. da L. C. G. G., Outubro-Dezembro 1959
• A Carreira Naval na Era Nuclear, sep. Anais do Clube Militar Naval, Lisboa, L.C.G.G., Janeiro-Março 1960
• O Ministério da Marinha e as suas Precárias Instalações, sep. dos Anais do Clube Militar Naval, nºs 10 a 12,Lisboa, Tip. L.C.G.G., 1961
• "As Instalações da Marinha", Revista de Marinha, v. 25, nº 457, Lisboa, Abril de 1961, pp. 13-22
• As Longas Comissões de Serviço da Marinha de Guerra nas Águas da Índia Portuguesa, palestra proferida no Rotary Clube de Viana do Castelo em 19 de Setembro de 1962, Porto, Ed. do Rotary Clube de Viana do Castelo, 1962
• "Subsídios para a História dos Cursos de Radioelectricidade e de Comunicação da nossa Armada", Anais do Clube Militar Naval, Lisboa, Of. Graf. Minerva, 1965, pp. 691-752
• Divagando sobre o Passado e o Futuro do Clube Militar Naval, sep. Anais do Clube Militar Naval, ed. especial comemorativa do centenário 1866-1966, Lisboa, Instituto Hidrográfico, 1966
• A Instrução: Base do Progresso dos Povos, Braga, Rotary Club, 1967
• "Subsídios para a História do Instituto Superior Naval de Guerra", Anais do Clube Militar Naval, v. 97, t. 1-3, 4-6, 10-12, Lisboa, 1967
• Gago Coutinho: Geógrafo, Lisboa, Ministério da Educação Nacional, 1973
• Fontoura da Costa: Professor Insigne, Matemático Categorizado, Marinheiro Brioso mas Inconformado que muito Dignificou a Marinha e Honrou a Pátria, Lisboa, Centro de Estudos da Marinha, 1973
Biografia da autoria de Helena Pato
- Glória Marreiros, Almirante Jorge Ramos Pereira - Uma vida - Um exemplo, Livros Horizonte, 2001.
- http://www.parlamento.pt/…/Documents/Candidatos_Oposicao.pdf